Cosmos. escrita por Nienna Valois


Capítulo 15
O cavaleiro e a espada da justiça.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/709828/chapter/15

15

 

 

 

 

SHURA NÃO VIA UMA MULHER, E SIM UMA SERPENTE, assim ele observava à senhora que cavalgava ao seu lado lentamente, como se flutuasse. Ela tinha os olhos fixos e meditativos, semblantes serenos, porém, com uma cosmo energia assustadora. Naquele momento refletiu que estava em perigo, sem saber ao menos o porquê o mestre o colocaria em tal situação trágica. Era um nobre cavaleiro de ouro, e seu lugar naquele momento era estar no santuário zelando por sua proteção. Á aquela altura já tinham afastado da região de Cabiros, e estavam rumo às proximidades do santuário. Shura era um cavaleiro de poucas palavras, esta era peculiaridade dos homens que domavam as espadas, mergulhava-se no silêncio para buscar a sua ação tenaz, contudo aquele mulher ao seu lado lhe afligia de uma maneira misteriosa.

Ele a observa com atenção, e interrompe seu próprios pensamentos dizendo:

— Quem é a serpente que habita a sua aura mulher? Pela força que tens pode sozinha adentrar ao santuário, entretanto certamente eu estaria lá á espreita, não permitiria que uma serpente desta magnitude invadisse o santuário de Athena.

Leyla permanece tácita, e imóvel.

— Me sinto inútil nesta missão que fora confiada a mim! – disse Shura secamente, enquanto caminhava majestático, a armadura de ouro trazia luz a cada caminho percorrido, com um brilho surreal e esplêndido.

— Logo saberemos se serás útil como um cavaleiro de ouro. — respondeu a senhora de Cabiros com frieza e desdém.

Shura arqueou a sobrancelha atônito, porém retrucou de maneira fria:

— Eu não sou nenhuma experiência do mestre! Eu sou o cavaleiro de ouro de capricórnio, o mais fiel a Athena, estes braços e estas pernas carregam o poder imensurável da espada Excalibur, dada diretamente por Athena, com propósitos únicos que é apenas a justiça.

Leyla interrompeu o cavalo puxando os arreios, e finalmente olhou para Shura, porém não olhou para aquele homem fisicamente, na verdade a misteriosa senhora olhou para o seu espírito guerreiro.

— Shura de capricórnio! o senhor desconhece o poder que emana de si próprio, se o mestre o enviou até a mim, é por que ele sabe antes de você, que desconhece plenamente os mistérios da armadura de capricórnio, consequentemente a sua missão no santuário. Contudo, existem respostas que você aprenderá a buscar em si mesmo; sim a Excalibur te revelarás, mas quando já dialogou com ela? As espadas falam...

Shura ouviu aquele argumento paciente, e mediu suas palavras com aquela mulher, ela falou de coisas que estavam fora de seu entendimento, mas ainda não compreendia o objetivo de escoltar a serpente. Entretanto Leyla prosseguiu com sua fala:

— A resposta é o silêncio que virá do céu, e a Excalibur é a única que dialoga com o silêncio, pois ela pode abrir os portais para o céu, e no dia que o fizer os deuses temerão os cavaleiros de Athena.

Naquela altura os dois estavam parados um olhando para o outro, se conhecendo melhor através do cosmo, envoltos por um nevoeiro denso. E de forma repentina um lampejo de luz forte vem à fronte do cavaleiro, que passa a ter uma visão de todos os cavaleiros de ouro reunidos, caminhando vitoriosos sob as nuvens, e de cada um emitia um feixe de luz dourado, forte e cálido como o sol, que proveniente deles se derramava sobre a terra. A pupila de Shura dilatou-se em assombro, a visão se desvanece suavemente, surgindo o rosto de Leyla rígido, e nos seus olhos, dentro da retina, ele viu a serpente de fogo.

As imagens formadas pela mente de Shura começaram a se dissipar quando o nevoeiro intensificou, as nuvens começaram a se aglomerar como se surgisse uma chuva repentina, mas não, algo o céu queria mostrar, parecia furioso, e naquele instante olhando para o infinito, Shura pode ouvir com a mente e não com o ouvido, o som dos deuses, pareciam múrmuros.

