Camp Paradise - Interativa escrita por Aninha


Capítulo 14
Capítulo IX - Novos campistas, brigas e seita secreta


Notas iniciais do capítulo

Oii pessoas! Antes de td vou atualizar vcs da fic.

— No capítulo passado no Acampamento, Calíope narrou sua ida à floresta com Mavis, Dawn, Dominique e as Larvas;
— Telma ficou muito empolgada com os búfalos ao passo que Mackenzie os achou nd demais;
— Dawn e ela tiveram uma conversa para se acertarem;
— Jason está bravo pq Dawn o ''insultou'' no Twitter e Matthew ficou do lado da novata;
— Lucian tentou ajudar, mas acabou brigando com o amigo;
— Elizabeth manda uma carta dizendo para Jason resolver as coisas, mas rapidamente manda uma mensagem em que fala que todos os Líderes vão acampar;
— Billie Pirate aparece dizendo que Dylan chamou Jason em sua sala. Effy acaba falando por um comunicador com o Líder dos Lobos;
— Carl é convocado pelo irmão e descobre que alguém ''bloqueou'' o acesso a internet do Acampamento;
— À tarde, na sala de lutas, Jason ouve badaladas que informam o retorno de alguém.

Ufa! Agora um resumo sobre o capítulo da Effy:
— Td q vcs precisam saber para entender esse cap. é que Effy está ouvindo vozes (ou melhor, a voz) de Enamor;
— Ela está em Londres;
— Effy está mega confusa e percebe que n se lembra de metade das coisas q fez;
— Uma dessas coisas é invadir o Palácio de Kensington, morada dos Black, e deixar uma caixa com a cabeça do irmão mais velho de Dylan.

UFA! Agora terminei ahsuahs
DEDICO ESSA CAPÍTULO À: Ana 1 (A change of heart) por ser uma amiga incrível, ter me ajudado no trabalho de psicologia e ser a autora da Dawn! FORÇAS AO ÍCONE. Pessoal da Europa, vcs n sabem a amizade q estão perdendo.

A música do capítulo é: Bruno Martini, Timbaland - Road ft. Johnny Franco.

Acho q n esqueci de nd... Boa leitura :)



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Mackenzie Foster, Mack

‘’Nunca deixe que o passado te impeça de construir o futuro que você sonha’’.

— Autor Desconhecido.

 (Quinta-feira, final da manhã).

Mavis, Telma e eu estávamos no gramado perto da cerca que nos separa dos búfalos, conversando. A Líder do Chalé cor-de-rosa tentava de todas as maneiras me convencer que os bisões tem sim uma função importante no Acampamento, mas, para a irritação dela, estava fracassando lindamente. É claro que os búfalos são importantes, principalmente depois de quase serem extintos, mas independentemente do que a ruiva falasse ela não conseguiria colocar na minha cabeça que os animais de grande porte são tão ou mais importantes quanto Shot e sua alcateia.

O resto do Chalé das Larvas assim como Dominique e Dawn estavam no lago, muito provavelmente. O relógio digital amarelo de Telma me informa que já passaram das onze da manhã tem algum tempo, mas Mavis não dá sinal de que iremos ir embora da floresta até me convencer sobre a importância dos animas. Minha barriga começa a reclamar de fome enquanto Telma e Bittencourt observam um búfalo se esfregando numa árvore e penso comigo mesma que deveria ter comido mais do que uma tigela de cereal e uma banana.

Domi se juntou a nós alguns minutos depois quando Maxine começou a beijar seu canga transformando a Coruja numa vela. Por isso estávamos nós duas mais ao longe debatendo o que teríamos de almoço e quais seriam as tarefas da tarde enquanto Mavis e Telma pareciam ter uma conversa muito animada sobre algum livro da Carina Rissi. 

Estava começando a ficar entediada e quase falando que Mavis conseguiu me convencer quando Kenai surge por entre as árvores e me faz desejar estar em qualquer lugar menos ali. Ok, talvez Domi esteja certa e eu nem lembro o porquê de não gostar dele, mas isso não muda em nada o fato de que eu não gosto dele. Reviro os olhos e cruzo os braços enquanto observo o homem moreno se aproximar quando ele para e grita sobre o ombro:

— Ela está aqui Lucian!

E como um passe de mágica eu lembro porque não gosto do Kenai.  

Tudo ocorreu na segunda-feira à tarde. Eu estava andando sozinha pelo pomar tentando achar um local com um telefone e um campista bacana que me deixasse usar o aparelho sem eu ter que dizer o motivo. Nunca se sabe como as pessoas podem ser idiotas e zoarem você eternamente por ligar para sua mãe. Foi quando Khalid, um rapaz da Raposa, apareceu e pediu que eu encontrasse Kenai, ganhando em troca um telefonema para quem eu quisesse. Parando para pensar agora, acho que ele estava me observando há algum tempo antes de me pedir para procurar Nimble.

Então com a promessa de poder ligar para minha mãe e contar como estava sendo minha experiência, uma vez que foi ela a pessoa que me incentivou a vir para o Acampamento, eu sai em busca de Kenai e o encontrei na companhia de Lucian Gonzalez algum tempo depois. Até o momento estava tudo bem. Como estava com pressa eu não os observei calmamente antes de me aproximar, eu apenas apareci e dei o recado na esperança de que pudesse encontrar Khalid e dar logo o telefonema.

Mas em vez disso, Kenai Nimble ficou na defensiva e foi estupido questionando porque eu estava dando o recado para ele em vez do Khalid ou do próprio Dylan o que me deixou mais na defensiva ainda uma vez que sou uma pessoa desconfiada. E foi aí que nosso atrito começou. Olhando para a dupla conforme eles se aproximam penso que Lucian estava presente no momento e não fez nada.

— Seja legal – Domi sussurra para mim conforme Mavis se aproxima dos dois.

Eu apenas bufo e cruzo meus braços com mais força contra o corpo sem dizer nada.

— Oi Mavis – Lucian fala sorridente. – Meninas. Você não parece estar preocupada com o fato de que deveria ter retornado há alguns minutos.

— Eu prometi para mim mesma que não iria voltar até provar para a Mackenzie que os búfalos são tão importantes quanto os lobos – Mavis falou olhando para mim sobre o ombro.

— Legal, temos uma novata que quer entrar nos Lobos? – Lucian pergunta animado me olhando o que me lembra que ele faz parte da Irmandade em questão.

Dei de ombros enquanto abria a boca para responder, mas antes que um som saísse por entre meus lábios um lobo uivou na floresta sendo seguido pelos outros como se estivessem passando uma mensagem. Percebi que Lucian e Mavis trocaram um olhar e ficaram tensos como se esperassem algo.

E então nós ouvimos exatamente como havia acontecido naquela manhã: as badaladas do enorme sino, que de acordo com Dominique, fica no coração do Acampamento, indo e vindo. Tudo ficou tão extremamente silencioso e imóvel, pessoas, animais e até mesmo o ar que era como se o universo tivesse parado para ouvir a mensagem que vinha por meio de badaladas. Como acontece nos livros de mistério.

As duas badaladas para prestarmos atenção tocaram sendo seguida por mais quatro, totalizando seis. Olhei para Domi uma vez que ela tinha parado no significado de quatro badaladas.

— O que isso significa? – Kenai perguntou nos tirando do silêncio sufocante e tenso.

Domi olhou para Lucian e Mavis como se procurasse respostas, por isso imitamos o gesto dela e a visão de ambos se encarando com rostos chocados não ajudou em nada.

— Ela...? – Mavis sussurrou.

— Eu não sei, Billie falou com ela hoje e não parecia que ela estava- Lucian começou, mas foi interrompido por uma Mavis chocada e raivosa.

— Billie falou com ela?! – a ruiva exclamou.

— Quem é ela? – eu perguntei interrompendo a briguinha dos dois.

Os dois me olharam chocados e com raiva, mas preferi acreditar que as emoções eram por causa do sino e não pela minha intromissão.

— Effy – Lucian falou simplesmente como se eu fosse idiota.

— E o que os sinos têm haver com ela? – Kenai perguntou ficando ao meu lado fazendo com que eu me afastasse não tão discretamente.

— Seis badaladas: alguém voltou ou chegou – Lucian falou como se agora nós dois fossemos idiotas. – Vocês não perguntaram isso ao Sam quando o sino tocou essa manhã?

— Isso não importa! – Mavis exclamou batendo com as mãos no ar. – Alguém voltou! Só pode ser a Elizabeth. Vamos, vamos! Temos que chamar os outros campistas e voltarmos o mais rápido possível.

— Agora ela tem pressa – murmurei para Domi e Telma que estavam paradas ao meu lado.

— Vamos! Eu estou curiosa para saber quem é, vocês não? – Tel perguntou toda animada enquanto começava a correr olhando para trás.

Domi e eu trocamos um olhar antes de começarmos a correr e rir atrás da nossa pequena enciclopédia sobre insetos ambulante. Quando chegamos ao lago os campistas já haviam saído da água e estavam se secando, assustados com as badaladas, com Mavis gritando para que fossem mais rápidos e com a presença de Lucian.

— Ele não estava aqui antes – Dawn falou enquanto passava a camiseta pela cabeça. – Devo me preocupar?

— Não, ele só veio porque deveríamos ter voltado há algum tempo – falo. – Os sinos tocarem foram pura coincidência.

— O que as badaladas significam dessa vez? – Ártemis perguntou se aproximando com Evelyn. Lyn havia tentado ensinar Lua a subir em árvores, o que os arranhões comprovavam, e o sorriso de Ártemis mostra que a ruiva é uma excelente professora.

Enquanto as meninas se vestiam Dominique contou sobre a conversa entre Lucian e Mavis. Ao saberem que alguém havia retornado o grupo como um todo ficou curioso e cheio de teorias sobre quem podia ser, apesar de a resposta ser meio óbvia.

— Só pode ser Elizabeth – Evelyn falou quando começamos a caminhar de volta sendo incentivadas pelos gritos de Mavis.

— Onde está toda aquela história de ‘’a floresta é a casa dos animais, não façam barulho’’ agora? – Cal perguntou mal humorada enquanto fuzilava Mavis.

— Você sabe que Bittencourt não é muito racional e deve estar animada com a volta da amiga – Ártemis tentou argumentar.

— Isso não dá a ela poder de estourar meus tímpanos! – Calíope exclamou recebendo um olhar compreensivo de Dawn. Hum, algo havia acontecido entre as duas.

Enfim— Domi falou querendo evitar uma discussão. – Pode não ser a Manson. Os campistas dela saberiam se a Líder fosse retornar certo? Alguém saberia.

 - É Domi pode ter razão – Ártemis falou passando a mão pelo queixo como se pensasse. – Acho que pelo menos Dylan saberia.

— E tanto Mavis quanto Lucian são amigos dela e aparentemente nenhum deles sabia de algo – falo ficando cada vez mais desconfiada e me irrito quando percebo que Kenai está caminhando ao meu lado com uma expressão parecida com a minha. Franzo o ceio e troco de lugar com Telma, deixando-a entre nós dois.

É só nesse momento que reparo em Telma Miller. A brasileira tagarela que tropeça nas palavras com frequência ficou estranhamente quieta desde que nos juntamos ao resto do grupo nem parecendo ser a garota animada que falava de búfalos a pouco. Reviro na minha memória e penso que em praticamente todas às vezes que Telma se junta ao grupo ela fica meio distante, geralmente sozinha num canto ou calada desejando não estar presente. Faço uma anotação mental para perguntar a Evelyn Brooke, colega de quarto da Tel, se ela também tem reparado nisso.

Quando percebo, estamos na ponte e Maxine fala sobre ter beijado seu canga, fazendo algumas meninas do grupo darem pulinhos animados. Kenai tem uma profunda expressão de tédio em seu rosto e imagino que deve ser uma droga ficar o dia inteiro cercado por meninas, mas talvez ele não se importe. Esse passamento mal passa pela minha mente quando Lucian se aproxima do nosso grupo e, depois de cumprimentar a todos de forma geral, começa a conversar com Kenai e percebo que não é a primeira vez que isso acontece.

— Quando acha que eles se tornaram amigos? – pergunto a Telma tentando tirá-la do mundo particular em que se enfiou. Maxine, Dawn, Calíope e Ártemis já atravessaram a ponte e Dominique está quase no meio do trajeto.

— O que? – ela pergunta distraída.

— Kenai e Lucian. Quando acha que eles se tornaram amigos?

Telma observa os dois conversando na nossa frente por alguns instantes quando dá de ombros.

— Eu não sei, mas as meninas comentaram de ver os dois juntos com o irmão mais velho de Evelyn e outro cara – ela fala. – Acho que eles estão se tornando amigos.

— Não acha que foi a Manson que mandou Lucian ficar de olho nos briguentos? Quer dizer, com Oliver na Enfermaria sendo vigiado sempre, alguém precisava ficar de olho em Kenai.

Telma mexe no cabelo e pensa um pouco enquanto vemos Kenai pisar na ponte. Mavis está do outro lado apressando os campistas e Lucian vai ser o ultimo a atravessar para garantir que todos estejam retornando.

— De qualquer forma vamos descobrir daqui a pouco se for mesmo Elizabeth quem voltou – Tel comenta antes de sorrir para mim e começar a andar pela ponte.

Somos uma das ultimas do grupo que ainda não atravessaram, por isso quando a garota fascinada por insetos está no meio da ponte eu sigo os seus passos permitindo que por fim Lucian atravesse.

— Finalmente! – Mavis exclama quando todos estão em terra firme, voltando-se para o grupo. – É o seguinte: todos irão me seguir até os carrinhos e de lá podem ir para o Chalé das Larvas se trocarem ou irem para o Refeitório, lembrando que hoje não serão castigados por não irem almoçar. Quem estiver curioso sobre as badaladas, pode me seguir. É isto! Agora andem, andem!

