How Could This Happen To Me? escrita por Emmy Tott


Capítulo 17
A agonia de Chuck - I


Notas iniciais do capítulo

Desculpa gente! Esse capítulo acabou ficando muito gigante e eu tive que dividir em dois D:



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Peggy tinha acabado de descer as escadas. Os últimos dias não estavam sendo nada fáceis. Ela tinha que convencer Bel o tempo todo de que não importava o que havia acontecido no passado, porque não tinha nada que pudesse fazê-la perdoar Pierre. Além de lidar com a dor por ter se separado dele, ela ainda não se sentia bem, se achava fraca e deprimida. Naquela manhã, todos já haviam saído, mas Peggy não estava nem um pouco a fim de ir para o escritório. Por isso, ela foi até a cozinha tentando enrolar, mas sem ter coragem de colocar nada na boca.

Naquele momento, porém, a campainha tocou, fazendo-a se deslocar até a porta de entrada. Mal-humorada, ela abriu a porta. Porque será que a campainha nunca a deixava em paz?

-Bom dia, Peggy. – Cumprimentou Chuck em um tom cerimonioso.

-Mas o que é que você está fazendo aqui?  Veio rir da minha cara? Ou quer que eu te dê os parabéns por ter conseguido afastar Pierre de mim? – Ela disparou, enraivecida.

-Na verdade, nenhuma dessas coisas. – ele disse cautelosamente – Vim porque precisava conversar com você...

O tom de Chuck estava diferente dessa vez, e aquilo só podia significar uma coisa. Peggy estremeceu com a idéia.

-Eu não tenho nada para conversar com você! – empertigou-se Peggy.

-Mas eu tenho! – Chuck disse firmemente. – Me deixe entrar, por favor, Peggy. – ele pediu.

Ela hesitou por momento. O tom que Chuck usava agora a lembrava vagamente da primeira vez em que tinha visto o baterista. De alguma forma, ele era o mesmo Chuck do primeiro dia de aula. Então, mais por causa disso do que por qualquer outra coisa, ela afastou a porta, abrindo caminho para que ele pudesse entrar.

-Mas seja rápido, eu ainda tenho que ir para o escritório. – Ela avisou, querendo ter uma desculpa para mandá-lo embora caso as coisas ficassem... difíceis de lidar.

Chuck não sentou nem falou nada. Por um momento, apenas olhou firmemente para os olhos castanhos de Peggy. Ela desviou os seus rapidamente para fora, nervosa pela intensidade daquele olhar.

-Se você está preocupado, fique tranqüilo, eu não contei o seu segredo para o Pierre. – Ela disse para quebrar o gelo. Mas a sua voz saiu mais áspera do que ela pretendia.

-Eu não estou aqui por isso. – ele começou, ainda escolhendo as palavras.

-Mas então porque...? – ela perguntou, mas sem querer, de fato, ouvir a resposta.

-Você sabe... – Chuck disse com um gesto de impaciência.

-O que eu sei é que você é maluco. – mas ela já sabia o que estava por vir. Por isso, virou-se de costas para ele, tentando ignorá-lo.

Chuck não ia desistir tão facilmente. Se aproximando lentamente dela, ele fez menção de tocar seu ombro, mas desistiu na metade do caminho.

-Peggy... – ele sussurrou – Eu sempre te amei! – sua voz estava baixa, mas ainda era intensa.

Peggy fechou os olhos com força ao ouvir a mesma frase que ele disse há anos atrás. Então, subitamente, ela virou-se violentamente para ele.

-E o que você espera que eu faça?

-Me dê uma chance. – Suplicou Chuck. Seus olhos estavam torturados. – Eu posso te fazer muito mais feliz do que Pierre. – Ele disse, menosprezando o amigo.

-Você não pode estar falando sério! Não depois de tudo o que você fez comigo e com o Pierre! Você até envolveu gente que não tinha nada a ver com essa história, Chuck! Como você espera que eu dê uma chance para alguém assim?

-Tudo o que eu fiz por você, Peggy. – ele disse, se aproximando – tudo o que eu faço é pra que você perceba que eu sou o cara pra você...

-Até mandar uma carta falsa me fazendo acreditar que Pierre queria me enganar no baile? – ela acusou.

-Como você sabe disso? – Chuck quis saber, aturdido.

-David contou para Bel. – ela explicou, encolhendo os ombros.

-David? – ele disse, estreitando os olhos – ele não podia ter feito! Ele prometeu! – Chuck agora se contorcia de revolta.

