Forgiveness escrita por The Escapist


Capítulo 1
I


Notas iniciais do capítulo

já falei um monte nas notas, só queria acrescentar que eu estava certa de que ia vasilar, mas o poder do limão me salvou dessa vez. Não é nenhuma masterpiece, mas no vazio existencial da minha vida, ter escrito essa fique já foi alguma coisa. um dia de cada vez. Also, eu consegui fazer fanfic sem dar spoiler.
Só para o caso de alguém não saber, delfim era o título que davam ao herdeiro do trono da França. Achei legals demais.



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Sebastian despertou com o som de pancadas fortes na porta o despertaram. Ele abriu os olhos lentamente e viu raios de sol penetrando pela cortina, depois voltou a fechá-los. Seu sono não fora completamente saciado e ele não tinha nenhuma obrigação naquela manhã. Se o palácio estivesse pegando fogo... Bem, isso não era problema seu.

— Abra a porta, Sebastian! — uma voz truculenta veio do lado de fora, enquanto as pancadas continuavam. — Em nome do rei.

— Mas que p...? — resmungou, imaginando qual seria a loucura do rei dessa vez. A sanidade de Henry há muito era questionada e agora, até mesmo Sebastian começava a crer que havia motivos para tanto. Levantou-se da cama, e como não costumava usar roupa alguma para dormir, teve que se enrolar num cobertor.

— Eu nome do... — Uma mão ficou no ar no momento em que ele abriu a porta. Estavam à sua frente o capitão da guarda real e outros quatro soldados.

— Gerard? O que está acontecendo? — perguntou e percebeu uma troca de olhares constrangida entre os guardas. Houve um instante de silêncio. A cena chegava a ser cômica: Sebastian com o lençol enrolado na cintura, o peito de fora e os cabelos rebeldes caindo no rosto; e os quatro guardas o encarando.

— Sebastian de Poitiers, você está preso sob a acusação de traição.

— Eu... O quê? Não estou estendendo.

— Você precisa nos acompanhar, são ordens do...

— Do rei, já entendi essa parte, Gerard, mas o que está acontecendo? — O capitão não respondeu. Ele tinha ordens, deveria cumpri-las, não precisava saber o motivo delas, tampouco explicá-las a quem quer que fosse.

— Você deve nos acompanhar — repetiu, dando um passo à frente, quase entrando no quarto. Sebastian recuou e, por instinto, levou a mão à cintura, procurando por sua espada, ainda que a ideia de lutar contra quatro homens fosse ridícula.

— Eu vou me vestir, sim? — Apontou para seu vestuário improvisado e aguardou que Gerard tivesse o bom senso de deixá-lo se vestir. Seja lá o que tivesse feito, não poderia ser levado à presença do rei nu.

Em seu peito, o coração estava agitado, porém tentou se acalmar: não havia feito nada de errado, então não tinha o que temer. Fechou a porta e apanhou as roupas que deixara jogadas em cima de uma cadeira. Traição? Não fizera nada além de não compartilhar da mesma religião que o pai, porém, não esperava que Henry o mandasse prender por causa de sua participação em alguns rituais pagãos — seu pai há tempos sabia sobre a religião de Diane e o filho e sempre fizera vista grossa. A não ser...

— Francis!

Terminou de vestir a calça, amarrou os cordões da camisa e prendeu a espada à cintura. Foi até a janela e a abriu, deixando que o vento entrasse no cômodo. Fugir, de repente, parecia uma boa ideia.

Era difícil acreditar que Francis havia contado alguma coisa ao pai, mas ele era a única pessoa que sabia.

— Não, não, ele não faria isso, ele não... — tentava se convencer, porém já estava analisando o efeito de uma possível queda. A janela não era tão alta, porém não havia nada embaixo para amortecer o impacto, ademais, teria que correr para fugir quando os guardas notassem que havia escapado. — O que você fez, Francis? — Era loucura, seu irmão não poderia tê-lo entregado sem comprometer a sua própria reputação. — Ele não faria isso. — Tinha que confiar nele, Francis não o trairia daquela maneira e o que estava acontecendo era mais uma loucura do pai; assim que Henry caísse em si, esqueceria tudo.

— Sebastian? — Uma nova batida na porta e sua chance de fugir diminuiu.

Ele olhou de um lado para o outro, respirou fundo. Nunca fora o tipo de homem que fugia de suas responsabilidades. Quando abriu a porta, percebeu que os guardas haviam desembainhado as espadas e estavam todos alertas.

