Our destiny escrita por Tisbe


Capítulo 2
Ventos de inverno


Notas iniciais do capítulo

Obrigada a todos que estão acompanhando a história.



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No quarto principal do castelo, uma luz tênue surgia através das vidraças. O dia já havia amanhecido, porém, os fracos raios do Sol se mostravam cada vez mais anêmicos e acinzentados. O inverno realmente havia chegado. 

No interior do aposento, Sansa sentia o corpo tremer com o sopro frio que se infiltrava por cada fissura das janelas. Despertou de seu sono se perguntando em que momento da noite Jon a havia deixado. Com os olhos fechados, tateou o lado da cama em que antes o marido estava. O local em que suas mãos tocaram ainda mostravam resquícios do calor de seu corpo.

Deve ter saído a pouco tempo.— Sansa estranhou aquilo, pois em todas as vezes que ficaram juntos, o rapaz sempre saía no meio da noite e ia para seu próprio quarto. Não que isso fosse um desejo seu, por ele, permaneceria ao lado da esposa durante a noite e também por toda a manhã. Mas a ruiva o fez prometer que seriam extremamente cautelosos e discretos em sua relação. Antes de sair, Jon sempre a beijava e desejava bons sonhos, mas dessa vez, ela não se recordava se ele havia feito isso ou não. Apesar do estranhamento, a garota decidiu puxar suas cobertas até a altura do pescoço e ficar deitada por mais algum tempo.

No salão principal, Brienne e lorde Davos tomavam o desjejum e conversavam calmamente sobre as mudanças climáticas.

— Lady Brienne, Sir Davos, bom dia. 

— Lorde Snow, bom dia.

— Já disse que não precisam me chamar de lorde. Para vocês, sempre serei Jon. Ainda me sinto estranho com esse título.

— Como quiser, Lorde Snow, digo... Jon. – Brienne ainda não havia se acostumado com a presença do meio-irmão de sua protegida. O achava quieto demais e para ela, era difícil criar algum vínculo com o homem. Ela utilizava a formalidade e se mantinha distante. Entretanto, a mulher de Tarth passou a residir no castelo e decidiu que seria interessante saber um pouco mais sobre Jon. Resolveu que iria convidá-lo para um treino com as espadas, quem sabe assim, o entenderia um pouco melhor. Mas, deixou a proposta para uma outra ocasião. Preferiu terminar seu café da manhã em silêncio.

Jon se juntou ao casal para também tomar seu café. Pediu a uma das criadas um caldo quente, enquanto comia um pedaço de pão adocicado. – Viram Sansa hoje?

Brienne foi a primeira a responder.  – Ainda não, acredito que ainda esteja em seu aposento. Lady Sansa tem estado sobrecarregada com a administração e manutenção do castelo. Me ofereci para ajudá-la em qualquer coisa que fosse, mas ela insiste em tomar ciência de todas as reformas e gastos feitos para a benfeitoria de Winterfell. Também tem ido frequentemente a vila para saber das necessidades dos vassalos.

— Compreendo.  O inverno chegou e é preciso que estejamos preparados. Ela tem se mostrado muito sábia e competente em todas essas questões.

Quando na presença das outras pessoas, Jon se referia a Sansa com impessoalidade e distanciamento. No castelo, ninguém sequer imaginava a profundidade da relação vivida entre eles. Aos olhos de todos, seus laços eram fraternos e ambos faziam questão de se manter afastados e não demonstrar qualquer sinal de afetividade. Não faziam nada além do que era esperado entre dois irmãos que pouco conviveram durante a infância.

— Irei até o pátio para o treino da manhã. Quando ela descer, digam que a procuro. Tentarei ajudá-la de alguma forma. Agora peço que me deem licença.

Jon atravessou o cômodo apressadamente. Já no pátio, decidiu que não treinaria com os novos cavaleiros. Pegou seu arco, algumas flechas e caminhou até um alvo em formato humano, feito de palha e retalhos de tecido.  Lançou uma sequência de quatro projeteis, três deles foram certeiros e atingiram em cheio o pequeno ponto vermelho que marcava a cabeça do manequim esfarrapado. O quarto, sequer chegou perto de seu destino.

— Desculpe, não quis desviar sua atenção. Tentei ao máximo me aproximar em silêncio.

— Você foi silenciosa, não foram seus passos que a denunciaram.

— Me diga, se não me ouviu chegar, como pôde perceber minha presença?

— Seu perfume... o vento trouxe seu perfume até mim. 

— Jon, você passa tanto tempo na companhia de Fantasma, que acho que está realmente se tornando um lobo. Seu olfato é excepcional.  Passei meu perfume ontem. Hoje eu mal o sinto.

