Harry Potter e a Caverna de Sepsyrene escrita por Rosalie Fleur Bryce


Capítulo 28
De volta à Hogwarts


Notas iniciais do capítulo

Lumos.
Arnaldooosssss, quanta coisa está acontecendo na vida.

Bom, primeiramente gostaria de agradecer aos comentários das Arnaldas Alya e CheshireCat, amo vocês e comentários como esses me inspiram a não desistir dessa fic — coisa que já pensei em fazer.

Segundamente, se você não leu o capítulo Mudanças, leia. Porque nele eu explico muito do que aconteceu com essa fic, eu basicmente mudei a porcaria toda pq eu posso. Mintira. Amo vocês.

Terceiramente, TEMOS 30 ARNALDOS OFICIAIS ACOMPANHANDO A CAVERNA DE SEPSYRENE, GENTE, ESTOU FELIZ DEMAIS! NÃO PARO DE ENXER MEUS AMIGOS COM ISSO.

Enfim, espero que aproveitem a leitura!



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As cortinas da ala hospitalar tinham sido abertas, a forte luz do recém-nascido Sol iluminava toda a sala. Tudo estava imerso no remanso e taciturnidade. Harry fora o primeiro a acordar, agora que estava parado e podia até sentir seu pulso nas veias, também sentiu todo seu corpo sofrer com uma dor lenta e assassina. Depois de dias na floresta, a angústia pareceu finalmente chegar.

Sua cabeça ainda doía, virou-se e viu que ao seu lado estava Hermione e do outro Rose, Gina e Rony estavam à sua frente. Cochichos começaram a surgir e vinham aumentando. Harry pôde identificar a voz calma de Dumbledore e o tom de incredulidade de McGonagall, logo fechou os olhos e fingiu estar dormindo. 

— Mas como aconteceu? E eu não fazia ideia... — Minerva disse. — Se ao menos soubesse que Potter e seus amigos foram em direção à morte certa — agora seu tom era irônico. — Acha que devemos acordá-los? E não me venha com poesias sobre o quão importantes são os sonhos, Alvo. Isso aqui é muito sério. 

— Se acalme, Minerva... Vamos ver se algum deles está acordado.

— Ah, parece que não. Vamos voltar à sua sala e decidir o que vamos dizer aos pais. O que a Sra. Weasley dirá quando contarmos que seu filho foi caçado? E os Grangers, eles nem são bruxos. E a família Bryce, Alvo? Eles acabaram de se mudar, você fala português? Hum, nem eu...

— Minerva — Dumbledore pareceu enfurecer-se um pouco. —, Harry está acordado.

Harry mal tinha percebido que seus olhos estavam abertos demais, pensou em fechá-los e fingir que realmente estava dormindo, mas Dumbledore era inteligente demais para acreditar em uma má atuação. 

— Ah, bom dia, Potter — Profª McGonagall tentou recuperar a postura. — Creio que sabe que temos muitas perguntas. 

— Sim, e nós também — Quem respondeu foi Hermione, sentando-se na cama com calma enquanto esfregava os olhos para acostumar-se com a claridade. — O que querem saber? 

— Acho melhor esperarmos todos acordarem — Minerva decidiu, confirmando o olhar com Dumbledore. 

— Não precisamos esperar. — Hermione pulou da cama e então foi até a cama de Rony. — Rony, acorda. — o ruivo deu um enorme bocejo e depois enfiou a cara no travesseiro, Hermione girou os olhos e então foi até Gina. — Vamos, Gina, temos que acordar. Rose também. — Harry ficou particularmente impressionado com a disposição da amiga para andar com tanta rapidez pela sala. 

— Pronto — Hermione subiu de volta na cama. —, todos acordados. Podemos começar a falar sobre o que realmente importa? Não? O.k., bom, eu já tenho uma pergunta. Como nos acharam? — foi Hermione quem começou, Dumbledore estalou a língua e então desatou a falar: 

— A carta gravada que Harry me mandou, ele disse a localização e fomos até vocês.

—Entendi — Hermione murmurou, parecendo extremamente interessada com a lógica do diretor. — Ãhm...me desculpem mas que dia é hoje? 

