A Sombra da Lua escrita por Insanidade


Capítulo 10
Capitulo 9




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Kumogakure, pós guerra.

POV Shikamaru Nara

—Claro, entra.

Me sentei na cama e observei Temari se sentar ao meu lado. Ela parecia apreensiva. Acendi uma lamparina para que o quarto ficasse mais claro, então reparei que seu rosto estava vermelho, ela tinha chorado, isso me assustou.

—Eu sei que você quer descansar afinal trabalhou o dia todo, mas eu precisava vir falar com você antes de ir embora.

Enquanto eu escrevia as cartas para avisar do final da guerra, cada país designou um ninja para começar a trabalhar nas baixas e nos registros de quem iria voltar para casa, nenhum terminou hoje de registrar todos os ninjas, mas os registros de Suna eram os que estavam mais adiantados, Temari que fez eles, isso significava que amanhã no início da tarde eles estariam indo embora, voltando para casa. Enquanto eu estaria começando os registros de Konoha.

—Não tem problema, está tudo bem?

—Não, não está nada bem Shikamaru.

Ela fechou os olhos com força, seu tom bruto parecia que estava brava e chateada.

—Eu não devia ter te beijado, foi um erro e eu vim te falar isso.

Ela não parecia convencida disso, mas pela forma como disse parecia querer se livrar de algo.

—Por que foi um erro?

—Por que eu não posso levar adiante esses sentimentos. Sim, eu tenho sentimentos por você, e já faz um bom tempo, mas eu nunca admiti porque não deveria existir isso em mim. Quando seu sensei morreu tudo o que eu mais queria era estar do seu lado e eu pedi para o Gaara deixar eu ir até Konoha, mas ele não podia me deixar sair de Suna, porque Suna precisa de mim.

Ela suspirou, estava tentando segurar o choro.

—O fato é que eu tenho lutado pelo que sinto por você já tem um tempo, porque é torturante ter esses sentimentos sem ter a chance de torna-los reais. Eu nunca tive uma boa relação com a minha família Shikamaru, eu e meus irmãos nunca fomos próximos, eu tinha medo do Gaara e ódio do Kankuro, mas agora somos uma família de verdade. Nos protegemos e cuidamos um do outro, e eu não quero ter que me afastar deles. Kankuro está noivo e está sempre me pedindo ajuda para escolher coisas para o casamento. Gaara está sendo o melhor Kazekage que Suna já teve e conta sempre comigo para apoiar e aconselhar ele. Suna está finalmente em paz e eu sou uma das responsáveis por manter essa paz.

Ela não olhava para mim, sua voz era firme, porém triste.

—Ter sentimentos por você me deixa dividida. Eu não posso abrir mão de tudo, deixar a minha família e o meu país para estar com você, mesmo que o meu coração peça por isso não seria o certo a se fazer. Gaara me disse que eu deveria seguir o meu coração, mas o que seria de mim sem eles comigo? Eu não posso ficar longe deles, isso machucaria mais ainda tudo dentro de mim.

Ela respirou fundo e fechou as mão em punhos sobre o colo.

—Eu não sei o que você sente por mim, nem sei se você sente algo ou se só estou aqui fazendo papel de idiota, mas eu queria que você soubesse o que eu sinto e que eu não vou continuar com isso, não por sua culpa, mas por mim e pela minha família. Por mais que eles apoiem que eu siga o meu coração eu jamais poderia ser feliz sem eles comigo. Konaha está a três dias de viagem de Suna, eu nunca poderia fazer esse caminho toda a semana, meu trabalho para Suna e o Kazekage seria prejudicado e o meu convívio com você e com a minha família seria pouco. Eu sei que da mesma forma que eu não posso deixar Suna você não pode e nem deve deixar Konoha, sua família e amigos precisam de você ainda mais agora sem o seu pai, eu jamais te pediria algo assim. Estou me conformando Shikamaru, e aquele beijo foi um impulso que não vai se repetir pelo bem do meu coração.

Ela abriu as mãos e suspirou, parecia aliviada por ter dito tudo o que sentia.

—Espero que você entenda isso, e que a gente possa continuar amigos Nara.

Eu fiquei encarando o chão por alguns minutos, não sabia o que dizer, a imagem da minha mãe com o meu pai passava sempre pela minha cabeça, eles eram o meu referencial de amor mesmo que eu não soubesse como é sentir isso.