— Isso que você vê é a vingança do céu, quando se quebra um tratado, e foi o que eu fiz no julgamento divino em favor de Athena, e não me arrependo. Quem zelou por minha vida por todos esses anos, foi ela. Agora é o meu dever proteger o seu retorno. Os espíritos do Olimpo vem aqui para me levar, a patente mais baixa da hierarquia de Zeus incorpórea na terra; mas eu não posso lutar contra eles, meus poderes são limitados. Esse é o meu fado ao deixar Cabiros, contudo não sinto medo, faria novamente, desta vez pelo mestre! Eu morreria por ele! Partilhamos dos mesmos propósitos nesta vida. E apenas ele pode zelar pelo nascimento e segurança de Athena, até sua vida adulta.

Shura apenas observava o céu, num fenômeno jamais visto e inaudito. Então era assim, o início de um crepúsculo, a guerra entre mundos, dos homens e dos deuses. Refletiu o cavaleiro de capricórnio, que naquele instante não pode decodificar as palavras enevoadas da mestra de Cabiros. Shura novamente olhou em direção da serpente e disse:

— É um engano achar que o mestre zelará por Athena em sua vida adulta, o tempo e sua saúde não permite. Ademais o tempo tem incumbido de exaurir seus poderes, somente alguém entre nós o sucederá.

Leyla fechou os olhos convicta:

— A morte não é o fim, mas o início da grande guerra santa, e isso não é um equívoco, é uma verdade.

Os céus se abrem em luz, e essa forte luminosidade azul celeste recai sobre o perímetro onde Shura, Leyla e os demais cavaleiros que o acompanhavam em séquito, contudo, com a forte luminosidade os cavaleiros desapareceram como se estivesse apenas Leyla e Shura num enorme salão branco. A temperatura abaixou consideravelmente, e Shura estava em posição de ataque, em prontidão para desferir um golpe, sua capa atada aos ombros da armadura esvoaçava denotando a imponência de um cavaleiro de ouro de Athena. Diante de um círculo se fez a presença espectral de cavaleiros, trajando armaduras brancas, porém não havia um corpo físico, apenas nuances reluzentes que delineavam a silhueta humana. Conversavam uns com os outros de uma forma grave, aquilo fora muito forte para o intelecto de Shura, nunca havia lutado contra espectros, ou melhor, contra inimigos provenientes do céu.

Leyla! – disse um dos cavaleiros com uma voz grave. Você rompeu com o tratado dos deuses, nem Athena poderá desta vez intervir por você. Não é sábio usar de seu poder contra nós. A dimensão que habita não pode nos atingir.

A mestra de Cabiros abaixou a cabeça diante aqueles cavaleiros, e respondeu de maneira enigmática:

— Há um erro em sua fala senhor. Os cavaleiros de Athena são exímios em atingir o sétimo sentido, estão além da mente. È um engano os deuses subestimarem a força desses homens, cujo poder pode transcender as nossas esferas.

O ser riu.

— Os cavaleiros que defende com ardor, estão mortos de sucessivas eras, jamais conseguiram penetrar a dimensão sublime. Reencarnam sempre em sua missão, pois nunca conseguirão cumpri-la, que é a posse deste mundo em defesa, pois este mundo pertence ao grandioso senhor dos céus. Leyla, você já viveu demais, além do destino que as moiras tinham para você, é apenas um espectro de seu ascendente, que usa o seu coração ainda para viver nesta dimensão, se ele não estivesse em seu sangue, passarias de uma mera pessoa comum.

Leyla desceu de seu cavalo, e envolveu-se na sua túnica, protegendo-se da baixa temperatura:

— Não, eu não vou seguir com vocês, e está decidido. E isso não é fugir da morte, e sim a aceitar, por Athena.

Dito isso, o cavaleiro fantasma, contra a atacou com um feixe de luz que pareciam moléculas de água, em um raio fluídico que atingiria seu pescoço, porém, mesmo na velocidade da luz, uma forte luminosidade reprime o golpe, de forma lenta, como se aquele ato fora involuntário e ao mesmo tempo previsto. Sim, uma espada cortou o golpe. Shura anteviu o ataque. Os olhos de Leyla dilataram.