Peggy se aproveitou da distração dele para se afastar até a parede oposta, mantendo uma distância segura de Chuck. Mas ele logo se voltou pra ela de novo, olhando intensamente para ela.

-Peggy! – ele disse, segurando os seus ombros. – Tudo o que eu fiz foi porque eu estava desesperado! Eu não queria te perder, não suportava a idéia de você nos Estados Unidos, sem que eu pudesse te ver...

-E você pensou mesmo que eu fosse querer alguma coisa com você depois de tudo?

-É claro que não. – ele riu sem humor algum – afinal, quem é que ficaria com alguém com pais psicopatas como eu?

-Não é por causa dos seus pais, Chuck! Será que você não entende? Eu nunca ficaria com alguém que mente, que trai, que usa as pessoas para conseguir o que quer. Talvez, se você continuasse sendo aquele garoto gentil que me ajudou no primeiro dia de aula, talvez as coisas pudessem ser diferentes hoje...

-Ou talvez tivesse aparecido um Pierre, todo sorridente e prestativo e você tivesse me abandonado por ele, não é? Ele nunca passou pelo que eu passei, Peggy! Nunca teve que suportar tudo o que eu suportei!

-Você está sendo injusto! Pierre também passou por coisas terríveis na vida...

-Está vendo? Você sempre o defende! Não importa o quanto ele te faça sofrer, você sempre fica do lado dele! – desesperou-se Chuck. Sua voz estava torturada.

Peggy podia ver uma imensa fúria se exaurindo de seus olhos castanhos esverdeados. Suas mãos prendiam os braços dela com um forte aperto. Peggy sentiu seu estômago se revirar desconfortavelmente dentro de si quando percebeu que a cabeça de Chuck se aproximava cada vez mais dela. Ela tentou desvencilhar, mas ele era infinitamente mais forte e a manteve presa contra a parede, seus dedos pressionando violentamente os braços de Peggy.

-Chuck... – ela disse, tentando lutar – me solte, você está me machucando!

Sentindo o desespero em sua voz, Chuck afrouxou o aperto. Ele não queria assustá-la, mas foi incapaz de soltar seus braços. Por quanto tempo ele esperara por aquilo!

-Porque, Peggy? Porque ele e não eu? – ele perguntou em um sussurro.

-Eu... eu não sei Chuck – ela respondeu sinceramente.

Chuck não conseguiu mais se deter! Sentindo Peggy trêmula e frágil em seus braços, ele se aproximou. Era impossível ignorar aquela pele quente, macia sobre a sua. Então, ainda lutando contra a resistência de Peggy, Chuck pressionou seus lábios ansiosos contra os dela. Não existia nada no mundo que ele sonhasse mais do que aquele beijo... Mas ele não foi bem como Chuck esperava. Era um beijo de tortura, quase uma dor física. Mas ainda assim, valia à pena...

O estômago de Peggy agora dava cambalhotas de protesto enquanto lágrimas dolorosas caíam sobre a sua face. Ela se sentia suja por dentro, sendo violada sem a menor cerimônia. Queria que ele parasse! Tinha que haver um jeito de fazer com que aquilo terminasse logo...

Chuck sentiu os lábios extremamente rígidos de Peggy. Só então ele percebeu que ela tinha os olhos marejados de lágrimas. Com um gesto brusco, ele se separou dela. Peggy se aproveitou disso para empurrá-lo para longe.

-Eu tenho nojo de você... – ela disse com uma meia voz, ainda ofegante, mas firme. – Sai daqui... sai da minha casa...

-Peggy... – ele tentou dizer, mas Peggy conseguiu arranjar forças para empurrá-lo para fora.

Com um baque, a porta se fechou a sua frente, quase ao mesmo tempo em que ela desabava ao chão. As lágrimas ainda cobriam todo o seu rosto. Em sua barriga, seu estômago parecia querer sair para fora. A náusea foi invadindo-a por completo e ela teve que se levantar, correndo para não vomitar na sala.

 

***

 

Ainda com o gosto de Peggy em sua boca, Chuck chegou em casa, desnorteado. O contato da sua pele com a de Peggy fizeram uma explosão de sentimentos despertarem em seu corpo. Sabia que tinha ido longe demais daquela vez, mas ele não teve como evitar. Cambaleando, ele entrou no apartamento, mal notando os móveis e o lugar a sua volta. Tremendo, ele caiu aos pés do sofá, agoniado. Uma série de pensamentos dolorosos estava vindo à sua mente, tornando o seu sofrimento ainda mais insuportável.