—Temari, eu entendo o que você disse...

Dei uma pausa, não queria dizer nada que a magoasse mais, mas também queria ser tão sincero como ela foi comigo.

—No meu sonho do genjutsu eu estava noivo de você, isso foi estranho para mim porque eu nunca me imaginei com você, nunca parei para pensar se sentia algo por você, mas depois daquele beijo isso ficou passando pela minha cabeça o tempo todo e eu não conseguia pensar em outra coisa. A verdade é que eu admiro você, sua força, coragem e inteligência, fazem de você alguém que eu tenho sim sentimentos, talvez não como os seus ou como eu vejo o ideal de amor de verdade, mas sim eu ficaria bem ao seu lado.

Ela ainda não olhava para mim e suas mãos começaram a apertar o tecido da sua saia. Eu espero estar escolhendo as palavras certas.

—Porém você tem razão, não podemos deixar tudo de lado. Você não seria feliz sem a sua família e eu fiz promessas que tenho que cumprir, e estar com a minha família e amigos é o que me mantem vivo. Sei que toda essa situação é problemática, mas não quero te magoar, quero que continuemos amigos, e para ser sincero não me vejo pensando em um relacionamento por agora, existem coisas maiores em nossas vidas agora, mas se for para ser, será, algum dia de algum jeito, era o que o meu pai me dizia.

Ela olhou para mim com uma expressão serena no rosto.

—Vamos ficar bem?

Eu perguntei, e ela sorriu.

—Vamos.

Ela se inclinou e me deu um beijo na testa, se levantou e saiu antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa.

Suspirei e deixei que meu corpo despencasse na cama. Aquilo foi intenso e problemático, porém parecia ter se resolvido. Meu coração estava tranquilo, mas lagrimas vieram aos meus olhos. A imagem da minha mãe com o meu pai não saia da minha cabeça, e o fato de que eu nunca mais vou presenciar aqueles momentos me fez chorar.

Apaguei a lamparina e me permiti chorar com toda a dor dentro de mim.

Eu deveria ter uns sete anos quando minha mãe me falou de amor pela primeira vez, ainda me lembro de todos os detalhes e todas as palavras dela.

“Era um dia comum como qualquer outro, o único diferencial era que eu tinha acordado cedo naquele dia, porque a minha mãe estava batendo as panelas e reclamando que ninguém ajudava ela naquela casa.

Meu pai tinha viajado para uma missão no dia anterior, e eu tinha escutado eles discutindo, ela não queria que ele fosse, mas ele precisava ir.

—Mãe, precisa de ajuda?

—Te acordei né Shikamaru?

Ela me deu um beijo na testa e eu peguei um pano para secar as louças que ela estava lavando. Ela parecia chateada e irritada, eu não quis perguntar o porquê dela estar assim, só queria fazer companhia.

—Muito bem, meu amor, você secou tudo direitinho, agora vamos tomar um chá com biscoitos, tudo bem?

Me sentei com ela na mesa, estava morrendo de sono, mas não queria deixar ela sozinha.

—Quem diria que você levantaria tão cedo para me ajudar em um sábado, por isso você é meu herói.

Minha mãe apesar de brava, rígida e parecer sempre estar em TPM, era uma mãe carinhosa e cuidadosa, sempre me elogiava e torcia por mim. Quando eu ganhei do meu pai no shogi pela primeira vez ela ficou duas semanas jogando isso na cara do meu pai e fazendo eu rir.

Comecei a comer os biscoitos e a tomar o chá, minha mãe era uma ótima cozinheira.

—Vai sair com o Choji hoje?

Olhei para ela para responder a sua pergunta quando reparei que ela estava limpando as lagrimas do rosto, aquilo foi um choque para mim, nunca tinha visto minha mãe chorar.

—Não, hoje vou ficar com você.

Ela sorriu, um sorriso doce, mas que escondia certa tristeza.

—Hoje é um dia especial Shikamaru, sabe por que?

Eu olhei para ela sem saber a resposta da pergunta. Ela colocou a sua xicara sobre a mesa e me olhou de forma gentil.

—Hoje é o meu aniversário de casamento com o seu pai.

Era por isso que ela estava chorando e não queria que ele fosse para a missão. Apesar de eu ser muito criança na época eu entendi a tristeza da minha mãe.