Shura estava em posição de ataque, como se tivesse acabado de desferir o golpe, ajeitou sua capa de lado, e simultaneamente, os cavaleiros espectros se aproximam para o contra ataque. Naquele momento, o cavaleiro de ouro queima o seu cosmo, estende o braço, que emite uma luminosidade ofuscante, e profere como um grito ensurdecedor:

Excalibur!

Em seguida, uma feixe de luz cortante é lançado, o que abre uma fenda no solo, a luz emitida era passível de cegar os olhos. Os cavaleiros se dissipam no ar. Havia um cavaleiro, que era o maior de todos e conversava através da mente, ele podia prever os movimentos, e devolveu o golpe fluídico contra Shura, que fora lançado longe, esse golpe tinha a mesma potência de Excalibur, porém ele trazia fluídos do céu, o que o sentira paralisado. Shura sentira o peso do golpe, e ponderou o quanto a armadura o ajudou naquele momento. Não sabia o que pensar, já que sua Excalibur foi contida.

— Shura, você também tem esse fluído! A armadura de ouro é proveniente da composição do sol, mesmo em aspectos diferentes tudo no cosmo se completa, e você só poderá vencer se atingir o espaço onde ele está! – disse Leyla telepaticamente já que estava furtiva entre as brumas.

Shura recebeu a mensagem mental, mas não conseguiu decodificar, pois o cavaleiro do céu o golpeou novamente, quando o golpe atingia, é como se o tempo parasse, e as moléculas atingissem seu corpo em cortes. O cavaleiro de ouro foi ao chão, com inúmeros ferimentos graves. E mais uma vez a mensagem de Leyla paira em sua mente.

— O que ela está tentando me dizer..ah— pensou Shura. E a viu em sua mente, envolta por uma cosmo energia azul que circulava por ela em espiral, Leyla olhou para o cavaleiro e apontou para ele com o dedo indicador, em seguida lentamente, estendeu o braço direito com o dedo indicador apontado, e fez um sinal para o céu.

Shura sentiu uma explosão dentro de si, e se jogou contra seu adversário, e os dois lutaram em levitação, nesse momento, por debaixo do elmo, os olhos daquele fantasma brilharam em uma forte luz azul marinho, mas o intrépido cavaleiro de Athena não se intimidou, ergueu o braço e mais uma vez desferiu a Excalibur, sua exclamação ecoou até ao santuário. O espectro do céu, tenta imobilizar os braços do cavaleiro, queria tragá-lo para outra dimensão, porém Shura se desvencilha rapidamente, entretanto um contra golpe intenso é desferido a ele, parecia um poder destrutivo de uma onda gigantesca.