— Vinte e quatro de dezembro.

— O quê? Como, não, impossível — foi Rony que falou. — Véspera de Natal? Não passamos menos de dez dias naquele lugar, nos não... 

— Vocês tinham total controle dos dias? — Dumbledore questionou.

— Sim, claro, estáv...

— Com certeza? Ou podem muito bem ter se enganado? 

Rony calou-se e mais ninguém teve vontade de falar nada. 

— As aulas ainda não começaram, nenhum dos cinco vai sair de Hogwarts sem acompanhamento em hipótese alguma. — McGonagall começou, tomando um ar mais sério e ponderoso. — Pelo resto do ano letivo, estão livres das tarefas de casa e provas...

— Mas e os N.O.M.s? — como já se era esperado, Hermione interpolou com o que parecia ser indignação ou raiva. — Não podem cancelar os N.O.M.s, não podem... não...

— Srta. Granger — repreendeu-a Minerva. —, os N.O.M.s serão transferidos para o ano que vem. Já constatamos o Ministério, provas não são nossa prioridade aqui. Mantê-los vivos é o que está em questão agora. E se não colaborarem, teremos trabalho redobrado. Vocês vão para a aula se quiserem, também podem vir para a ala hospital e se quiserem falar conosco ou algum dos professores em particular, vou me assegurar de que conseguirão nos achar à hora que precisarem. 

— E nós vamos simplesmente viver nossas vidas? Como se fosse a coisa mais normal do mundo ser atacado por Voldemort e voltar para casa depois de um dia difícil? — Harry se revoltou, arrumando sua postura na cama.

— Vocês já fizeram o bastante — McGonagall tentou acalma-lo. —, agora deixem os adultos cuidarem do que é realmente perigoso.

— O realmente perigoso? Hermione foi sequestrada e perdeu a memória. Rose tem sido torturada por um bom tempo, fugimos da morte, a casa dos Grangers foi bombardeada, eu posso continuar, professora...

— Não será necessário, Harry — interrompeu-o Dumbledore. — Não podemos negar que eles passaram por inúmeros perigos e saíram muito bem deles. Os parabenizo e dou graças que estejam vivos. Sim, cuidaremos de boa parte da situação, mas lhes contaremos tudo.

— Mas, Alvo...

— Sei que quer protegê-los, Minerva. Mas eles já estão muito envolvidos, não podemos simplesmente priva-los de tudo que acontece. Não são alunos comuns, desde o primeiro ano já vem fazendo história — Harry podia jurar que viu Dumbledore lhe dando uma piscadela. — Uma vez por semana, todas as terças-feiras depois do jantar, vocês podem ir à minha sala para conversarmos, que acham? 

— Acho bom — Harry disse quando percebeu que ninguém falaria nada.

— Ótimo. Bom, acho que à essa hora eles já chegaram? — o diretor perguntou a professora, que confirmou com a cabeça. — Então vamos recebê-los e então eles vem aqui? 

— Eles quem? — perguntou Rony, mas foi ignorado e deixado sem resposta. 

Depois de dez minutos em total silêncio, a sala foi tomada por suspiros vindos da porta. Várias cabeças ruivas apareceram e correram até Rony e Gina. Molly murmurava coisas como 'graças a Merlin', 'Estão vivos', 'Sou uma péssima mãe' ou 'eu te amo tanto...'

Em seguida, o Sr. e a Sra. Granger correram até a filha. Harry pensou em perguntar como eles estavam enxergando Hogwarts, mas preferiu permanecer calado. Os pais de Rose também apareceram, e em menos de dois segundos estavam abraçando-a. 

— Ah, filha — Olivia disse. — Dumbledore me explicou tudo, não acredito que não vi nada acontecendo. Como pude ser tão cega? Sou uma mãe horrível, eu não acredito...

— Nos perdoe, filha — Sr. Bryce acariciava a cabeça da filha e depois lhe deu um beijo na testa. 

