(Un)Lost escrita por Nightmare


Capítulo 5
#04. As nuvens de um novo alvorecer


Notas iniciais do capítulo

CURIOSIDADE DO DIA: Dark foi o nome escolhido por um Caesar de dez anos de idade, por isso a “simplicidade” do nome do Zorua em comparação com os outros membros do time de Caesar. Além disso, o nome espelhava perfeitamente o comportamento do pokémon e do próprio garoto.

Olá meu povo, estamos de volta com mais um capítulo o/ Estou pensando em escrever algumas curiosidades nas notas iniciais dos capítulos, coisas que provavelmente não serão reveladas ao longo da em si. Se vocês tiverem alguma dúvida desse tipo, deixe um comentário e, quem sabe, eu não respondo ela em uma curiosidade do dia? o3o
ANYWAYS, vamos ao que interessa. Ao capítulo o/



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Região de Hoenn, 5 de julho de 2024.

 

O rapaz de olhos azul-acinzentados e curtos cabelos negros analisou seu reflexo no espelho do banheiro de sua suíte após sair de seu rotineiro banho frio matinal, satisfeito com o resultado. As marcas de cansaço não mais eram visíveis em seu pálido rosto. Surpreendentemente, ele tivera uma ótima noite de sono – isto é, após desistir de tentar adormecer por contra própria e decidir-se por desfrutar dos benefícios de um comprimido que, em poucos minutos, o colocara para dormir. Ao acordar, pelo menos, a tarefa de afugentar os pensamentos ruins e as dúvidas de sua cabeça se tornara mais simples, talvez pois, agora, fosse mais fácil enganar a si mesmo e pensar que tudo havia sido um sonho, que sua melhor amiga não estava em perigo.

Ignorando o pensamento uma vez mais, antes que o mesmo ganhasse força, Caesar fitou o relógio digital em seu celular. Eram 5:45 e, a julgar pela pontualidade demonstrada pelos Rangers ao tratar de seus assuntos, Marcus e seu grupo deveriam ter partido fazia exatamente quinze minutos. Dessa forma, o garoto teria tempo o suficiente para terminar de se arrumar e ainda comer algumas torradas no refeitório do prédio antes de seguir até Slateport.

Após vestir-se com um de seus suéteres xadrez sem manga, cinza e amarelo, e uma bermuda de tom escuro – agradecendo por não ter de usar o horroroso uniforme laranja –, o jovem apanhou sua mochila e saiu pela porta. Na companhia da fiel raposa de longos pelos negros, desceu de elevador até o andar correspondente ao refeitório, onde apanhou algumas fatias de pão, acompanhadas de uma maçã, e sentou-se sozinho em um balcão, virado para uma enorme janela de vidro com uma vista incrível da floresta. Antes de iniciar sua refeição, procurou por uma vasilha de plástico transparente em sua mochila, colocando-a sobre o chão e enchendo-a com um pouco de ração que trouxera para Dark. O refeitório dos Rangers oferecia comida aos monstrinhos de bolso, mas Caesar duvidava que seu Zorua com Pedigree fosse aceitar alimentar-se de algo tão... comum.

Como esperado, já era possível ver algumas equipes sentadas nas mesas laranjas espalhadas pelo refeitório, todos uniformizados, forrando o estômago e preparando-se para iniciar mais uma patrulha diária ou missão em outra cidade. Entretanto, não havia nenhum sinal de Marcus e seu time, para o alívio de Caesar; ser visto por um deles poderia atrapalhar sua própria “missão” pessoal e, depois de encontrar o bilhete na noite passada, o rapaz precisava que tudo ocorresse conforme planejado.

Assim que Dark terminou de deliciar-se com sua ração, Caesar acomodou-o em seu colo e desceu as escadas até o primeiro andar – a julgar pela quantidade de pessoas que haviam se levantado junto dele, o elevador provavelmente ficaria cheio, forçando-o a encarar diversas pessoas logo pela manhã, algo que o jovem antissocial não estava exatamente disposto a fazer.

Do lado de fora do prédio, o rapaz franzino conferiu as horas mais uma vez, notando que já havia passado das seis da manhã. Abrindo seu aplicativo de GPS, selecionou a opção de “voo” e descobriu que o trajeto para Slateport duraria cerca de trinta e quatro minutos. Sem perder tempo, apanhou uma das esferas bicolores em sua mochila de cor mostarda e apertou seu botão central, fazendo-a ajustar-se ao tamanho de sua mão. Apertando o botão uma segunda vez, o dispositivo emitiu um feixe de luz branca que, aos poucos, ganhou forma, revelando o robusto corvo de penugem azul-marinho.

— Bom dia, Malchior. — exclamou o garoto, recebendo um corvejo rouco como resposta.

