O Próximo Corpo - Temporada 1 escrita por Matteo Salvatore


Capítulo 1
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Notas iniciais do capítulo

Leiam com carinho e sempre comentem, responderei todos! Boa leitura.
Segundo capítulo dia 28/09/2016 às 13:30



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O barulho de uma mensagem chegando ao celular de Hendrick Manson tirou sua concentração por um instante. O jovem deixou seu livro sobre a cama ao levantar-se e caminhou até a escrivaninha, onde seu aparelho repousava sobre um monte de papéis.

Me encontre no nosso lugar, ele leu mentalmente ao olhar para a tela do celular, em seguida pegou uma jaqueta pendurada num cabideiro de chão próximo a porta e saiu em direção à escada, descendo os degraus com certa agilidade.

— Aonde vai com tanta pressa?

— Sair. – Disse sem se preocupar com o que a sua mãe fosse pensar.

Dois minutos depois já estava dentro do carro, um Ford Mustang 1980, preto e bem conservado. Manson dirigiu por algumas ruas, passando pelos cafés e restaurantes, e por todo o resto da pequena Solar Cove City, Maine – na costa leste dos Estados Unidos, próximo à fronteira com o Canadá, – até chegar a uma estrada de terra batida, ladeada por florestas de coníferas, onde o ar era mais frio do que Hendrick gostaria que fosse. A lua estava cheia e seu brilho atribuía um aspecto fantasmagórico ao lugar, mas Manson conhecia aquela área o suficiente para saber que não havia fantasmas ali.

De repente, após uma subida muito íngreme, Hendrick pôde ver a casa de férias de Olivia Gardner se destacar entre as árvores, lá em baixo, às margens de uma pequena enseada. Instantes depois ele estacionou o carro e caminhou até a entrada tocando a campainha com calma.

— Entre! Rápido! Preciso te contar! – Disse Olivia ao abrir a porta, sua voz demonstrava um pouco de medo.

— O que há com você, Oli?

— Não se trata de mim Hendrick.

— E de quem seria, afinal? Por que toda essa preocupação?

Ela o levou até o sofá, fazendo-o sentar. Depois se pôs ao seu lado.

— Evelyn desapareceu.

— Não deve ser nada. Ela é louca, sempre faz essas coisas, talvez goste de chamar atenção.

— Eu sinto que dessa vez não é só uma brincadeira. Falei com a Alex e o Jordan, eles também não sabem sobre ela e seus pais revelaram estar preocupados, pois há duas noites que ela não dorme em casa!

Os olhos de Olivia estavam cheios de preocupações e receios.

— Escute o que eu digo. Não é a primeira vez que Evelyn faz isso, ela só deve estar dando um tempo.

— Você não entende os meus medos, Hendy. Não faz uma semana que discuti com ela, todos me ouviram dizer que eu desejava que ela sumisse, e agora ninguém tem notícias sobre ela! O que vão pensar? Que eu a matei?

Hendrick a olhou como se ela estivesse maluca, em seguida virou-se de frente para Olivia e afagou seus lindos cabelos ruivos, falando com a voz mais plácida que conseguiu:

— Você não pode se crucificar assim, Oli. Isso não deve passar de uma paranoia sua, todos sabem que você não seria capaz de matar alguém. Além do mais vocês duas são amigas, aquele incidente não passou de uma discussão boba.

— Boba? – ela o encarou com ar de reprovação. – Evelyn Carpenter espalhou mentiras sobre mim, tentou roubar meu namorado e quase expôs a minha intimidade para a sociedade de Solar Cove e você acha que aquela discussão foi boba?

Manson a abraçou, pondo a cabeça dela sobre seu ombro.

— Eu sei do que ela é capaz, mas fique calma, uma hora ou outra Evelyn aparecerá, tão desorientada e problemática como nunca antes.

Olivia não tinha tanta certeza. Hendrick a beijou tentando afastar os fantasmas da namorada, mas não soube se isso ajudaria.

No dia seguinte Olivia acordou e Hendrick não estava na cama com ela, a garota olhou as horas num relógio em cima do criado mudo. Ainda estava cedo, percebeu. Levantou e caminhou até a varanda, de onde podia ver a enseada, a florestas e a frente da casa, o mustang não estava lá. Para onde ele foi?, se perguntou intrigada. Aquele mal pressentimento sobre Evelyn continuava tirando sua paz, deixando-a cada vez mais atormentada. Decidiu ir à cidade procurar pelo namorado, não era de costume que ele saísse sem se despedir, talvez algo tivesse lhe tirado da cama. Algo que ele não queria que Olivia soubesse, ou ao menos era o que ela pensava.

