Flowers escrita por camomillwe


Capítulo 2
Chá quente


Notas iniciais do capítulo

Bom... ontem não foi um dia bom. Na verdade, foi um dia horrível. E hoje ta algo mais ou menos.
Então eu vim fazer a única coisa que me distrair.
Eu vim escrever.
Acho que a partir dos próximos capítulos, vai dar pra conhecer um pouquinho mais da Julie.
Então boa leitura! :3



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            Julie gostava em particular, do chá que sua avó fazia. Não era amargo como o da sua mãe, ou com gosto de meia velha como o da sua tia. Poderia dizer que o chá da sua avó era único. Talvez pelo leve gosto adocicado, talvez porque sempre o tomava quando precisava escutar as palavras da velha.

            Viúva, divorciada do segundo casamento, mãe de três filhas e com três netos. Julie nunca tinha visto a voz da avó fraquejar. O teto poderia estar desabando sobre a sua cabeça, mas quando ela se voltava, com os olhos verdes duvidosos a única pergunta que se escutava era “aceita chá?”. Isso irritava a mãe de Julie, a mais eufórica das três irmãs. A mais nova, a primeira a sair de casa, a primeira a voltar. Ela não entendia de onde vinha tanta calma. Mas não se enganasse com aquela senhora por conta da paciência e da calma. A velha sabia brigar quando necessário.

            Para Julie, ela era o exemplo vivo de uma mulher forte.

            Os chás industrializados não tinham o mesmo gosto que o dela. Na verdade, nada substituía a sua avó. Era quase impossível não notar como na sala faltava um tapete velho e empoeirado, ou como a cozinha do pequeno apartamento parecia sem vida, ou até mesmo pela falta de flores na varanda. Era estranho se lembrar tão bem de algo que parecia ter sido tão distante.

            Hoje era dia de visitas.

            – Ela está sedada. – a voz da enfermeira era seca, sem vida ou emoção. – Recomendaria voltar mais tarde, mas como sei que a senhorita não vai embora... seja cautelosa.

            Era injusto manterem sua heroína naquele lugar.

            Julie começou a odiar a cor branca quando entrou no hospital especial pela primeira vez.

            Os corredores eram frios por conta do ar-condicionado desregulado. O fino casaco que usava não fazia mais diferença. Podia-se escutar alguns sussurros de longe, o que talvez deixassem-na perturbada, mas no momento preferiu não se importar.

            Lembrava-se perfeitamente do primeiro dia que tinha que ido para aquele lugar. Se lembrava de como o vestido esvoaçante a atrapalhava na corrida, e como os saltos finos faziam um barulho irritante quando andava apressada. Hoje ela ia devagar, queria se preparar psicologicamente, mas teve meia hora no caminho de vinda para isso.

            Parou na frente do quarto 22. A plaquinha do número estava até um pouco desbotada por conta do tempo. A porta tinha uma cor neutra que fazia o estomago de Julie revirar. Ela odiava com todas as forças esse lugar.

            Então ela o fez. Abriu a porta devagar, seguindo o conselho da enfermeira.

            A primeira coisa que notou era que os lírios que tinha trazido semana passada estavam murchos. Praguejou mentalmente por não ter trazido mais flores. Era a única coisa que podia trazer para tornar o ambiente menor mórbido.

            Deixou as flores de lado quando prestou atenção na senhora ao lado das flores murchas.

            Aquilo sempre doía.

            Sentou-se na beirada na cama e pegou a mão direita da grisalha. Calejada e enrugada. Julie costumava ficar brincando com elas entre as mãos quando era menor. Se lembrava de poucos momentos ruins ao lado da avó. Queria poder ter uma máquina do tempo. Simplesmente evitar que tudo aquilo de ruim tivesse acontecido. Talvez, estivessem em uma situação diferente se a garota tivesse conseguido evitar a catástrofe familiar que aconteceu.  

            – É dona Valerie. – murmurou baixinho para si mesma sabendo que a senhora não a ouvia. – As coisas se complicaram depois que você veio para cá.