Ouça Shura! Esses cavaleiros dominam a água, e todos possuem o mesmo golpe, por serem oriundo das nuvens. Você tem a força do ar em junção com a terra, aqui é sua dimensão. — disse Leyla para o silêncio, na mente do cavaleiro de ouro. E pela primeira vez ele a ouviu com atenção, e desconfiou, se Leyla poderia ser a reencarnação de algum cavaleiro de ouro de alguma Era passada. Seus conhecimentos eram muito superiores, o que estava restrito apenas aos que possuem tal patente. A não ser que Athena lhe conferiu alguma missão ao santuário, Shura fez aos seus próprios pensamentos tais conjecturas. Mas por que ele estava ali diante de um inimigo que não pertencia a terra? Qual era o objetivo de tudo isso? Indagou a si mesmo, e naquele momento apenas sentiu a sua espada em seu braço, ele a via, como se fosse real, levantou-se trôpego, e preparou para continuar sua batalha. Suas feições ainda permaneciam frias, porém a sua mente estava um turbilhão, decidiu esquecer os questionamentos, e concentrar, aquietou a mente, puxou a capa e a jogou longe, com um salto, jogou o corpo em direção de seu oponente, que o viu em sua direção através das brumas, a sombra de seu elmo delineou-se sob a luz pálida, concentrou-se ao máximo, com o braço direito estendido, os olhos do cavaleiro de capricórnio brilharam de forma prateada, e num movimento lento, disse apenas “Excalibur”, num tom quase que inaudível. O feixe de luz dourada partiu a bruma em duas, em um risco dourado e fino percorreu a frente em linha reta, atravessou o cavaleiro fantasma, e uma enorme fenda abriu-se abaixo, as brumas foram tragadas para as profundezas solo, mas aquela luz percorreu um caminho longo como um rastro de um cometa incandescente, o poder de Excalibur atravessou uma longa distância até cortar os céus acinzentados. Shura estava imóvel, de cabeça baixa, provou de sua força sublime, naquele momento apenas seguiu a sua espada, “aquela que cega os oponentes”, porém, ao abaixar o braço, gotas de sangue escorriam pelos seus dedos, entre a armadura e sua pele, estava ferido, prostrou-se de joelhos no chão, segurando o braço, jogou-se de frente ao chão pensativo, e muitas imagens passavam pela sua mente em lampejos, sua vida no santuário, seu treinamento no Japão, o mundo do seu próprio âmago. As brumas dissiparam como fumaças, assim como os cavaleiros fantasmas, que se uniram em um, e subiram para o céu num feixe de luz, e deixaram sua mensagem:

Não podemos lutar contra este homem, ele não deve nada a nós, apenas faz parte de um jogo para enganar as Moiras, mas entenda Leyla, é impossível ir contra o que os deuses determinam para os humanos. Não podemos lutar contra os que pertencem a Sekai já que Athena os controla. Mas você já está morta, é uma questão de tempo para que vá a travessia do Aqueronte.”

Dita tais palavras em uníssono, desapareceram elevando-se ao céu, e Leyla retornou para o plano real, já que as brumas estavam dissipadas, agora era possível ver as árvores, a luz do entardecer, e os cavaleiros do séquito que estavam adormecidos, já que com a partida dos cavaleiros das nuvens, despertaram aturdidos. Contudo, o rastro da destruição estava ali, para os olhos constatarem. Leyla caminhou entre as árvores com os olhos vislumbrando o céu, retorquindo aos próprios pensamentos:

— Que importância tem se já estou prestes ao mergulho no Hades, já que meu último conhecimento transmiti a este homem, que é o mais leal a deusa. Os deuses não respeitarão os domínios de Athena em Sekai, só partiram daqui, pois temem o poder dos santos cavaleiros da deusa da justiça, e até o meu último sopro, concluirei minha missão. Então assim, poderei atravessar o Aqueronte, e me tornar réu dos Juízes do senhor do submundo. Nada mais importa!

Ao proferir tais palavras com ardor, uma forte dor tomou conta de si na região do abdômen, a senhora de Cabiros, curvou-se apoiando em uma árvore, seus semblantes estavam contorcidos, não pela dor, mas por sua conseqüência, o que poderia ter acontecido? O que acabara de ser dito era um fato? Não, aquela mulher não poderia aceitar a derrota. Quando retirou a mão esquerda que pressionava o abdômen, a viu tomada de sangue, sim, sua túnica negra estava úmida de sangue. Mas o que houve?  Foi golpeada. Mas como? Aquilo parecia ser impossível! já que havia se deslocado para outra dimensão, pela dor lancinante não poderia ser o golpe dos cavaleiros fantasmas, o que sentia era a dor de um corte, como se uma lâmina a ferisse. Como poderia Excalibur a ter atingido em outro plano? Que velocidade Shura atingiu naquele momento que o golpe não pode ser visto? E a dor aumentava, a força que tinha naquele instante para usar Iaso, seu golpe de cura, deveria ser usado para auxiliar Shura e o mestre, se o usasse naquele momento para si mesma, não poderia ajudar o mestre, estaria correndo contra o tempo. Paciente Leyla tomou uma decisão, sem dizer uma palavra sequer. Foi em direção de Shura, com passos lentos, curvada de uma dor imensa, segurou o corpo do cavaleiro, e o virou para si, os olhos pequenos do cavaleiro de capricórnio abriram lentamente, e no momento que o cavaleiro olhou no fundo dos olhos da senhora de Cabiros, um forte corrente de energia entre os dois fora trocada, Shura adormeceu, e sangue que escorria de seu braço cessou e desapareceu por completo. Leyla levantou para seguir rumo ao santuário, e isso já estava decidido, iria ignorar a dor de seu corpo, e refletiu, sobre a espada, ela possui dois gumes, seus planos não poderiam se concretizar à sua maneira, sendo que a providência pertencia as Moiras; vivera há anos para concluir que fora ingênua, ao pensar que a travessia até o santuário, ela sairia incólume, já que estava relegada pela maldição. Ficara em silêncio e montou no seu cavalo, abatida, vendo sua vida esvair a cada gota de sangue; e tudo foi escurecendo, aquela luz bela do crepúsculo entre as arvores estava desaparecendo, dando lugar às sombras, mas aquele silêncio foi quebrado, por uma voz que era proveniente das profundezas de seu subconsciente, uma voz suave, como o cântico dos cânticos, e ao mesmo tempo autoritária, que disse:

