O Próximo Corpo - Temporada 1 escrita por Matteo Salvatore


Capítulo 5
Você É O Próximo




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/709935/chapter/5

Olivia pediu a Hendrick para levá-la de volta à cidade. Tinha odiado estar naquele lugar e não sabia se sentia ódio ou pena em saber que seu namorado estava metido nos negócios sujos da família Montgomery. No caminho de volta ela não deu sequer uma palavra, mesmo depois de Hendrick tentar por diversas vezes fazê-la falar nem que fosse um palavrão.

Subitamente o Mustang entrou na faixa do acostamento e Hendrick desligou os motores, saindo do carro e indo se encostar no capô.

— O que está fazendo? - perguntou Olivia saindo do veículo.

— Não sairei daqui a menos que você converse comigo!

— Mas que droga! - ela disse. – Vamos embora, não quero ficar aqui. Odeio quando você toma essas atitudes infantis.

— Oli, você não pode me entender!

— Não mesmo. Nunca vou entender como você entrou para o narcotráfico!

A garota deu-lhe as costas, caminhando a passos largos para longe do carro.

— Fique com seu carro, posso caminhar sozinha.

Hendrick correu atrás dela, segurando-a pelo braço.

— Eu preciso desse emprego, Oli. A grana é boa, estou... estou juntando dinheiro para... - ele não queria dizer.

— Para o que, Hendy?

O rapaz respirou fundo antes de despejar uma torrente de explicações sobre a namorada.

— Você sempre teve tudo, sua família tem grana. Eu passei a vida tendo que me virar como podia, você conhece a história da minha mãe. Ando afastado porque não quero que ela saiba sobre o que eu estou fazendo. Só quero ter o suficiente para deixar a cidade quando esse ano acabar e quero que você venha comigo.

Olivia ficou muda por um tempo. Hendrick a soltou e ficou a encarar a face pensativa da namorada.

— Deixar Solar Cove? Meus pais e todo o resto? O que você tem na cabeça?

— Não podemos mais continuar aqui, Olivia. Veja o que aconteceu com a Evelyn, ela está morta! E se não nos cuidarmos poderemos ser os próximos.

— Não seremos! - ela disse como se soubesse.

— Não tenho dúvidas de que ele voltou. Não sabemos quem ele é, ou onde mora, estamos vulneráveis.

Olivia deu-se por vencida e começou a chorar. Estava mesmo tentando acreditar que nada aconteceria, mas não era verdade. Hendrick a abraçou fortemente, confortando-a em seus braços.

— Vamos embora, Oli. Se você me ama de verdade venha comigo quando o ano acabar.

— Para onde pretende ir? - disse enxugando as lágrimas com as costas das mãos.

— Califórnia, ou algo tão longe quanto.

— Eu não posso e não quero deixar os meus pais, Hendy!

— Temos duas opções Olivia. Ou convencemos os seus pais a se mudarem, ou teremos que jogar o mesmo jogo do psicopata da cabana.

— Você fala em matá-lo?

— Mas antes teremos que descobrir quem ele é.

O xerife Lightwood pensou sobre como a conversa com Greg McDonavan tinha conduzindo-o a uma investigação com várias bifurcações. Ele não tinha apenas um, mas cinco suspeitos para o assassinato de Evelyn Carpenter e precisava checar todas as pistas.
Assim que Robert deixou a residência da família Gardner, dirigiu-se para a delegacia apenas para ver como estavam andando os últimos trabalhos dos legistas. Ao chegar a ala do necrotério, encontrou Josh segurando alguns papeis ao lado do corpo.

— Novidades, Josh?

— O senhor que vai dizer, xerife.

Lightwood não entendeu a afirmação, ficou apenas parado esperando que o legista falasse qualquer outra coisa.

— Cruzei as parciais das digitais na maçaneta da porta e também aquelas no vidro, onde estava escrito socorro, com o banco de dados da delegacia. A tal garota morta escreveu o pedido de socorro, mas não acredito que estava viva quando fizera. Já as parciais na maçaneta pertencem a uma garota que fora testemunha ocular do suicídio do irmão.