Não deve ser nada, disse para si mesma mantendo os olhos atentos na estrada. Dali onde estava já se podia ver as casas da pacata cidade. Levou sua pick up até o cais, onde os veleiros e barcos de pesca ficavam atracados. Ali havia um bar, Rough Sea— Mar Bravo – um refúgio de marinheiros solitários a procura de diversão, um lugar para onde os jovens também fugiam para afogar os seus mais profundos desejos.

— O que faz por aqui, Oli? – Perguntou Matthew Goldwin quando ela estacionou o carro.

Olivia desceu o vidro.

— Ficou aqui a noite toda?

— Não, acabei de chegar – ele a olhou com uma expressão intrigada. – Não lembra do passeio para a casa da ilha?

— Passeio? Oh, puta merda. Eu havia esquecido, você sabe, não ando muito bem por esses dias. Por acaso você viu o Hendy por aí?

— Não. Poxa! Vocês não vão ao passeio?! Que merda, cara.  Vocês sempre dão cano!

— Mentira! É só dessa vez e isso não mudará nossa amizade, Matt.

Três carros desciam a rua, cheios de gente. Estacionaram ali perto.

— A galera chegou, Olivia. Tenho que ir.

Ela o segurou pelo braço.

— Matt, espere. Tem falado com a Evelyn?

— Sinceramente, espero não ter que vê-la novamente. Ela é uma encrenca, ninguém a quer por perto.

— Ela desapareceu, Matt. Eu estou preocupada.

— Não deveria estar, agora me deixe ir. Vejo você depois!

Olivia observou enquanto ele se afastava, a distância pôde ver Alex e Jordan indo em direção aos barcos. Desejou estar tão calma quanto eles.

A casa na ilha pertencia a família de Alex Montgomery. Era uma grande construção à beira de uma praia particular, dotada de quase todos os luxos que se podia imaginar. Assim que o verão chegava ela e os amigos faziam uma visita ao lugar, geralmente carregados de bebidas e pensamentos depravados. Seriam todos presos pelas bebedeiras, mas em geral, leis não se aplicavam muito bem à Solar Cove.

Jordan Land conversava com Alex à beira da piscina, enquanto as outras pessoas se divertiam em volta.

— Para onde você vai quando esse ano acabar? – perguntou ele.

— Talvez para Nova York, meus pais querem que eu vá para a Universidade de Colúmbia.

— Mas e o que você quer?

— Sair por aí, sei lá. Conhecer outros lugares, estou cansada deste lugar. Passei 22 anos da minha vida aqui, Jotta.

— Eu te entendo, lindinha.

Matthew se aproximou pela água.

— Preciso falar com vocês, lá dentro. – ele disse.

Alex sorriu.

— Oh, que suspense, Matt. Parece excitante.

— Estou falando sério, Alex.

Os três deixaram o piscina. Pouco depois estavam no escritório da casa, com as portas trancadas, um cuidado extra tomado por Matthew.

— Olivia veio me perguntar pela Evelyn hoje pela manhã.

— Eu pensei que o assunto fosse sério – Alex disse com pouco interesse.

— Por que Olivia estaria interessada nela? As duas não se falam mais.

— Oli me contou que Evelyn desapareceu.

— Não seria nada mal – Alex soltou as palavras quase sem pensar.

— Eu só espero que a corda não ceda do nossa lado – Matthew desviou o olhar para a porta, quando três batidas muito sonoras foram ouvidas.

— Quem é?

Jordan perguntou, mas foi respondido com mais batidas.

— Mas que merda! Quem está batendo?

Alex foi até a porta, destrancou e abriu, ficando frente a frente com Evelyn Carpenter.

— Acho que a puta não desapareceu, Matt.

— O que faz aqui Evelyn? Pensávamos que você tinha sumido.

Evelyn tinha os cabelos desgrenhados, a maquiagem borrada e um cheiro forte de álcool. Passou por Alex meio cambaleante, deu a volta pela grande mesa de madeira do escritório e se sentou na poltrona acolchoada, dando uma gargalhada aparentemente sem sentido.