— Oh, eu não tenho mesmo noção do quão perigoso sou. Podemos? — Tomou a frente e começou a andar, com os soldados atrás de si. Ser filho do rei, ainda que bastardo, dava-lhe um mínimo de proteção, e nenhum deles tentou colocá-lo em grilhões ou algo parecido.

O caminho até a sala do trono nunca lhe pareceu tão longo. Seus aposentos ficavam na ala norte do castelo, aquela reservada aos membros menos nobres da corte. Apesar de sua mãe, Diane de Poitiers, ser amante oficial do rei, Sebastian nunca havia se incomodado por ser tratado como uma pessoa comum, porque era assim que se sentia. Não gostava de nada que dizia respeito à realeza, não via a si mesmo como um príncipe; era um espirito livre, gostava de sair pela floresta, caçar, tratar dos animais, servir a própria comida. As únicas coisas que o prendiam à corte eram sua mãe e Francis.

As portas da sala foram abertas e ele conduzido à presença real. Henry estava sentado em seu trono, com a rainha Catherine ao seu lado, e todo seu séquito reunido. Francis postava-se de pé, um degrau abaixo do pai, com sua noiva, Mary, cujos olhos negros fitaram Sebastian com pesar. Gostava de Mary. A rainha da Escócia tinha o coração mais puro que Sebastian já conhecera, contudo, ser alvo da pena dela não o deixou mais confortável.

Procurou o olhar de Francis em busca de alguma resposta. O delfim, porém, parecia tão perdido quanto o próprio Bash. Não encontrou a paz que queria, no entanto, pôde ter certeza que ele não os havia delatado ao rei.

Os demais cortesãos presentes cessaram a conversa no momento que Henry levantou a cabeça e olhou para o filho. Sebastian fez uma mensura para o pai. Estava mais curioso do que amedrontado. Sempre soube, e compreendeu, que a preferência de Henry fosse por Francis, seu legítimo herdeiro. De uma maneira um pouco bizarra, sempre se sentiu amado por ele. Contudo, naquele momento os olhos lunáticos do rei não transpareciam muito desse sentimento.

— Sebastian, creio que você sabe o motivo de estar aqui — a voz de barítono de Henry ecoou no salão silencioso. Bash engoliu em seco, sentindo frio na espinha.

— Na verdade, não, majestade.

— Hum... — Henry apoiou o queixo na mão e deu um sorriso diabólico. — Eu esperava que você negasse. — Ele olhou para um papel que tinha na outra mão, agitou-o, depois sinalizou para que um guarda se aproximasse e mandou levar o papel até Sebastian. — Não deve ser difícil de entender, considerando que foi você mesmo quem escreveu... Parece que alguém aqui andou conspirando, não é mesmo?

— Eu não... — Atônito, Bash só conseguiu balançar a cabeça. O conteúdo da carta não era difícil de entender, de fato, porém, era algo tão absurdo que ele não sabia como reagir. — Não sei o que isso significa, majestade. Não escrevi essa carta. Eu juro.

— Você jura que não conspirou contra mim, contra seu pai, contra seu irmão, contra a França?

— Não, eu não sei nada sobre isso.

— Mentir para o seu rei é um crime tão grave quanto traição, Sebastian — ergueu o tom de voz, tinha as narinas dilatadas e a ira só parecia crescer. — Depois de tudo que eu fiz por você e pela sua mãe.

A acusação da qual Henry estava tão certo era de que Diane de Poitiers e seu filho haviam buscado o apoio do Vaticano para legitimar Sebastian e torná-lo, portanto, herdeiro do trono da França. Uma ideia tão ridícula que, se não fosse a gravidade do momento, Bash estaria rindo. Ele nem sequer sabia que tal coisa era possível, jamais teria astúcia para arquitetar um plano que envolvia altas doses de conspiração e bajulação ao Papa. Tampouco acreditava que sua mãe se dispusesse a tanto. Diane era orgulhosa e tinha suas ambições, porém ela amava Henry e nunca o trairia.

— O mensageiro que portava a cara confessou que a recebeu de suas mãos.

— O mensageiro está mentindo.

— Ou você está mentindo.

— Eu não estou mentindo. Você está louco! Tudo isso é ridículo. Eu não quero nenhuma coroa, não quero ser seu herdeiro, não queria nem mesmo ser seu filho. — A última frase pareceu inflamar ainda mais os ânimos de Henry; ele desceu do trono e com três passos largos aproximou-se do filho, segurando o queixo dele para encará-lo.

Os olhares se cruzaram. A semelhança entre eles era tanta que chegava a incomodar. O mesmo azul, a mesma ira, o mesmo ressentimento; a teimosia e petulância dos Valois.

— Podem levá-lo para a masmorra — falou, com uma frieza assustadora. — Até que eu resolva o que fazer com você.

