As Ruínas escrita por The Horror Guy


Capítulo 3
They


Notas iniciais do capítulo

As coisas começam a ficar... estranhas...



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Era com fervor que Raven abria o pacote de Doritos e aproximava o nariz dentro do saco, adorava o cheiro daquele salgadinho.

—Hum... Quer? -Ofereceu a Abigail sentada ao seu lado na ponta do escadão.
—Não, obrigada. Fico com meu sanduíche.
—Você quem sabe.

Abigail desembrulhava de um papel alumínio um sanduíche caseiro de pão de forma repleto de salada, tomate e tudo o que tivesse direito desde que não houvesse carne. Ela e sua mania "Natureba" que nunca mudava. As duas se preparavam para comer observando a paisagem e a vista lá embaixo.

—Nossa, Abby. Isso aqui é alto hein?
—Uhum. -Respondia ela já de boca cheia.
—Você conseguiu sinal no celular?
—Não.
—Que fim de mundo, eu também não. Já tava doida para postar as fotos.

Ao fundo, Alex ainda com o braço apoiado na pilastra, ouvia o barulho do pacote de Doritos se abrindo, inclinando o pescoço sem conseguir ver Raven comendo, já ficando com uma certa vontade. As duas meninas pareciam rir e conversar discretamente de boca cheia. Já eram quase três horas da tarde e a luz do sol começava a dar indícios de um tom alaranjado. Abigail comia distraída olhando para baixo, quando algo chamou sua atenção:

—Hum.. -Cutucou Raven jogando a cabeça para frente.
—O quê?
—Olha..

As duas olharam para baixo, vendo bem pequena ao longe como um inseto, uma mulher. Era gordinha e usava um vestido de tecido bem fino e leve. Estava descalça e carregando um balde na cabeça, ela emergia de dentro da floresta adentrando a clareira. Raven lambia a ponta dos dedos já com um tom laranja do tempero forte do salgadinho:

—Eu não sabia que tinha mais gente por aqui.
—Nem eu. -Abigail levantou o braço, dando um aceno para a moça.
—Acho que ela não está te vendo.
—Deixa eu tentar uma coisa. -Abigail pousou o sanduíche no colo. -Olá! -Gritou ainda acenando.

Seu grito ecoou forte. A mulher lá embaixo parou seus passos, levantou a cabeça fitando a garota lá em cima que a acenava sorrindo.

—Nossa, ela não vai responder? -Raven comentou.

Naquele instante, o balde que a mulher carregava sobre cabeça se virou despencando no chão, fazendo com que todo o conteúdo dentro, uma espécie de grãos brancos como areia se espalhassem por todo o solo.

—Acho que você assustou ela.
—Olá?! -Abby ainda tentava se comunicar, simpática.

A gorducha parecia realmente assustada, dando meia volta sem nem responder ao cumprimento, correndo feito louca de volta à floresta desaparecendo entre os arbustos deixando o balde caído para trás. A Mulher fugiu como o Diabo que foge da cruz.

—Credo, que mal educada. -Abby abaixou o braço já cansado de acenar, desapontada.
—O que foi isso? -Raven fez uma careta estranhando a situação.
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Foi com muita pressa que Amber sacudiu os pés querendo sentir o chão enquanto estava ainda suspensa no topo do buraco.

—Me tira daqui.. -Ela dizia num tom seco mostrando pressa fitando Alex parado em pé ao lado do poço. O mocinho se apressou agarrando-a pela cintura, puxando-a para si. -Obrigada, obrigada!

Amber era posta no chão segurando a mão machucada contra o peito ainda expressando dor e incômodo. Alex se abaixou, ele descia a mão pela cintura da menina levando a corda até seus tornozelos, ela levantou os pés saindo de dentro da corda aflita, tentando esconder o sangue já seco que havia escorrido por entre seu pulso descendo até ante-braço.

—Obrigada, querido. -Ela disse passando por ele com pressa indo em direção a barraca. Ele fitava a garota se afastando sem entender muito bem o porque de sua atitude apressada, quando Stephen lhe chamou a atenção:

—Hey.. ahm... qual seu nome mesmo? -Ele perguntava ofegante já com o rosto vermelho, exausto.
—Me chama de Alex.
—Ok... -Pausa para respirar. -Alex... quer fazer a gentileza de ajudar o.. o colega aqui Henrich a subir a Meredith? Estou muito cansado.
—Sem problema.
—Obrigado. -Stephen se afastou da manivela em passos desesperados limpando o suor da testa.