— Vocês não acharam mesmo que eu sumiria assim, ? – Sua voz saia embolada. – Suas vidas não teriam mais graça, a cidade viraria apenas um pequeno monte de monotonia. Que feio! Vocês não me convidaram para vir aqui neste verão. Por quê?

— Talvez porque você tenha se transformado em uma vaca nos últimos meses – Alex provocou, com a língua tão cortante quanto uma navalha – acho que tudo começou quando você matou o meu irmão sua vadia!

— Eu não matei ninguém! – Ela rebateu aos gritos. – Foi tudo culpa sua, Alex. A única vadia nesta sala é você.

— Venha comigo Evelyn, vou tirá-la daqui.

Matthew tentou ajudar contra sua própria vontade, era o mais recente ex-namorado de Evelyn e achava difícil ter que vê-la depois de tudo que ela aprontou.

— Não me toque, seu bosta! – Ela gritou, dando-lhe um tapa que fez o lábio do rapaz sangrar. – Eu sei quando não sou bem vinda.

A garota levantou-se subitamente, caminhando em direção a porta, mas foi surpreendida por Alex, que agarrou os seus cabelos, puxando-a para perto.

— Nos deixe em paz, entendeu. Se você chegar perto de algum de nós novamente, acabaremos com sua vida.

— Ninguém sentiria sua falta – anuiu Jordan com desdém.

Alex a soltou, empurrando-a para fora do escritório. Evelyn se desequilibrou e caiu sobre o chão da sala, enquanto a porta atrás de si se fechava.

— Você pegou pesado com ela – disse Matthew, incomodado com a aparição súbita da ex-namorada.

— Você foi demais! – Rebateu Jordan aproximando-se para beijá-la.

Matthew preferiu deixá-los em paz. Ao chegar ao pátio externo da casa, viu Evelyn caminhando para uma lancha, onde um rapaz a aguardava. Segundos mais tarde a lancha partiu.

Seis meses antes...

Aquela era apenas uma cabana comum no meio da floresta, como tantas outras que existiam na região. Lugares sagrados onde geralmente os caçadores passavam suas noites, beirando a lareira, esperando pela chance de abater uma boa caça. Mas naquela noite não havia caçadores, apenas um grupo de jovens loucos e excitados.

A cabana não era grande. Existia uma mesa redonda na sala à frente da lareira, a cozinha se conectava com a ajuda de um balcão e as portas que levavam aos dois quartos e ao banheiro se encontrava num corredor que se abria entre a sala e a cozinha.

Evelyn Carpenter estava sentada a mesa, diante de Hendrick e Olivia, Matthew sentava-se a frente de Jordan, Alex e do irmão da garota, Raphael Montgomery. No centro do móvel de madeira havia uma caixa azul e metálica, ao lado de uma garrafa de tequila e cigarros de maconha. Quase todos estavam fumando, exceto por Hendrick, que preferira não fumar naquela noite.

— Estão prontos para ver o que tem na caixa? – perguntou Evelyn.

— Vai logo Evy, mostra o que você trouxe! – pediu Matthew entusiasmado.

— Aposto que é algo muito interessante.

Alex mordeu os lábios ansiosa enquanto Evelyn abria a caixa.

— Um revólver! – Raphael pareceu surpreso. – O que deseja fazer agora, Evy?

— Ué, vocês nunca brincaram de roleta-russa?

— Isso parece perigoso, eu não vou tentar.

— Para Oli, não faz essa cara, vai ser legal! – afirmou Alex quando Evelyn colocou a bala no tambor.

— Me dá isso – Jordan pegou a arma –, deixa o papai aqui girar esse negócio. Quem quer ser o primeiro?

— Sai, cara! Não mexo com essas paradas entendeu? Acho melhor pararmos por aqui.

— Eu concordo com o Hendy – falou Olivia após tragar a maconha – álcool e drogas podem ser legais, mas eu não quero morrer agora.

— Ninguém vai morrer, senhorita Careta Gardner – afirmou Evelyn rindo. – Essa bala é falsa.

— Poxa, Evy! Assim não tem graça, você contou. Mais que merda! – exclamou Raphael.

Evelyn apanhou a arma das mãos de Jordan e a lançou sobre a mesa, fazendo-a deslizar até as mãos do irmão de Alex. Raphael apontou o revólver para a testa da namorada, destravou e apertou o gatilho.

— Viram? Vocês são um bando de medrosos.

Colocou uma dose de tequila num copo e tomou com um só gole, em seguida apontou a arma para a própria cabeça e disse “adeus” com a voz mais engraçada que pode inventar, disparando com total convicção de que não havia nada a temer.