— Alex Montgomery - completou o xerife sem expressar surpresa. - A casa pertence à família da garota, é natural que haja registros da passagem dela por ali.

— Não há mais a se falar sobre o corpo, senhor. Parece que a pessoa que fez isso age com muito cuidado e cautela.

— Obrigado, Josh. Já posso liberar o corpo para a família da garota?

— Sinta-se à vontade, xerife.

Lightwood estava decidido a terminar aquele dia tendo conversado com seus cinco suspeitos. Então, depois de ter falado com o legista, ele retornou a viatura e seguiu para a residência da família Gardner. Antes de desligar o motor do carro, consultou as horas, percebendo que era quase meio dia. Em seguida deixou a viatura e foi até a varanda, tocando a campainha.

— Xerife?! - Vera não sabia se perguntava ou se estava surpresa. A mulher atendeu a porta vestida num delicado vestido de linho, bordado com pequenas flores amarelas como girassol.

— Posso falar com sua filha, senhora Gardner?

— Olivia não está, Robert. E por favor, me chame apenas de Vera. Mas então, por que está atrás dela?

— Sabe dizer se ela dormiu em casa? - indagou ignorando a pergunta da mulher.

— O que aconteceu, Robert? Por que está aqui?

— Não se preocupe, Vera. Apenas responda as minhas perguntas, é tudo que peço.

— Ela dormiu aqui, chegou tarde, me disse que havia saído com o namorado.

— Ela namora o garoto filho de Elizabeth Manson, correto?

— Sim.

Lightwood achou aquilo suspeito, há menos de uma hora tinha ouvido da boca do irmão do rapaz que ele fora buscá-lo em Augusta e agora Vera Gardner afirmava que a filha tinha passado a noite com o namorado. Ou ele estava enlouquecendo, ou uma pessoa não poderia estar em dois lugares ao mesmo tempo.

— Bem, vera, avise-me quando sua filha chegar, obrigado.

— O que está escondendo de mim? Espero que não tenha nada a ver com o caso da filha dos Carpenter.

— Eu também espero que não - disse afastando-se da varanda, enquanto Vera o observava com olhos preocupados.

Assim que o xerife arrastou o carro de polícia para longe, Antony Gardner estacionou seu hatch da Chrysler na porta de casa. Lá dentro Vera reportou sobre a breve visita do xerife.

Jordan preparava-se para ir embora da casa de Matthew quando o xerife Lightwood surgiu diante da porta, com uma expressão enigmática no rosto.

— Que bom encontrá-los juntos, menos trabalho para mim.

— Algum problema, xerife? - Jordan tinha os olhos fixos no olhar de Robert.

— Talvez vocês queiram me explicar onde estavam essa noite.

— Nós?

— Claro, Jotta. Não seja idiota, ele está apenas nos checando. É óbvio que está aqui por causa da Evelyn.

— Ótima dedução, Goldwin.

Após o incidente na cabana Matthew havia estagiado por um período na delegacia e acabou levando algum conhecimento consigo.

— Entre, xerife - pediu o rapaz.

A sala era grande e espaçosa, Robert se sentou na poltrona, deixando o sofá para os dois garotos se sentarem, depois o xerife prosseguiu.

— Onde estavam na noite anterior?

— Acho que o senhor terá que falar com uma das garotas do Rough Sea, aquela de cabelos curtos e loiros, o nome dela é Mary qualquer coisa. Eu saí com ela esta noite, fui buscá-la com uma bicicleta, ficamos a andar pela orla sentindo a brisa no rosto, depois a trouxe aqui para casa.

Lightwood anotou aquilo em seu bloco de notas, depois virou-se para Jordan, esperando uma resposta.

— Antes de ir para casa, nós: Matthew, Alex e eu, tínhamos saído para beber...

— E encontraram Evelyn no bar ao lado de um rapaz musculoso, pule essa parte, já conheço os detalhes.

— Isso mesmo. Quando saímos de lá, nos dispersamos e eu fui para casa. A câmera de segurança do jardim pode confirmar a hora que eu cheguei.