Um celular tocou. Era um toque agudo insuportável como um alarme de despertador. Era um ruído alto e de dar nos nervos. Stephen caminhava se virando discretamente para trás, de onde aparentemente vinha o som. Estranhou, desde que ninguém conseguira sinal desde a trilha na floresta. Henrich se afastou da manivela, curvando-se diante de sua mochila bem no canto próxima ao pequeno muro coberto pelos arbustos, retirando o celular do bolso lateral atendendo em Alemão. Stephen parou, encarando Alex que já chegava ao lado da manivela:

—Hey!

O Mocinho parou se virando para ele:

—Sim?
—Como ele tem sinal?
—É via Satélite.
—Ahm... -Stephen retornou seu caminho dando as costas ao dois, indo em direção à barraca de onde saíam gemidos de dor de Amber. Adentrou a mesma vendo a garota de joelhos, de costas para ele segurando uma toalhinha branca.

—O que você está fazendo?
—Fazendo um curativo... eu me machuquei.
—Deixa eu ver. -Ele se ajoelhou ao lado dela. Amber esticou a mão esquerda lhe mostrando o ferimento. Sua palma da mão estava com resíduos de sangue que já secara. O machucado estava inchado, havia um círculo rosado em volta de um furinho.
—Está ardendo para caramba.
—Nossa, está um pouco feio. Parece que tem um caroço.
—É, está inchando... é normal.

Stephen aproximou o rosto percebendo no furinho, que parecia preenchido de sangue seco, uma pontinha branca como leite no meio da pequena espetada da mão da garota.

—O que é isso? -Ele apontou para a mesma.
—Acho que é a ceiva. Eu me espetei sem querer num galho eu acho. -Amber espremia o rosto fazendo careta. -Acha que é venenosa?
—Não sei, acho que não.
—Tomara que não seja. Mas está ardendo demais.
—Se você não estiver se sentindo bem, podemos sair e te levar em algum lugar.
—Não. Eu estou bem. Vou limpar, jogar um remedinho para não infeccionar e enfaixar.
—Tudo bem então. Deve ter sido só um espinho.
—É, também acho.
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A Barraca azul já estava montada na outra ponta diagonal, ficando de frente para a barraca amarela. Há uns dois metros à esquerda da manivela, estava Meredith sentada com as pernas cruzadas apoiando um caderno no colo. Ela rabiscava com um lápis reproduzindo um dos desenhos que vira lá embaixo, o suposto "Sol". Totalmente concentrada sem se importar com o movimento à sua volta. Stephen, sentado de frente a ela tomando uma certa distância, colocava entre os dois algumas pedras que ele achou no cantinho perto de uma das moitas. Eram dos blocos da construção, estavam partidos e despedaçados, mas ainda sim grandes o bastante para o que ele planejava fazer, colocando-os um ao lado do outro, formando um pequeno círculo. Amber vinha ao fundo saindo de dentro da barraca portando sua garrafa d'água, agora com a mão enfaixada. Stephen não tirava os olhos de Meredith, que neste ponto focada em seu desenho nem lembrava da existência do rapaz. Ele só retirou os olhos dela quando percebeu que Amber se aproximava raspando o tênis sobre o solo areoso indo se sentar ao lado de Meredith. Ele abaixou a cabeça, fingindo nem estar interessado em nada além das pedras. Amber se sentou ao lado da amiga de frente a ele, tomando cuidado para não encostar a mão machucada no chão, fitando Stephen:

—O que você está fazendo?
—Eu? -Ele perguntou levando um rápido olhar a Amber.
—É.
—Não vamos fazer a fogueira?
—Acho que sim. Vocês esqueceram os Marshmallows no Hotel, viu?
—Eita.
—É, mas eu trouxe. E trouxe a frigideira também.
—Então, estou fazendo um círculo aqui com as pedras, pra formar tipo um murinho sabe?
—Aham.
—Aí depois é só colocar o carvão no meio, acender e pronto.
—Ótimo.
—Hey, onde esses caras vão dormir?

