A Lenda dos Guardiões escrita por Aluado


Capítulo 3
Alice


Notas iniciais do capítulo

"Mas Aluado, um capítulo na sexta? Não iria ser sempre aos domingos?"

GENTE EU SEI, MAS PERA. É que neste final de semana meu pai vai viajar e levar o computador com ele T-T e embora isso seja deveras triste (R.I.P lolzinho) eu dei um jeito de trazer um capítulo pra vocês.

AH, E É DA ALICE HEIN? Vai ter vários barracos, e seremos apresentados a, de longe, a personagem mais cheia de si e na moda da história. Preciso dizer mais?

BEIJOS, BOA LEITURA!



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Alice teve um pesadelo, que juraria que era de verdade. Seus detalhes foram vívidos e ela acabou acordando exasperada, com suor frio escorrendo pelo rosto ela pôs a mão no peito e sentiu o coração acelerado – consequentemente, a respiração ofegante. Olhara para o relógio duas ou três vezes, todas em que tentara pegar no sono novamente, e passou a madrugada acordada com a sensação de estar sendo observada.

                Em seus sonhos Alice trajava um lindo vestido azul com rendas ornamentadas de safiras e se via diante de um imenso castelo em uma espécie de ilha no oceano, com muralhas vastas e grandes, e torres altas como arranha-céus. Em outro tempo, teria sido belo caminhar pelos portões ou admirar a vista do alto da muralha de pedra; se tudo não estivesse arrasado. Havia fogo e cinzas por todo lado, a cidadela que havia do lado de fora estava completamente destruída e com fumaça saindo das ruínas das casas. A garota olhou para suas mãos, agora  pele clara manchada por sangue (ainda quente), e soltou um grito forte ao ver corpos espalhados por todo o canto. Adultos, idosos, crianças, de todos os tamanhos e idades faltando partes do corpo e com os olhos expressando o horror da carnificina.

— Este é o seu destino, Guardiã. — Alice ouviu algo atrás de si, pareciam ser várias vozes ao mesmo tempo, como um coral de vozes maléficas em perfeita harmonia. — Você causará dor e sofrimento por onde passar, e trairá aqueles que a chamarem de amiga.

                Alice sentiu um arrepio percorrer sua espinha e estava paralisada de medo. Ela olhou para o chão e viu quatro corpos jogados aos seus pés, mas eles pareciam importantes e ela pôde sentir isso.  As duas garotas também usavam vestidos, trapos agora rasgados e sujos de cinza misturada com sangue. Os outros dois rapazes estavam com os rostos desfigurados, um deles tinha a pele morena marcada por garras afiadas já o outro perdera uma orelha pra algo pontudo. Alice respirou ofegante, pontos negros apareceram em sua frente e ganharam uma forma estranha. Era como uma espiral flutuante e com um ar gelado, feita de sombras tão opacas que parecia a noite rodopiante e caótica – Alice teve a terrível impressão de que foi dali que a voz vinha, e a coisa se aproximava.

Será você, Guardiã. — Disseram as sombras, cercando a garota. Ela quis se mover, mas vacilava nos passos e cada parte de seu corpo parecia congelar aos poucos, sentia-se impotente e sua força era drenada aos poucos. — Isto será sua causa.

— Quem é você? Eu nunca faria isso! — Ela reuniu a coragem para dizer mas já era tarde, a voz saía embargada e vacilante. As sombras a envolveram, impedindo de ver sequer dois passos a sua frente. — Eu nunca matei ninguém!

                Alice ouviu risos do coro de vozes vindos da escuridão,  era frio lá dentro e ela abraçou os cotovelos. Lágrimas começaram a escorrer de seus olhos, sendo levadas pelo vento. Ela olhava ao redor em desespero tentando correr, mas parecia estar presa em uma poça de lama que a impedia de andar muito. A visão mais terrível veio mais tarde, quando os quatro corpos se ergueram do chão e apontaram para ela. Agora Alice podia ver que a garota de cachos loiros havia perdido metade da face para uma mordida terrível, a outra menina estava sem os olhos e com a arcada dentária exposta.

— SERÁ VOCÊ! — Gritaram em uníssono, erguendo os dedos em sua direção. — VOCÊ! VOCÊ!