Voltamos pelo caminho percorrido algumas horas atrás o mais rápido que conseguimos, pressionados pelos comandos de incentivo de Mavis, que parece estar louca para ter a confirmação de que sua melhor amiga retornou. Lucian, que está no final do grupo, pede desculpas num tom de voz normal cada vez que a Líder dos Búfalos dá um grito mais alto ou ralha com alguém.

— Mavis está muito animada diante da perspectiva de ver Effy – o Lobo fala. – Ela geralmente não controla muito as emoções, mas isso só piora quando ela está muito feliz, raivosa... Enfim, muito alguma coisa.

— Eu gosto disso – Telma diz. – De certa forma me identifico.

— É – Ártemis concorda. – A deixa com um ar original, único.

— Ela está fazendo muita bagunça pro meu gosto, mas como estou acostumada com essa daí – Evelyn diz dando uma ombreada de brincadeira em Tel – não é tão estranho assim.

— Ok, os berros demonstram que ela tem personalidade, não tem medo de ser julgada e tudo isso é ótimo, mas seria sensacional se ela não explodisse meus tímpanos — Cal fala mal humorada.

— Impressão minha ou alguém não gosta da May? – Lucian pergunta sorrindo, recebendo apenas um sorriso irônica da Calíope como resposta.

Antes que o assunto possa se estender ou Mavis furar os tímpanos de alguém, saímos da floresta e avistamos os carrinhos não muito longe. Mavis agradece pela manhã e se despede de nós antes de correr em direção a um carrinho, sendo seguida por Lucian que sorri e acena para nós. Minhas amigas e eu trocamos sorrisos e olhares cumplices antes de corrermos em direção a dois carrinhos para seguirmos a Líder e seu amigo Lobo.

Eu me sento no banco do passageiro tendo Dawn no volante, Calíope atrás da Urso, Ártemis ao seu lado e Evelyn ocupando o ultimo lugar. Para a minha completa alegria, Kenai foi no outro carrinho com Maxine, Telma e Dominique. Começamos a seguir o carrinho de Mavis quando Lua faz uma triste observação.

— Esperem. Dominique disse que o sino fica no centro do Acampamento, ou seja, na Vila. Mesmo que sigamos os dois ali, não poderemos ver quem chegou.

— Às vezes odeio o fato de você ser tão nerd – Calíope fala num misto de raiva, sarcasmo e brincadeira.

— Preferia que eu tivesse ficado quieta e que fossemos até lá para nada?

— Hum... Na verdade, sim.

Rimos e percebo que Dawn não desviou o trajeto, apesar do comentário da Lua. Quando a questiono sobre isso, ela simplesmente dá de ombros e diz:

— Talvez a pessoa não esteja dentro da Vila, talvez seja outro sino. E mesmo que esteja, eu poderei ver.

Cal bate de leve na cabeça de Dawn fazendo com que está se incline para frente e que a morena estique um braço para trás tentando atingir a ruiva sem desviar os olhos do caminho.

— Vejo que se resolveram – Lyn comenta rindo.

— Falando em resolveram, apenas eu percebi que a Telma muda drasticamente de personalidade quando está num grupo muito grande? – pergunto.

As meninas comentam que estavam reparando nisso há algum tempo, mas como não a conhecem muito bem acharam melhor não comentar nada.

— Ela fica toda falante quando estamos no quarto, como se quisesse compensar o tempo perdido – Evelyn diz. – Pensei em tocar no assunto, mas com tanta coisa acontecendo ela dorme cedo e eu não achei o ‘’momento perfeito’’. Sem contar que não sei qual seria a reação dela.

— Foi por isso que eu tive uma ideia – Cal falou com um sorriso orgulhoso nos lábios. – Estamos aqui há quase uma semana, apesar de parecer que faz uma vida, e não nos conhecemos! Passamos o dia inteiro juntas e não sabemos nada uma sobre as outras. Por isso, tive a ideia de sentarmos juntas e fazermos um jogo tipo eu nunca ou verdade e desafio para nos conhecermos melhor.

Percebi que Lua, Evelyn e Dawn ficaram levemente tensas como se tivessem coisas do passado que não quisessem compartilhar, assim como eu. Mas ao contrário delas, eu sorri entusiasmada e disse:

— Genial Cal! Podemos nos juntar no Chalé das Larvas depois do almoço já que não teremos nada até às três horas da tarde.

— Ótimo – Evelyn disse por fim. – Afinal de contas, Cal está certa. Passaremos dois meses juntas, quem sabe até mais! É importante conhecermos um pouco mais dos gostos de cada uma.

Depois de frases de concordância e de combinarmos de comentar sobre o assunto com o outro carrinho, paramos perto da Vila das Irmandades depois de observarmos Mavis frear do nada não muito a frente e correr em direção a um pequeno alvoroço perto do Portão Sul, o da Raposa. Seguimos os passos da Líder apressadamente, assim como o resto do grupo que havia se juntado a nós. Conforme nos aproximávamos reparamos que Elijah Campbell estava presente, assim como alguns membros da Raposa e Billie.

— Dylan não está aqui – Dominique comentou. – Ele estaria se fosse Elizabeth, certo?

— Talvez ele não seja um namorado tão bom assim – Max fala enquanto tenta abrir caminho para enxergar melhor. – Lembram-se do show que ele fez na guerra de lama?

Antes que eu conseguisse recordar do fato mencionado, o grupo se virou para o Portão e ao seguir o olhar avistei Matthew Morningstar cavalgando num cavalo malhado em direção à aglomeração.

— Olha se não é um príncipe no cavalo malhado – Dawn comenta com um sorriso safado.

— Arrastando asa para o próprio Líder, Austen? – Calíope perguntou com um sorriso malicioso.

Matthew estava claramente feliz e desceu do cavalo antes deste parar completamente. O grupo abriu espaço para que ele passasse ao som de assobios e gritos de ‘’beija’’.

— Parece que seu príncipe não está livre – Lua comentou sorrindo, levando um tapa na cabeça da amiga.

— Ok – Evelyn falou. – Ou Manson terminou com Dylan enquanto estava fora e começou a namorar com Matthew ou eu estou muito confusa.

— Ela não perde tempo – Kenai comentou ficando na ponta dos pés. – E não é a Manson.

— Quem é? – perguntamos em uníssimo.

Antes que Nimble pensasse em algo, o grupo deu espaço para Matthew que havia pego sabe-se lá quem nos braços e a abraçava enquanto rodava. Reparei que a figura com certeza é uma garota, com cabelos longos e lisos de cor acaju, pele clara como se não pegasse sol, pernas nem grossas nem finas, cintura de grossura normal e estatura mediana. Ela está vestindo uma calça jeans de lavagem clara e cintura alta, tênis vans preto nos pés e uma bata amarela com florzinhas. Percebo um carrinho não muito longe com algumas malas.

— Ok, não é a Manson – Lyn fala.

E de fato não é. Matthew pousa a garota no chão e lhe dá um selinho, antes de sorrir para ela.

— Sigrid? – Mavis fala num tom espantando, fazendo que a figura nova se vire, ficando de frente para nós.

Sigrid tem olhos azuis escuros, um rosto retangular com covinha no queixo, sobrancelhas grossas e lábios rosados bem desenhados. Ela é bonita e suponho que seja algo de Matthew, talvez antiga no Acampamento e ao julgar pela maioria dos campistas que a cercam serem da Raposa, chuto que ela seja dessa Irmandade.

Desvio meus olhos da ‘’novata’’ focando-os em Mavis e percebo a evidente expressão de decepção em seu rosto. Imagino que ela deve estar se sentindo dessolada por acreditar que veria a melhor amiga e em vez disso ganha Sigrid, seja lá quem ela for. Lucian já é melhor em esconder os sentimentos. Depois do choque inicial, ele abre um sorriso e anda em direção à garota.

— Sigrid é bom te ver – fala abraçando-a. – Finalmente decidiu dar as caras por aqui?

A menina ri.

— Pois é, estava ficando entediante na Noruega.

— Você é norueguesa? – Calíope pergunta sem conseguir conter sua língua. – O que veio fazer no outro lado do mundo?

Todos os olhos se voltam em nossa direção, curiosos e divertidos. Sigrid franze o ceio antes de abrir um sorriso e rir de leve.

— Vocês devem ser as Larvas – ela fala. – Sou Sigrid Solbakk, campista da Raposa desde os onze anos e oficialmente responsável pelas Larvas.

— Diria que está um pouco atrasada – Dawn comenta rindo após fazer uma de suas piadas sem graça.

Surpreendentemente Sigrid e Matthew a acompanham e o rapaz passa um dos braços pela cintura da norueguesa.

— Pois é, tinha que resolver algumas coisas antes de vir. E respondendo sua pergunta – ela fala olhando para Cal – Elizabeth e eu somos amigas desde a infância, por isso quando ela me falou do Acampamento tive que conhecer.

— Bom, talvez você não saiba, mas Effy não está aqui – Mavis comenta cruzando os braços e sinto uma pontada de ciúmes em sua voz, provavelmente porque Sigrid conhece Manson a mais tempo que ela. – Dylan está no comando e Sam-

— Eu sei Mavis, obrigada – Sigrid interrompe a Líder com um sorriso educado. – Matt, Dylan, Billie e Effy me manteram informada. Foi por causa da Effy que retornei hoje e não na semana que vem como era previsto incialmente.

— Você tem falado com Effy? – Lucian pergunta dando um passo à frente.

Percebo que a maioria dos outros campistas se dispersou a pouco, voltando a seus afazeres, de modo que minhas amigas, Kenai, Lucian, Mavis, Billie, Matthew e Sigrid somos os únicos. Por trás do Lucian e de Mavis vejo Billie fazer gestos rápidos com a mão direita sobre o queixo como quem diz que estamos entrando num assunto proibido, mas acredito que Sigrid não percebe já que diz inocentemente:

— Sim. Vocês não?

Billie solta um longo suspiro enquanto Sigrid faz cara de inocente e Matt assume um ar cauteloso. Mavis fica indignada e abre a boca ao passo que Lucian fica sério, o que é extremamente estranho porque eu nunca o vi sem sorrir.

— O circo vai pegar fogo – Evelyn murmura.

— Por que você pode falar com ela e nós não?! – Mavis exclama avançando em direção a Sigrid que finalmente percebe o olhar ‘’cala a boca’’ de Billie que caminha para ficar ao seu lado. – O que você tem de melhor e mais importante que nós?

— A questão é: por que os amigos pré-Acampamento falam com ela enquanto o resto de nós fica no escuro? – Lucian pergunta segurando um braço de Mavis.

— O que quer dizer com isso? – Bittencourt pergunta surpresa olhando o Lobo.

— Eu falei com Effy hoje pelo comunicador de Billie – Lucian falou. – Ela não pareceu se importar de ser chamada quando achou que era ela, mas quando percebeu que era Jason e que depois eu tentando falar com ela, Effy se negou e passou recado pela Pirate.

— O que?! – Mavis exclama virando a cabeça rapidamente em direção a Billie fazendo que seu cabelo ruivo tom de cobre bata no rosto. – Você tem um canal direto com Effy enquanto ela ignora todas as nossas formas de contato?!

— Não é errado estarmos ouvindo isso? – Kenai pergunta.

— Cale a boca Nimble – falo sem desviar os olhos. O garoto olha indignado para mim, mas eu o ignoro.

— Posso saber por que toda essa gritaria raivosa? – Dylan pergunta descendo do seu cavalo marrom.

Ele havia se aproximado sem que nenhum de nós percebesse dado ao nível de concentração que estávamos na discussão. Dylan está com seu cabelo loiro naturalmente bagunçado, o rosto sereno, mas sem o sorriso de sempre. Ele puxa o cavalo pelas rédeas em direção ao grupo e lança um olhar para mim, minhas amigas e Kenai como se dissesse que não deveríamos estar ali. Ele demora alguns segundo em Maxine, mas por fim foca no grupo problema.

— Ah, ótimo – Mavis fala sarcástica. – O príncipe salvador da pátria também veio dizer que tem um contado direto com Effy como essas duas?

Dylan para e franze as sobrancelhas, confuso. Então seus olhos azuis passam de Mavis para Lucian, seguido de Matthew, Sigrid e por fim Billie, retornando a ruiva raivosa. Ele suspira fundo antes de falar:

— Sim. E caso esteja pensando em ter outro ataque de raiva quero dizer que Jason já garantiu que os Líderes repitam a experiência de acampar, portanto se outro Líder tiver outro ataque não me importarei de mudar a mesa principal. Billie, Sigrid e eu temos formas de contatar Elizabeth porque eu sou o Líder do Acampamento, Billie é o seu braço direito na Irmandade e Sigrid é responsável pelos novatos. Os demais, por mais amigos que sejam dela— Dylan falou antes que Mavis ou Lucian o interrompessem – podem guiar suas Irmandades com ordens repassadas por um de nós três. Sem contar que no primeiro momento, quando vocês deveriam ter se mostrados calmos e no controle da situação, vocês mandaram mensagens e fizeram ligações desesperadas para ela que nada tinham haver com o Acampamento, mas sim com suas vidas pessoais.

‘’Elizabeth se retirou temporariamente por motivos pessoais e fala conosco somente em casos de extrema importância. Ela não está com tempo para choramingos e mensagens que tem como conteúdo apenas frases como ‘sinto sua falta, volte e por que nos abandonou’. Portanto, se querem que ela entre em contato coloquem a cabeça no lugar, ocupem seus postos devidamente e aguardem ela entrar em contato, como nós três fizemos. Repetindo, eu não hesitarei em mudar os Líderes. Fui claro?’’.