            A sua avó, era como o pilar da família. Eram onde todos se sustentavam e buscavam conforto, até mesmo uma bronca. Quando ela foi pra aquele hospital, tudo começou a ruir. Já fazia mais ou menos um ano e meio.

            Começou a sorrir quando se lembrou de algo “engraçado” que normalmente deixaria a velha irritada.

            – Você e sua mania de dar nomes as pessoas com a letra “e” no final. – sorriu apertando um pouco mais a mão levemente fria da mulher. – Você e a mamãe sempre discutiam sobre isso. Acho que se ela não gostasse tanto dela mesma, já teria ido mudar o nome no cartório. Você ainda tem que me contar o porquê de amar tanto nomes assim.

***

            Depois de algum tempo, foi obrigada a deixar o quarto da avó.

            O coração dela continuava apertado. Ela não pode nem dar um “tchau” para a mulher.

            As palavras da enfermeira pareciam pequenos insetos. Eram perturbadoras. Toda semana, parecia a mesma coisa. Era algo como a despesa da paciente, os remédios da paciente, a regressão da paciente...

            Julie normalmente escutava tudo calada, sem protestar. Não iria adiantar nada tentar pela milésima vez tirar a avó dali. Eles não deixariam.

            Suspirou cansada abrindo a porta do apartamento sem gosto. Estava exausta da vida medíocre que tinha. A rotina era torturante, chegava a ser pior do que seu chefe com raiva.

            A única coisa que ainda a fazia sorrir era a Bell. Com certeza foi uma ótima escolha. Ela era o bichinho de estimação perfeito. No começo, não queria muito papo, e sempre protestava quando tentavam afagar ela demais. Mas agora, uma tinha se acostumado a presença da outra. Naquele momento a porquinha que estava espichada na caminha dela ao lado do sofá levantou a cabeça ao reconhecer a dona.

            Julie fez um grunhido tímido. Era essas horas e outras que achava que tinha problemas mentais. Passou direto pela porquinha e se jogou no sofá. Colocou os braços na frente do rosto como se de alguma forma tal ato fosse resolver seus pensamentos.

            Já fazia uma semana desde o ocorrido do idiota que morava na sua frente. Ele não tinha se manifestado desde então, o que a deixou mais confortável. Os horários dos dois pareciam não bater, e Julie agradeceu aos céus por causa disso. Odiaria ter que trocar qualquer palavra com ele de novo.

            Julie odiava muita coisa. E odiava o modo como ele parecia conquistar todo mundo só com a porcaria de um sorriso.

            E a pergunta dele, claramente tinha a pego de surpresa. Não é do dia pra a noite que você formula uma resposta do por que não acredita no amor. Ela só achava um sentimento superficial, falso, morto. Provavelmente se falasse isso em voz alta mais uma vez seria chamada de mal amada.

            – Entrega para a Srta. Julie.

            Isso provavelmente era algo estranho. Normalmente, o carteiro deixava as encomendas com o porteiro. Na recepção. E Julie não se lembrava do telefone ter tocado informando que tinha alguém indo ao seu apartamento.

            Levantou-se rápido do sofá, o suficiente para lhe causar náuseas. Sem as sapatilhas, sentia o chão frio do apartamento em contato com seus pés. Não saberia descrever sensação melhor, pelo menos não no momento.

            Quando tocou a maçaneta pediu aos céus por ser algo importante. Não teria se levantado só para algo inútil não é?

            – Preciso de uma xicara de açúcar. – aquele sorriso irônico irritante. – Fiz um doce para adocicar a sua vida.


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Notas finais do capítulo

Bom, eu gostei desse capitulo, podia ser melhor? PODIAAA, mas eu gostei do resultado dele. Uma pequena parte da historia da Julie. Eu definitivamente estou in love com o Julie.
Já to empolgada pro próximo :3
E ate melhorei meu humor
Enfim, ate o próximo :3



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