                Os quatro avançaram contra ela e começaram a devorá-la, e então, Alice acordara no sobressalto.

...

 

                Já era dia, o que quer dizer, mais um dia de aulas. Por mais que o pesadelo martelasse em sua mente, seu significado, Alice não podia-se dar ao luxo de lembrar; é só um pesadelo estúpido e sem sentido, afinal de contas, nunca havia visto aquela gente toda antes. Jogou os lençóis para o lado e saiu de sua cama, indo rumo ao banheiro e tomando um bom banho quente. Quando saiu de lá, seguiu para o seu santuário pessoal: o closet. Era com uma porta pintada de rosa com uma estrela dourada cercando um grande “A”, claro que a maçaneta não poderia ser de outra cor senão dourado; a cor do poder, do ouro.

— Tudo bem, — Disse Alice, caminhando pelo corredor do closet. — foi só um pesadelo. Preciso restaurar minhas energias.

                E que maneira melhor do que fazer isso senão escolhendo que modelito usaria hoje? O closet era nada mais nada menos que uma imensa sala repleta de armários, arandelas com roupas, e prateleiras por todo o canto, era tão grande que duas salas poderiam ser feitas ali; e o melhor, era tudo pra ela. Alice pegou  um controle remoto e apertou um dos botões, e a mágica da tecnologia aconteceu. Prateleiras imergiram do carpete fofo e róseo repletas de sapatos, saltos e todo tipo de calçado que consegue imaginar. As luzes nos armários se acenderam e agora Alice poderia ver aquele casaco que usou no Outono de 2013 como se fosse novo, ou aquela calça super descolada que comprou semana passada mas que perdera a atração faziam poucos dias. Enrolou os cabelos em uma toalha e seguiu para uma prateleira.

— Hm... salto ou sapatilha? — Ela encarou os dois, igualmente bonitos. O salto era vermelho e destacava-se em sua pele, a sapatilha era dourada e pareciam flores enramadas umas nas outras com preciso cuidado. Ficou por alguns segundos encarando-os. — Salto.

Pegou-o e colocou a sapatilha junto com as outras, e seguiu adiante. Seu telefone começou a vibrar e tocar sua música predileta, alguma de Madona, e ela se apressou em pegá-lo. Era Tiffany Galahad, a morena que por conveniência do destino havia virado sua amiga. Alice sabia que ela era um tipo de “nova rica” que o pai se tornara famoso no ramo da agropecuária e exportação recentemente, e por isso seu pai insistiu das duas virarem amigas já que conhecia o Sr. Galahad. Tiff não era exatamente o tipo de amiga que alguém desejaria ter por perto com um segredo, já que na primeira chance poderia twittar sobre isso quando você virasse de costas, mas se provara uma excelente coletora de informações quando se tratavam de fofocas. Com alguém assim por perto, Alice não demorou de ascender na escala social.

— Ai. Meu. Deus! Definitivamente estes são os saltos mais bonitos que eu já vi, Ally. — Disse Tiffany e Alice quase pensou em desligar a chamada por vídeo, mas agora era tarde. — Você TEM que usá-los, aposto que aquelas garotas do Segundo C vão mo-rrer de inveja.

Era nítido que ter Tiffany por perto significava ter uma espécie de doninha fofoqueira, mas em um colégio.

— Você tem razão. — Disse Alice, dando um risinho. — Porque causar é o que importa.

As duas deram um gritinho, e depois Tiff se despediu – a tela se apagou, como sempre acontecia. Alice jogou o telefone em uma mesa de vidro decorado, e começou a se vestir. Como sempre, começou escolhendo suas roupas. Ela pegou um vestido azul-escuro com estampas florais em tons pastéis que vinha até os joelhos e o vestiu, encarando-se em um dos espelhos do closet por alguns segundos e soltando um beijo pra si mesma.  Pensou no que usar, um look simples deste não iria causar em lugar algum; o que tornava seu figurino esplêndido eram os pequenos detalhes, e Alice tratou de formá-los. Vestiu uma jaqueta vermelha, colocou uma pulseira de ouro puro e um colar de prata, os brincos de safira e penteou os cabelos longos e negros. Hoje, estariam soltos.  Por último, calçou os saltos.