Com a permissão do enorme pássaro, Caesar endireitou alguns arreios ao redor de seu corpo, os quais carregava consigo para tornar os voos com Malchior mais seguros; assim, tinha algo para segurar caso o Honchkrow acabasse por ir rápido demais. O garoto explicou o trajeto para seu pokémon, mantendo o GPS aberto em seu celular para certificar-se de que estaria seguindo o caminho certo. Embora precisasse apenas atravessar uma rota para chegar à Slateport, Caesar desconhecia a região e não podia se atrasar devido a caminhos errados. Os assuntos dos quais deveria tratar eram urgentes e, de preferência, ele deveria retornar antes de Marcus e seu grupo.

Ao receber o comando de seu treinador, o majestoso corvo esticou suas longas asas, agitando-as e rapidamente levantando voo. Apesar de muitos considerarem voos em aviões mais confortáveis, o rapaz de cabelos negros sentia-se muito mais seguro viajando com seu companheiro; poderia parar no instante em que quisesse e, principalmente, não precisava compartilhar o mesmo espaço apertado com outras duzentas pessoas. Além disso, podia aproveitar melhor a paisagem dos locais por onde sobrevoava, embora, infelizmente, seus pensamentos conturbados tornassem impossível desviar sua atenção para admirar os belos cenários oferecidos por Hoenn.

Às seis e quarenta e cinco, Malchior pousou em frente ao portão de entrada da cidade portuária. Felizmente, o trajeto havia sido tranquilo e mais rápido do que o GPS indicara. Agradecendo seu pokémon por dispor-se a carregá-lo cedo pela manhã, Caesar retornou-o para o conforto de sua pokébola e, com a raposa de colar de pelos azuis, pôs-se a vagar pela nova cidade, em busca do Museu Oceânico.

Slateport era, de fato, uma cidade comercial. Embora ainda fosse cedo e não houvesse muitas pessoas cruzando as ruas, era possível identificar alguns comerciantes armando barracas ao redor da praça central, preparando-se para mais um dia de vendas. Ao norte, era possível ver uma grandiosa construção em vidro espelhado, com um letreiro dourado cujo as palavras Caesar era incapaz de ler mas, observando os diversos cartazes pendurados em postes e paredes anunciando um Contest próximo, o rapa julgou tratar-se do famoso Contest Hall da cidade. Apesar de Slateport ser relativamente grande, era muito bem sinalizada e, portanto, o jovem facilmente encontrou seu destino.

O Museu Oceânico era, em seu exterior, grande e chamativo. Sua estrutura havia sido muito bem arquitetada, de forma a assemelhar-se à espinha dorsal de um Gyarados Mega Evoluído: sua extremidade esquerda era mais alta, descendo com a serenidade de uma onda até sua extremidade esquerda, significantemente mais baixa. O prédio era inteiramente constituído de um material espelhado azulado, com hastes curvadas douradas simulando as espinhas de cada uma das ondas que representavam a o dorso do pokémon marinho. Ao centro da construção, havia uma porta dupla de vidro adornada por ondas de ouro. Caesar certamente passaria mais tempo analisando e estudando o belíssimo prédio, porém, não podia se dar ao luxo de desperdiçar seu tempo de tal modo.

Ao passar pela porta de vidro, o rapaz de cabelos negros encontrou-se em um pequeno quarto quadrado. O chão do local era feito de mármore branco e suas paredes eram inteiramente cobertas por papel de parede de um tom azul escuro, sendo enfeitadas com quadros de pinturas relaxantes do oceano e criaturas marinhas. Em cada uma das paredes laterais havia uma porta de vidro e, naquela localizada logo à frente do portão principal do museu, encontrava-se um comprido balcão branco, por trás do qual posicionavam-se três atendentes, endireitando alguns objetos e preparando-se para o novo dia de trabalho. De acordo com o planejado, Caesar chegara logo no momento de abertura do estabelecimento.

— Seja bem-vindo ao Museu Oceânico, senhor! — exclamou a mulher no centro ao notar a presença do rapaz. — Como posso lhe ajudar? — perguntou, endireitando sua postura.

— Um ingresso, por favor. — pediu, simplesmente.

Prontamente, a atendente pôs-se a digitar algo em seu computador e, em poucos segundos, apanhou um cartão azulado com as iniciais “MO” em sua frente. Com um sorriso radiante, entregou o objeto ao rapaz franzino.

— Obrigado. — murmurou o rapaz inexpressivo, entregando à mulher a quantia de dinheiro que lhe havia sido pedida. Um preço justo, acreditou Caesar; apenas dez dólares para visitar um dos museus mais famosos de toda Hoenn.

— Ah, senhor. — chamou a atendente, poucos segundos após o garoto dirigir-se até a roleta posicionada em frente à porta esquerda. — Não é permitido a entrada de pokémons no Museu. — informou, fazendo uma careta.