— Leyla. Você irá me seguir?

Quando proferiu a última sílaba, se fez um eco contínuo, como se o som desaparecesse no vazio, e se tornasse o mesmo. E tudo ficou escuro, como se fosse à noite.

***

A ESCALADA NAS MONTANHAS FORA ÁRDUA, havia momentos que Aioros sentira o magnetismo proveniente das profundezas do abismo, o múrmuro dos Titãs, o repuxava para as profundezas, e a frágil Yaren o acompanhava tácita, porém em sua mente, desejara avidamente que fosse esquecida por ali mesmo, o que assombrava os seus pensamentos era a culpa: o fracasso do devir. Entretanto, ao chegar próximo ao topo, um homem veio em socorro, parecia ser muito jovem com semblantes de aprendiz, trajava a armadura dos aspirantes a cavaleiro de Thera, em seus olhos denotava lealdade, apresentou-se como Lucius, e aconselhou que seguissem a Citeron, informou o caminho, e desapareceu a galope no cenário de um entardecer. Aioros sentira uma cosmo energia muito amigável da aura daquele rapaz, de qualquer maneira, Thera era apenas uma extensão do santuário, um lugar do silêncio. Contudo estavam se distanciando dos ideais do Mestre, e por isso estava ali.

Nessa travessia, Aioros chegou até o pequeno templo do senhor Dédalo, o arquiteto do santuário, ao contrário do que acontecera com Aioria e seus amigos, Aioros foi recebido com celebração. Era uma presença aguardada por aquele cavaleiro há muito tempo, e como ele tinha prometido fez um banquete para o seu amigo. Yaren observava os detalhes da arquitetura do templo, seus cabelos tomavam o rosto, estava bem diferente, para onde teria se esvaído a vontade de potência daquela amazona? Que com muita sede de justiça foi até a ilha para libertar inocentes, e mais do que isso, ajudar o seu amigo Aioria. Naquele momento parecia distante, ela tocava os desenhos antigos na parede, que retravavam situações cotidianas do mundo helênico. Seus olhos percorriam peças e gravuras, por um instante se sentiu deslumbrada com tudo aquilo. Porém foi interrompida com um sinal de Aioros. Ela fingiu não ouvir, e naquele momento Dédalo intervém:

—Deixe-a! Venha, desfrute um pouco do banquete que lhe sirvo. Ela está bem, Poros cuidará bem dela.

— Como eu poderia pensar em um banquete com o meu irmão correndo perigo! Além disso, não vejo ninguém neste salão, quem é Poros? – Indagou Aioros.

Dédalo sorri.

Poros é meu melhor amigo, aquele pássaro preto que esta sob a cabeça da estátua de Hércules. E não se preocupe com Aioria, sua estadia em Thera fez muito bem para o seu espírito de guerreiro, ele acabara de passar pelo meu templo. Eu vejo apenas coragem em seu irmão.