Todos ficamos quietos alguns segundos diante do mini discurso de Dylan. Mavis fez uma expressão de raiva, mas se manteve calada enquanto Lucian parecia estar arrependido ao mesmo tempo em que parecia desejar acabar com Dylan. Diante do silêncio, o loiro voltou-se em direção a recém-chegada.

— Sigrid é um prazer finalmente tê-la entre nós. Creio que precisará da tarde para se estabelecer e ficar a par das novidades, por isso a apresentarei formalmente no jantar. Matthew, obviamente pode ficar junto de sua namorada, mas não se esqueça de seus afazeres e me informe caso houver uma mudança sobre o que conversamos mais cedo. Billie, talvez queira ver se os novatos que nos observam precisam de algo. Por fim, Lucian e Mavis eu sei que ambos não gostam de mim e entendo os motivos, mas isso não significa que podem desobedecer as regras e fazerem o que bem entenderem. Por isso, Gonzalez, você deveria estar no Refeitório com sua Irmandade, local para onde deve ir Bittencourt depois de resolver o problema com duas campistas que lhe aguardam faz um bom tempo em sua sala.

Ao final de sua fala, Dylan cumprimentou o meu grupo com um aceno de cabeça, que foi retribuído de diferentes formas, e montou em seu cavalo. Antes de se retirar, ele disse:

— Sigrid, Billie. Encontrem-me quando puderem.

Bufando, Mavis se virou e saiu marchando em direção a Vila. Lucian abriu a boca algumas vezes como se quisesse dizer algo, mas acabou dando um sorriso sem graça e indo em direção ao carrinho em que viera. Kenai se despediu de nós rapidamente e correu em direção ao Lobo perguntando se podia ganhar uma carona. Lucian acenou positivamente, dando partida e rumando para o Refeitório logo em seguida.

— Isso foi constrangedor – Sigrid comentou arrancando as palavras da boca de todos nós.

— Você devia ter visto meu sinal! – Billie exclamou erguendo as mãos e virando-se em direção a amiga. – Você é muito lerda Sigrid.

— Eu não vi nenhum sinal – Matthew disse em favor da namorada.

— Sua opinião não conta Urso – Billie retrucou antes de virar-se em nossa direção com um sorriso no rosto. – Algumas das enxeridas sabe do que estou falando?

Rimos levemente nervosas. Ártemis, Dawn e eu confirmamos que de fato Billie havia tentado fazer algo.

— Ela estava um tanto quanto desesperada – comento rindo.

— Bom, foi mal – Sigrid falou com um sorriso doce. – Eu vou desfazer as malas e tentar me encontrar o mais rápido possível com Dylan. Ele parece ter incorporado a Effy e eu não estou a fim de ver a versão dele brava.

— Recomendo não testa-lo hoje – Matthew comenta pegando na mão da namorada. – Aconteceram muitas coisas hoje.

— Me conte no caminho! – Sigrid exclama sorrindo antes de acenar para nós. – Tchau meninas.

— Ela parece ser mais legal que o Sam – Evelyn comenta enquanto vemos o carrinho do casal se distanciar. – E por mais que você pareça ser um amor, não foi muito presente no Chalé das Larvas Billie.

A californiana riu.

— Eu sei, desculpe. O Chalé não é uma das minhas reais funções então fiquei um pouco sobrecarregada quando Sam teve um ataque de estresse. Mas Sigrid é legal, vocês vão ver.

Dawn resmungou algo nos fazendo rir e deixando Billie confusa, mas a Raposa não perguntou qual era a piada. Em vez disso perguntou se estávamos ali por algum motivo importante fora bisbilhotar.

— Eu tive a ideia de fazermos um jogo tipo verdade e desafio ou eu nunca hoje – Cal comentou. – Tem alguma sugestão?

— É para vocês se conhecerem melhor? – Billie pergunta com um sorriso e os olhos claros brilhando. Ela prosseguiu depois que confirmamos. – Eu tenho um baralho especifico para isso. Vão para o Chalé das Larvas que eu vou procurar as cartas e levo lá assim que acha-las. Adoro esse jogo, fiz com minhas amigas e minha colega de quarto quando nos conhecemos!

— E deu certo? – Lua perguntou curiosa.

— Muito. O jogo não tem perguntas muito pessoais, segredos nem nada, mas fortalece o sentimento de amizade, sabe? Sem contar que rende várias risadas.

— Parece ótimo para mim – Max comenta. – Hey Billie, sabe quando o Oliver irá sair da Enfermaria?

Billie lança um olhar sério acompanhado de um sorriso malicioso para Maxine como quem sabe das coisas.

— A conversa com Dylan não lhe ensinou nada Vause? – ela pergunta, rindo. – Para saciar a curiosidade de vocês, ele está consciente, mas um pouco confuso e seus machucados mais feios ainda não fecharam direito, por isso não tem data certa. Por que a pergunta?

— Estava preocupada, ele não aparece faz dias – Maxine fala com a melhor cara de inocente que consegue fazer, mas todas sabíamos que ela estava curiosa.

— Como vão fazer com a Iniciação dele? – Dominique pergunta.

Billie dá de ombros.

— Isso cabe ao Líder do Acampamento decidir. Agora vão para o Chalé e não arranjem nenhuma confusão.

Rimos enquanto Billie acenava e começava a caminhar em direção ao Portão das Raposas. Voltamos para os carrinhos e fomos em direção ao Chalé das Larvas tentando seguir o conselho da Raposa.

— Eu gosto dela – Telma, que agora estava conosco no lugar da Evelyn, comentou.

— Billie? – Dawn pergunta encarando as unhas já que Lua estava dirigindo. – É, ela parece legal. O que nossa colega observadora tem a dizer sobre?

Reviro os olhos.

— Sei lá, ela parece legal para mim, mas não consigo acabar com a sensação de que todos que são muito próximos da Manson têm algo a esconder.

— Como assim? – Dawn pergunta. – Acha que Dylan mentiu sobre o motivo que ela fala somente com o trio?

Dou de ombros e logo minhas amigas passam a falar de Sigrid. Dawn admite a contragosto que ela parece uma garota legal e é bonita, nos fazendo rir do seu mal humor. Logo chegamos ao Chalé e enquanto a grande maioria sobe as escadas para tomar um banho, Domi e eu caminhamos em direção à cozinha para prepararmos algo para todas nós comermos. Tirando minhas amigas, o Chalé está vazio devido ao fato de que os outros campistas estão no Refeitório.

— Quando terminarem desçam para nos ajudar! – exclamo enquanto o resto sobe os degraus.

— Eu não sei se vou tomar banho, não tenho roupa – Dawn comenta enquanto segue as amigas.

— Alguém te empresta algo – Calíope fala como se não desse muita importância.

— Quem diria que depois de uma conversa elas se dariam tão bem, né? – Domi fala pegando pratos nos armários depois de lavar as mãos.

— Elas conversaram? – pergunto distraída secando minhas mãos no pano de prato preto pensando em que poderia fazer para comer.

Depois de pousar a louça na ilha de granito e colocar Arctic Monkeys para tocar, Dominique contou que Dawn e Calíope haviam conversado no lago e aparentemente colocado as diferenças de lado para começarem novamente.

— Acho que fizeram isso em respeito à amizade que ambas tem com Ártemis – Domi comenta.

Eu apenas faço sons de concordância com a boca sabendo que ela espera algo mais, talvez até mesmo uma atitude minha com relação à desavença com Kenai. Mas não é porque Calíope e Dawn se entenderam que eu devo me entender com Nimble.

Decido fazer uma macarronada com molho de tomate e carne moída, por isso coloco água para ferver numa panela grande, molho de tomate, cebola e alho na ilha e coloco a carne num prato de vidro.

— Coloque isso na janela de forma que o sol esquente – falo para Dominique que cantarola uma música com batida animada.

— Vou fazer uma salada mista – ela fala abrindo a gaveta da geladeira de onde tira um pé de alface, tomates, cenoura, repolho e brócolis.

Enquanto ela corta os brócolis e coloca a água do mesmo para ferver eu tento cortar uma rodela de cebola. Quando percebe o meu progresso, Dominique ri.

— Você por acaso sabe cozinhar?

— E você sabe? – retruco.

— Sim. Eu aprendi com meu pai – então Domi dá um sorriso meio triste. – E você?

Sorrio amarelo, principalmente quando ela pega a faca da minha mão e corta rodelas perfeitas de cebola que depois viram cubinhos.

— Na verdade, não. Mas sou esforçada e tentei aprender com minha mãe que percebeu que sou um completo desastre quando liguei o liquidificador sem a tampa pela terceira vez – dou de ombros em meio as nossas risadas. – Eu tento. Gosto de inventar receitar malucas.

— Hey, eu quase me esqueci de te mostrar algo que fiz – Domi fala.

Enquanto eu fico com cara de interrogação, Dominique lava os brócolis e o coloca numa espécie de cesta que encaixa na panela antes de tampar a mesma. ‘’Os brócolis tem que cozinhar no vapor’’, ela diz antes de secar as mãos e ir em direção a sua mochila na sala de estar, onde pega um caderno de desenho que folheia enquanto retorna.

— Fiz um desenho inspirada em Cal e Dawn – ela fala enquanto me estende o caderno.

Observo o desenho feito a lápis em que duas garotas de shorts e tops estão de costas. A garota da direita tem o short preto, um top em estilo nadador, o cabelo comprido cacheado nas pontas jogado sobre um dos ombros e uma mão na cintura enquanto a outra pode estar em seu busto ou rosto. A outra está com um short cinza, top fino na parte inferior e apenas uma tira de tecido vai do meio das costas a base do pescoço, onde parece se juntar com a parte da frente. O cabelo dela também está jogado sobre um dos ombros e parece ser mais curto se comparado com o da amiga. Ela não está com a mão na cintura, apesar do braço esquerdo estar flexionado e o direito no busto ou algo assim. Ambos os shorts tem cintura alta e deixam a polpa do bumbum a mostra e ao julgar pela vestimenta e pela inspiração, ambas estão na praia ou um lugar parecido.

— Uau, eu nunca havia visto um desenho seu Domi – comento. – Você desenha muito bem. Devia mostrar isso para suas musas.

Dominique ri enquanto pega o caderno de minhas mãos e caminha em direção à mochila.

— Talvez depois – fala.

— Ok, o que as duas estão fazendo que eu ainda não estou sentindo cheiro de comida? – Dawn pergunta enquanto desce a escada.

(Tarde).

Depois de termos almoçado uma deliciosa macarronada com salada, feitas basicamente por Dawn e Dominique, lavado e secado a louça, ouvimos passos na varanda da frente sob todas as risadas.

— O papo parece animado – Billie diz abrindo a porta com um sorriso.

— Todos ficam felizes de barriga cheia – Telma comenta nos fazendo rir.

—Vejo que já limparam a bagunça que fizeram, assim que eu gosto – a Raposa fala brincando. – Desculpa a demora meninas, tive algumas coisas para resolver, mas cá estou eu com meu magnifico baralho!

Algumas de nós batem palmas animadas. Billie nos conduz até a sala de TV e depois de termos afastados alguns moveis nos sentamos num circulo sobre o tapete. Enquanto embaralha as cartas com maestria à californiana diz como o jogo funciona. Basicamente a mais nova do grupo, que no nosso caso é a Telma, pega uma carta do baralho e lê em voz alta. Então depois de responder o que a carta pergunta, todas as outras tem que responder em sentido horário.

— Tem de perguntas fáceis como quantos anos você tem, onde nasceu e se tem irmãos até se é virgem, namoros ruins e segredos – Billie fala pousando o baralho de cartas roxas no centro da roda. – Para a tristeza de vocês, tenho tarefas a fazer e não poderei participar da brincadeira, então tentem se divertir sem mim.

Rimos com o comentário e com a careta engraçada que a garota faz enquanto se levanta da roda e acena, antes de passar pela porta principal. Animadas, começamos a jogar na esperança de que ninguém entre no Chalé.

— Lá vou eu – Telma fala antes de engatinhar, pegar uma carta e voltar ao seu lugar. – Ok. Uma qualidade e um defeito.

— Começamos bem – Evelyn fala, fazendo todas rirem.

— Qualidade: sei guardar segredos. Defeito: eu guardo rancor – Telma disse depois de pensar um pouco.

— Quem diria que a doce Tel é rancorosa – falo. – Muito bem, minha vez. Qualidade é que sou leal. E um defeito é que não sei me relacionar muito bem com garotos.

— Isso explica Kenai – Calíope fala sorrindo maliciosa, fazendo as outras rirem.

Mostro a língua para ela antes de Evelyn falar.

— Bom, já que a Mackenzie roubou minha qualidade preciso pensar em outra, por isso vou falar o defeito antes – a californiana fala me dando uma cotovelada de brincadeira. – Eu sou um pouco perfeccionista o que pode ser bem irritante. E a qualidade é que... Eu sempre viso à felicidade de todos.

— Awn, fofa ela – Calíope fala sarcástica. – Minha vez! A qualidade é que sou independente e o defeito é minha teimosia.

— Puxa, achei que ia falar dessa língua que você não consegue conter – falo ironicamente.

— Eu consigo, eu só não quero – ela retruca me dando uma piscadela e fazendo o grupo rir.

— Certo, sou eu! – Lua exclama dando pulinhos sentada e percebo que é a primeira vez que a vejo tão animada com algo. – Minha qualidade é que sou esforçada e o defeito é que eu me cobro demais.

— Meu Deus, ela sabe que se cobra demais! – Calíope exclama fazendo cara de surpresa.

— Fiquei chocada – Dawn fala com uma mão no busto e assentindo repetidas vezes.

Ártemis ri batendo na perna das amigas que estão ao seu lado.

— Parem de ser chatas! – ela diz, rindo.

— Qualidade! – Dawn exclama. – Eu sou sensacional.

Depois de um ataque de risos geral, Dawn fez sinal com as mãos para que ficássemos quietas.

