Cosmos. escrita por Nienna Valois


Capítulo 3
A lenda da constelação de Gêmeos.




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3

 

Quando os irmãos Saga e Kanon adentraram no santuário, o mestre com seu imenso poder pode sentir que uma força misteriosa atravessava a proteção que envolvia todo o santuário de Athena, mas não sabia distinguir quem era, e qual hierarquia da sagrada deusa pertencia, não obstante a angústia perpassava o coração do mestre, quem naquele santuário poderia o suceder? Dizia aos seus próprios pensamentos, sentia o peso de envelhecer, e sabia que o dia desta anunciação estava próximo. Dos céus um cometa incandescente traria sentimentos mais esperançosos para humanidade que estava em risco, era esse o desejo genuíno do mestre, por este motivo atravessava o tempo.

Saga e Kanon passaram a viver nas proximidades do Santuário, submetiam-se a um treinamento árduo supervisionado pelo misterioso Gaios, aquele homem desconhecido ora estava com os irmãos, ora desaparecia sem ao menos ninguém saber o seu paradeiro, podia desaparecer por meses, ou até um ano inteiro, porém um forte  laço de amizade e admiração interligava os três. Os jovens irmãos seguiam a risca todas as suas instruções, com exceção Kanon que tinha uma personalidade indomável. Os irmãos levantavam-se muito cedo, faziam o seu desjejum obrigatoriamente, Gaios era um instrutor demasiado meticuloso com o que ingeriam, bebiam, e as atividades físicas matinais e treinamentos eram intensos, intercalados com estudos; Gaios exigia que obtivessem conhecimento sobre o universo, tal sabedoria era a chave para compreender o poder de um cavaleiro, e principalmente a técnica que desenvolveriam com o tempo, ele advertia que a saúde física e mental ressoava em um uníssono com a armadura que revestiria seus corpos. Um desequilibrio fisico ou psíquico poderia afetar uma luta.

Kanon achava aquilo tudo uma grande bobagem, era um gênio difícil, e contestador, sempre para ele os trabalhos eram mais árduos como por exemplo: construir casas aos arredores de Atenas, restaurar templos, e outros trabalhos voluntários que o deixava furioso, com o decorrer do tempo a personalidade de Kanon foi delineando com maior precisão, o rapaz se tornava egocêntrico e indiferente aos oprimidos.

Saga era um jovem que aos poucos ia se tornando um homem de personalidade notória, caminhava como um imperador, revestia-se do silêncio, e tinha uma grande serenidade no coração e equilíbrio, além de ser demasiado intelectual. Estudava profundamente a teogonia, tinha um conhecimento vasto sobre astronomia, estratégias militares, e poder de oratória, discursava com eloquência, tinha um magnetismo no olhar único, suas falas eram fortes e persuasivas, há os que o comparavam aos famosos filósofos gregos de outrora. Era celebrado pelas pessoas que residiam próximas a sua casa, muitos diziam que era o jovem mais bondoso que havia no santuário, que sua benevolência poderia acalmar a fúria das feras, os cavaleiros, e todos que habitavam o santuário o enxergavam como um forte sucessor que quiçá poderia ocupar o lugar do mestre, que naquele momento enfrentava uma grande enfermidade, mas mantinha-se firme, transmitindo convicção e esperança a todos que aproximavam dele. Contudo, havia no santuário outro homem tão admirado quanto Saga. Este homem é o repeitável cavaleiro Aioros, era assim que muitos referiam à sua pessoa, era considerado o princípe de Pyrgos, pelo inestimável valor que tinha para aquele povo.

A fina garoa encobria a noite no santuário, Kanon estava debruçado sobre umbral da janela absorto, enquanto Saga estava a beira da lareira incandescente, envolto por uma manta escura, e no colo um livro aberto que versava sobre cosmologia, seus olhos azuis permaneciam fixos sobre as letras gregas que compunham as páginas, inclinado suas melenas azuladas cascateavam pelos ombros, o tempo passava, e de um menino ingênuo e determinado que chegara ao santuário querendo atravessar a doze casas, hoje era um homem, que em sua tez exibia traços harmoniosos, numa grandiosa beleza e juventude.