Sem ao menos se virar para trás para fitar a mulher, o garoto de cabelos negros bagunçados bufou. Parou no lugar em que estava, a poucos centímetros da roleta, revirando seu bolso em busca de uma de suas pokébolas. A esfera, diferente da maioria das outras, era inteiramente negra, com alguns círculos verdes nela estampados, e a faixa que a adornava, bem como seu botão central, era de um tom alaranjado. Caesar mostrou-a ao Zorua, o qual, contrariado, tocou-a com a ponta de seu esguio focinho, não sem antes hesitar. Dark detestava confinar-se dentro da pequena esfera, contudo, não costumava questionar as ordens de seu treinador. O menino nunca entendera o motivo para o receio da raposa quanto a permanecer no dispositivo, o qual a maioria dos pokémons aparentava achar aconchegante, mas, respeitando-o, somente o retornava à esfera em situações de extrema necessidade, deixando-o livre a maior parte do tempo.

Ao passar pela porta de vidro, após depositar seu cartão de entrada na catraca, Caesar finalmente deparou-se com o interior do museu. O piso do local era de um mármore amarelado e todas as paredes do grande salão eram azul-marinho, apresentando desenhos dourados bordados à mão. Alguns pilares, imitando os suportes de antigas construções romanas, estavam organizados pelo primeiro andar, abrigando, em seu topo, as mais diversas preciosidades; muitos deles eram até mesmo envoltos por faixas de veludo vermelho, proibindo os visitantes de aproximar-se demais e evitando possíveis acidentes. No centro do salão encontrava-se um grande aquário de vidro, atrás do qual uma grandiosa escadaria levava ao segundo andar. O acervo do Museu Oceânico era, de fato, muito rico; infelizmente, concentrado como estava, o rapaz pálido mal deu atenção aos diversos artefatos.

A passos curtos, o jovem caminhou pelo salão. Seu plano era simples: buscar, dentre os funcionários presentes, aquele com o nome “Giovanna” e, ao encontrá-la, perguntaria sobre o bilhete deixado por Dakota. Não parecia haver muitos funcionários e, embora Caesar desconhecesse o papel que a garota exercesse, o mesmo acreditava que a tarefa não pudesse ser tão difícil.

Mas, infelizmente, ele estava errado.

Por cerca de vinte minutos, o rapaz de cabelos negros caminhara por cada canto do museu, disfarçadamente dirigindo seu olhar para todos os funcionários que encontrava; até mesmo procurou por pessoas que trabalhassem no setor de limpeza, mas não tivera sorte. Àquela hora, alguns visitantes começavam a chegar e, caso Caesar não encontrasse a tal Giovanna rápido, sua tarefa se tornaria ainda mais difícil. Certamente, seria muito mais simples apenas retornar ao balcão e perguntar pela mulher, porém, desconhecendo os segredos que a mesma guardava, não queria atrair atenção desnecessária e, muito menos, levantar dúvidas sobre sua presença no estabelecimento.

O garoto encontrava-se encostado em uma das paredes, frustrado, quando observou uma porta de moldura dourada se abrir logo à sua frente. Não foi capaz de enxergar o que a mesma escondia, mas pôde identificar a mulher que saíra do quarto: em seu uniforme, lia-se “Giovanna Baniwa”. Com um novo brilho em seus olhos, Caesar caminhou a passos rápidos até a mulher, interrompendo-a ao chamá-la por seu nome, atraindo sua atenção.

A mulher morena não era muito alta, apresentando cerca de um metro e cinquenta de altura. Seus cabelos cor-de-avelã eram cheios, longos e ondulados, caindo até a metade de suas costas. O detalhe mais chamativo estava em seu rosto: uma pinta negra em sua bochecha esquerda. Não era muito bela, de acordo com os gostos do rapaz, mas aquilo pouco importava.

— Desculpe senhor, eu trabalho na sala de computadores. — informou a mulher. — Um dos guias do museu pode lhe explicar melhor sobre a exposição. — relatou, acreditando que aquele seria o motivo pelo qual o jovem o chamara.

— É você mesma quem eu estou procurando, Iris. — murmurou o rapaz, aproximando-se da funcionária.

No segundo em que o nome fora pronunciado, a morena estremeceu. Seus olhos castanhos se arregalaram, alertas, enquanto a mulher afastava-se alguns passos, olhando ao seu redor para certificar-se de que o garoto estava sozinho. Após alguns segundos calada, ela finalmente respondeu.

— Quem é você? O que você quer? — sussurrou a funcionária, procurando não chamar atenção. — O que você sabe? — perguntou, por fim.