— Onde está Catriona? — Rose nem conseguiu terminar a frase quando foi interrompida:

— Draco! — uma vozinha de criança soou feliz, e quando Harry olhou para o lado, viu Catriona, irmã de Rose, meio abraçada a Draco e meio jogada em cima dele enquanto ele entrava na ala hospitalar. Os Bryce pareceram de repente alegrar-se com Draco na ala, e ambos foram até o garoto.

— E a melhor apanhadora do mundo? — Draco perguntou a Catriona. Harry olhou para trás e viu a seguinte cena: Hermione, Rony e Gina; todos com os olhos igualmente arregalados e impressionados, Harry não devia estar tão diferente.

— Ah, Draco! — a mãe de Rose gritou de felicidade. — Filho, você está bem? 

— Sim, estou ótimo, Sra. Bryce. Eu não fazia ideia, acabei descobrindo pelo meu pai e logo vim para cá.

Harry percebeu que não era o único a tentar entender a situação entre Olivia e Draco, ou Edgar e Draco, ou Catriona e Draco. Ou todos os Bryce e Draco. Draco Malfoy. Algo não se encaixava e Harry não precisou pensar muito para concluir.

— Estou bem, Sra. Bryce. Pode acreditar — Malfoy deu batidinhas no braço de Edgar ao receber seu abraço, olhava para Harry como se implorasse para que não dissesse nada. Harry não fazia ideia dos problemas que Malfoy tinha criado, mas com certeza não queria ser parte deles, então manteve-se quieto e somente observava. 

— Como ficou sabendo? Ah, não importa, agradeço por ter vindo e estar com ela durante todo esse tempo — Olívia segurou o rosto de Draco e o olhou, orgulhosa. —, muito obrigada. — Draco deu um sorrio envergonhado e continuou cabisbaixo, com um discreto olhar de culpa nos olhos. 

— Não tem ideia de como ficamos preocupados. — Sra. Weasley iniciou, passando a mão pelos cabelos de Gina. — No segundo em que partiram nos arrependemos, fomos atrás de vocês mas não os achamos. 

— Sim — concordou Arthur. —, quando nos demos conta do que tínhamos feito, pedimos ajuda a todos. Todos os jornais de trouxas de bruxos.

— Mas nenhuma das duas equipes de polícia os achou — continuou a Sra. Weasley.

— Espera, tinham policiais atrás de nós? — Gina perguntou, e o Sr. e a Sra. Granger afirmaram com a cabeça.

— Já tínhamos perdido a esperança — Molly comentou, finalmente olhando para Harry. — Ah, Harry, querido... olhe pra você, está horrível. — e então o abraçou, e Harry teve a estranha sensação de estar sendo abraçado por uma mãe. — Só podemos ficar aqui até depois do jantar, querem nos contar o que aconteceu?

— Nós até queremos, mãe — Gina começou. — Mas acho que todos vão concordar comigo... Prefiro descansar agora, tomar um banho, ir até a sala comunal, tomar um chocolate quente, ter pelo menos um dia normal.

Todos concordaram com Gina, os pais mexeram a cabeça e disseram que estariam na sala de visitas, conversando com Dumbledore. Harry mal sabia que Hogwarts tinha uma sala de visitas, mas o que ele realmente queria era poder ter alguns minutos a sós com o diretor, assim os dois poderiam conversar do jeito sério e descente que Harry sabia que o professor não usaria perto de qualquer outro aluno. 

Gina foi a primeira a sair, disse que queria descansar em algum lugar que não tivesse cheiro e ares de morte, Harry achou graça e despediu-se dela. Mais duas horas se passaram, Rony, Hermione e ele decidiram que deviam fazer o mesmo. Rose e Draco conversavam algumas coisas mas ela parecia querer continuar muda para o resto da vida, e nenhum dos três teve vontade de dizer algo mais.

— Harry, posso fazer uma pergunta? — disse Rony, com as mãos bolsos da calça e olhando para o chão. Harry fez um barulho com a boca e então o ruivo continuou: — Você já... não sei... contou quantas vezes Voldemort já tentou te matar? Ou quantas vezes você já passou raspando pela morte?

De início Harry achou graça da pergunta, mas então viu que ele nunca tinha pensado nisso, então começou a contar nos dedos em voz alta. 