— Seu cheiro está impregnado em meu subconsciente, eu seria capaz de reconhecê-lo em qualquer circunstância. Gostei de percebê-lo assim, trazido pela brisa fria, mas preciso confessar que prefiro senti-lo direto em sua pele. Enquanto a toco e a beijo.

— Jon, pare com isso. Falando dessa forma não conseguirei manter minha compostura por muito mais tempo. Vamos mudar de assunto antes que alguém me veja o agarrando aqui mesmo. Davos me disse que queria falar comigo.

— Como quiser minha rainha, não ouvirá da minha boca mais nenhuma expressão do desejo que sinto neste momento. Ficarei apenas com minha imaginação e com as lembranças da noite passada.

O casal conversava de forma séria e pela expressão impassível de ambos, quem passasse pelo local naquele instante, jamais desconfiaria do teor daquela conversa. 

— Que bom que mencionou a noite passada. Pode me dizer porque acordei com a sensação de que fui deixada apenas pela manhã?

— Sansa, em minha defesa, não havia viva alma no castelo quando saí de seu quarto. Não tema, pois não fui visto por ninguém. Caí no sono e só acordei pouco antes do amanhecer. E você dormia tão profundamente que não tive coragem de acordá-la para me despedir.  Me perdoe, isso não se repetirá.

— Tudo bem, prometo que darei um jeito para que possamos ficar juntos por mais tempo.

Jon guardou seu equipamento e acompanhou Sansa de volta ao castelo. No caminho, discutiram sobre as reformas já feitas e as muitas outras que estariam por vir.

— Sansa, tenho visto seu empenho em organizar a reconstrução de Winterfell e liderar as outras casas nos preparativos para o inverno.  Quero ajudá-la. Você sabe que não precisa fazer tudo sozinha.

— Jon, não nego que seja um trabalho extenuante, mas não posso aceitar sua ajuda nesse momento. Você vem comandando nosso novo exército e treinando os jovens cavaleiros. Seu trabalho tem sido primordial para nossa segurança. Estamos na mira de muitos inimigos. Lorde Baelish ainda está à espreita e ele tem o domínio sobre meu primo e o Vale. Além disso, acredito que já tenha chegado a todos os ouvidos de Porto Real, a informação de nossa conquista sobre os Boltons. Cersei está enfurecida, acha que fui a responsável pela morte do rei Joffrey. Ela não descansará enquanto não se sentir vingada.

— Sansa, sei que esses inimigos são bastante reais e perigosos, mas há algo ainda mais terrível que a fúria da rainha Lannister. Os caminhantes brancos estão cada vez mais perto. Os dias ficarão mais curtos e eles terão o frio e a escuridão como aliados. O pior virá com o inverno, minha senhora.

Sansa sabia daquele perigo, em inúmeras conversas, Jon descrevera cada detalhe que sabia sobre as criaturas feitas de gelo, frio e pavor. Ele lhe contara sobre a batalha em Durolar e seu encontro com os mortos-vivos.

— Infelizmente, acredito em cada palavra sua, meu senhor. Queria que esses monstros não passassem de mera fantasia, vivos apenas nas histórias da velha ama. Sei que o pior está por vir, por isso, o deixarei com seus afazeres e me ocuparei das demais trivialidades.  Seu dever será criar o mais forte exército já visto nos Sete Reinos.  Além disso, a outra única obrigação do Lobo Branco será manter minha cama aquecida durante as noites frias de inverno. Está de acordo?

Jon não pôde conter o riso com aquelas palavras. No meio de um assunto tão sério e assustador, sua doce esposa ainda conseguia fazer gracejos e insinuações para deixá-lo com o que pensar.

— Prometo me empenhar em ambas as tarefas. Porém, lhe digo que não é necessário nenhum esforço para me enfiar sob seus lençóis.

Sansa lhe sorriu discretamente e os dois fizeram o restante do trajeto em silêncio.

A mesa do almoço já estava posta e como de costume, Brienne e Sir Davos se juntaram aos anfitriões para a refeição. No entanto, naquele dia, Tormund também havia se juntado ao grupo. Desejava ter uma reunião com Jon para discutir o destino dos selvagens que permaneciam nos arredores de Winterfell. O Barbudo decidiu que a hora do almoço seria a mais apropriada para uma longa conversa.

Antes que começassem a comer, Tormund deu um gole em seu vinho doce e estendeu sua taça para o alto. Pigarreou para anunciar uma espécie de saudação.

— Ao Lobo Branco e a Rainha do Norte! Saúde!