— Esse é exatamente o problema: eu não sei nada. — afirmou prontamente o rapaz, com uma certa tristeza transparente em sua voz. — Sou um amigo de Dakota. Melhor amigo. E pretendo encontrá-la. — agora, falava com convicção. — Ela me deixou um bilhete, pediu-me para procurar por você. Havia algo sobre... Ghost. Eu preciso de respostas. — havia um certo desespero em sua frase final.

A mulher fitou o rapaz, analisando-o por completo. Em seu semblante, um misto de aflição e desconfiança transpareciam. Como ela teria certeza das intenções do jovem? Apesar do mesmo aparentar ser muito novo, nada o impedia de ser um agente infiltrado e, se Dakota realmente havia sido raptada pela organização, podiam tê-la torturado até arrancar-lhe alguma informação. Contudo, o tom de voz e comportamento do garoto não pareciam ser ensaiados; ele transparecia honestidade. Além disso, um agente da organização não iria atrás dela para fazer perguntas, ele simplesmente a sequestraria – ou pior –, como suspeitava que houvessem feito com a loira.

Após um breve silêncio da funcionária, esta pediu para o rapaz acompanhá-la, deixando-o, à princípio, confuso. Apenas quando a mulher tornou seu olhar para algumas das câmeras de vigilância nas paredes ao seu redor, Caesar compreendeu a intenção da morena de ir até um lugar mais reservado. Aparentemente, o assunto era realmente relevante e, ao que parecia, até mesmo perigoso.

Giovanna – ou Iris, seu codinome – levou o garoto de cabelos negros até a sala de onde saíra, minutos atrás. Somente então o rapaz notou tratar-se de uma sala de comando; diversos computadores, painéis de controle e telas de vigilância encontravam-se em cada um dos quatro cantos do pequeno quarto. Ironicamente, não havia nenhuma câmera no local.

Silenciosamente, a mulher fechou a porta e trancou-a, após verificar uma vez mais que ninguém os observava. Pediu, em seguida, que o jovem se sentasse sobre um banquinho, mas ela mesma permaneceu em pé; demonstrava desconfiança e receio.

— O que você sabe? — questionou a morena, uma vez mais.

— Sei que Dakota Steele está desaparecida. Sei que ela te conhecia. — ele fez uma breve pausa, antes de continuar. — E sei que vou encontrá-la.

— Garoto, você não tem ideia de onde está se metendo. — o tom da mulher era sério, mas não fora capaz de intimidar Caesar.

— Eu não me importo. — retrucou, prontamente. — Eu preciso encontrá-la. Farei de tudo para tê-la de volta.

Por alguns instantes, a funcionária apenas fitou o rapaz, duvidando de sua coragem. Entretanto, ao encontrar seus olhos de um tom azul acinzentado, a mulher foi capaz de enxergar sua determinação e, assim, teve certeza de que ele realmente não desistiria. Com um longo suspiro, a morena fitou o chão por alguns segundos, antes de retornar sua atenção ao garoto.

— Bom, se você não vai mesmo desistir, é melhor saber o que está enfrentando. — enquanto falava, Giovanna não deixava de olhar bem no fundo dos olhos do rapaz. — A primeira coisa que você deve saber é que Dakota está viva.

Ao receber a informação, Caesar deixou um suspiro aliviado escapar por seus lábios. Desde o desaparecimento da amiga, o jovem se mobilizara para encontrá-la sem saber se, ao fazê-lo, a menina estaria viva ou morta. Com a afirmação de Giovanna, o peito do garoto de cabelos negros encheu-se de esperanças uma vez mais.

— Como você sabe? — ele precisava ter certeza.

— Dakota tinha um transmissor, como este, quando desapareceu. — a mulher endireitou uma mecha de cabelos atrás de sua orelha, removendo um de seus brincos. Somente então, o rapaz pôde perceber uma pequena luz azul emitida pelo mesmo. — Em contato com a pele, esse dispositivo consegue receber informações sobre variáveis, como o calor corporal, fluxo de sangue e outros fatores, reconhecendo se o organismo com o qual está em contato está vivo ou morto. Ao não perceber o comportamento normal de um organismo vivo, ele para de emitir seu sinal. — ela demonstrou, deixando o pequeno dispositivo sobre a mesa, o qual, após alguns segundos, deixou de piscar a luz azul. — Esse é o sinal do dispositivo que estava com Dakota. — a morena continuou, digitando algo em um pequeno laptop e, em sua tela, uma página inteiramente negra apareceu, com alguns pequenos círculos que piscavam uma luz similar àquela emitida pelo transmissor, ao lado dos quais estavam diversos nomes. — Gaia é o codinome da Dakota. – ela explicou, ao notar a confusão esboçada pelo rapaz. — Todos que trabalham conosco tem codinomes para segurança, assim, caso alguma mensagem trocada entre nós seja descoberta, não será possível nos rastrear por nomes.