— Quando eu nasci. Com o Quirrel. Basilisco. Quase fui atropelado dois anos atrás mas não sei se isso conta...

— Se esqueceu da parte em que a gente quase morreu tentando fugir da Aragogue com seus infinitos filhos que não paravam de brotar do chão e cair do céu — lembrou Rony, não deixando de parecer um pirado.

— Claro... sim — disse Harry em compreensão. — Aí quando o dragão chegou bem perto de me matar, depois quando eu quase morri afogado, quando eu fui parar no cemitério...

— Ah, o Krum quase não te matou no labirinto? — Rony lembrou novamente. Hermione girou os olhos e simplesmente disse:

— Ele tinha sido enfeitiçado... 

— Sem detalhes, Mione, sem detalhes... 

— Enfim. Ah, quando aquele moço encapuzado apareceu na prova de DCAT, quando A Toca pegou fogo, todo nosso percurso na floresta... — Harry falava como se estivesse conferindo a lista do mercado. 

— Deram quantas vezes? 

— Acho que doze... doze? — perguntou para si mesmo, de repente adquirindo um diferente respeito pela vida. 

— Em cinco anos você quase morreu doze vezes... Isso deve ser um recorde, não? — Rony começou a perguntar para as paredes, fazendo os três rirem. Mas quando eles fizeram a curva para pegar o habitual caminho até a Torre da Grifinória, uma garota indefesa com olhos inchados de tanto chorar apareceu na frente dos três. Ficou mirando-os por um tempo e Harry tentou pensar em todas as maneiras para fugir dali, uma vez que a menina era...

— Rony!!! — Lilá se jogou nos braços do garoto em um abraço muito forte. — Ah, meu pai, onde você estava? Te mandei cartas e até tentei procurar por Weasley na lista telefônica dos meus pais, nada. Como você não me manda nada, seu tonto? 

Rony estava sem reação, gaguejava umas sílabas soltas e sem sentido. Harry olhou para Hermione e menina girou os olhos, mas logo depois pôs um sorriso forçado no rosto e então começou a falar num tom tão exagerado e agudo quanto o da loira:

— Ah... meu... Merlin... Lilá, como assim? — ela abraçou a loira com toda a sua força, e Harry quase pôde perceber os pulmões de Lilá explodindo. — Eu senti tanta sua falta, essas férias foram mais longas do que eu imaginava... Tentei te mandar cartas e até procurei por Brown na lista telefônica...

— Nossa... Hermione, eu não sabia que gostava de mim... — ela estava realmente impressionada.

— O QUÊ? — Rony deu um saltinho com o berro da morena. — Eu te adoro e sabe... sinto que podemos ser muito amigas... 

As duas ficaram em silêncio por um tempo, Lilá com uma cara que denunciava que ela estava estranhando a atitude de Hermione. 

— Bom... que ótimo, eu acho. Ah, posso falar com Rony um minutinho? Em particular...? 

— Mas é claro, linda! Nos vemos depois — e deu mais um abraço nela. 

— Ah, Rony, então...

— Até depois, Rony – interrompeu-a Hermione, ficando na ponta dos pés e dando um beijo nem muito longo e nem muito curto em Rony. – Vamos, Harry?

Rony pareceu se reanimar ligeiramente. Ele encostou a mão no lugar em que Hermione o beijara, parecendo intrigado, como se não tivesse muita certeza do que acabara de acontecer. Parecia distraído demais para reparar nas coisas ao seu redor, Harry e Hermione viraram o corredor e então Harry encostou-se na parede para rir. 

— O que foi isso? — ele perguntou, apoiando as mãos nos joelhos. 

— O quê? Ele não fazia nada, alguém tinha que fazer alguma coisa...

— Alguma coisa? Você foi falsa além da conta, Mione. 

— Eu sei — ela pareceu com nojo de si mesma. —, pareci uma galinha qualquer... Mas valeu a pena, você viu a cara dela, não viu? 

— Vi, pareceu bem intrigada. E você se arrepende?