Um homem envolto por uma túnica escura úmida aproximou da porta principal da casa, imediatamente Kanon fixou os olhos no ranger da porta, aguardava aquela presença, e Saga apenas arqueou as sobrancelhas num gesto muito sereno, com as mãos pálidas e úmidas, despiu-se o capuz: era Gaios. Com um salto Kanon tomou a frente do mestre em tais palavras:

— Poderia atacar o homem que entra em minha casa furtivamente sem ser anunciado, afinal por volta de uma primavera que eu e meu irmão fomos abandonados pelo nosso mestre - ironizou a presença daquele homem velho, o medindo da cabeça aos pés.

Gaios ficou tácito, e informou que trajassem suas túnicas, pois conheceriam um lugar muito importante, e possivelmente o ponto máximo do treinamento. Kanon imediatamente sem contestar, vestiu a túnica a ajeitando no corpo, Saga levantou-se em consentimento fechando o livro, e seguiu as ordens fielmente de seu mestre.

Era uma noite belíssima na Grécia, a fina garoa cessou e os ventos sopravam suaves, as nuvens se abriam no céu, enquanto os três caminhavam em direção ao mar Egeu. Ao se aproximarem, era suave de se ouvir o som do mar na noite, as ondas deslizando sobre o mar escuro iluminado pela pálida luz da lua refletindo sob as águas; Kanon observava aquilo deslumbrado, Saga sentia que fazia parte daquela totalidade, o vento lhe trespassava a fronte, e o que aquele rapaz pensava era realmente um mistério.

— Nesta região costeira de Atenas, naquele templo distante é o famoso Cabo Sunion- disse apontando para o local- em tempos mitológicos, Athena lançava seus prisioneiros de guerra a este lugar, era uma prisão terrível, dentro desta caverna ainda havia restos mortais de prisioneiros.

E porque estamos aqui Senhor?— disse Saga interrompendo o silêncio, estava hipnotizado pelo mar.

— Há uma gruta, muito próxima ao Cabo, um lugar sagrado para mim, um refúgio onde converso com Athena, e foi lá que aprendi a minha técnica máxima, que me foi cofiada pela deusa, através do seu cosmo.

Kanon e Saga ficaram atônitos, e caminharam rumo ao lugar tão respeitado pelos seu mestre. Ao adentrarem na gruta escura, Gaios construiu uma pequena tocha de fogo para iluminar o local com uma fraca luz, a medida que penetravam naquela escuridão era como se um acorde de harpa caminhava com eles, não era uma caverna qualquer, a medida que a luz incandescente alcançava as paredes rochosas, exibiam inscrições gregas nas paredes, e desenhos muito antigos provavelmente de um período anterior a Era Santa. Saga percorria o olhar na parede tentando decifrar as letras, mas o idioma era uma mistura de grego com outra língua indecifrável.

— Mestre o que poder ser esse idioma?— Interpelou Saga curioso.

— É o idioma do Olimpo, não há ninguém que possa ler essas inscrições, somente Athena. Diz se que em todas as suas reencarnações, ela passa por aqui deixando uma mensagem para seus cavaleiros, porém apenas um é o escolhido para sua leitura.

— Você disse que este lugar seria importante para o nosso treinamento, como poderia ser? Se estamos arrodeados de mensagens enigmáticas? – questionou Kanon.

Gaios fez uma pausa, e prosseguiu, enquanto isso os irmãos fixaram o olhar nele ávidos para ouvir os seus segredos.

— Quando eu era demasiado jovem, cheguei aqui no santuário como vocês, apenas guiado pela voz do coração, e descobri que essa voz da alma, é a maneira como Athena conversa com os seus cavaleiros, e desta maneira cheguei a esta caverna, e foi aqui que o cosmo de Athena derramou-se sobre mim, esse dia lembro muito bem foi quando aprendi a minha técnica de ataque muito poderosa, mas não podia a conduzir com maestria, eu era muito jovem, e só o exercício disciplinado desta me fez exercer esta técnica com uma força inimaginável. Contudo, jurei aqui mesmo diante da deusa que apenas a usaria para justiça. Foi neste dia que me tornei um cavaleiro.

Gaios com os semblantes sérios olhou com firmeza para os dois futuros cavaleiros, e prosseguiu com firmeza em palavras:

— Uma vez em tempos antigos havia uma história, de dois gêmeos que eram filhos da mesma mãe, embora de pais diferentes, porém uma dessas crianças era filho de um deus. Logo uma dessas crianças nasceu com a imortalidade de um deus. Esses irmãos eram chamados de Castor e Pollux, ambos eram muito fortes e destemidos assim como vocês, contudo, Castor em uma batalha morre, e Pollux fica desolado. Penalizado com o acontecimento, Zeus, para que permanecesse juntos por toda a eternidade os transformaram na constelação de Gêmeos, a constelação guardiã de vocês. Para os que são protegidos por essa constelação o conhecimento do universo é fundamental, como podem notar num céu estrelado, podemos avistar a constelação de gêmeos, e para encontra-la localizamos a estrela de Órion, observem à magnitude desta constelação, por acaso, quando estive ausente alguém de vocês dois estudaram a história do universo? Sabem como as estrelas foram formadas?