Todos ergueram suas taças e repetiram as palavras do homem. Jon se sentiu um tanto desconfortável com aquilo, detestava ser o centro das atenções. Por outro lado, Sansa pareceu se animar com a gentileza do selvagem. Teve a impressão de que o barbudo vermelho se referia a ambos como um casal. Ela corou levemente, mas ninguém notou. Apenas ela tinha aquela sensação.

Durante o almoço, conversaram e se descontraíram. Raros eram aqueles momentos, em que todos pareciam se esquecer por alguns instantes a dura realidade em que viviam. Sansa se divertia ao notar as expressões de espanto que Brienne lançava para Tormund toda vez que ele tentava seduzi-la. O homem ainda não havia desistido de conquistar a bela loira, tão forte e feroz quanto ele. Quanto mais ela resistia, mais ele se empenhava em tentar encantá-la de alguma forma.

O grupo estava quase se retirando da mesa, quando Podrick surgiu no ambiente com um envelope em suas mãos. – Para Lady Sansa.  – O jovem entregou a carta para a garota e decidiu aguardar num canto, caso alguém o chamasse.

— Está selado com o brasão dos Freys – Enquanto quebrava o lacre do papel, Sansa tentava imaginar por que diabos os malditos mandariam uma carta destinada a ela e não a Jon, o Senhor de Winterfell.

Lady Sansa,

Há pouco, ouvi rumores sobre sua conquista e seu retorno a Winterfell.

Já faz muito tempo que não ouvia falar em seu nome, pensei que morta estaria.

Confesso que chorei sua morte e que quase me esqueci de seu rosto... eu quase me esqueci de meu próprio...

Não sou mais a mesma que um dia você conheceu, mas espero que ainda me reconheça.

Lamento não poder revelar minha identidade neste momento. Ainda tenho assuntos pendentes a resolver.

Em breve, os ventos do inverno nos reunirá novamente.

 

— Jon, quem mandou isso? Será algum tipo de brincadeira perversa? – Sansa estava paralisada em sua cadeira, seu rubor tão característico se esvaiu e sua face se tornou pálida como cera.

— Podrick, quem mandou essa carta? Jon falava num tom grave e urgente.

— Um garoto maltrapilho me entregou o envelope e correu. Deve ser o filho de algum camponês. Não tive tempo de fazer qualquer pergunta.

— Lady Sansa, tome um gole de água, vai se sentir melhor. – Brienne tentava ajudar da melhor forma que podia.

Todos na mesa estavam intrigados com o conteúdo da mensagem. Mas ninguém ousou proferir qualquer palavra.

— Jon, aqueles malditos mataram Robb e minha mãe naquela fortaleza. Devem estar fazendo alguma piada maligna com meu sofrimento. Querem que eu acredite que ela está viva, querem me desestabilizar de alguma forma.

Sansa se levantou e mal pôde notar quando sua visão se tornou turva para logo se transformar em total escuridão.

— Sansa! – Enquanto os demais perceberam apenas o som agudo feito pela taça de metal que a garota não teve forças para segurar, Jon notou que seu corpo estava tombando para frente. Num reflexo, a segurou, impedindo que ela também atingisse o chão.

Jon se ajoelhou e apoiou a cabeça de Sansa em suas pernas.  – Acorde... vamos lady Stark! Por favor, acorde! - Sacudiu seus ombros levemente e a viu retomar a consciência. – Está tudo bem, você ficará bem!

Ainda apreensivo e bastante preocupado, Jon deu instruções para que os demais procurassem a criança descrita por Podrick.

— Lady Brienne, vá com Tormund, procure pelos arredores do castelo. Sir Davors, vá com Podrick até a vila. Por favor, tentem encontrar esse menino. Precisamos descobrir quem está por trás dessa carta. Levarei Lady Sansa até seu aposento.

— Jon, estou bem. Posso caminhar até meu quarto. – A garota ficou de pé, mas foi incapaz de dar um passo. Podia sentir a cabeça latejar e um estranho formigamento tomar conta de seu corpo inteiro. Cambaleou e teve de se apoiar nos ombros largos do marido.

— Pronto, eu a peguei.  – Jon a segurou no colo e a levou escadas acima. A colocou na cama e se sentou a seu lado. – Descanse um pouco meu amor, logo descobriremos quem é o autor dessa carta. Por favor, esqueça disso por um instante e tente dormir um pouco.

— Jon, deite-se comigo. - Sansa fechou seus olhos e acalmou seus medos, pois o calor do corpo a seu lado lhe trazia a sensação de segurança e conforto de que ela tanto precisava.


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Notas finais do capítulo

Beijos pra quem leu!



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