— Mas é claro — os dois voltaram a andar. —, não acredito que beijei ele. Foi mais para provocar ela do que para deixá-lo... feliz. — Harry nem precisou perguntar o que tinha acontecido, pelo olhar de Hermione, percebeu que ela já tinha entendido o questionamento estampado no rosto dele. — Como posso ficar com alguém que ainda não está totalmente resolvido com outra pessoa, Harry? Se Gina ainda tivesse assuntos pendentes com Dino, o que você faria?

Ambos concluíram a resposta de Harry e ele imaginou que se sentiria extremamente mal, não a namoraria até que estivesse totalmente resolvida com Dino. Pela primeira vez no que pareceu a eternidade, Harry entendeu Hermione. 

Os dois andaram até a sala comunal e cada um foi para seu quarto. Depois de alguns minutos, Dooby apareceu na porta de seu quarto, trazia uma cesta com comida e material de higiene. 

— Harry Potter infelizmente perdeu a maioria seus pertences no incêndio na casa do Sr. Weasley. Dooby veio trazer algumas coisas que poderiam ser úteis e outras que foram salvas do fogo. E também veio se desculpar por não ter podido ajudar Harry Potter. 

— Ah, Dooby — Harry balbuciou envergonhado. — Muito obrigado — e recebeu a cesta que era maior que o elfo. 

— Dooby vai deixar Harry Potter sozinho agora. Qualquer coisa, pode me chamar. — E então desapareceu com um estalo de dedos, literalmente. 

Harry separou alguns dos presentes de Dooby e foi até o banheiro. Tomou um banho refrescante e merecido, não o fazia há tempos. Depois se trocou e foi até o gramado de Hogwarts, de longe, viu um pontinho cinza com cabelos morenos esvoaçantes sob uma touca de lã. Andou até a cozinha de Hogwarts e ficou particularmente feliz por não ter esbarrado em ninguém. Pediu dois chocolates quentes para Dooby, que os fez com prazer. Quando os conseguiu, voltou ao gramado e foi até aquele pontinho cinza.

Era Hermione. 

Ela estava sentada com as pernas entrelaçadas, olhando para o enorme horizonte com olhos fixos em alguma coisa. Alguns fios de cabelos estavam na sua frente mas isso não importava, nada tiraria sua concentração.

Algumas árvores tinham montinhos de neve em suas folhas, e a grama estava gelada, mas Harry sentou-se mesmo assim. O dia estava lindo, o Sol os aquecia mas ao mesmo tempo parecia não fazer o trabalho completo, uma vez que milhares de casacos não eram suficientes para aquecê-los quando estavam ao ar livre. 

— Oi, Mione — disse ao sentar-se ao lado da amiga e então ofereceu uma das canecas. Ela olhou rapidamente para Harry e então aceitou. 

— Obrigada — ela bebericou e chocolate quente e então tornou a mirar o horizonte além dos limites de Hogwarts. Às vezes olhava para a caneca com a bebida fervendo com alguns marshmallows boiando na superfície. 

— No que está pensando? 

— Devia ter colocado uma calça mais grossa, estou com frio no bumbum. — Harry riu e tomou um gole de seu chocolate quente. — Mas no que eu realmente estava pensando?

— Que eu só queria estudar.

— Como assim?

— Só queria vir para Hogwarts, me formar, e talvez trabalhar no Ministério... — Seu jeito de falar estava diferente, parecia triste ou pesado. 


— E o que te impede disso?

— Ah — ela riu. — Bom, o Ministério está ficando cada vez mais perigoso de se estar, não quero trabalhar num lugar que esteja em segundo na lista de coisas para serem destruídas ou tomadas por Voldemort.


— Essa lista existe?

— Existe, sim, acabei de criar. E o Ministério não está em primeiro lugar porque você já ocupou esse cargo. Não satisfeita, conheço você e minha vida muda em cem por cento. Aí começo a gostar do meu melhor amigo e ele não larga de uma loira chata e, para o toque final, sou um dos principais alvos de Lorde Voldemort. — Harry entendeu o lado triste da história, e sentiu-se um tanto culpado, mas como se tivesse lido sua mente, ela continuou: — Muito obrigada. 

— Como assim? 