— Certo, garotos - Robert tirou um objeto do bolso, mostrando-o para os rapazes. - Conhecem isso?

Jordan soube de quem era assim que pôs os olhos no objeto, mas fingiu ignorância, omitindo a verdade. Matthew ao contrário do amigo apontou a quem pertencia, quase automaticamente.

— É a pulseira da Alex.

— Alex Montgomery?

— Sim, existe outra?

O xerife pensou sobre aquilo, mas recusava-se a acreditar que a garota estava de fato envolvida no caso. Para ele seria tolice colocar o corpo na cabana da própria família e se toda cena fora realmente armada, por que ela teria cometido o descuido de deixar suas digitais na maçaneta da porta?

— Vocês lembram de terem visto a Alex usando esta pulseira ontem?

— Sim. Lembro perfeitamente que ela foi para a casa na ilha usando isso.

Jordan deu uma cotovelada no amigo, fazendo o máximo para parecer sutil, mas o xerife viu nitidamente o movimento.

— Acho que isso é tudo, rapazes. Até qualquer hora.

Robert deixou os garotos e foi embora na viatura, cheio de dúvidas na cabeça. Ele definitivamente não estava disposto a encarar a família Montgomery.

Horas mais tarde o xerife retornou à casa de Olivia Gardner para conversar pessoalmente com a garota. Ela lhe pareceu muito tranquila quando ele a encarou, enquanto se cumprimentavam na sala.

— Estava com seu namorado na noite passada, Olivia? – começou o xerife, sem rodeios.

— Sim, estava.

— Onde exatamente?

— Fomos para casa de verão da minha família.

— E por que retornou tarde da noite para cá? Sua mãe me contou algumas coisas.

Vera estava em pé, próxima aos dois. Olivia a fitou por um instante.

— Acho que não precisamos falar sobre a minha vida pessoal com o meu namorado, xerife.

— Está certo – ele concordou. – Acontece que hoje mais cedo, fui informado pelo irmão do seu namorado, de que Hendrick estava em Augusta, para buscá-lo no aeroporto.

Olivia gaguejou, não estava preparada para aquilo. E agora, o que ela falaria?

— Eu posso explicar. Não estive com Hendy esta noite, o senhor tem toda razão, não posso mentir. Estávamos realmente na casa de verão, mas acordei de madrugada e o Hendy não estava mais lá, ele saiu sem me avisar e eu tive medo de que algo de ruim tivesse acontecido. Levantei-me e fui procurá-lo, vim até a cidade mas não o achei. Isso é tudo.

— Mas por que mentir, Olivia? – o xerife levantou uma sobrancelha.

— Todos sabem que tive problemas com Evelyn, xerife, e de repente ela é assassinada. Não tenho nada a ver com isso, mas tive medo de que desconfiasse de mim.

— Eu farejo a verdade a quilômetros, não se preocupe.

Olivia o olhou de forma envergonhada, depois Lightwood disse qualquer coisa que a acalmou e despediu-se, tendo dentro de si uma convicção quase incômoda de que ela não era a culpada.

Determinação era a alma do negócio, pensava Lightwood sempre que se envolvia em um caso. Estava indo até onde seu braço alcançava com aquela história do assassinato, mas se todas as pistas caíssem sobre a filha de John Bradley Montgomery, ele deveria recuar. Mexer com aquele homem não faz bem à saúde, disse a si mesmo. No entanto lá estava ele, diante da mansão do carrasco, era loucura ou dever?

O sol estava se pondo para lá das montanhas de Solar Cove quando Robert deixou a viatura e foi acompanhado por Clary, a empregada, para dentro do casarão do senhor Montgomery. O velho lobo estava sentado de pernas cruzadas à frente da lareira apagada, com uma xícara de chá gelado na mão, a senhora Montgomery estava próxima a ele, em outra poltrona, lendo uma revista sobre moda. O xerife esperou até que o homem pedisse para que ele se sentasse, mas John não falou nada.

— O que faz aqui, Robert?