 

Era uma manhã ensolarada quando ele saiu do carro negro, exageradamente seguro dos pais, para o seu primeiro dia de aulas. Chuck estaria no colegial agora, e isso significava que ele teria que suportar apenas mais três anos antes de fugir do inferno que era a sua casa. Ao seu lado, sua mãe sussurrou ao seu ouvido antes que ele saísse:

-Agora seja um garoto comportado e não faça nada do que não deve. No colegial costumam entrar alunos novos e eu quero que você fique o mais longe deles possível, entendeu? – ela disse, em tom de aviso.

-Sim, mamãe – respondeu Chuck com a voz vazia.

-Muito bem, agora pode ir... eu te amo querido – ela acrescentou plantando um beijinho na testa do filho.

Ao ganhar a rua, Chuck imaginou como uma pessoa podia amar outra a machucando, fazendo-a sofrer todos os dias. Ele se alegrou ao pensar que, pelo menos, veria seus amigos novamente. Foi então que ele viu...

Ela tinha feições meigas, muito diferentes das de sua mãe. Seus cabelos castanhos e ondulados formavam uma moldura perfeita para o seu rosto, o tom combinando com os olhos cor de mel. Chuck a admirou por um longo momento. Não sabia bem o que estava acontecendo, só sabia que era bom olhar para ela. Ele poderia ficar ali para o resto da vida, não fosse a expressão preocupada no rosto da garota. Hesitantemente, ele se aproximou. Um sorriso tímido brotava em sua face.

-Olá, você é nova por aqui? – ele forçou seus lábios a dizerem.

-Ah, oi! Sou sim, eu estava criando coragem para entrar... – ela disse, lançando um olhar preocupado para o interior do colégio. – eu sou Peggy – ela acrescentou com um sorriso encantador. Chuck teve que se concentrar para continuar a conversa racionalmente.

-O meu nome é Charles, mas você pode me chamar de Chuck como todo mundo. – ele disse, seu sorriso crescendo em sua face – porque você disse que estava criando coragem para entrar?

-Porque... bem, eu estou com medo. – ela admitiu – eu conheço a fama desse colégio e sei que será difícil as pessoas me aceitarem aqui... eu sou bolsista – esclareceu Peggy com um pouco de receio.

Chuck olhou para os lados instantaneamente ao ouvir a palavra. Sua mãe jamais o permitiria conversar com uma bolsista, mas ele se sentiu aliviado ao certificar que não havia nenhum segurança à vista.

-Algum problema por eu ser bolsista? – ela pressionou ao notar a sua mudança de humor.

-Não! Problema nenhum – ele respondeu. Era difícil negar alguma coisa àqueles olhos – você pode entrar comigo... se quiser...

-Eu tenho medo das pessoas não gostarem de mim – ela disse em uma voz esganiçada.

-Não tem como alguém não gostar de você, você é muito... – Chuck corou, incapaz de continuar – venha comigo, eu te protejo – ele prometeu, puxando-a para dentro.

 

Aquele parecia ser o dia mais feliz da vida de Chuck: o dia em que ele conhecera Peggy. Ele agarrou os joelhos com mais força, enterrando sua cabeça em seu braço molhado pelas lágrimas. O que aconteceu depois causou um dano irreparável para aquele dia perfeito. E talvez para os próximos...

 

-Você está na mesma sala que eu! – comemorou Chuck. Era difícil conter a sua alegria diante de Peggy.

-Que bom! Assim nós podemos ficar juntos – aliviou-se Peggy.

Chuck explodiu de satisfação por dentro ao ouvi-la dizer a palavra “juntos”. Ele queria ficar junto dela para o resto de sua vida...

Mas então, algo chamou a atenção de seus olhos brilhantes. As entranhas de Chuck se reviraram desconfortáveis ao perceber que ela olhava para Pierre.

-Você o conhece? – ela perguntou, cheia de curiosidade.

-Aquele é Pierre – Chuck respondeu sem vontade. Porque sempre Pierre? – mas você não vai gostar dele – ele acrescentou depressa, fazendo a atenção de Peggy voltar para ele novamente.

-Por quê? – ela disse, erguendo as sobrancelhas.

-Porque ele não é muito amigável, ele é meio... – ele procurou por alguma palavra em sua mente – arrogante.

-Ele não parece arrogante, ele parece... triste...