— Minha vida teria sido a mais chata de todas se eu não tivesse te conhecido. — Harry de outra risada e olhou orgulhoso para o resto do gramado. 

— Sempre à disposição. Quer virar alvo número um de Lorde Voldemort ou se meter em aventuras e peripécias de um menino serelepe de quinze anos? Entre em contato com Harry Potter, Rua dos Alfeneiros número quatro, no quarto debaixo da escada.  

— Você parece um menino de programa — ela sorriu, deitando-se na grama. 

— Missão cumprida — ele disse para si mesmo, e os dois voltaram a rir. Harry também deitou-se e então ficaram olhando as nuvens. Contudo, ambos tomaram um ar mais sério quando passaram-se uns cinco minutos, Hermione virou a cabeça para Harry e ele fez o mesmo para a amiga. 

— Algum dia teremos sossego?

— Nunca. Algum dia eu vou poder ver um Rony e uma Hermione juntos e felizes na sala comunal? — Harry achou que faria a amiga rir, mas ela simplesmente olhou triste para o chão.

— Eu também queria, Harry. E pelo o que você viu, percebeu que eu gosto muito dele. — os dois confirmaram com o olhar. — Mas uma das coisas que não suporto é estar com alguém que tem outro alguém. 

— Mas ele não gosta da Lilá...

— Então que fale de uma vez. “Lilá, sinto muito, mas não gosto assim de você, acho melhor terminarmos.” É tão difícil assim? E não acaba por aí, todas as vezes que ela se joga no Rony, ele não faz nada, fica com aquela cara de paisagem e sorriso envergonhado, olhando para mim como se dissesse “Opa, desculpa, depois resolvo isso aqui”, pode parecer incômodo para ele, mas não vamos esquecer que é um tanto difícil para mim ver uma garota jogada em cima dele.

Harry não podia dizer que ela estava errada, não queria vê-la magoada, não poderia defender o amigo naquele momento. Rony era seu irmão, mas ele realmente fazia isso.

— Entendi. Vamos? Já passou da hora do almoço e eu estou morrendo de frio aqui. — respondeu ele, estendendo a mão para ela, que apoiou-se nesta e então os dois foram andando com os braços entrelaçados até a sala comunal. Quando chegaram ao fim do corredor que levava à sala comunal da Grifinória pararam diante do retrato da Mulher Gorda, se deram conta de que não conheciam a nova senha.

— Hum... — Hermione disse sombriamente, olhando para a Mulher Gorda, que alisava as dobras do vestido de cetim rosa e retribuía seu olhar com severidade.

— Não tem senha, não entra — sentenciou ela com ar superior.

— Dumbledore disse que poderíamos passar — respondeu a morena, reclamando como uma pequena menininha. — Vamos...

— Certo, mas só os deixo entrar porque Dumbledore veio a mim pessoalmente e me disse que poderia deixá-los passar — disse a Mulher Gorda, e seu retrato girou para o lado dos garotos como se fosse uma porta, deixando à mostra um buraco redondo na parede, pelo qual Harry e Hermione entraram.

A sala comunal da Grifinória tinha a aparência hospitaleira de sempre, uma sala aconchegante e circular na torre da Casa, repleta de poltronas fofas e velhas mesas desconjuntadas. Um fogo muito vivo crepitava na lareira, mas ninguém estava por perto, então Harry e Hermione sentaram-se na frente deste, aquecendo as mãos.

— Oi, gente — a voz de Rony passou pelo buraco do retrato, Harry respondeu com um aceno e Hermione permaneceu calada. — Mione, preciso de um conselho seu. É sobre a Lilá. Hermione? — Nenhuma resposta. — HERMIONE! 

— Desiste, Rony, ela não pode te ouvir. 

— Ah, oi, Harry — disse Hermione com a voz mais inocente possível.

Harry olhou para Rony e ele tinha um olhar totalmente desentendido, gesticulava em direção a Hermione e tentava conversar por mímicas com Harry, que balançou a cabeça e focou-se em afundar um marshmallow que insistia em boiar.

— Hermione, o que eu fiz? — o desespero na sua voz ficou evidente demais, e Harry teve vontade de rir, mas preferiu calar-se. — O.k., hum... O que você vai fazer agora? Quer ir para algum lugar? 