— Você não consegue rastrear de onde vem o sinal? — Caesar arqueou uma de suas sobrancelhas.

— Poderia. — afirmou, certa, a mulher. — Mas, aparentemente, o lugar onde colocaram Dakota após sequestrá-la é muito bem protegido, sendo impossível rastrear qualquer sinal. Acredito que eles a tenham levado para o Quartel General da organização, isso explicaria o bloqueio de sinais.

— Organização? — indagou o rapaz, verdadeiramente confuso.

— É aqui que a história começa a ficar complicada. — a morena suspirou novamente e, dessa vez, Caesar não foi capaz de identificar se a mulher transparecia medo ou preocupação. — Permita-me começar do início.

Sentando-se na única poltrona disponível na pequena sala de controle, Giovanna começou explicar tudo que o rapaz precisava saber. Inicialmente, informou-lhe que conhecera Dakota na delegacia da cidade de Verdanturf, após a morena testemunhar um grupo de adultos maltratando um bando de pokémons selvagens e enjaulando-os. Depois de relatar o caso à polícia, pouco recebendo atenção, a loira dissera saber quem estava por trás do crime e, juntas, as duas dedicaram-se à investigação de todo evento que pudesse ter ligação ao grupo. Posteriormente, outras pessoas de confiança juntaram-se à dupla, pesquisando e recolhendo informações sobre a emergente organização chamada pelos policiais de “Ghost”, devido à sua capacidade de aparecer e desaparecer rapidamente sem deixar rastros. Vez ou outra, Caesar interrompia o monólogo da mulher para fazer perguntas, às quais Giovanna prontamente respondia – isso é, quando ela tinha as respostas. Após relatar o principal, a mulher dirigiu-se até um cofre escondido em um armário no canto da sala, abrindo-o e apanhando algumas pastas.

— Esses são alguns dos casos que nós estudamos e acreditamos que tenham sido obra da Ghost. — a morena ajeitou os cabelos em um coque malfeito, organizando as imagens sobre uma mesa encostada na parede do fundo.

Imediatamente, o rapaz de cabelos negros levantou-se do banquinho no qual estava sentado, apoiou-se sobre a pequena mesa e pôs-se a analisar o material. Havia seis notícias de jornal, quatro sobre desaparecimentos e duas sobre ataques misteriosos de pokémons à cidades, todas contendo a frase “o autor do crime ainda é desconhecido”. Algumas fotografias, provavelmente tiradas pela própria funcionária, retratavam o momento no qual o Controle de Pokémons e ambulâncias chegavam às cidades para conter o ataque dos monstrinhos – ao fundo de uma das imagens, encontrava-se a menina loira de cabelos lisos.

— Por que vocês não deixaram o trabalho para a polícia? — questionou o garoto, após segundos de silêncio, ainda fitando a fotografia na qual estava sua amiga. — Pra que correr o risco e envolver-se em algo que não lhes dizia respeito? — uma essência de raiva fazia-se presente em sua voz.

— Eu nasci aqui, assim como todos os meus ancestrais. Não sou capaz de ficar parada ao ver esses criminosos aterrorizando meu lar. — relatou Giovanna. — Já Dakota, apesar de ter chegado à Hoenn há pouco tempo, tinha um amor enorme por tudo aqui.

A última frase da mulher fez Caesar embarcar em um mar de memórias. Recordou-se dos primeiros telefonemas com a garota, após a chegada da mesma na região, e de suas cartas, as quais passou a enviar ao decidir que se livraria de seu celular e qualquer outro aparelho eletrônico. Todas as vezes, Dakota não se esquecera de mencionar o quão linda era Hoenn e o quão diferente ela era de Kalos: sua flora mais rica, a urbanização controlada, o clima tropical. De fato, a garota parecia haver encontrado o lugar de seus sonhos.

— Além disso, — Giovanna continuou, após o longo silêncio do rapaz — ela tinha esse espírito altruísta, essa vontade de ajudar. Eu diria que ela seria até mesmo capaz de...

— Sacrificar-se para proteger os outros. — interrompeu, completando a frase da mulher.

— Isso. — a morena esboçou um leve sorriso, como se tentasse confortar o garoto por sua perda.