— Ok, agora é sério. Minha qualidade é esse humor maravilhoso que faz piadas sem graça que fazem todos rirem! E meu defeito é que eu me irrito muito fácil o que pode me deixar bem grossa. Não queiram experimentar.

— Ui, deu até medo – Maxine debochou sem ser má. – Qualidade é que sou corajosa e defeito é que sou infiel.

Demos risada dá careta safada que Max fez principalmente depois que Calíope soltou um ‘’essa vai dar muitas puladas de cerca’’.

— Muito bem, finalmente minha vez chegou – Domi fala com um sorriso sereno. – Minha qualidade é que sou muito calma e o defeito é que sou curiosa, o que geralmente acaba me causando problemas.

— Quem diria que Domi se mete em problemas! – exclamo. – Estamos tendo várias revelações aqui. Ok, minha vez de pegar uma carta.

Depois de ir ao centro da roda e retornar ao meu lugar, leio minha carta roxa.

— Aqui diz ‘’por qual tipo de pessoa se sente atraído’’? Hum, difícil – falo antes de dar de ombros. – Por pessoas que me façam rir.

— Sério? – Evelyn pergunta. – Fácil.

— Ei! – exclamo.

— Se for assim você se sente atraída por todas nós! – Cal exclama.

As meninas caem na gargalhada e por cima do som tento fazê-las me entenderem, em vão. Passamos um bom tempo rindo por causa do jogo, fortalecendo nossa amizade e descobrindo coisas umas sobre as outras até que o relógio marca 14h30min e nós temos que ir para a aula de lutas.

Elijah Campbell, Eli

(Quinta-feira, tarde).

O que posso dizer sobre o dia de hoje é que ele está sendo uma droga.

Yeah

Pelo fato de eu ser naturalmente um visionário criativo minha mente está sempre ocupada pensando em algo, por isso não costumo prestar muita atenção ao meu redor. Devido a isso demorei alguns minutos para perceber que naquela manhã não apenas Matthew e Jason brigaram, mas também Jason e Lucian, Jason e Mavis, Jason e a novata... Jason Blood não é briguento, ao contrario do que muitos pensam, por isso é estranho para mim vê-lo brigar com tantas pessoas. Mas como sou uma pessoa que costuma ficar mais na minha, preferi não interferir evitando assim que a merda respingasse em mim.

É claro que minha tática falhou. Graças a Jason, os Líderes das Irmandades foram convocados para uma espécie de acampamento que tem por objetivo nos unir ou nos matar. Não sei ao certo quando o evento irá acontecer uma vez que é Effy quem o comanda. Eu particularmente não os acho tão horríveis quanto os demais devido ao fato de que meu pai é militar.

Minha infância foi relativamente normal. Meu avô era meu refugio e nós nos dávamos muito bem. Eu era muito apegado a ele. Foi meu avô que influenciou meu lado artístico me ensinando um dos meus maiores prazeres da vida: a música. Na juventude ele teve uma banda de blues e eu adorava sentar ao seu lado no quintal com um violão apoiado nas pernas. Enquanto eu dedilhava algumas notas ele costumava me contar historias da sua mocidade, principalmente aquelas relacionadas com a música.

Estou andando pela estrada de corações solitários

Perguntando como o amor pode nos fazer parte

Às vezes eu acho que estávamos destinados a ser

Vivendo no mundo da fantasia

Porém, quando eu tinha oito anos meu avô sofreu um infarto fulminante e acabou falecendo. Aquela foi a época mais turbulenta da minha vida onde a música tomou a importância que tem para mim atualmente. Sem meu avô, as canções se tornaram o único laço que temos, a única coisa que faz com que eu sinta que ele está comigo. Infelizmente, meu pai não me apoia com relação a isso.

Conforme minha adolescência ia avançando eu acabei percebendo coisas que antes eram completamente ignoradas pelo meu ser. Coisas que fizeram que eu batesse de frente com meu pai em muitos aspectos, o que apenas dificultou nossa relação. Meu pai, Evan Campbell, é um militar e acho que é por isso que ele é sempre muito rígido e rigoroso comigo e com minha irmã, Chloe que é seis anos mais nova que eu. Ele não é de demonstrar sentimentos, por isso não é compreensível e não me apoia na maioria das minhas decisões, principalmente aquelas relacionadas à música já que para ele música não é profissão.

Apesar de todos os conflitos, eu amo minha família e jamais desistirei da música, até porque é graças a ela que eu fui parar no Camp Paradise.

Geralmente nas férias de verão eu ficava em meu quarto compondo, o que fazia meu pai reclamar constantemente. Quando fiz 13 anos, resolvi ir para algum lugar onde pudesse ser eu mesmo, sem ter que ficar aguentando o mau humor do meu pai.  A principio Evan não apoiou nem um pouco a ideia de eu vir para o Acampamento porque a) o pagamento é mensal e não apenas nas férias de verão b) não é exatamente barato c) ele preferia mil vezes que eu fosse para um acampamento militar porque como ele é militar seria algo de graça e d) provavelmente lá eu aprenderia ‘’coisas de verdade e largaria essa baboseira de música’’. Porém, quando minha mãe, Adália que é psicóloga e, portanto, muito compreensiva, ficou ao meu lado na ideia Evan acabou desistindo.

Acho que acabei me distanciando muito de onde queria parar. O ponto aqui é que eu não acho o acampamento dos Líderes tão ruins porque meu pai é militar e Effy transforma nossa estadia na floresta algo bem no estilo. O que é estranho para mim já que o pai dela é Primeiro Ministro e a mãe alguma coisa que eu não lembro, mas quem sou eu para julgar?

Eu não sei há quanto tempo estava perdido em minha própria mente, mas quando alguém colocou a mão sobre a minha que estava tamborilando no tampo da mesa de madeira, pisquei antes de levantar meus olhos mel e encarar o ser ousado. Não me surpreendi nem um pouco ao constatar que era Mavis.

Mavis Bittencourt e eu nos tornamos amigos no meu primeiro ano no Acampamento. Aquele era o primeiro ano dela como Líder dos Búfalos e, obviamente, no inicio da temporada ela ficou de olho no Chalé das Larvas. Como eu era novato ela acabou me notando, mas nossa amizade começou realmente depois que eu havia sido selecionado para a Coruja e as Irmandades fizeram uma festa ao redor da fogueira para comemorar o fato de que todos os novatos estavam numa Irmandade.

Quando passaram o violão para mim e eu comecei a cantar May, que estava sentada do meu lado, foi uma das pessoas que mais aplaudiu e iniciou uma conversa divertida sobre música, já que ela também canta. Depois de fazermos um dueto, as coisas só melhoraram.

Bem, você não sabe que você deve seguir todo o caminho

Sinta o sol, baby, aquecendo sua alma

Saiba como viver com seus altos e seus baixos

Estou no seu lado

Bem, você não sabe que você deve seguir todo o caminho

Sinta o sol, baby, aquecendo sua alma

Saiba como viver com seus altos e seus baixos

Estou no seu lado

Porém a Mavis divertida e engraçada que sentou ao meu lado naquele dia não foi à mesma Mavis que sentou ao meu lado hoje. A de hoje está com uma cara mal humorada, bochechas rosadas provavelmente de raiva e as mãos fechadas em punhos.

— O que houve raio de sol? – pergunto tornando a olhar a paisagem.

São quatro da tarde e eu estou no meu intervalo, ou seja, tenho uma hora livre antes de ter que voltar para a Vila das Irmandades e terminar meus afazeres antes do jantar. Por isso, ao contrário dos outros dias em que eu fiquei na própria Vila, no Chalé Cais ou na Biblioteca, hoje eu preferi me afastar um pouco da vida animada do Acampamento e me refugiar na floresta.

Está é a minha primeira lição: cada Irmandade tem um refugio secreto em algum lugar do Acampamento. Chamamos de refugio secreto porque apenas os membros da Irmandade sabem o local. No caso do refugio das Corujas não apenas os membros da Irmandade sabem, mas também Elizabeth e Mavis. A primeira porque, como todo Líder do Acampamento antes dela, Elizabeth deve saber o lugar de cada coisa do terreno. E a segunda porque a curiosidade sem fim de Mavis quase me levou a loucura até eu mostrar o refugio das Corujas a minha melhor amiga.

Por isso, provavelmente ao não ter me encontrado nos lugares de costume Mavis chegou a conclusão de que eu estava no local secreto. A base das Corujas fica na floresta, como eu já disse, defronte ao Chalé Cais, porém ao contrário deste não está a vista de todos, mas sim escondido pelas árvores.

O refugio é um chalé de madeira com dois andares. Após subir alguns degraus está o térreo completamente sem paredes, parecendo uma varanda, onde estão alguns pufes e sofás rústicos, esculturas de corujas feitas em madeira, guarda-sóis para as mesas, capas e guarda-chuvas, além de mantas em armários trancados com cadeados para evitar que os animais as peguem. Tudo isso está cobertos pelo andar de cima ou a céu aberto, cobertos talvez por um pedaço da escada que leva ao primeiro andar.

No primeiro andar existe uma parede de madeira que evita que as pessoas caiam no andar inferior, uma mesa de madeira e cadeiras mais confortáveis já que não há risco de chover ali. Existe energia, por isso lâmpadas, abajures, frigobar e geladeira funcionam perfeitamente possibilitando que se alguém quiser trazer algo para comer e beber o faça. Todos os dias antes do jantar campistas escalados vêm ao refugio para certificar que os lixos estão no local correto, que não há comida nem bebida, pegar as mantas a cada dois dias para lavar e fechar tudo com cadeados.

Eu nunca vi nenhum dos outros refúgios, mas sei que os outros têm paredes e parecem chalés fechados. Mas como símbolo da minha Irmandade é uma coruja não faz o menor sentido nosso refugio ser todo fechado, impossibilitando que vejamos o céu, principalmente de noite quando as aves saem para caçar e é possível ver as constelações com o telescópio fixado no chão do segundo andar.

Como estou cercado pelas árvores não há nenhuma vista de tirar o folego para eu observar, mas me contento em ver os esquilos indo e vindo em busca de comida. Olho para Mavis pelo canto do olho e percebo que ela está num debate interno, provavelmente colocando as ideias em ordem. Como eu moro em Northville, Michigan, que é uma cidade relativamente perto do Canadá e, portanto, da casa de May, eu costumo visita-la nas férias de inverno e feriados e o contrario também acontece. E graças aos nossos três anos de amizade estou acostumado a vê-la tendo esse tipo de reação.

— Estou me sentindo traída – ela fala por fim, se jogando para trás em sua cadeira. – É isto.

— Espero que isso não seja uma indireta.

— Obvio que não né Elijah. Se fosse eu não estaria aqui.

— Certo. Desenvolva.

A garota com cabelos ruivos tom de cobre morde o lábio inferior antes de falar.

— Bom, para começar Jason vem me tirando do sério faz dias. Depois Matthew começa a apoiar o Dylan, mesmo sabendo que eu não gosto dele. Depois... Ou talvez esse deveria ser o começo...? Enfim, depois Effy vai embora sem avisar, simplesmente some do mapa e eu descubro, porque a desgraça não tem a capacidade de me falar, eu descubro que ao mesmo tempo em que ela vem me ignorando, ela está toda feliz falando com Dylan e CIA.

Mavis finaliza ofegante e me encarando com um olhar ‘’isso não é um absurdo?!’’. Batuco com meus dedos no tampo da mesa enquanto penso. Apesar do tempo em que ficou em silêncio colocando as ideias no lugar, quando falou Mavis se confundiu um pouco por causa das emoções, por isso tento separar o assunto em categorias para abordar do mais leve ao mais complicado.

— Certo. Primeiro quem é Dylan e CIA? – pergunto.

Mavis revira os olhos.

— Dylan, Billie e Sigrid.

— Muito bem. Pergunta: por que de repente você voltou a odiar tanto o Dylan? – eu falo e ao ver a cara dela de quem diz ‘’e quando foi que eu parei’’ eu prossigo. – Você nunca o adorou, mas teve uma época em que competiam e contavam pontos não sei exatamente por que. Lembra que você me falou como Effy estava feliz com essa situação? Então, por que voltou a odiar o cara?

Mavis suspirou profundamente antes de falar.

— Porque ele roubou o posto da Effy e ninguém parece se importar com isso! Lucian falou logo no primeiro dia que eles haviam discutido porque ela passa muito tempo com a gente e é obvio que ele quer nos afastar dela. Sem contar que quando eu perguntei o que eles têm de melhor do que nós para ela falar com eles e nos ignorar, Dylan veio com lição de moral pra cima de mim. Ele com lição de moral pra cima de mim.

— O que ele falou?

— Algo sobre estarmos surtados e falando de coisas que não tem nada haver com o Acampamento, chorando feito bebês, e blá, blá, blá. Babaca.

— Bom, não podemos negar que ele tem razão – falo dando de ombro.

— O que?! – Mavis exclama me olhando indignada.

Dei de ombros.

— Olha May, eu vou ser sincero com você. E vou ser direto porque meu intervalo está acabando. É o seguinte, eu concordo com Dylan. Você está muito preocupada com Effy e está surtando e ok, você estava no seu direito no primeiro e no segundo dia, mas vai fazer uma semana daqui a pouco e você ainda está surtando. Você tem que admitir que esta tática não esta funcionando nem um pouco. Effy não retornou nenhuma de suas ligações e mensagens. Não retornou nenhuma ligação e mensagem das pessoas que estavam surtando, mas daquelas que mantiveram a calma ela retornou. E ok que é o que o Dylan diz – falei erguendo as mãos quando vi que ela estava prestes a me interromper –, mas eu estava perto da sala do Jason quando ele falou com ela então acredito no Dylan, você gostando ou não.