— Não — Bash protestou quando os guardas se aproximaram. — Não, você não pode. — Olhou para o irmão, porém, Francis não podia fazer nada naquele momento, e mesmo que pudesse, será que ele se arriscaria a enfrentar o pai para defendê-lo? — Eu não fiz nada. Ela fez.

Claro como a luz do dia. A pessoa que mais odiava a ele e a Diane, que seria capaz de qualquer coisa para se livrar deles estava sentada em seu trono, inalcançável, protegida pela coroa que usava. Catherine de Médici nunca escondera seus sentimentos em relação à amante do rei e seu filho.

— Catherine fez isso, ela armou tudo, você não percebe?

A rainha nem ao menos piscou diante da acusação. Henry fez sinal para que os guardas prosseguissem com suas ordens. Talvez sua esposa estivesse por trás daquele plano para incriminar Diane, contudo, não a questionaria na frente da corte. Ser rei o colocava acima de muitas pessoas, mas não de seu dever com a França.

Sebastian foi levado para a cela e recebeu o mesmo tratamento que qualquer outro prisioneiro. Aquela foi a primeira vez que se ressentiu do pai e da ingrata posição que ocupava na vida de Henry. Estava bem sendo o bastardo, mas ser humilhado diante da corte daquela maneira era crueldade.

Ficou deitado no catre, olhando para uma nesga do céu que aparecia pela pequena brecha no alto da cela. Seus pensamentos não estavam no que o futuro lhe reservava — um futuro que poderia ser bastante sombrio, por sinal; ele estava pensando em Francis. Se tivesse ido embora da corte, como tantas vezes sentira vontade, não estaria naquela situação. Porém, sempre era traído pelos próprios sentimentos.


Bash se acomodou melhor na cama e puxou o corpo de Francis mais para junto de si; o calor que emanava dele era reconfortante naquela noite fria. Beijou-o no ombro e deslizou os dedos pela pele alva e macia. O príncipe ainda estava ofegante, com os olhos cerrados, entregue aos carinhos pós-sexo. Queria aproveitar cada minuto que tinham juntos, pois uma chance daquelas demorava uma vida inteira para acontecer de nodo.

— Nós deveríamos ir embora, sabia? — disse Sebastian, depois de beijá-lo nos lábios. Enroscou os dedos nos cabelos cacheados de Francis e fitou o profundo azul dos olhos dele. — Eu e você. Deixar a corte. Adotar uma nova identidade. O que você acha?

A ideia o agradava mais do que Francis gostaria de admitir. Todavia, ele apenas sorriu.

— Nós não podemos ir embora, Bash.

— Por que não?

— Porque eu sou o futuro rei da França.

— Claro. — Bash apoiou a cabeça na curva do pescoço dele e ficou em silêncio por alguns segundos. — Charles pode ser o rei. Nosso pai ainda vai viver muitos anos, tempo suficiente para que ele cresça.

— Bash... — Francis respirou fundo. O tempo que tinham juntos já era tão pouco, e parecia diminuir ainda mais à medida que se davam conta da realidade.

— Nós poderíamos ficar juntos — Bash continuou. Francis sorriu e passou a mão pelo rosto dele, sentindo a aspereza da barba. Normalmente, Bash não era tão sonhador e essa atitude dele o assustou muito.

— Nós não podemos ficar juntos. Não há um lugar no mundo onde o que existe entre nós seja aceito. O problema não é que eu seja o delfim, ou que eu tenha que me casar com a Mary, não é a corte. O problema é que você é meu irmão. Isso sempre será um pecado que nos levará para o inferno.

— Pelo menos vamos ficar juntos no inferno.



Bash foi distraído das lembranças quando a porta da cela se abriu e seu irmão entrou. 

— Deixe-nos — Francis falou para o guarda, que hesitou um pouco antes de sair e trancar novamente a porta. Eram poucas as vezes que Sebastian o via com aquela pose tão séria; provavelmente queria manter as aparências, porque assim que ficaram sozinhos, a máscara de dureza caiu do rosto dele e toda a aflição que sentia se fez visível. — Bash... — O irmão mais velho levantou-se e eliminou a distância entre eles, abraçando-o forte.

— Eu não planejei tomar o seu lugar — sussurrou enquanto o beijava no pescoço.

— Eu sei. — Francis queria prolongar aquele abraço por mais tempo, porém, não poderia correr o risco, e ficar tão próximo de Bash não era muito bom para seu autocontrole.

— A sua mãe, Francis, foi ela quem tramou tudo isso.