Por alguns instantes, Caesar sentou-se novamente sobre o banquinho, pensativo. Colocou uma de suas mãos sobre a face, massageando suas têmporas enquanto tentava digerir todas as informações que acabara de receber. E, por mais que o jovem tentasse controlar seu comportamento exterior, interiormente ele era uma completa bagunça de emoções. Sentia-se contrariado e traído, pois sua melhor amiga não atendera seus pedidos para não deixar Kalos e, mesmo após fazê-lo, não lhe contara sobre a situação na qual estava – mas, no fundo, o rapaz sabia que, se ela o tivesse feito, ele teria ido pessoalmente buscá-la e a levaria para longe de Hoenn. Sentia-se angustiado, impotente, irritado; desejava encontrar os raptores da amiga e puni-los por tudo o que ele estava passando para reencontrá-la. Por fim, sentia algo que nunca antes experimentara: medo. Tinha medo de não ser competente o suficiente para encontrar Dakota à tempo. Temia nunca mais encontrá-la.

Determinado a não deixar o desespero controlá-lo, Caesar cerrou os punhos, transformando seu medo, tristeza e preocupação – sentimentos “fracos”, como o rapaz os chamava – em raiva. Essa sim o impediria de perder seu tempo lastimando os acontecimentos que o perturbavam e o permitiria preparar-se para uma luta da qual ele não desistiria. Enchendo-se de determinação novamente, o rapaz ergueu-se, endireitando os óculos em seu rosto.

— Obrigado pelas informações. — pronunciou o jovem de cabelos negros, de costas para a funcionária. — Vou fazer de tudo para solucionar esse caso. — finalizou, andando em direção à porta mas, antes mesmo de conseguir abri-la, foi interrompido pela mulher.

— Espere! — ela pediu e, embora o garoto houvesse parado, ele não se virara para fitá-la. — Nós podemos te dar um codinome, e eu posso lhe entregar um desses dispositivos, assim você estará mais seguro enquanto tentamos desmascarar e derrubar a Ghost.

Por um instante, o rapaz pálido retirou a mão da maçaneta. Giovanna achou que fosse se virar, mas ele não o fez; apenas permaneceu parado por mais alguns segundos, antes de pronunciar-se.

— Acredito que eu tenha me expressado mal. — iniciou, deixando a morena confusa. — Eu não vou tentar parar essa organização. Eu não podia me importar menos com o que esses imbecis estão fazendo e o quanto isso afeta Hoenn. — apesar de encontrar-se ainda de costas para a mulher, Caesar sentiu um suspiro de surpresa escapar por seus lábios. — Eu só quero encontrar Dakota e me certificar de que ela estará segura. O resto, é trabalho da polícia.

Deixando uma chocada Giovanna para trás, o garoto sombrio abriu a porta em um movimento rápido, fechando-a atrás de si e continuando seu caminho.

 

(***)

 

Já passava das onze horas da manhã quando Caesar, enfim, deixou o grandioso museu, sem preocupar-se por apreciar a exposição do mesmo. Para seu desgosto, o movimento na cidade agora era intenso; uma multidão de pessoas cruzava as ruas, algumas delas uniformizadas e outras apenas passeando, pokémons correndo e brincando por todo lado. A primeira ação do garoto foi procurar pela esfera escura em seu bolso e sacá-la, libertando o Zorua de incomum colar de pelos azuis, o qual rosnou baixo antes de acomodar-se ao redor do pescoço de seu treinador.

— Desculpe, Dark. — ele tocou a nuca do vulpino, fazendo uma breve carícia. — Ás vezes, até mesmo nós temos que seguir as regras. — constatou, fazendo o pokémon revirar os olhos rubros.

Afastando-se um pouco do tumulto, o garoto franzino estava prestes a libertar o grande corvo negro para retornarem à Mauville, quando seus olhos acinzentados depararam-se com uma pequena PokéShop, local onde era possível encontrar diversos produtos para monstrinhos de bolso. Notou um chamativo panfleto preso à vidraçaria, onde podia-se ler “Temos Rações para todo tipo de pokémon!”. Lembrando-se da careta feita por Dark quando um dos Rangers tentara oferecer-lhe comida, no dia anterior, decidiu-se por visitar rapidamente o estabelecimento para procurar uma ração decente para seu time – era necessário mantê-los saudáveis, especialmente agora que seus companheiros deveriam esforçar-se diariamente para auxiliá-lo em suas futuras “missões”. O garoto fez uma careta apenas ao se lembrar.

— Eu quero cinco quilos da sua ração mais cara. — balbuciou o rapaz, surpreendendo o senhor de cabelos brancos que fazia algumas contas em sua calculadora, atrás do balcão da loja.

— Bom dia, jovem! — o senhor murmurou animadamente, ficando desconfortável ao notar a inexpressividade de Caesar.

Intimidado pelo olhar frio do garoto, o atendente apenas afastou-se do balcão, seguindo até uma das diversas prateleiras que guardavam rações das mais diversas marcas e apanhou uma de sacola inteiramente preta, apenas com alguns detalhes em dourado, bem como seu nome: “Royal’s Cuisine”. Depositou o saco cuidadosamente sobre a mesa, permitindo que Caesar o analisasse, antes de o mesmo deixar uma nota de 100 dólares sobre a mesa e dar as costas ao senhor.