Que relevância tem isso? – disse Kanon perplexo com tudo que ouviu.

Gaios ponderou paciente.

— Como poderei ensinar a minha técnica máxima se você não consegue ter compreensão do que é o cosmo.

Saga meneou a cabeça em assentimento, e Kanon tomou a palavra:

— O cosmo nada mais é que a unidade do universo e dos sentidos de nosso espírito, por tanto é a ordem com o todo.

— É exatamente isso. Mas se sabes tudo então me diga como fazer a partir de você e o cosmo gerar uma força?- Indagou Gaios.

Talvez, geramos força através das partículas que compõem toda a forma do universo. -respondeu Saga.

Gaios respirou profundamente.

— Retomo a questão anterior, como as estrelas se formam?

Fez-se um silencio total.

— As estrelas surgem através de núcleos de energias, as galáxias se formam através de aglomerados estrelares, e quando estas morrem se faz um grande colapso, e desse colapso pode se fazer uma partícula atômica ou o vazio gravitacional. Portanto essas duas são as minhas maiores técnicas que compartilharei com vocês, um poder que me foi cofiado por Athena. E esses poderes são: a explosão das galáxias e a outra dimensão, o segundo como o próprio nome diz é este espaço que nomeei de vazio, uma dimensão inóspita que fará o adversário vagar para sempre ao desconhecido.

Saga e Kanon ficaram assombrados.

— Porém a eficácia do golpe dependerá de vocês. – advertiu o mestre.

— Que golpe terrível! Quando nos ensinará tudo isso?- exclamou Kanon.

— Seja paciente meu caro, para eu mesmo aprender tudo isso foi demorado, tive que ter paciência para ser contundente. Mas atenção! Esses golpes só podem ser usados para a justiça, caso ao contrário pagarão caro por usar uma energia hostil, o universo é um espelho gigante que reflete nossos atos.

— Mestre o senhor é uma homem muito supersticioso, você e meu irmão Saga são muito parecidos – disse Kanon com desdém.

Saga ouviu tudo aquilo e ficou tácito, absorto em pensamentos, fixo em um verso de Athena na parede que não podia decifrar.

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O DIA SE INICIOU, ERA UMA MANHÃ ENSOLARADA, parecia que tudo caminhava numa paz e perfeito equilíbrio, quando repentinamente, uma jovem criança proveniente do monte areópago corria em direção as montanhas, com muita aflição e semblantes de preocupação. Era uma criança de tenra idade que treinava no santuário, e exclamava pelo nome do irmão.

Aioros! Irmão! – berrava insistentemente.

E corria incansavelmente em direção do irmão que estava de costas em um treinamento pesado. O rapaz belo de cabelos escuros, com uma faixa vermelha amarrada na testa, trajando vestes típicas de um autêntico cavaleiro grego, lançou um olhar pelos ombros pausando sua tarefa.

— O que foi irmão, por que está tão aflito?— Indagou Aioros suave, tocando Aioria nos ombros e curvando diante dele para poder o acalmar.

— Você precisa me ajudar, eu fiz uma coisa errada e há uma pessoa sofrendo em meu lugar, eu sou apenas uma criança eu não conseguiria enfrentar o inimigo que é um gigante! Eu não posso ficar aqui sem fazer nada não é honrado com um inocente, e não é a atitude de um cavaleiro de Athena – disse isso com a voz trêmula, e com uma fria sudorese.

Aioria...

— Por favor irmão! Castigue-me como e quanto quiser, mas não permita que um inocente seja torturado no meu lugar, se você não puder me ajudar, então eu irei sozinho! – as palavras ditas por Aioria foram duras e com muita seriedade.

Aioros levantou-se com uma tamanha imponência, muitos quando o viam podiam claramente o confundir com um deus. E ficou em silêncio de olhos fechados pensativo. Enquanto isso Aioria permanecia aflito, ávido por uma resposta positiva, embora conhecesse o caráter do irmão, Aioros repudiava a covardia.


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