‘’Falando nisso, não acho certo você culpar e ficar brava com Matthew por ele estar falando com o Black. Dylan é um cara legal, nós que não damos oportunidade dele mostrar isso. Todos nós devíamos falar com ele porque nós somos Líderes e ele é um Líder. Ele está representando Effy você gostando ou não, você acreditando nisso ou não. Não estou falando que você tem que virar amiga dele, mas pelo menos tente não ficar brava com seus amigos que o fazem’’.

Faço uma pausa pensando se esqueci de algo da fala da Mavis enquanto esta cruza os braços e me olha mal humorada. Eu sei graças a todos os anos de amizade que seria melhor eu parar de falar minhas opiniões para May, mas eu realmente acredito que já passou da hora dela cair na real e admitir para ela mesma que Effy foi embora, Dylan é o Líder, Matthew e alguns dos outros (inclusive eu) não temos nada contra o Black...

— Sobre Jason eu não posso opinar muito porque não sou bom com conselhos amorosos e... Ei! – exclamo quando uma ideia surge na minha mente, assustando Mavis. – Esse pode ser um bom assunto para falar com Effy! Mande uma mensagem dizendo que está chateada com ela e fale o que está te incomodando com relação a Jason. Ela nunca deixou você na mão quando tinha problemas, certo? Mesmo quando ela sumia no meio do ano letivo.

Mavis dá de ombros, muito mal humorada e desvia os olhos verdes para as árvores, mas eu sei que ela está pensando no que eu disse, mesmo que a contragosto. Sorrio e pego uma de suas mãos que estão pousadas em sua perna e coloco-a entre as minhas mãos, puxando assim minha melhor amiga pelo braço até que ela sorria e me olhe irritada por ter feito ela sorrir mesmo estando brava comigo.

— Jason é bem babaca quando quer, mas isso não é culpa da novata ruiva, May – falo. – Você sabe que não é certo descontar sua frustração com relação a Jason nela, né?

Mavis revira os olhos.

— Sei, mas não posso evitar. Mesmo sabendo que talvez ela não saiba, não consigo não odiá-la por ter a atenção do Jason enquanto eu estou tentando ganha-la há anos. E eu sei que temos algo – é a vez dela de falar antes que eu a interrompa –, mas isso não parece mais o suficiente.

— Eu sei – falo simplesmente.

Mavis gosta do Jason há anos e o Blood sabe disso. Mas em vez de falar para ela que eles nunca terão algo ou começar a namorar logo, Jason alimenta as esperanças de Mavis sem nunca ultrapassar a linha que separa amigos que se beijam do namoro. Tanto eu quanto Elizabeth já dissemos milhares de vezes que May deveria seguir em frente, mas por mais que ela tente namorar sempre que a temporada do verão começa a ruiva volta a cair nos encantos do Lobo.

Bem, você não sabe que você tem que ir

Bem, você não sabe que você tem que ir (ooh-ooh, ooh-ooh)

Todo o caminho pela estrada (ooh-ooh, ooh-ooh)

— Não fique brava comigo, mas preciso falar isso – digo soltando a mão dela e me virando na cadeira para encará-la. – Não é a primeira vez e provavelmente não será a ultima que Effy some sem dar noticias. Depois de anos de amizade, nós dois sabemos que isso é algo costumeiro. Mas ela sempre volta, então por que dessa vez será diferente? Effy disse a Matthew que tem o aniversário do avô para ir, talvez seja mentira, talvez seja verdade. O importante é que nós, como amigos dela, temos que respeitar o tempo que Effy precisa.

— Tempo pra que Elijah? – Mavis pergunta brava. – Pelo o que ela está passando que não pode me contar? Que eu não posso ajudar a resolver, mas Dylan e Billie podem? Eu moro na mesma cidade que ela, estudamos no mesmo colégio, eu fico com ela o ano inteiro. Como ela pode me esconder coisas e não esconder de pessoas que estão em outro país? O que Billie e Sigrid têm que eu não tenho?

— May, eu entendo sua raiva e frustração, de verdade— falo num tom neutro. – Mas nem eu nem Billie, Sigrid ou Dylan podemos responder essas perguntas. Apenas Effy pode. Talvez você deva esperar ela voltar ou talvez deva seguir o conselho de Dylan na próxima vez que tentar falar com ela já que não sabemos quando ela volta.

— Por que você não pode ficar do meu lado?! – ela exclama levantando com raiva. – Por que você tem que defender Effy ou Dylan, mas não pode me defender? Por que eu tenho que estar surtando, por que eu tenho que seguir o conselho deles?

— Porque você está surtando agora? – falo rindo de leve enquanto me levanto. – Olha May, como eu disse não é a primeira vez que Effy some e ela sempre volta bem. Bom, pelo menos fisicamente bem. Estou dizendo que você deva seguir o conselho de Dylan porque até onde eu sei, ele respeitou o tempo dela e foi Effy que ligou para ele quando ela achou que estava pronta, não o contrário. Não estou defendendo eles ou dizendo que você está errada, só estou dizendo que você ficar calma e esperar ela vir até você talvez seja o melhor a fazer.

Estou de pé na linha aguardando a cura

Preocupado se eu irei brilhar tão puro

E de alguma forma eu pensei que eu iria encontrá-lo em qualquer lugar que você corresse

Mas andar atrás de você nunca foi tão divertido

— E se ela nunca vier até a mim? E se Dylan e CIA forem o suficiente? E se ela não voltar nessa temporada, se mudar de país ou sei lá o que?

— Mavis, calma! A maioria das coisas que você falou provavelmente não vão acontecer. E você é a melhor amiga dela, não Billie ou Sigrid. Fique calma. É Effy que fala tanto e se, não você. Então volte ao estado normal mulher.

— Volte você ao estado normal e aja como meu melhor amigo! – ela exclama antes de me dar as costas e descer as escadas do refugio.

— Mavis! – chamo, mas ela me ignora.

Suspiro colocando as mãos na cintura enquanto vejo minha amiga marchar por entre as árvores, caminhando raivosa para algum lugar longe de mim. Meu relógio apita, informando que faltam dez minutos para meu tempo de descanso acabar, mas eu não me mexo, pensando se falar a verdade foi realmente o melhor a se fazer. Por fim, dou de ombros pensando que se foi o melhor ou não, o importante é que eu já falei, portanto não posso voltar a trás.

Desço as escadas do refugio e caminho pela grama verde de modo a sair da floresta perto das salas, muito longe do refugio para evitar que outros campistas descubram o local. Percebo membros do primeiro ano da minha Irmandade na sala de lutas, Lobos no ultimo nível de dança na sala da mesma e alguns membros do terceiro ano das Raposas na sala de música. Ao passar pelo local vejo Sigrid cantando junto com uma menina enquanto o restante toca instrumentos. Ela acena para mim quando me vê passar pela janela e eu aceno de volta, pensando como as personalidades dela e de Matthew são diferentes.

Enquanto Matthew Morningstar é um homem de 17 anos que mora no Kansas, Sigrid Solbakk é uma norueguesa de 15 anos. Matt é um cara calmo que nunca busca confusão, mas que vira uma fera quando mexe com ele ou alguém que o rapaz gosta. Ele é péssimo em guardar segredos, confia nas pessoas e acredita em segundas chances. É sincero sem temer levar um soco por causa das verdades que fala. Matthew gosta de dormir e comer, portanto não é preciso de muito para agradá-lo.

Já Sigrid é agitada, está sempre em movimento ou com mil ideias para colocar em prática. Ela também não busca confusão e não vira uma fera mesmo que a ofendam da pior forma possível porque ao contrário de Matt que parte pra cima, Sigrid faz mais o estilo de Effy ao desconcertar as pessoas com frases ácidas. Não sei se ela é boa em guardar segredos ou se acredita em segundas chances, mas sei que ela adora cozinhar e prefere ficar a noite acordada conversando ou fazendo algo ao invés de dormir.

Mesmo tendo poucos pontos em comum, mesmo morando a um oceano de distancia, de alguma forma Matthew e Sigrid fazem o relacionamento dar certo. Coisa que eu não consegui fazer quando um oceano me separou da garota que eu gostava.

Bem, você não sabe que você deve seguir todo o caminho

Sinta o sol, baby, aquecendo sua alma

Saiba como viver com seus altos e seus baixos

Estou no seu lado

Balanço a cabeça para evitar que pensamentos sobre meu namoro frustrado me, bem, frustrem e pego um carrinho estacionado perto de uma das salas, dirigindo em direção à quadra de vôlei onde eu darei aula para as Larvas e terei minha primeira experiência mais próxima com eles. Como não é a primeira vez que faço isso, apesar de ser meu primeiro contato direto com os novatos eu não estou nervoso. Eu sou bom em vôlei e espero conseguir notar possíveis novos membros para a minha Irmandade nessa aula.

Estaciono no local próprio para isso quando meu relógio marca 16h e fico feliz ao constatar que as Larvas já estão no local certo me esperando com Alo, que os faz rir. O garoto ruivo magricela e sardento conta piadas que não conseguem deixar uma pessoa séria.

— Desculpe a demora pessoal – falo sorrindo enquanto me aproximo.

— E aí Elijah? – Alo fala. – Estava aquecendo o pessoal enquanto você não aparecia.

Ri pelo nariz assim como outros campistas.

— Percebi, obrigado amigo.

— Disponha – ele fala me fazendo uma reverencia que me faz rir olhando para as Larvas como quem diz ‘’vocês acreditam nesse cara?’’. – Tchau galera.

— Vocês parecem cansados – falo colocando as mãos na cintura e passando meus olhos mel pelos rostos novos.

— Acabamos de ter uma aula de atletismo com Dylan – uma campista de cabelos ondulados castanhos claros, pele alva, altura mediana, sorriso calmo e olhos cinza azulados por trás dos óculos de aro redondo fala e eu demoro um segundo para reconhecer minha novata.

— Hey Dominique – falo animado e sorrindo. – Fico feliz em saber que finalmente conseguiu deixar a sala do Chalé para se juntar a diversão.

Dominique ri.

— Aparentemente os responsáveis por colocar o cronograma em funcionamento decidiram que era hora de eu levantar do sofá – ela diz dando de ombros.

— Agradeça o Dylan – falo.

— Ela até poderia agradecê-lo se ele não tivesse tentado nos matar minutos atrás – uma garota de cabelos alaranjados, rosto redondo, olhos verdes amendoados, magra com o quadril largo e cintura fina fala me fazendo pensar que ela é um pouco parecida com Mavis, o que me faz supor que é a menina odiada pela minha amiga. Coitada.

— O que quer dizer com isso? – pergunto começando a andar em direção à quadra de vôlei descoberta, fazendo sinal para que me sigam.

— Ele nos alongou e fez com que déssemos infinitas voltas pela pista – ela fala.

— Ele estava apenas vendo nosso nível de sedentarismo Cal – uma garota baixinha, com cabelos longos castanhos e corpo com curvas fala.

— Mas correr com a gente que é bom o bonito não corre – a tal ‘’Cal’’ retruca.

Rio enquanto pego a prancheta que estava em cima da bolsa perto da rede.

— Talvez você queira saber que Dylan é capitão do time de futebol do colégio e campeão de atletismo – falo. – Mas o desafie a correr com vocês da próxima vez, vai ser divertido.

— Pelo amor de Lady Gaga, não dê ideias! – a garota baixinha exclama me implorando com os olhos.

— Que isso, vai ser legal Lua – uma outra garota fala, dessa vez loira, alta e magra, com olhos grandes e castanhos.

— Claro, porque você provavelmente não vai estar aqui, mas sim explorando o Acampamento – Lua retruca.

— Ah! – exclamo me lembrando da onde eu já tinha visto a garota loira. – Você é a explorada encrenqueira!

— O que? – ela pergunta confusa, assim como os outros campistas que fazem um circulo ao meu redor.

— Qual o seu nome? – pergunto.

— Maxine Vause.

— É você mesmo! A garota que entrou na Enfermaria e foi pega, que sempre chega atrasada. Devo me sentir lisonjeado por você estar no horário para a minha aula?

O grupo ri enquanto Maxine revira os olhos com um sorriso irônico nos lábios.

— Espera, como você sabe tudo isso sobre ela? – Dominique pergunta.

Dou de ombros.

— Billie falou das fichas, certo? – digo. – E seu nome foi mencionado numa das reuniões dos Líderes.

— Meu nome foi mencionado numa das reuniões? – Maxine pergunta surpresa. – Por quê?

— Porque Dylan disse que era preciso reforçar a segurança na Enfermaria e usou seu nome como justificativa. Ele disse que se você, que é novata, consegue entrar então qualquer um consegue.

— Ele acha que foi fácil entrar na Enfermaria? – ela pergunta indignada.

Rio e dou de ombros.

— Pergunte a ele. Agora, chega de enrolar! Vou fazer uma rápida chamada, saber quem já joga vôlei e depois começaremos pelo básico para que eu possa separar vocês em times.

(Noite).

No momento, estou secando meu cabelo castanho claro com uma toalha enquanto caminho pelo meu quarto, desviando das roupas jogadas no chão que eu terei que juntar antes de dormir. A aula de vôlei havia acabado há meia hora trás, quando eu dispensei os campistas para se arrumarem para o jantar e dividi um carrinho com Dominique, Dawn, a novata do Urso e Frederico, o novato do Búfalo. Depois de receber alguns elogios pela minha aula e de deixar Dawn e Frederico em seus respectivos Chalés, dirigi para o Chalé da Coruja com Dominique.

Aproveitei a oportunidade perguntando se ela estava gostando da experiência, se os campistas antigos estavam sendo legais com ela e se precisava de algo. Domi agradeceu e para minha alegria, disse que está adorando tudo e que seus amigos da Coruja são demais.

— Maggie foi muito gentil em me receber e incluir no grupo de amigos – ela disse.