No segundo seguinte viu-se o sangue saltar do orifício deixado pela bala e as expressões nos rostos de cada um naquela cabana gritava um silêncio apavorante. Estavam em pânico.

Dias atuais...

Hendrick não estava em casa, nem atendia as ligações. Olivia havia tentando encontrá-lo nos diversos locais que ele costumava frequentar, mas ele certamente não queria ser encontrado. Onde será que ele se meteu? Ela parecia preocupada e isso era algo habitual, como se alguma coisa estivesse sempre prestes a acontecer.

Resolveu ir para a casa dos pais, talvez lá ela ficasse mais relaxada, uma hora ou outra Hendrick apareceria. Ela tinha certeza. Quando chegou em casa sua mãe preparava o almoço, sentiu o cheiro de costelas defumadas ao molho de ervas finas antes mesmo de sair do carro.

— Nossa como cheira, mãe!

— Oh, Oli! Onde você dormiu, querida?

Vera Gardner estava a cortar cenouras e nabos para um refogado, mas os deixou de lado para abraçar a filha.

— Na casa de verão, precisava ficar sozinha.

— Por que, meu doce? O que está te incomodando?

— Não quero preocupá-la com coisas tolas, mãe. Volte ao que estava fazendo, não é nada demais. Onde está o papai?

— Saiu muito cedo, ele e Hendy tinham combinado de irem pescar. Acho que subiram o rio.

Olivia não esperava aquilo. Seu namorado a deixou sem dizer nada para pescar com seu pai, grande consideração, pensou.

— Será que demoram a voltar?

— Penso que antes do almoço, querida.

— Então comeremos todos juntos – disse com um sorriso – posso ajudar?

Evelyn estava mais consciente quando chegou ao cais de Solar Cove, aparentemente o efeito do álcool tinha se tornado mais brando. O homem que guiava a lancha a acompanhou até um sedan preto estacionado em frente ao Rough Sea Bar e sentou-se na cadeira do motorista.

— Para onde vamos, gracinha?

Ele devia ter quinze anos a mais que ela e certamente não morava naquela cidade. Evelyn sempre se envolvia com tipos estranhos, estava muito desequilibrada nos últimos tempos e essa combinação quase sempre terminava com problemas. Ela era um imã para isso, onde existisse encrenca ela estaria lá.

— Têm algumas pessoas que desejo visitar, amorzinho – levou a mão ao porta-luvas, de onde retirou uma carteira de cigarros. Puxou um e o acendeu, tragando com vontade, deixando que a fumaça saísse por suas narinas em seguida.

Evelyn era jovem e ao mesmo tempo muito decadente para sua idade. Sua juventude fora estragada pela bebida e pelas drogas, ela precisava de uma dose diária de emoções violentas para sobreviver. Era assim que ela afastava seus fantasmas.

— Vamos sair daqui, Greg.

— Você que manda gostosa.

O homem engatou a macha ré e pisou no acelerador fazendo o sedan rugir, levando-os dali para onde quer que a garota fosse.

O pai de Olivia – Dr. Antony Gardner – chegou da pescaria com Hendrick carregando seus pescados. Os dois falavam alto e com orgulho sobre a intensa manhã, enquanto passavam pela casa. Olivia foi beijada pelo namorado e sentiu um leve cheiro de peixe. O almoço já estava na mesa, esperando para ser devorado, os quatro se sentaram sem demora.

— Parece que a manhã foi realmente muito agradável, papai.

— Sim, Oli. Hendrick é um ótimo auxiliar – deu uma piscadela para filha e observou ela dar risada.

— Por que não me avisaram sobre a pescaria? Acho que não seria nada mal se eu fosse também.

— Pesca é coisa de homens, querida.

— Não escute o seu pai, filha. Ele diz isso porque sabe que nós, mulheres, somos tão boas quanto os homens.

Olivia e Hendrick sorriram, mas o momento foi interrompido pelo som da campainha.

— Quem será que é a essa hora? – perguntou o rapaz levantando-se.

— Não. Fique aí mesmo, deixe-me ver o que há.

A mãe de Olivia caminhou até a porta e pôs-se a olhar pelo olho mágico, do outro lado Evelyn esperava, com um cigarro aceso entre os lábios.

 


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Notas finais do capítulo

Digam o que acharam!! Até o próximo...



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