Antes de sair, arrumou as coisas que iria levar em sua bolsa pessoal e se perfumou – fechando a porta do quarto e seguindo adiante. O corredor do apartamento dos LeBlanc era pequeno em relação aos quartos, de modo que alguns passos adiante e você estará descendo alguns degrais para a sala de estar ou mais a esquerda, para a cozinha. O interior do lugar era todo planejado, com móveis desenhados a mão por artistas, quadros bonitos e todo tipo de coisa que pessoas ricas gostam de ter em casa. Alice já estava acostumada, no entanto, a aquilo tudo. Aparentemente o ser detestável que é obrigada a chamar de pai não estava por lá, havia saído cedo pro trabalho, isso era bom já que queria evitar uma discussão desagradável logo pela manhã, e em seu lugar encontrou Susan – a empregada que era o mais próxima de mãe cozinhando alguma coisa no fogão. O cheiro atraiu a garota até lá.

— Você não está atrasada? — Perguntou a mulher, com um sorriso de canto. Alicelhe deu um beijo na bochecha e pegou uma maçã da cesta de frutas. — Você está linda, como sempre.

— Obrigada.

Susan vestia um uniforme, que, se dependesse de Alice, jamais estaria usando, era de um tom esverdeado muito claro composto de camisa, calças e sapatos que não faziam ruído. Ela era negra, com lábios grandes e bem desenhados, e tinha o cabelo preso em um coque. Era gorda mas isto nunca foi um problema, além de ser mais baixa que Alice – embora isso não lhe tirasse o respeito que sentia pela mulher.

— Estou, mas que tipo de garota eu seria chegando no horário? As pessoas tem que sentir minha falta, Sue. — Respondeu, dando uma mordida na maçã.

— Hum, tá. — Disse Susan, entregando um óculos escuro Ray-Ban pra Alice. Pôs no rosto.

Olhou o horário no celular antes de sair, eram exatamente 7:50 AM – sem tempo pro café, pensou. Deu outro beijo em Sue e seguiu caminhando, o som dos saltos ecoavam pela casa. Pegou o elevador e desceu até a entrada do Edifício Coulson, no ponto de entrada e saída de veículos um carro negro a aguardava. Alice entrou e sentou-se no carona detrás.

— Bom dia, senhorita LeBlanc. — Disse o motorista, era o segundo contratado nesta semana, se a memória não lhe falhasse o nome deste era Austin alguma-coisa. Não importava.

— É, é. — Alice revirou os olhos através dos óculos, fechando o vidro e separando a vista do condutor para com ela. — Vamos logo com isso.

O carro acelerou, e em questão de estantes o prédio havia ficado para trás. Prédios de todos os tamanhos foram surgindo nas ruas, pessoas com maletas e mochilas atravessavam faixas de pedestres mas nenhum deles era conhecido para Alice. Ela tirou o telefone da bolsa e foi direto para o Instagram, abriu a janela para que luz solar adentrasse o carro e tirou uma foto. Não que precisasse achar um bom ângulo, já que todos os seus eram maravilhosos. A foto saiu maravilhosa, como sempre, e postou em seu perfil. Não demorou muito para que favoritos e curtidas aparecessem, mais um dia normal cheio de elogios de gente que te quer por perto.

...

Austin sinalizou para a garota que estavam perto, e ela despertou de seus devaneios, se preparando para descer. Através do vidro fumê do carro ela pode notar o quão movimentada estava a escola neste dia em específico, alunos do primeiro ao terceiro ano conversavam em grupos ou caminhavam pelo gramado frontal com fones de ouvido, alguns olhando curiosos para o carro conforme ele passava pelas vans escolares, ônibus amarelos e carros de mães. O carro de luxo estacionou e mesmo dali Alice conseguia ouvir os murmúrios sobre ele, era um momento quase que esplêndido: como quando as modelos estão pestes a entrar na passarela. O motorista desceu, era um homem alto e caucasiano, com um daqueles chapéus de chofer e luvas brancas; o terno escuro lhe dava um aspecto de formalidade, e elegância.

— Tenham boas aulas, senhorita LeBlanc! — Disse Austin em um ânimo de dar vertigem em qualquer um ao abrir a porta, Alice respondeu com um sorriso de lábios fechados.