Triste! Se ela soubesse tudo o que ele passava, não diria que Pierre era triste! Ele odiou o amigo por dentro, por ele parecer sempre tão perfeito.

-Vamos, é melhor a gente entrar logo – Chuck disse rapidamente, tentando afastá-la de Pierre.

Mas a sala, para a infelicidade de Chuck, já estava cheia. Ele vasculhou a sala a procura de dois lugares vazios, mas não havia nenhum...

-Hey, Chuck! Eu guardei um lugar para você aqui – David acenava do outro lado da sala.

Chuck não teve outra saída a não ser aceitar.

-Eu te vejo na hora do recreio. – ela se desculpou com Peggy. Sua voz estava frustrada.

Peggy teve que se sentar na primeira carteira, a única que ainda estava vazia. Quando Pierre chegou, precisou pedir uma cadeira extra ao professor. Ele a colocou na frente de Peggy, fazendo os dois ficarem afastados do resto da turma. Chuck pensou em esganar o professor por isso. Logo Peggy e Pierre já estavam conversando, sorrindo um para o outro. A cada minuto Chuck tinha vontade de arrancá-la de lá, de fugir com ela para um lugar onde não existisse nem Pierre, nem David, nem seus pais, nem ninguém. Mas tudo o que ele podia realmente fazer era esperar...

Quando o sinal finalmente soou, Chuck levantou correndo, indo se postar a frente de Peggy. Ela estava aborrecida com ele.

-Porque você me disse que Pierre era arrogante?

-E ele não é? – ele perguntou, preocupado por ter estragado tudo.

-Não, ele... sofre. Porque você não me disse que ele tinha perdido os pais?

Chuck fez uma carranca. Não queria perder o tempo com Peggy falando de Pierre.

-Porque esse é um assuntou muito delicado, ele podia não gostar que eu falasse... Porque não esquecemos isso? Venha comigo, eu vou te mostrar o resto da escola – ele emendou, pegando a mão de Peggy que estava livre e a puxando para fora da carteira.

Mas eles não puderam ir muito longe... O coração de Chuck parou ao ver a sua mãe fuzilando-o com o olhar. Ela estava no colégio! E o tinha visto de mãos dadas com Peggy!

-Mãe... – ele sussurrou, desesperado e soltando a mão de Peggy.

-O que foi? – ela perguntou, preocupada.

-Eu acho melhor você ir, é... acho que minha mãe quer falar comigo – ele respondeu, sombrio.

Peggy se afastou, ainda confusa, enquanto a mãe de Chuck avançava furiosamente para ele.

-O que você está fazendo aqui? – ele perguntou com uma voz fraca.

-Eu vim conferir se o meu aviso tinha surtido efeito, e vejo que você não escutou nada do eu disse, não foi? – sua voz era áspera e dura.

-Eu só estava...

-Ela é uma bolsista, Chuck! Como você se atreve a falar com ela? Nós não te ensinamos nada em casa?

Ele apenas abaixou os olhos em resposta. Brigar com a mãe só pioraria ainda mais as coisas.

-Chuck, eu quero que você se afaste daquela garota, e acho melhor você me ouvir dessa vez se não terá que arcar com as conseqüências.

Chuck engoliu em seco com a ameaça. Sabia muito bem o que ela queria dizer com “arcar as conseqüências”.

-Você me ouviu? – ela pressionou.

-Ouvi – ele respondeu, sem emoção.

-É melhor assim... – ela acenou com a cabeça, virando as costas – eu te vejo depois – e se foi, deixando Chuck despedaçado.

 

Chuck se levantou bruscamente ao lembrar da mãe. Suas narinas inflaram em fúria com o pensamento de que seus pais haviam destruído a sua vida para sempre. Nos dias que se seguiram, Chuck teve que manter a distância de Peggy, sempre vigiado por um segurança. O torturava não poder chegar perto, não sentir o seu cheiro. Olhar apenas não bastava. Enquanto isso, Pierre se aproximava cada vez dela, como uma cascavel pronta para dar o bote. Como ele odiava isso! Odiava saber que nunca poderia competir de igual para igual com Pierre. Ele parecia sempre tão gentil, tão educado, um perfeito príncipe. Aquilo o matava por dentro. Chuck chegou a desejar que seus pais tivessem morrido no lugar dos de Pierre, para que ele pudesse ser livre e fazer o que quisesse. Talvez Peggy também se sensibilizasse com ele e o consolasse pela sua perda. Lentamente, Chuck se tornava uma pessoa cada vez mais amarga e mergulhada em suas mágoas...


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