— Margot é mesmo uma campista bem receptiva. Espero que ela não esteja constrangendo você ao ficar agarrando Ronald. 

Dominique riu.

— Não, na verdade somos nós que constrangemos Jena e Francis.

— Francis Kooks?

— Sim.

— Ah, Francis é um bom rapaz. Ele gosta da Jena Lee?

— Acreditamos que sim e estamos fazendo o possível para juntá-los de uma vez.

Rimos enquanto eu parava o carro no estacionamento da Coruja. Na varanda, era possível ver o grupo pelo qual conversávamos minutos antes. Dominique agradeceu pela carona e acenou antes de correr em direção aos amigos. Eu caminhei na mesma direção e enquanto subia os degraus para passar pela varanda e ter acesso à porta principal, ouvi Elle Strokes falar:

— Você pegou carona com Elijah? Sortuda, queria eu pegar carona com ele.

Ri constrangido antes de falar um ‘’boa noite pessoal’’ e entrar no Chalé, ouvindo as risadas da varanda e John ralhando com a irmã mais nova que disse em sua defesa:

— O que posso fazer se ele é gato?

— E seu Líder — John enfatizou.

— Isso não faz ele ser menos gato, se essa é a sua intenção maninho.

Rio sozinho no meu quarto lembrando a conversa que ouvi enquanto subia as escadas em direção ao ultimo andar. Depois de pendurar a toalha no box do banheiro, colocar a roupa no cesto e abrir as janelas tanto do banheiro quanto do meu quarto, caminho para a sacada para observar o céu estrelado antes do jantar, com meu violão em mãos. Sento-me no parapeito de madeira, sabendo que se Mavis me visse teria um treco temendo minha queda, e começo a dedilhar Hold Back The River do James Bay, pensando como minha família estaria em casa.

Bem, você não sabe que você tem que ir

Ooh-ooh, caminho pela estrada

Bem, você não sabe que você tem que ir (ooh-ooh, ooh-ooh, ooh-ooh)

Meu pai provavelmente está voltando do trabalho se não estiver atendendo alguma ocorrência. Minha mãe deve estar cozinhando com a ajuda de Chloe que deverá parar de reclamar que eu estou no Acampamento e ela não apenas quando suas amigas voltarem das viagens que estão fazendo, dali uma ou duas semanas. Como meu pai raramente pega férias no verão ou no inverno, ou seja, quando Chloe está de férias, minha família quase nunca viaja o que minha irmã aja bem injusto porque enquanto eu estou aproveitando ela está enfurnada em casa com nossa mãe.

Apesar de Adália ser compreensiva é também mãe coruja, por isso é bem difícil Chloe conseguir fazer algo divertido sozinha. Lembro-me de ter combinado com Lucian, na sexta-feira, que nossas irmãs caçulas iriam se conhecer para que pudessem comentar sobre a injustiça da regra de idade juntas já que ambas têm dez anos, apesar de eu achar que a situação de Beth é pior levando em consideração que ela possui dois irmãos no Acampamento.

Quando meu relógio de cabeceira marca 17h40min eu decido pendurar meu violão de volta a parede e descer os lances de escada, lembrando os campistas no caminho que o horário do jantar se aproxima e eu não quero ninguém atrasado.

O Portão da Coruja é o Portão Leste, por isso é o mais perto do Refeitório e o escolhido pela maioria dos campistas quando o horário das refeições se aproxima. Avisto Lucian, Newt Brooke e Nathan Parker caminhando seguindo a multidão e estou prestes a me juntar a eles quando Mavis grita meu nome e corre na minha direção de seu jeito bem discreto de ser.

— Oi – falo quando voltamos a caminhar.

— Oi – ela diz mordendo o lábio inferior. – Eu queria... Bem, eu quero, pedir desculpas pela minha atitude dessa tarde. Você estava tentando me ajudar e eu fui grossa porque você não estava me falando o que queria ouvir, mas o que eu precisava. Então, desculpe.

— Tudo bem May – falo passando o braço sobre seus ombros. – Eu estou acostumado com você querendo me matar e depois me socar de um jeito carinhoso.

Rimos enquanto ela balança a cabeça em negação.

— Enfim, talvez você fique feliz em saber que vou seguir seu conselho. Vou tentar me acalmar, não revirar os olhos a cada vez que o Dylan respirar e dar um tempo pra Effy. Ou mandar uma mensagem para ele antes de dormir.

— O que é bem mais provável – falo sorrindo. – Fico feliz que você tenha decido ‘’seguir em frente’’. E quanto ao Jaso-

— Shhhh! – Mavis faz parando de andar, colocando as mãos sobre a minha boca e olhando para os lados. – Não diga o nome, estamos cercados de pessoas Elijah!

— E dai? – falo por debaixo das mãos. – Ninguém está prestando atenção.

— Não quero arriscar – Mavis fala baixando as mãos, mas ainda olhando de um lado para o outro. Ainda não pensei em nada com relação a isso, acho que vou esperar um conselho da Effy ou vou mandar o Jason à merda direto.

— Contando que você não mate a Calíope, ótimo.

Mavis me olha indignada da cabeça aos pés.

— Você esta me traindo Elijah? Como sabe o nome da ruiva diabólica?

— Dei aula de vôlei para as Larvas hoje e Calíope não é diabólica Mavis. Talvez um pouco linguaruda, mas todos têm seus defeitos.

— Inacreditável. Vou voltar a ficar brava com você.

— E depois vai vir pedir desculpas porque você não vive sem mim.

— Que absurdo, você está se achando demais Campbell – Mavis diz sorrindo. – Tenho que falar com Khalid, quero saber se ele também tem contato direto com Effy. Até mais.

— Até – falo antes de ver ela se afastar.

Aperto o passo para encontrar com Lucian e CIA que conversam sobre um novo jogo do Harry Potter em formato RPG ou algo assim. Newt Brooke é um campista da Coruja de 18 anos, pele branca, olhos castanhos assim como cabelo. Ele é alto, forte e inteligente, por isso é ótimo tê-lo na minha Irmandade quando o assunto é a Taça. Mas, além disso, Newt é um ótimo amigo e diria que o campista da Coruja mais próximo de mim. Ele já estava aqui quando eu cheguei e me deu muitas dicas, principalmente por ser amigo de Elizabeth e conhecer um pouco da rotina dos Líderes.

Assim como Lucian, Newt adora fazer piadas ruins e foi por isso que eles se tornaram amigos, quando apresentados por Effy. Já Nathan Parker é um menino de 15 anos com a pele clara, cabelos castanhos ondulados, olhos azuis e é relativamente alto. Ele é membro da Raposa desde os 11 anos e primeiro se tornou amigo de Carl e depois de Lucian, só então conhecendo Newt e eu. Devido ao interesse de Nathan por livros de fantasia não foi uma missão difícil para ele se enturmar com os Gonzalez.

Enquanto conversamos e caminhamos em direção ao Refeitório e depois, quando Carl se junta a nós, perto das grandes mesas de madeira, eu não consigo parar de pensar em algo, o que me deixa relativamente aéreo na conversa, mas meus amigos estão acostumados. Enquanto passo meus olhos mel pelo imóvel, avistando Dominique com seus amigos da Coruja, as meninas das Larvas rindo de algo que Mavis falou, Matthew com Khalid e alguns campistas do Urso e da Raposa num canto, Jason dando socos de brincadeira nos seus amigos do Lobo e principalmente quando Kenai Nimble levanta da mesa de toalha verde e caminha na direção do meu grupo, sorrindo satisfeito quando o incluímos na conversa, penso que todos nós buscamos e tememos uma única coisa.

Buscamos companhia, amigos. E o que mais tememos é perder isso.

Todos

Todo o caminho

Todo o caminho da estrada

Prendo a respiração quando penso no que Mavis me disse à tarde. Que Effy está falando com Dylan, Billie e Sigrid, mas ignora o resto dos amigos. Seus amigos mais antigos. Penso no desespero, principalmente da parte de May e Lucian, diante da perspectiva de perder uma amizade.

Franzo as sobrancelhas e por algum motivo superior, viro-me de modo a ficar de frente para a janela do Refeitório que tem vista para a floresta. Viro-me em tempo de ver uma luz tremeluzir por entre as árvores. E então desaparecer quando o sino do Refeitório toca, anunciando o inicio da refeição.

Dawn Austen Margott, Dawn

‘’É muito mais fácil não saber das coisas de vez em quando’’.

— As Vantagens de Ser Invisível.

Acenei por alguns segundos, observando o carrinho com Elijah e Dominique se afastar, antes de subir a rampa que dá acesso à porta do Chalé dos Ursos e entrar. Por causa do horário a maioria das atividades estava acabando e logo os turnos também terminariam para que todos pudessem chegar a tempo para o jantar, por isso a sala está com um número considerável de campistas, mas como nenhum deles são meus amigos eu subo as escadas que dão para o primeiro andar.

Ao contrário do que eu ouvi falar dos outros Chalés, a morada dos Ursos é um local relativamente quieto e calmo. A única vez que eu ouvi uma voz exaltada foi no segundo dia, quando um campista de 14 anos teve o controle do vídeo game roubado de suas mãos por um campista mais velho, nada que Matthew não pudesse resolver facilmente com um ‘’não seja um patife Paul’’. Desde então, quando estou no primeiro andar nunca ouço o som de conversas, risadas ou qualquer ruído vindo do térreo ou dos andares superiores e o mesmo acontece quando eu estou no térreo.

Acredito que isso aconteça, em parte, graças à natureza do urso, em especial o urso negro. Ursos são animais de habitats variados, solitários que demarcam território, gostam de calor e podem ficar incrivelmente bravos quando alguém invade seu espaço ou rouba sua comida. E assim são os campistas da Irmandade Urso. Pelo o que conversei com os campistas mais antigos, nenhum deles teve grandes dificuldades para se adaptarem com o Chalé ou o Acampamento. Eles não são solitários, mas também não possuem muitos amigos e gostam de serem assim. Basicamente se tiverem comida, um local confortável e quentinho e talvez uma companhia bacana, os campistas estão felizes.

Por isso, estou satisfeita com minha Irmandade. Eu gosto de conhecer pessoas e fazer amigos, mas evito isso ao máximo por motivos pessoais. Eu não gosto de falar do meu passado e ao longo da minha vida encontrei uma quantidade surpreendente de pessoas enxeridas que não entendem um ‘’não quero falar sobre isso’’. Meus amigos e colegas de Chalé são pessoas calmas que gostam de conversar, não fazem perguntas se você também não faz e entendem uma cara feia quando falam algo que não deveriam.

Eu adoro ler, escutar música, jogos de tabuleiro, estudar, caminhar, nadar... E a maior parte dos campistas do Urso também gostam. Se eles não estão conversando, estão dormindo, se não estão dormindo, estão comendo, se não estão comendo estão jogando, se não estão jogando estão fazendo algum esporte que eu gosto... Em síntese, essa Irmandade é perfeita para mim!

Ao contrário de Domi, que vai ter que esperar uma campista entrar na Coruja para ter uma colega de quarto, eu divido o meu com Robbie Gambino uma garota negra de cabelos encaracolados e armados na altura dos ombros, lábios grossos e os dentes da frente separados, altura mediana e olhos castanhos escuros.  Robbie ficou a temporada inteira sozinha quando no verão passado sua ex-colega de quarto saiu do Acampamento após a primeira Caça a Bandeira.

Por termos a mesma idade e interesses nos damos bem, principalmente porque respeitamos o espaço uma da outra. Ao entrar no meu quarto, me deparo com Robbie deitada em sua cama lendo A Geografia de Nós Dois. Ela desvia os olhos do livro enquanto eu fecho a porta e volta sua atenção para as páginas antes de falar:

— E aí esquisita?

Rio pelo nariz andando em direção ao guarda-roupa e selecionando algo que eu possa usar no jantar já que estava fedida e suada.

— Eu estou morta. O que fez hoje?

— De manhã aproveitei meu tempo livre e o fato das Larvas não estarem aqui para nadar no lago com Stacy e Stuart, depois fui colher algumas coisas na horta porque estava na programação do meu turno de hoje. E depois fui dar aula de escalada para o pessoal do primeiro período. E você?

— Antes de responder a pergunta, posso saber por que você foi nadar no lago só quando as Larvas não estavam aqui?

Robbie ri baixinho enquanto se senta na cama.

— Olha, eu sei que você tem amigas que são Larvas e a Ártemis até que é legal. Mas é um saco ter que ficar falando pra eles porque os campistas mais antigos podem fazer coisas que eles não podem. Na temporada passada uns campistas do Lobo entraram no lago num dia muito quente do verão e várias Larvas o seguiram, mesmo tendo regras que os impedissem. Foi uma confusão para tirar todos d’água e depois disso ficou implícito que os campistas antigos só podem fazer coisas que as Larvas não podem quando não tem nenhum novato por perto.

— Ok, aceito suas desculpas – falo o que fez ela rir. – Eu fui de manhã naquela trilha que falei pra você, para conhecer os búfalos.

— Verdade! Ficou desapontada?

— Não muito, o lago depois compensou e acertei as coisas com Calíope, ao contrario do que certas pessoas disseram. A parte ruim foi ter que voltar correndo e ouvindo os gritos da Bittencourt porque o sino tinha tocado e ela tinha certeza que era a Elizabeth – reviro os olhos e meu gesto é imitado por Robbie.

Deixe-me deixar algo claro: a maior parte da Irmandade Urso não gosta de Mavis Bittencourt. Os campistas, assim como os ursos negros, gostam de calma, comer e dormir, basicamente. E Mavis com todo seu jeito extrovertido de ser, com seus gritos e risadas escandalosas é o completo oposto de calma. Eu gostei dela no começo. Seu jeito de se vestir, o bom humor e sua personalidade me fizeram esperar loucuras vindas dela. Mas depois que Elizabeth foi embora e eu vi Bittencourt descontando sua raiva nos Búfalos, gritando com eles enquanto corriam, ela perdeu alguns pontos comigo. E perdeu muitos mais quando ela gritou comigo e me fez correr.