Todos pararam o que estavam fazendo para admirá-la, e isso era indescritível. De alguns dos meninos, ouviu suspiros e frases como  “Uau!”, e das meninas ouviu barulhos que significavam acha-la arrogante – mas que mal tem em ser assim? Ela começou a andar e todos abriram caminho para sua passagem. Conforme andava, deixava um rastro de delicioso perfume no ar e as jóias reluziam a cada movimento que dava.  Seus saltos faziam barulho conforma andava pela calçada, e por alguns segundos pareceram ser estes os únicos sons no mundo. Sua postura era ereta e seus quadris balançavam levemente conforme caminhava, a postura de uma verdadeira dama, com o olhar fixo no horizonte.

Deu uma olhada rápida ao redor antes de entrar no colégio, encontrando, por grande acaso do destino, o grupinho patético de Flare. Alice não sabia como o diretor aceitava ter este tipo de gente em suas terras, era, tipo, um desacato à moda total! Eram todas negras, fora de forma e ridículas em se vestir. Talvez isso se devesse ao fato de, bom, serem pobres.  Os brancos podiam muito bem viver em comunhão com os latinos, pelo menos, mas negras? Olhe só aqueles cabelos, pensou ela olhando pros afros, jamais conheceram uma chapinha na vida. Flare era a, por inconveniência, a ‘’líder’’ delas. Desta vez vestia um casaco moletom vermelho, calças, tênis e uma cara muito feia.  As duas jamais se deram bem, primeiro de tudo por uma ser branca e com nítido senso pra moda e a outra uma completa  mentecapta fedida. A tensão era nítida no ar, e nada de bom acontecia quando os grupos se encontravam.

— Hunpf, — Disse Alice, antes de subir as escadarias, com um sorriso falso no rosto. — não tinha nada melhor pra vestir, querida? Neste calor, vai acabar derretendo! Se bem que se fosse assim, já teria acontecido, com esse cabelo tão... estranho.

Ouviu-se um sonoro “Uhhh!”. Tiffany chegou pouco tempo depois, tagarelando sobre a foto de Alice na rede social e coisas do tipo, mas logo parou e ficou ao lado da amiga. Ela estalou o dedo e seu batalhão de garotas chegou posteriormente, mais duas, equiparando-se em número com os de Flare.

— Há! Até parece. Olha só pra você, está indo pra premiação do Oscar por acaso? — Disse Flare, dando um risinho e suas amigas fizeram o mesmo. Todo mundo olhou para Alice em seguida, que deu uma jogada de cabelo rápida.

— Se chama estilo, querida. Coisa que nunca terá. — Respondeu, soltando um beijinho.

— Se for pra ser assim, eu prefiro ser eu mesma, obrigada. — Disse Flare.

— Também, né. — Alice abaixou os óculos por um instante, os olhos azuis faiscando em provocação. — Pobre do jeito que é, nunca vai estar no meu patamar.

De novo, os alunos ao redor repetiram o mesmo som. Alice se virou para a entrada, a vitória era garantida hoje, e suas seguidoras deram gritinhos de felicidade e êxtase ao ver sua abelha rainha sair intacta do duelo. Entretanto, Flare riu.

— Todo dia eu agradeço por não ser uma branquela ridícula como você, — Disse ela, e não menos ousada, como sempre, continuou. — vadia.

UOOOOOOOOU!”, quase todo mundo emitiu o mesmo som ao mesmo tempo. A esta altura, claro, Alice estava prestes a esganar alguém.

— Amiga, respira fundo... — Começou Tiffany, mas claramente não havia adiantado de muito.

— Você me chamou DO QUÊ?!

Nesta hora, Alice jogou sua bolsa pras garotas que a seguiam, tirou suas jóias com uma velocidade tremenda e voou em um salto em direção à Flare. Suas unhas foram diretamente pro cabelo de Flare, uma mata castanha muito escura e redonda, e com uma força que ninguém jamais achou que teria começou a sacudí-la. Todos começaram a repetir “BRIGA! BRIGA! BRIGA!”, e não foi preciso muito para que o barraco estivesse armado.


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Notas finais do capítulo

VOCÊS GOSTARAM, NÉ? Gente do céu, eu não achei que fosse ficar assim tão grande! Mas foi bom, achei os caps da Lucia meio pequenos demais pro que eu queria hahaha!

Nos vemos semana que vem, tchau! o/



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