—Sabe, quando eu conheci o seu pai nós éramos vizinhos, meu pai ajudava o clã Nara por isso morávamos perto da floresta do clã. Eu odiava o seu pai, vivíamos discutindo por qualquer coisa, e eu não concordava com ele em nada. Até que um dia ele saiu em uma missão e eu fiquei uma semana sem ver ele. Então, durante uma noite, estava chovendo muito e eu vi vários cervos do clã Nara saindo da floresta. Eu sai de casa para tentar ajudar eles a escaparem da tempestade quando o seu pai apareceu. Ele fez todos eles voltarem para a floresta, e me salvou quando um galho de uma arvore quase caiu em cima de mim.

Ela sorriu com a lembrança.

—Eu quis brigar com ele por ele ter usado o jutsu em mim e por ter me pegado no colo para me tirar de perto da floresta, mas eu percebi que ele estava todo machucado, seu rosto estava sangrando muito, e aquilo me deixou preocupada. Eu arrastei ele a força para minha casa e cuidei dos ferimentos dele, quando a chuva parou ele foi embora e novamente eu fiquei dias sem ver ele. Mas naquele momento eu já não odiava mais ele, eu comecei a sentir falta dele, das nossas discussões, do modo dele de ser inteligente e isso me irritar, e principalmente do sorriso que ele dava quando percebia que eu estava irritada. Quando ele voltou ele estava diferente, estava mais calado e sério, foi ai que eu comecei a levar sempre biscoitos e chá para ele enquanto via ele jogar shogi, com o tempo ele foi voltando a ser o que era, até que um dia ele me contou sobre a guerra e tudo que o ninja passa, ele chorou muito naquele dia e me abraçou pela primeira vez, foi então que eu senti que ele era mais do que um amigo ou um vizinho irritante, ele era alguém que eu queria o resto da minha vida comigo, era alguém que eu queria poder cuidar e ajudar, era alguém que eu queria estar ali sempre com ele. Depois de uns dias seu pai me pediu em namoro e eu aceitei, nós descobrimos juntos que amar era fazer da pessoa o seu lar, o seu refúgio e não imaginar uma vida sem ela ali, e você, Shikamaru é o maior presente que esse amor poderia me dar.

Meu pai chegou naquele momento, tinha um corte no braço e um buque de flores na mão. Minha mãe o abraçou e lhe deu um beijo na ponta do nariz. Depois ela cuidou da ferida dele e colocou as flores no vaso em cima da mesa da cozinha.

Eu fiquei observando eles aquele dia, as piadas que o meu pai fazia só para irritar ela e ela dar um tapa nele, a forma como ele segurava a cintura dela, os beijos singelos que eles trocavam, a forma como eles se olhavam e a forma que eles olhavam para mim.

Eles não precisavam dizer que se amavam ou que me amavam, em tudo ali tinha amor.”

Minha família sempre foi perfeita, apesar do medo que tínhamos de perder um ao outro, vivíamos como se isso fosse acontecer algum dia, mas como se todos os outros dias compensassem isso. Tínhamos amor, risadas, brigas e conforto.

Amar é muito mais do que admiração, amar é muito mais do que cultivar sentimentos, amar é fazer daquela pessoa o seu conforto e paz, amar não era problemático e nem dolorido, amar não causava dor.

Eu não amava Temari porque a vida com ela seria uma vida onde nós dois estaríamos longe do nosso conforto, onde uma saudade e uma dor sempre seria sentida por algum de nós, onde faltaria algo e tudo parecia muito problemático mesmo antes de acontecer. Eu tinha sentimentos por ela porque criamos laços na convivência e temos muito em comum, mas isso não era o ideal de amor para mim, eu não me imaginava ficar com a Temari como os meus pais ficavam, isso é um pouco triste, pode ser que o tempo mude isso, mas por agora é o que eu sinto.

O dia já estava amanhecendo e eu não tinha dormido nada. Me levantei, peguei um cigarro no bolso do meu colete e acendi. Fui caminhando em direção a sala onde eu faria os registros.

Logo eu estaria voltando para casa e isso me confortava, mas dar a notícia da morte do meu pai para a pessoa que mais o amava no mundo, minha mãe, destrói o meu coração aos poucos. Eu sei que ela estará lá por mim, que nós vamos passar por isso juntos e que tudo vai ficar bem porque estaremos juntos.

É isso o que o amor faz, ele supera toda a dor.


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