Eu gosto de Mavis Bittencourt. Gosto do seu senso de humor e personalidade espontânea. Mas principalmente, eu gosto de Mavis Bittencourt sendo tudo isso longe de mim.

— Pelo menos você tem a certeza de que não irá parar na Irmandade dela – Robbie fala cruzando as pernas na posição de ‘’índio’’.

— Graças ao Urso!

— Só para confirmar, já que fiquei presa no meu turno de escalada – Robbie fala. – não era a Manson, era?

— Não, era uma tal de Sigrid, namorada do Matthew – falo fazendo uma careta.

— Sigrid está de volta?! – Robbie pergunta feliz o que apenas aumenta minha careta. – Ah, qual é Austen! Sigrid é legal, é uma das Raposas mais acessíveis daquela seita esquisita que eles chamam de Irmandade.

Algo que aprendi na minha quase uma semana no Acampamento é que as Irmandades tem a mania de ficarem ofendendo uma as outras além de se glorificarem. Algo normal entre equipes que competem. Os xingamentos variam quase sempre, principalmente de uma Irmandade para outra, mas algo em que os Ursos, Lobos, Corujas e Búfalos concordam é que a Irmandade Raposa parece uma seita esquisita. Um a cada cinco campistas das Raposas perdem tempo ofendendo as outras Irmandades, eles raramente falam com pessoas de outros Chalés... Billie Pirate, Dylan Black (e agora Sigrid, pelo o que Robbie diz) são as pessoas mais acessíveis e simpáticas da Irmandade.

— Eu sou mais Billie – falo caminhando em direção ao banheiro.

— Você está assim por que ela é namorada do Matthew, certo? – minha colega de quarto pergunta com um sorriso malicioso.

— Matthew é um cara legal e bonito pelo qual eu talvez estivesse começando a nutrir sentimentos – respondo de dentro do banheiro, pela porta aberta.

— Dawn, Matthew namora a Sigrid tem uns bons anos.

— E você não podia ter me dito isso antes de eu começar a ter uma paixão platônica?! – exclamo indignada voltando para o quarto para encontrar Robbie rindo enquanto volta a se deitar e pegar o livro.

— E perder este momento? Não, obrigada.

— Amiga da onça mesmo.

— Espero que esteja se auto chamando de onça porque Stacy não tem nada haver com isso.

— Bem que meu tio Jack me avisou para não confiar em pessoas de 17 anos que nasceram e vivem no Novo México – falo falsamente séria antes de fechar a porta do banheiro, podendo ouvir a gargalhada de Robbie mesmo por trás da madeira.

Tiro minha roupa e jogo tudo no cesto de roupa suja antes de ligar o chuveiro, lembrando tristemente que o sábado se aproxima juntamente com o dia da limpeza, dia em que todos da Irmandade acordam cedo para arrumarem seus quartos, colocarem a roupa para lavar, tirarem pó, organizarem as alas comuns... Suspiro enquanto massageio meu couro cabeludo, lavando meu cabelo castanho ondulado que cobre meus seios. Meu ultimo comentário me fez pensar na minha família, mas especificamente em meu tio, de quem eu não tenho noticias desde entreguei meu celular na sexta-feira.

Meu tio Jack é uma figura paterna e uma pessoa que eu amo muito. Nos damos bem desde sempre e ele, juntamente com sua família, me recebeu de braços abertos depois do... Depois do acidente. Sempre íamos ao cinema nos finais de semana assistir um filme de ação ou comédia, às vezes acompanhados dos meus primos, mas na maioria das vezes apenas nós dois. Tio Jack, assim como sua esposa tia Annalise, me recebeu muito bem mesmo não precisando fazê-lo. Eu sempre me dei melhor com meu tio, mas tia Annalise conseguiu fortalecer nossa relação quando me deu Toy, um cachorrinho, para que tivesse uma companhia a mais. Os psicólogos disseram que quando crianças pequenas perdem entes próximos sentem-se muito sozinhas, mesmo que tenham pessoas por perto. Por isso, aconselharam que eu ganhasse um animal de estimação que sempre estivesse comigo de modo que eu nunca me sentisse abandonada.

Toy tem agora dez anos e esse será o primeiro verão que irei passar longe dele por mais de algumas semanas. Paul, meu primo apenas um ano mais velho, me prometeu que cuidaria de Toy e me mandaria fotos dele todos os dias. Uma pena que eu não estou com meu celular para recebê-las.

Robbie bate na porta interrompendo meu fluxo de pensamento e diz para eu me apressar.

— Stuart disse que Matthew quer falar com você – ela diz. – Espero que não seja sobre sentimentos não correspondidos.

— Vai se ferrar Gambino – falo rindo.

Stuart e Stacy Yorn são irmãos gêmeos asiáticos que nasceram na Coreia do Sul, mas moram em Chinatown, Manhattan, um bairro chinês mesmo eles sendo coreanos. Enfim. Ambos têm 16 anos e estão no Acampamento desde os 11 de modo que foram eles que acolheram Robbie e não o contrário. E os três me acolheram agora, juntamente com Pete Green, um rapaz de Idaho de 18 anos que entrou no Acampamento junto com os gêmeos.

Penso nos motivos pelos quais Matthew Morningstar pode estar me chamando. Talvez seja para ter uma conversa parecida com a que Elijah teve com Dominique alguns dias atrás, para saber sobre minha adaptação no Acampamento e se preciso de algo. Com esse pensamento, desligo o chuveiro e me seco rapidamente. Visto um short jeans claro com uma camiseta verde com um urso negro símbolo da minha Irmandade estampado como se eu tivesse acabado de desenhar com grafite. Passo rímel e um batom vermelho antes de pendurar minha toalha, abrir a janela e sair do banheiro.

  - Até que enfim – Robbie fala. – Estava contando para Stacy sobre sua reação ao saber que Matthew tem namorada.

— E onde ela está? – pergunto enquanto calço meu all star preto.

— Buu! – Stacy exclama sentando na minha cama e surgindo por de trás das almofadas.

Bato minha cabeça na porta do guarda-roupa com o susto e olho para cima já que minha cama fica na parte de cima do beliche, mostrando meu dedo do meio para a coreana que ri da minha cara junto com Robbie.

— Ninguém te ensinou que é feio sentar na cama de outras pessoas rato? – pergunto me levantando e caminhando em direção ao criado mudo onde pego meu colar prata com pingente de Urso.

Stacy é magra e a menor do grupo o que lhe rendeu o apelido de rato quando estamos ‘’bravos’’ com ela e fada quando estamos de bom humor. Seu cabelo está na altura dos seios, é da cor preta e liso, com uma franja na altura das sobrancelhas nem finas nem grossas. Os olhos castanhos por de trás dos cílios pretos e compridos, os lábios rosados nem finos nem grossos e as maçãs do rosto coradas dão um ar de boneca de porcelana para a mais nova do meu grupo de amigos Ursos.

— Ninguém te ensinou que é feio se atrasar quando seu Líder te convoca? – ela retruca sorrindo. – Você tem sorte de Matthew ser calmo.

— Estou indo – falo depois de colocar meus brincos. – Agora, saía da minha cama.

— Olha só o lado urso demarcando seu território aparecendo – Robbie fala quando eu estou com a mão na maçaneta.

Jogo uma almofada que está no chão na cara dela, fazendo com que o livro caía em seu rosto e faço o típico gesto ‘’estou de olho em você’’ para Stacy antes de sair do cômodo, fechando a porta atrás de mim. Subo mais um lance de escadas e logo estou no segundo andar onde a sala de Matthew se encontra, entre outros locais.

Caminho decidida e bato na porta de madeira pintada de verde escuro, aguardando poucos segundos antes de uma voz masculina permitir minha entrada. Giro a maçaneta e entro pela primeira vez na Sala do Líder no Chalé dos Ursos.

— Ah, oi Dawn – Matthew fala erguendo os olhos de um bloco de anotações. – Sente-se, por favor.

Sento-me na poltrona de couro indicada por Morningstar e mexo no meu cabelo distraidamente enquanto ele termina de escrever algo. Matthew é um rapaz calmo e sincero de 17 anos, alto com o corpo atlético graças a todos os esportes que pratica, com olhos verdes e cabelos castanhos na altura dos ombros. Ele fecha o caderno e coloca a caneta no porta canetas antes de sorrir calmamente para mim.

— Então Dawn, como tem sido sua estadia no Acampamento?

Bingo! Eu disse que a conversa ia ser sobre isso.

— Por enquanto tem sido boa. A Irmandade Urso me acolheu muito bem e agora que as coisas realmente começaram no Acampamento não tenho muito tempo para ficar encarando as paredes.

Matt ri.

— Está com saudades de casa?

— Claro. Faz quase uma semana que não vejo minha família, mas irei sobreviver.

— Ótimo, fico feliz em ouvir isso – ele fala sorrindo o que me faz sorrir e amaldiçoar Sigrid. – É sempre bom ter campistas novos que trazem novas ideias e imagino que você seja esse tipo de campista. Não sei se os outros te falaram, mas todas as sextas-feiras os campistas podem ligar para casa.

— Não, eles não me falaram. Fico feliz em ouvir isso, quero saber como meu cachorro está.

Matthew e eu rimos. Depois de me perguntar como é meu cachorro e se eu preciso de algo, ao contrário do que eu esperava, meu Líder não me dispensa, mas diminui seu sorriso até estar apenas com um ar sereno. Então ele vira a tela do computador para mim, cruza as mãos sobre o tampo da mesa e fala:

— Pode me explicar o que foi isso, Dawn?

Reconheço de primeira que a página aberta é o Twitter e demoro alguns segundos para ligar o alaranjado do fundo com as mensagens e perceber que Matthew logou em sua conta e que a página que eu estou vendo é o perfil de Jason Blood. Mais especificamente, minha discussão com Jason Blood. Eu devia ter esperado por essa.

— Hã, uma discussão? – falo num tom de pergunta porque algo me diz que não é essa resposta que Matthew quer.

Ele sorri de lado.

— Isso eu percebi Srta. Austen. O que quero saber é por que você discutiu com Jason. Mais especificamente o que você estava fazendo no Twitter uma vez que o uso do celular e redes sociais é proibido neste Acampamento.

Engulo em seco e começo a batucar no braço da poltrona. Malditas regras. Eu me lembro de Manson dizer algo relacionado a redes sociais no primeiro dia e algo como ‘’as regras estão no manual e apesar de vocês não serem obrigados a lê-lo serão punidos se quebrarem alguma delas’’. Aparentemente eu quebrei uma delas e discuti com um Líder. Um Líder babaca, mas um Líder.

— Olha. Primeiro que eu estava usando um dos computadores da Biblioteca que estava cheia de campistas e nenhum deles me alertou sobre redes sociais – começo. – Não tinha nenhum adesivo perto dos computadores que me lembrasse dessa regra e para que isso não aconteça de novo com outro campista, acho que seria interessante pensar em adesivos, bloquear as páginas que não podemos entrar ou sei lá. Segundo que Jason Blood se acha a ultima bolacha do pacote e eu não me aguentei quando ele foi hipócrita falando que não sei quem se acha demais e não é nada quando ele mesmo se acha demais e não passa de um arrogante metido a gostosão. Eu acho que tinha um terceiro, mas não consigo me lembrar.

Matthew sorri para mim o que me faz pensar que apesar da minha explosão de sinceridade eu não estou encrencada.

— Apesar da sua ideia do adesivo ser interessante, acho que não será necessária já que o serviço da internet foi... Meio que cancelado. Mesmo assim, levarei a sugestão para a mesa dos Líderes caso Effy decida liberar o acesso novamente. Sobre sua opinião em relação a Jason, sugiro que a mantenha apenas para você ou compartilhe apenas com amigos em que você confie muito e que pensam de forma semelhante. Ficar dizendo coisas sobre qualquer pessoa neste Acampamento, sobretudo coisas sobre Líderes, geralmente geram problemas, por mais verdadeiras que sejam. Jason pode ser tudo o que você falou como pode não ser, de qualquer forma você o ofendeu numa rede social e muitas pessoas estão cientes disso.

— Inclusive Elizabeth? – murmuro.

— Inclusive Elizabeth – Matthew concorda. – Eu sou da política de dar segundas chances às pessoas, por isso se dependesse de mim eu iria apenas alertá-la sobre o uso da internet e dar algum conselho, como acabei de fazer.

— Mas?

— Mas, como você mesmo disse, Effy está ciente da situação tanto na rede social quanto no Acampamento. A discussão de vocês dois acabou vazando e creio que Jason ficou encarregado de ir até você para resolverem isso. Pela sua cara de surpresa devo acreditar que ele não fez isso. Então nós vamos fazer o seguinte. Eu já alertei você sobre o uso da internet, por isso vou considerar isso seu primeiro alerta. Na próxima vez, que eu espero que não aconteça, não poderá dizer que não estava devidamente informada. Como a informação está se espalhando e como eu acredito que você é mais madura que Jason, lhe darei a sua primeira missão. Você deve ir falar com Jason no jantar de hoje e de forma calma devem colocar um ponto final nesta história.

— Eu posso até tentar fazer isso, mas quem me garante que o Blood não vai ser um babaca e que eu não vou ter que dar um soco no meio do nariz dele?

Matthew sorri.

— Eu e Dylan vamos estar junto para garantir que as coisas não saiam do controle. E você não deveria ficar sabendo da informação que eu vou falar agora, por isso vou contar com a possibilidade de você saber guardar segredos e dizer que Effy já ameaçou Jason e o colocou numa situação bem ruim, por isso acho que a ameaça dela e as consequências serão o suficiente para fazerem Jason andar na linha.