— Pode ficar com o troco. — murmurou o rapaz, deixando o estabelecimento.

Caesar sabia que cinco quilos não seriam suficientes para alimentar todo o seu time por mais do que alguns dias; contudo, estava ciente de sua falta de massa muscular e reconhecia o quão difícil seria carregar mais do que aquela quantidade – ele podia simplesmente comprar mais em Mauville, quando fosse necessário. Além disso, seria extremamente cruel fazer Malchior carregar tanto peso durante a viagem até o Prédio Principal dos Rangers. Assim, o rapaz apenas guardou o produto em sua mochila e libertou o Honchkrow, na esperança de chegar ao seu destino antes de Marcus e sua equipe.

A viagem de volta fora tão tediosa quanto a de ida, no entanto, dessa vez, o rapaz de cabelos negros tinha ainda mais dúvidas em sua mente. Confiando na memória e inteligência de seu companheiro, deixou Malchior guiar-se sozinho, enquanto arquitetava os mais diversos planos em sua cabeça; era como se as informações que lhe haviam sido reveladas clareassem sua mente, como um novo alvorecer, mas as incertezas resultantes do mesmo impediam a luz do sol de iluminar todos os cantos de sua mente.

Após descobrir sobre o arriscado trabalho não remunerado da amiga como detetive, ficara claro para Caesar o real motivo pelo qual a mesma se livrara de todo e qualquer aparelho eletrônico: para não ser rastreada, caso ela acabasse sendo descoberta. A quantidade de informação à qual a organização teria acesso ao roubar seu celular poderia colocar todos que conhecia em perigo – comunicando-se através de cartas, isso seria impossível.

Embora alguns fatos agora fizessem mais sentido para o rapaz, outros apenas o deixaram mais confuso. As perguntas multiplicavam-se em sua mente, mas o garoto tentava afastá-las para concentrar-se em desenvolver seus próximos passos para salvar a amiga. Primeiramente, ele precisaria descobrir onde a tal organização mantinha sua sede, já que era esse seu melhor palpite sobre o paradeiro da jovem; procurar onde ocorriam a maior parte dos crimes relacionados à Ghost talvez lhe rendesse algumas sugestões. Visitar a estação de polícia em Verdanturf, onde Dakota conhecera Giovanna, também poderia ser útil, se a garota houvesse comentado algo com alguma das autoridades locais. E, certamente, precisava estudar mais sobre os incidentes relacionados com a organização, para melhor conhecer o inimigo e saber do que eram capazes.

Um corvejo alto retirou abruptamente o rapaz de seus devaneios. Quando Caesar resolveu, enfim, olhar a seu redor, percebeu que não mais estavam voando: Malchior estava já no chão, em frente ao Prédio dos Rangers. Imerso em seus pensamentos, o garoto nem ao menos notara que já haviam pousado.

— Desculpe, Mal. — murmurou o jovem, endireitando seus cabelos negros bagunçados pelo voo e descendo das costas do majestoso pássaro. — Estava com a cabeça em outro lugar.

Apesar de desconhecer as informações recém adquiridas pelo treinador, o Honchkrow compreendia os demônios que assombravam-no. O pokémon corvejou novamente, mais baixo, e assentiu, confortando o garoto, o qual carinhosamente tocou-lhe o longo bico. Quando estava prestes a retorná-lo, no entanto, uma voz estridente chamou a atenção do rapaz.

— Caesar! — a voz feminina fora facilmente reconhecida pelo rapaz: além de Mary Jane ter uma voz extremamente fina, ela era a única que não o chamava de novato.

Sem ao menos virar-se para trás, Caesar fechou os olhos, passando a mão pela testa. Ele não fora rápido o suficiente para retornar antes de Marcus.

— Onde estava, novato? — indagou a morena alta, arqueando uma de suas sobrancelhas ao notar os arreios ao redor do enorme pássaro.

— Você não ia ficar treinando enquanto estávamos ocupados com a missão? — dessa vez, a voz era a de Marcus.

Virando-se, enfim, para trás, Caesar fitou os membros de sua nova equipe. Como estavam todos ainda à frente de prédio, o rapaz arriscou dizer que haviam acabado de chegar e, por alguns minutos, não fora capaz de passar despercebido e evitar o questionário, o qual já estava começando. Após alguns segundos sem se pronunciar, percebendo a expressão confusa de todos – exceto por Mary Jane, que sorria –, o rapaz finalmente resolveu fazê-lo.

— Eu... Estava treinando. — gaguejou um pouco; sempre fora um terrível mentiroso. — Treinando pouso de emergência.