— Não quero incomodá-lo, senhor. Só estou fazendo o meu trabalho.

— Você não é pago para vir até aqui, xerife.

John tinha a face rígida e séria, uma expressão severa, vinda de um homem sem compaixão. Sandra não ergueu os olhos da revista, nem para olhar o rosto do Xerife por um breve milésimo de segundo.

— Onde está sua filha, senhor?

— Clary, chame a Alex – pediu John apoiando a xícara sobre a mesa de centro ao seu lado, depois voltou-se para o xerife, pondo seus olhos penetrantes sobre os dele. – Eu lhe mostrarei o que acontecerá se fizer qualquer pergunta constrangedora, Robert. Você está aqui por causa da filha do doutor, a garota drogada que foi assassinada, nós não temos nada a ver com isso e caso tivéssemos você seria o primeiro a saber.

Alex começou a descer as escadas. De onde estava podia ver os dois homens e sua mãe, então parou no meio do caminho, apoiando-se sobre o corrimão.

— Você tem dois minutos, Robert – avisou o senhor Montgomery olhando para o relógio – fale o que quiser, depois vá embora.

A filha de John olhava o xerife com desdém, achava patético ele ir até ali, sabendo que não adiantaria nada. Apenas um empregado do papai, ela pensou.

— Encontrei isso na cabana Alex, fui informado que você foi vista com essa pulseira ontem pela manhã.

— Sim, eu estava com ela e pensava ter deixado na casa da ilha, mas pelo visto não foi bem o que aconteceu.

— Como explica o fato dela ter sido...

— Sem perguntas constrangedoras – John repetiu, tomando um gole do chá em seguida.

— Sinceramente, xerife. Não faço ideia de como isso foi parar na cabana, havia muitas pessoas na casa da ilha ontem, talvez uma delas tenha pegado, matado Evelyn e tentado fazer parecer que eu era a culpada.

— Está bem, senhorita Montgomery. Isto é tudo?

— Sim.

— Poderia me enviar uma lista com os nomes das pessoas que estavam com você naquela ilha?

— Tudo bem, mas quando achar o culpado agradeça-lhe para mim, achei perfeito o modo como ele eliminou aquela vaca.

— Obrigado, senhorita – Lightwood respondeu mais por obrigação que por educação.

—  Seu tempo acabou. Vá embora, xerife.

Robert fez um gesto com a cabeça concordando com o velho lobo, caminhando para a saída com uma expressão furiosa que John não pode ver, mas com certeza sentiu. O xerife desejou nunca ter sido conivente com os negócios da família Montgomery.

Naquela noite Olivia e Hendrick tinham ido para a casa de verão, mas antes ela o fizera prometer que não a deixaria no meio da madrugada para fazer o que quer que fosse. Chegaram a casa em carros separados, ela na pick up e ele em seu Mustang. Desceram dos carros e entraram em casa se beijando. Ela o arrastou escada a cima e os dois se beijaram mais sobre os degraus. Continuaram subindo a escada e passaram pelo corredor do andar superior, indo direto ao quarto. Quando Olivia abriu a porta do cômodo notou um volume estranho em cima da cama, iluminado pela tênue luz do luar que invadia o quarto através das grandes janelas. Ela parou subitamente e Hendrick estranhou.

— O que houve?

— Tem uma coisa na minha cama – ela disse com a voz baixa.

Levou a mão até o interruptor de luz na parede e o pressionou. As lâmpadas se acenderam e ela viu com nitidez uma caixa sobre sua cama.

— É uma caixa – disse se aproximando.

Hendrick veio logo atrás, olhando para todos os cantos, certificando-se de que não havia ninguém ali.

— Quem será que pôs isso aqui? – ele perguntou olhando o objeto.

Olivia começou a desatar o nó vermelho sangue, logo a tampa da caixa ficou livre e ela se preparou para levantá-la. Quando ergueu a tampa ela se espantou, dentro da caixa havia uma faca ensanguentada e um bilhete escrito: você é o próximo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Próximo Corpo - Temporada 1" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.