Rio baixinho.

— Vocês realmente a temem, não é? Isso é meio engraçado. Quero dizer, vocês sabem que ela tem estatura mediana e que não deve passar dos cinquenta quilos, certo?

— Nós sabemos – Matt fala sorrindo e se levantando, fazendo sinal para que eu o imite. – E também sabemos do que ela é capaz.

Matthew me acompanha até a porta dizendo que não vai me pressionar. Quando eu achar que estiver pronta para falar com Jason eu vou até meu Líder e juntos nós iremos até o loiro arrogante.

— Infelizmente preciso pressiona-la sobre o prazo. O ideal é que seja resolvido antes do final do jantar para evitar que os boatos aumentem muito a história.

— Tudo bem – falo suspirando. – Essa vai ser minha punição por mexer no Twitter?

Matthew ri enquanto fecha a sua sala.

— Podemos dizer que sim, caso alguém pergunte se eu fiz algo com relação ao seu mau comportamento.

Sorrio e desço com o moreno até o segundo andar, onde eu me separo dele para ir pegar um casaco no meu quarto. Ao encontra-lo vazio, olho para o relógio sobre a porta e percebo que tenho quinze minutos para chegar ao Refeitório antes do horário, por isso desço as escadas correndo, sem me surpreender por não encontrar mais ninguém no Chalé. Por mais que Matthew seja calmo e ache que as pessoas merecem segundas chances, os campistas do Urso, ao contrário do que eu achei que aconteceria, não abusam da boa vontade do Líder e fazem o possível para seguirem as regras.

Fecho a porta principal e tranco-a, pendurando a chave na boca do urso entalhado em madeira que fica ao lado da porta. Apenas a cabeça do urso esculpida da mesma forma que meu pingente e o símbolo do Portão está pendurada na parede de pedra cinza sobre uma placa de ouro com os dizeres Irmandade Urso: Alguns de nós usam a coragem como guia. Outros usam a paciência. E alguns podem usar a formosura. Desço pela rampa e começo a caminhar pelo caminho de cascalho em direção ao Portão das Corujas ou Portão Leste, que não fica muito longe do Portão dos Ursos ou Portão Sudeste.

Mesmo estando quase atrasada, em vez de pegar o caminho da direita quando saio do Chalé dos Ursos, eu pego o caminho da esquerda também conhecido como caminho mais longo pelo simples fato de que eu gosto de caminhar. Avisto o Chalé das Raposas cercado pelo bosque. Estou a alguns passos de virar à direita e seguir em direção ao centro da Vila, com a intenção de pegar a avenida principal e ir reto por ela uma vez que todos os caminhos da Vila começam e terminam na avenida quando, perto do Chalé Principal, ouço vozes sussurrando. Diminuo o passo por curiosidade e me aproximo silenciosamente do local de origem das vozes.

No bosque que separa o Chalé Principal do Chalé das Raposas, conhecido pelas outras Irmandades como Bosque dos Sacrifícios já que a Irmandade de Manson parece uma seita e toda boa seita faz algum tipo de sacrifício, avisto a figura alta e atlética de Dylan Black juntamente com o cabelo cinza e nariz arrebitado de Billie Pirate e, para o meu desagrado, o cabelo comprido e esvoaçante de Sigrid Solbakk. Os três caminham em passos lentos em direção à avenida, mas param na sombra de uma árvore perto do local em que eu estou, de modo que as luzes dos postes não os iluminem.

Sentindo um calafrio percorrer meu corpo, meu cérebro me avisa que tem algo suspeito no ar. Por isso em vez de seguir meu caminho o mais rápido possível para não chegar atrasada, eu me agacho atrás de uma moita florida perto das árvores. A falta de iluminação me favorece tanto quanto favorece o trio suspeito. Sento-me na grama e me encolho tentando virar uma bola, fazendo o mínimo de ruído possível.

—... ela me ligou hoje – Dylan estava dizendo. – Disse que Effy estava em Londres há apenas algumas horas, perguntou se eu sabia por que. Falou que alguém invadiu a casa e por causa da história toda da Família, acham que tem algo haver com ela, é muita coincidência ou algo assim. Ela parecia bem nervosa.

— Por quê? – Sigrid pergunta. – Acredito que não seja a primeira vez que invadem o Palácio de Kensington.

Arregalo os olhos. A família de Dylan mora no Palácio de Kensington, em Londres? Lembro-me vagamente de uma das minhas aulas de história em que o professor disse algo sobre o Palácio de Kensington ter pertencido à família real inglesa até que algo aconteceu e eles acabaram fornecendo a propriedade a uma família em sinal de gratidão. Ou algo assim. A informação de que a família em questão é a família de Dylan me deixa surpresa e penso se era dele que o site do Acampamento falava no slogan ‘’famílias importantes do mundo inteiro confiam a nós seus filhos durante as férias de verão’’. Eu suspeitava de que era sobre Elizabeth que eles falavam já que pelo o que Stuart me disse ela é filha do Primeiro Ministro do Canadá. Bem, talvez seja sobre ambos. Ao que tudo indica, eles são mesmo o casal de ouro.

Por entre os galhos e folhas do arbusto eu consigo vê-los. Dylan está de frente para mim, enquanto Billie e Sigrid conseguiriam me ver apenas se virassem suas cabeças. Tem pouca luz para que eu possa afirmar com certeza, mas eu acho que Sigrid parece preocupada enquanto Dylan está entre o preocupado e o desconfiando. Billie joga o cabelo sobre um dos ombros e passa os olhos sobre o meu arbusto antes de retornar para o rosto do loiro, sua expressão neutra.

— Ela não quis me dizer. Só perguntou de forma insistente onde Effy está e não acreditou nenhuma vez quando eu disse que não sei. Falou que eu não estaria a protegendo se soubesse o que ela fez contra a minha família e pediu que eu ligue quando ela voltar para o Acampamento – Dylan fala. – Provavelmente ela acha que Effy invadiu nossa casa. Minha família nunca gostou dela por causa do preconceito com os Schneider. Enfim. Eu não tenho noticias da Effy desde ontem pela manhã. Sigrid?

— Ela me ligou hoje pela manhã pedindo que eu voltasse imediatamente. Parecia preocupada, meio aérea. Disse que o tio tinha ido visita-la e que precisava de mim porque não sabe quando vai voltar. Recebeu uma missão ou algo assim – Sigrid dá de ombros. – Para ser sincera, não parecia que era ela, entendem? Mas eu preferi não confrontar e apenas obedecer caso alguém me ligue de novo.

Franzo o ceio confusa. Como assim Elizabeth liga para Sigrid, mas ao mesmo tempo não é Elizabeth? E quem mais pode ligar para ela querendo saber se a norueguesa está no Acampamento se não Effy já que, aparentemente, ela é a única que está fora e ligou para Sigrid intimando que essa viesse para Toronto? Quem mais pode ser esse alguém?

— Certeza de que não parecia ela? – Billie pergunta com a testa franzida e sinto que serei representada. – Porque ela falou com Jason e comigo no final da manhã e pareceu ser ela. A outra não tem humor.

— Estão me dizendo que em menos de 12 horas duas versões diferentes apareceram? – Dylan fala num tom sério. – Ela está em conflito?

— Aparentemente sim – Sigrid fala levemente preocupada.

— Você disse que o tio foi visita-la – Billie fala apontando para a outra garota. – Ele pode ter reiniciado ela.

— Mas isso não faria ela agir estranho. Ela seria a outra até ter terminado a missão, o que ainda não aconteceu porque de acordo com o telefonema que eu recebi, se ela tivesse terminado estaria aqui.

— Talvez ela esteja vindo – Billie diz, mas não parece segura.

— Acredito que não – Dylan fala pensativo. – Ontem de manhã ela estava na Califórnia, hoje em Londres. Ela não teria ido para lá se já tivesse terminado a missão, teria voltado para o Acampamento. E ao que tudo indica Effy voltou a ser ela antes de chegar a Londres.

Seguro minha cabeça com as mãos tentando entender a conversa de louco que se desenrola na minha frente, pensado que talvez o trio saiba que estou aqui e está me pregando uma peça com todos esses elas e outras. Talvez Elizabeth tenha uma irmã gêmea do mal que seja a outra e as duas têm a voz muito parecida, o que causa uma tremenda confusão nos amigos.

— Se a missão dela for invadir a casa dos Black – Dylan fala num tom de voz hesitante – Effy ligará em breve ou talvez esteja aqui pela manhã. Se não for, minha família tem que parar de uma vez por todas de tentar colocar a culpa nela toda vez que algo ruim acontece.

Novamente Billie joga os cabelos sobre os ombros e passa os olhos pela minha moita, o que me faz pensar que ela sabe de algo que não está contando. Dylan provavelmente chega à mesma conclusão porque percorre com os olhos o caminho que os olhos da californiana fizeram, mas para a minha desgraça, Dylan o faz um pouco mais baixo, pousando os olhos na minha moita. Arregalo os olhos e por instinto inclino-me para trás, fazendo com que a luz de um dos postes ilumine meu pingente de Urso. Prendo a respiração.

Dylan pisca calmamente, seus olhos azuis ainda na minha moita. Então ele respira fundo e endireita a postura antes de falar:

— Pela manhã saberemos o que aconteceu. Se realmente estiver ocorrendo um conflito entre Effy e Enamor temos que fazer de tudo para auxilia-la, mesmo que isso faça ela saber que sabíamos sobre a... As experiências do tio esse tempo todo.

Billie bufa.

— E se ao descobrir, Effy ative Enamor e automaticamente o modo assassino? Você, Dylan Black, sabe melhor que ninguém o que Effy fez, quantas pessoas matou porque você está num nível mais elevado que o nosso. Mais perto, mais informações. Sigrid e eu sabemos do que ela é capaz. Ela é minha amiga, mas a outra não é. O que me garante que quando eu contar e explicar a situação para uma a outra não apareça com uma faca contra meu pescoço?

Dylan suspira fundo e passa a mão no cabelo loiro enquanto meus olhos se arregalam mais a cada segundo. Elizabeth Manson é uma assassina?

— Nada garante Pirate. Mas como você disse, Effy é sua amiga. E acima de tudo ela é sua Líder, não só neste Acampamento. Nós nos mantivemos calados por tempo demais vendo Vicent matá-la aos poucos, destruí-la. Se para salvar Elizabeth eu tiver que morrer, eu não me importo. Não me importo contanto que ela saiba quem é o que fez.

— Mesmo se a verdade destruí-la? – Billie pergunta.

Dylan sorri triste.

— A verdade vai destruí-la, minha cara Billie. O que importa é quão forte e preparada ela vai estar para se reerguer. E é por essa parte que nós três, como amigos dela, somos responsáveis.

Provavelmente os três estavam falando com código para evitar que caso tivesse alguém por perto a pessoa não fosse capaz de entender. Porém, quando Billie se exasperou e colocou os pingos nos is, Dylan chutou o balde e falou com todas as letras que de fato Mavis tem motivos para estar surtando. Em minha opinião, ouvindo está conversa, acho até que Bittencourt não está surtando o bastante.

— Antes de encerrarmos, preciso saber se você estão comigo – Dylan diz.

Sem um segundo de hesitação, Billie e Sigrid fecham a mão direita e levam o punho para que este pouse sobre o peito esquerdo, mais precisamente sobre o coração. Então, em uníssimo, elas dizem:

— Loyalität gegenüber der Krähe.No que Dylan assente, imita o gesto e repete as palavras que fazem com que um calafrio ruim percorra meu corpo e eu mexa meus lábios sem emitir som algum dizendo ‘’eles são de fato uma seita’’. Billie e Sigrid estão prestes a seguir o caminho em direção a avenida quando Dylan diz:- Se alguém fora nós presentes aqui e agora, no bosque do sacrifício, ficar sabendo desta conversa, eu saberei dizer perfeitamente quem de nós é o traidor. E cuidarei pessoalmente para que o bosque carregue seu apelido por um motivo. Então ele lançou um olhar para a minha moita, deu as costas às duas garotas e seguiu seu caminho, deixando bem claro que a ameaça é para mim. Billie e Sigrid trocaram um rápido olhar de questionamento antes de olharem em volta e seguirem os passos do loiro. E eu fiquei estática. Mesmo com a minha bunda doendo, mesmo com meus músculos reclamando do tempo imóvel, eu não consegui me mexer. Meus olhos permaneceram arregalados e eu permaneci imóvel muito tempo após o sino do Refeitório ter sido tocado.

Eu estava enganada. Matthew estava enganado. Aparentemente Elizabeth Manson não é apenas uma garota de estatura mediana de mais ou menos cinquenta quilos. Matthew e os outros não sabem do que ela é capaz. E de acordo com Dylan, nem ela sabe. 


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Notas finais do capítulo

Desenho Dominique: https://i.pinimg.com/originals/98/02/be/9802bed242f7865e96335cd18201c003.jpg

Refugio Coruja: https://data.whicdn.com/images/179112504/large.jpg

Mackenzie: https://i.pinimg.com/originals/bc/ae/c2/bcaec2522be6fed9c6d18a09e664fe5f.jpg

Eliajh: http://vignette1.wikia.nocookie.net/bookclub/images/0/06/Douglas-booth-photo-122.jpg/revision/latest?cb=20151002213209

Dawn (de novo): http://media2.s-nbcnews.com/j/msnbc/components/video/151109/tdy_klg_park_151109.nbcnews-ux-1080-600.jpg

Acho q é isso, mas eu sempre esqueço algo ahsuash

Enfim, espero q tenham gostado ♥
Comentem, vcs andam muito sumidos ultimamente (olha só quem ta falando ahsuahs). Falem o q vcs tão achando dos filmes da Marvel ou oq estão pensando em comer!

Até.
XOXO,
Tia Mad.