— Ah, seria ótimo.

— Sério?

— Não. — o sorriso de Rony transformou-se em uma cara de tédio, e Harry concluiu que não poderia ter amigos melhores. 

— Oi — Gina apareceu na sala, pulou por cima do sofá e foi até Harry. Sentou-se ao seu lado e se aconchegou nele, Harry sentiu que finalmente estava em casa, pôde sentir o cheiro do shampoo de Gina e também acariciou seus cabelos de seda, como tinha sentido falta de tudo isso. — Nossa, que frio... — murmurou ela, passando as mãos pelos braços. 

— Aqui, minha jaqueta — disse Harry, tirando seu casaco e cobrindo Gina, que pôs os pequeninos braços nas enormes mangas do sobretudo. 

— Estou com frio também — Rony comentou olhando para o teto. Harry tentou mandar o amigo calar a boca para o próprio bem dele, mas Hermione já tinha girado os olhos e então dizia:

— Quer que eu tire meu casaco? O casaco que vai fica minúsculo em você? 

Rony arregalou os olhos e, sem dizer nada, indicou Hermione com as mãos e mexeu a boca dizendo ‘o que eu fiz de errado’, Harry simplesmente teve dó do amigo e murmurou, olhando para sua mão puxando um fio do tapete que estava sob eles.

— Não é assim que funciona, cara... 

— Mas sim... — Hermione voltou a dizer. — Está realmente frio aqui dentro.

— Bom, que pena, não posso controlar o tempo, Hermione.

Foi a gota d’água. Harry desistiu e jogou a cabeça para trás quando viu a amiga ser tomada por uma expressão extremamente brava. Gina mexeu sua cabeça negativamente, murmurando coisas como ‘pobre Rony...’ ou ‘eu mereço um irmão assim?’. 

— É brincadeira, Mione. — a voz de Rony de repente ficou suave e veludosa, mais grave. Ele encarou a garota com olhos tranquilos e então tirou sua jaqueta. — Não quero uma namorada congelada.

— Obrigada — ela aceitou o casaco. —, mas não sou sua namorada. 

— O quê? — perguntou ele, sua voz voltando a ficar aguda demais. — Por que não?

— Você nem me pediu em namoro de verdade, e nem é isso, você já terminou com a Lilá? 

— Sim. — ele disse como se fosse óbvio.

— E ela sabe disso? 

— Ãhm... — Rony pareceu um pouco encabulado no início, gaguejou por um tempo e então Hermione tomou suas próprias conclusões.

— É, não muito diferente do que eu esperava. — ela disse enquanto se levantava e arrumava seu suéter.

— Mas... m-mas isso não faz diferença, Mione. Quem se importa com o que ela acha? Você mesma já disse que ela é uma doida.

— Sim, eu disse. Mas isso não quer dizer que ela não tenha sentimentos. Além disso, eu não suporto estar com uma pessoa sabendo que tem outra achando que está com essa mesma pessoa. Rony, estou certa de que meus sentimentos por você estão bem claros, mas nada vai acontecer se você não fizer alguma coisa acontecer. 

— Por que eu? 

— Por que você? Ha — ela riu sarcástica. — Não sou eu quem vai até a Lilá e dizer que vocês dois terminaram de vez. Isso é entre você e ela. Então não, obrigada, Rony. Você está num problema no qual eu não quero entrar. Se eu gosto de você? Sim. Se eu vou esperar? Sim, mas não posso esperar para sempre. Se você não gosta dela, basta terminar. Não sei se tudo isso é preguiça, vergonha ou mais alguma coisa...

— Não, não é nada.

— Então ótimo, se resolvam e então nós dois podemos nos resolver. 

— E o Krum? Já se resolveu com ele? — Um pingo de desafio existia na voz de Rony, esse pingo nunca deveria estar ali.