O delfim balançou a cabeça, triste. Queria poder defender a mãe daquela acusação, mas seria muito ingênuo se o fizesse. Infelizmente — ou felizmente, não sabia ao certo —, Catherine estava bem protegida; ninguém acreditaria que ela armaria um plano que colocasse os próprios filhos em risco apenas para se vingar de Diane de Poitiers.

— Você não pode provar, Bash — disse. — É a sua palavra contra a dela. 

— E ninguém levaria a sério a palavra de um bastardo.

— Não se trata disso.

— A menos que você ficasse do meu lado, porque as pessoas acreditariam na palavra de um príncipe, Francis. — O príncipe suspirou, sentindo o coração apertado diante da angústia de Sebastian. — Você sabe o que ele vai fazer comigo?

— Não. Eu tentei falar com ele, mas... Você o conhece, ele não está disposto a ouvir ninguém. — Fez uma pausa. — Sinto muito, Bash.

— Ele não acredita mesmo que eu conspirei para tomar o seu lugar, não é?

— Não sei. Ele está com a cabeça quente.

— Francis, é do nosso pai que estamos falando. Ele manda enforcar pessoas quando está com a cabeça fria! Eu não quero morrer, não dessa maneira.

— Você não vai morrer, Sebastian.

— Quem pode me garantir isso, Francis? Eu não sou ninguém, apenas um dos muitos bastardos do rei que, por acaso, ele reconheceu. Não tenho nenhuma importância. Fui acusado de traição e todos nós sabemos qual é a pena para isso. Henry II não é reconhecido por ser misericordioso, ele não vai lembrar que se trata de um filho, vai querer apenas dar um exemplo para qualquer pessoa que um dia pense em trai-lo — Sebastian falava num rompante, cuspindo as palavras, já quase sem fôlego.

— Você não vai morrer! — Francis o interrompeu. — Eu prometo. Vou tirar você daqui. Confia em mim? — Segurou as mãos dele entre as suas.

— Não é como se eu tivesse muitas opções, não é? — respondeu com um pequeno sorriso.



Francis voltou no dia seguinte com uma proposta que não agradou a Sebastian. Ele ouviu tudo, franzindo a sobrancelha a cada frase, por vezes rangendo os dentes. Seu irmão conseguira falar com o pai, porém, Henry não parecia realmente estar em suas perfeitas capacidades mentais. Ele não acreditava na inocência de Bash, pelo menos não completamente, porém, não pretendia mandá-lo para a forca.

— Acho que eu devo ficar feliz por isso — disse Sebastian, com a voz carregada de ironia.

— Sim, você deve ficar feliz. Ele vai perdoar você, Bash. Conseguir o perdão de um rei não é exatamente uma coisa fácil, você sabe disso!

— Ele vai me banir da corte!

— Você sempre falou em deixar a corte.

— Com você, Francis, eu queria ir embora com você! Droga, você prometeu... — Francis o interrompeu, exasperado. Entre os dois, Sebastian não deveria ser aquele que apelava para sentimentalismos num momento em que se discutia a própria vida!

— Que tiraria você daqui e é isso que estou fazendo. Você pode deixar a corta como um homem livre, construir sua vida longe daqui, ter uma família.

— Eu não quero uma família! Eu quero você. — As vozes estavam tão alteradas que não havia como dizer que os guardas do lado de fora da cela não os escutava, porém, nenhum deles pensou nesse problema.

— Eu não posso ficar com você. As coisas não podem ser do jeito que você quer. Eu sou o futuro rei da França...

— Isso é a sua melhor desculpa?

— Não é uma desculpa, Bash, eu estou preso aqui, tenho deveres, eu vou me casar com a Mary, mas você pode ir.

— Francis...

— Eu quero que você vá. Não há nada pra você aqui, Sebastian. Nada.

Francis sentiu os olhos marejados. Lembrou-se da primeira vez que beijara o irmão. Tinha catorze anos, Bash quinze. Ambos ainda totalmente inexperientes naqueles assuntos. Lembrava-se de como se sentira culpado e de como Bash o tranquilizara, dizendo-lhe que estava tudo bem, que nunca contariam nada a ninguém. Lembrava-se de como, apesar de saber que aquilo era errado, sentia-se seguro nos braços dele.

Contudo, não podia mais alimentar a ilusão de que tudo ficaria bem. Não. Eles não ficariam bem. Por mais que pudesse manter aquela relação em segredo, o tempo a desgastaria. O momento de libertar Sebastian chegara e, ainda que seu irmão estivesse magoado, ele entenderia.

— Talvez um dia você me perdoe.

— Se você precisa de perdão, é melhor pedir ao seu Deus. Alteza.


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Notas finais do capítulo

ué?



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