— Depois da corrida de ontem, seu Honchkrow não parece ter muito o que treinar. — analisou Jolene, fazendo Marcus franzir o cenho, provavelmente por lembrar-se de que seu poderoso Talonflame havia perdido.

Incomodado com o comentário da morena, Caesar bufou. Ora, o que ele fazia ou deixava de fazer não era de sua conta e ela não tinha o direito de desmascarar suas mentiras.

— E também aproveitei para comprar um pouco de ração para meus pokémons. — completou o rapaz, depois de pensar um pouco, mostrando o saco de ração que guardava em sua mochila. — Dark não gostou muito da comida servida aqui.

— Ah, claro. Seus pokémons também são da realeza. — provocou a garota de longos cabelos presos em um rabo de cavalo, debochando do comportamento egocêntrico do rapaz.

Caesar abriu sua boca para contra atacar o comentário da mulher, mas fechou-a novamente ao julgar ser mais inteligente não fazê-lo. Aproveitou que mais nenhuma pergunta lhe havia sido feita e resolveu não levantar mais dúvidas sobre sua viagem até Slateport.

— Bem, temos os resto do dia livre hoje. — anunciou Marcus, exibindo um sorriso zombado ao ouvir as comemorações dos outros integrantes do time; aparentemente, tardes tranquilas não eram muito comuns. — Tentem descansar, amanhã partiremos para uma viagem de alguns dias para Verdanturf, para estudar melhor o que vimos hoje.

Com o anúncio do líder, os outros integrantes começaram a se dissipar, preparando-se para aproveitar o tempo livre que lhes fora concedido. Caesar, no entanto, pareceu confuso.

— O que viram? — indagou, verdadeiramente curioso. Verdanturf era uma das cidades em sua lista de locais para investigas, e qualquer informação sobre a mesma era de grande importância.

— Eu posso te contar tudo! — ofereceu-se a loira de cabelos em corte Chanel, antes mesmo de Marcus poder dizer algo. — Já que temos a tarde livre, posso te levar para dar uma volta por Mauville e te explicar sobre a missão de hoje. — sua expressão era animada, mas seus sorriso era falso, como sempre.

— Obrigado, mas acho que vou dedicar esse tempo para cuidar de meus pokémons e prepará-los para a viagem de amanhã. — dispensou, afastando-se alguns passos da loira sorridente.

— Na verdade, — intrometeu-se o moreno musculoso, fazendo Caesar franzir o cenho antes mesmo de completar sua frase. — como parte do time, é bom você ter conhecimento de tudo o que fazemos. E já que MJ se voluntariou... — ele apontou para a loira, virando-se de costas para os dois. — Ah e, novato, — prosseguiu, impedindo o rapaz de pronunciar-se. — aproveite para ver se consegue um novo pokémon para o seu time. O prazo está chegando.

Embora o homem estivesse de costas, Caesar podia jurar que ele estava sorrindo. Apesar da conversa que haviam tido no dia anterior sobre “recomeçar”, Marcus ainda parecia divertir-se ao contrariar o mais novo membro de sua equipe. Sem sorte com suas desculpas, o rapaz de cabelos negros nada pôde fazer além de franzir o cenho.

— Você disse que tem pokémons um pouco menos sociáveis, não é? — exclamou Mary Jane, chamando a atenção do outro. — Eu conheço um bom lugar para você libertá-los, assim você poderá cuidar deles também. — sugeriu, piscando seus olhos, verdes como esmeraldas.

— Tanto faz. — murmurou, por fim, o rapaz, dando de ombros.

Animadamente, a jovem tomou a frente, saltitando. Ivy, a Vulpix de pelos brancos, aproximou-se de Dark, o qual agora encontrava-se no chão, chamando-o para brincar. A raposinha albina agitava suas seis caudas e emitia um som agudo, similar a um latido, mas o Zorua aparentava apenas estar incomodado. Irritado, o vulpino fuzilou seu treinador com os olhos, rosnando baixo, como se reprovasse sua decisão de acompanhar a garota. Ignorando a raposa, Caesar apenas bufou, seguindo Mary Jane.

Seu longo dia estava prestes a ficar ainda mais cansativo.


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Notas finais do capítulo

Olá novamente! o/
Espero que tenham gostado do capítulo. Foi minha primeira vez trabalhando com tanto diálogo, então espero que não tenha ficado confuso. Anyway, esse capítulo foi mais para falar sobre o que a Dakota estava fazendo em seu tempo livre em Hoenn, e é agora que Caesar realmente vai ter que bancar o detetive. No próximo capítulo teremos um pouco mais sobre Mary Jane (como vocês devem ter percebido) e sobre uma ideia sobre o plano da chamada Ghost.
Vejo vocês semana que vem (ou na próxima)
Beijinhos da Nightmare :*



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