— Mas é claro — ela quase gritou. —, você me conhece, eu nunca ficaria com duas pessoas ao mesmo tempo. E diferente de você, eu conversei com ele descentemente e está bem claro que não somos nada mais que amigos. Sim, ele ainda gosta de mim. E sim, ele disse que estará me esperando se alguma coisa der errado entre eu e você. Mas eu gosto de você, Rony. E quero que as coisas deem certo. Eu já me resolvi com tudo e todos, só falta você. E se não tomar alguma atitude, não serei eu a tomar.

Harry teve vontade de levantar-se e aplaudir Hermione. Mas percebeu que a situação não era nada engraçada, então preferiu conversar com Gina sobre o perfume que ela usava. Rony ainda estava um tanto perplexo, olhou bobo para o chão e depois pôs-se de pé num pulo.

— Aonde vai? — Gina perguntou. 

— Tomar uma atitude. — Deu mais um olhar confiante para Hermione e então saiu da sala comunal. Ela pareceu impressionar-se com o amigo e então, com os olhos um tanto arregalados, sentou-se. 

— Querida, você merece aplausos. — disse Gina, e Harry concordou com um riso. — Meu irmão bem que precisava de um choque de realidade. É que eu achei que você estava tão louca por ele, que não se importaria com Lilá.

— Gina — repreendeu-a Hermione. —, isso não quer dizer que eu não goste dele.

— Eu disse estar louca. 

— Você é exagerada. Mas lá fora eu acabei expondo meus sentimentos de tal forma... acho que como estávamos à beira da morte todos os minutos, não queria esperar morrer para dizer que gosto dele...

— Está louca.

— Quem está louca é você, pelo Harry. 

— Ah, não. Isso aqui? Vai terminar em alguns dias... — ela lamentou e Harry começou a rir. 

— Sim, foi só a falta de opção... na floresta — disse ele. Gina olhou para cima e seus olhos se encontraram, ficaram se encarando por um tempo e Harry percebeu Hermione sair de fininho, mas não comentou, continuou se perdendo nos olhos da ruiva. — Foi só a falta de opção.

— Sim... foi só isso — Gina fechou os olhos e então Harry a beijou, um beijo calmo, cálido, sereno e despreocupado. Mas então percebeu que Gina estava rindo, abriu os olhos e ela respondeu sem ele ter perguntado. — O Dino... ele está no canto da sala. Nos encarando há uns dez minutos. 

Harry riu de volta e então olhou para trás. Realmente, o garoto os mirava com raiva ou repulsa. Harry simplesmente acenou e disse bem alto:

— E aí, cara? Beleza? 

A boca de Gina pareceu explodir e deixar um riso escapar, escondeu o rosto nas mãos e Harry perguntou um disfarçado “o que foi, menina? Dá oi, que falta de educação.” Dino respondeu com um meneio desanimado e mal-educado. Harry não sentiu-se nem um pouco mal. 

Ele e Gina despediram-se e cada um foi para seu quarto. Lá, Simas e Neville conversavam sobre plantas explosivas, sorriam e abraçaram Harry quando ele adentrou o dormitório, e passada meia hora, Rony juntou-se aos três.

— Onde estava que demorou tanto? — questionou Harry, ainda rindo de uma piada que Simas fizera.

— Ah, eu tomei uma atitude. Hermione mandou eu dizer boa-noite para vocês, também disse que quer nós dois às 7h00 na sala comunal amanhã.

— Nossa, será que é alguma coisa séria? — Simas perguntou, mas Rony negou com a cabeça. — Hermione mandou mais alguma coisa? — sacaneou ele, e Rony jogou-se em sua cama enquanto dizia:

— Para vocês? Não.

— Nossa — Neville, Harry e Simas disseram em uníssono, e Simas completou: — Ronald Weasley e as ordens de Hermione. Ela é mandona?

— Como assim? 

— Mandona, quando os dois estão juntos... Sabe? — explicou Neville, e Rony continuou confuso. 

— Por que ela seria mandona? Tipo, em que situação...? 

— Deixa, ele não entendeu — disse Harry, e então todos, exceto Rony, riram, apagaram as luzes e desmaiaram em suas respectivas camas. 


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Notas finais do capítulo

E entãooo??? O que estão achando?? Não esqueçam de comentar, é de graça, juro. Amo vocês, um beijo com cheiro de unicórnio e até a próxima...



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