— O lugar de Aioria é no santuário- frisou Aioros sério. Ele não está totalmente desperto, mas confio que no momento que isso ocorrer, ele se tornará mais forte do que eu.

Entendo. O que você sabe sobre a sua verdadeira missão? Quando penso no santuário, vejo apenas incertezas. Toda guerra é uma incerteza. Essa nova Era dos cavaleiros de Athena me preocupa, pois nossos irmãos sucumbiram à guerra santa, e deixaram para trás seus mistérios. O atraí até meu templo por saber que é um homem de coração nobre, e como dessa vida me resta pouco, quero que saiba, alguns detalhes sobre o santuário. É o meu último ato. - fez um silêncio e Aioros o observou distante e se retiraram para outro recinto.

— O que queres que eu saiba senhor? – Indagou o cavaleiro de sagitário.

O Sr. Dédalo respirou aliviado, diante à mesa repleta de fartura:

—Bem – pigarreou— quando um cavaleiro se afasta do santuário, ele fica repleto de nostalgia. Mas estou aqui em missão, e por aqui já me é sabido que descansarei. Sei que sou um desconhecido para você meu caro, mas na minha Era, eu simplesmente fui alguém que construíra o labirinto das casas zodiacais. Mas eu me vou deste mundo, e não gostaria que o meu conhecimento ficasse a mercê dos inimigos. Eu prevejo uma era difícil, onde o inimigo na verdade habita o nosso o âmago, e é o mais terrível ah – enquanto vertia sobre a taça um pouco de vinho— pode não parecer, mas sou um mestre, e meu pupilo se tornou um dos guardiões do selo. O meu medo é quando todos esses selos forem quebrados em Sekai, aí se dará início à batalha dos espíritos. E ela começa aqui em Thera.  O Sr. Nicurgo sempre foi um bom homem, justo, equilibrado, fiel ao combate, mas acredito que foi mais um cavaleiro que tombou diante do selo...

Aioros estava compreendendo tudo pacientemente, mas aqui o interrompeu:

— Athena selou a todos com sua imensa força, como você pode sugerir um enfraquecimento de seus guardiões?

— Além de serem cavaleiros, por debaixo da armadura, há apenas humanos e não deuses! Mentes podem ser corrompidas pelas forças contrárias, além dos desejos íntimos de poder. Os mais iluminados se mantêm firme na sentinela. O peso do selo, é o peso do mundo, assim como a história da condenação de Atlante...

— É sabido que alguns guardiões colocaram o mundo em suas costas por amor a justiça, e não vê isso como uma condenação...- completou Aioros.

— É...- Dédalo meneou a cabeça sorrindo— Você é um desses cavaleiros Aioros, tens um coração incorruptível. Se estou aqui há anos, desde quando você não estava nesta terra encarnado, é porque aguardamos a sua liderança.

As últimas palavras de Dédalo foram misteriosas, Aioros levantou-se da mesa perplexo:

— O quê?!

Sente-se meu caro, apenas medite essas palavras. Nicurgo, o cavaleiro de prata proscrito, tenho quase a nítida impressão que não está mais entre nós há muito tempo. E o seu nome é emanado por aí como sinônimo de traição a Athena, eu sinto, que ele não está mais entre nós há anos. Alguém governa a ilha se passando por ele, e está fora de meu entendimento, já que sou impedido de chegar ao palácio. Nem eu, tampouco Orin e Iko.

Neste momento, Yaren entra na sala silenciosamente, e os dois pausam a conversa, ambos a observam, ela suavemente puxa uma cadeira e senta-se ao lado de Aioros, com semblantes meditativos, e no seu ombro, Poros estava em repouso.

— Eu não sabia que o mestre aboliu a lei da máscara das amazonas; é tão estranho as mulheres ocultarem o rosto de sua coragem? – indagou Dédalo.

— Eu não sou uma amazona, tampouco um cavaleiro, eu sou um decanato— respondeu Yaren com indiferença.

Dédalo engasgou-se e olhou para Aioros, a fim de receber uma resposta a sua perplexidade.

— Há coisas que são incompreensíveis Sr. Dédalo— respondeu Aioros distante.

****

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Cosmos." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.