Amber olhou em volta parecendo não entender muito bem:

—Como assim?
—Ué, na barraca que a gente trouxe só cabem quatro pessoas. E na sua?
—Cabem duas.
—Então, alguém vai ficar sobrando.
—Hum... Hey, Alex! -Amber o chamou. Ele estava sentado na beira do escadão tentando puxar papo com Raven e Abigail. O Moço se virou sorrindo:
—Fala!
—Onde você vai dormir, querido?
—No saco de dormir!
—Ah, okey então! -Amber tornou a conversar baixinho com Stephen. -Ainda bem, eu já estava preocupada achando que teria que me apertar com o Henrich na barraca. Já pensou? Que horror, dormir se sentindo entalada.
—Enalada como naquela vez da privada? -Stephen estava prestes a rir.
—Seu besta! -Ela sorria se lembrando do dia em que ficara entalada num vaso sanitário durante a festa de Ano-novo na faculdade. -Aquilo foi culpa sua!
—Minha?
—É, vou te dar uma dica. Lugar onde tem mulher, abaixe a tampa!
—Ué, mas você não viu que tava aberta?
—E você acha que uma mulher como eu, que já tinha tomado zilhões de latinhas de cerveja, com a bexiga a ponto de explodir segurando a vontade até chegar no banheiro como se eu estivesse impedindo um filho de sair, ia mesmo prestar atenção se a tampa estava abaixada? Só tinha garotas no dormitório!
—Hey, eu estava lá e não sou uma garota!
—Mas você não conta! Jesus! -Ela gargalhava.
—Cara, que hilário. Quando fui ver, senhorita Amber estava lá gritando socorro com as pernas pra cima entalada no vaso hahahahaha...
—Olha, eu não vou nem comentar.... -Ela tentava parar de rir, mas sem sucesso. -Mas você ainda vai me pagar por isso!
—Eu ainda tenho a foto!
—Maldito!... Xiiu não deixa o Henrich escutar isso... -Disse ela vendo o Alemão se aproximando.

Stephen calou a boca segurando o riso, fazendo um gesto como se passasse um zíper nos lábios.

—Feliz Ano novo, Amber... -O Garoto ainda ria baixinho, quando ela lhe lançou um tapinha no ombro.
—A pior parte é que eu ainda sim mijei...
—Como assim?
—Enquanto eu estava lá entalada gritando e ninguém vinha me socorrer, eu mesmo assim continuei mijando hahahahahaha...

Stephen foi para trás numa gargalhada profunda, imaginando a situação. Pousou a mão na barriga tentando parar as contrações absurdas que vinham com a risada, ficando sem ar.

—O que é engraçado? -Henrich surgiu por trás do garoto que só faltava rolar no chão. Amber ficou sem graça tampando a boca:
—Nada... coisa besta.

O Alemão deu a volta na mini-rodinha em que os três se encontravam, indo ver o que Meredith tanto desenhava enquanto Stephen tentava se recuperar, tornando a ficar sentado. Henrich se sentiu constrangido, se vendo como um estranho no ninho que chegara para atrapalhar um bom momento de dois amigos. Se conteve em puxar assunto, levando o olhar até o caderno de Meredith, vendo o desenho perfeito e cheio de detalhes que ela fazia.

—Você... talento. -Ele disse sem graça.
—O quê? -A Menina levantou a cabeça o fitando, interrompendo seu desenho.
—Você.. talento.. -Ele apontou para o caderno.
—Ah, obrigada. -Ela sorriu toda simpática. -Eu adoro desenhar.
—Ela tem uma memória de elefante. -Amber elogiava a amiga.
—Oh.. bom! -Henrich sorria concordando com a cabeça, sem entender picadinhos. Não sabia o que a expressão "Memória de elefante" significava, se era uma doença ou habilidade, então apenas concordou fingindo entender.
—E você, tem algum talento? -Meredith questionou.
—Eu? -O Alemão apontava para si mesmo.
—É.
—Ah, não sei. Só... -Ele fez um gesto com os punhos, mostrando pose de Boxeador.
—Ah, você luta? -Meredith mostrou entusiasmo.
—Ja ja.. -Ele respondia "Sim" "Sim" em alemão, fazendo sinal positivo.
—Muito legal!

Na outra ponta, as meninas tentavam uma aproximação com Alex, para que ele não se sentisse jogado. O Mocinho parecia bem entrosado na conversa, ainda que mostrasse um certo ar de superioridade, como se tentasse impressionar Raven e Abigail, que de bobas não tinham nada, e jamais davam atenção demais para caras quaisquer. Ainda mais um desconhecido que veio do outro lado do Oceano. Ele contava uma história sobre o dia em que saltou da pára-quedas, já era a terceira aventura incrível e cheia de adrenalina que o rapaz contava se gabando, achando que as duas meninas nunca fizeram nada tão legal assim:

—Quando você sente o vento batendo no seu rosto. E aí de repente, parece que você está na beirada do planeta, como se por um triz você não saiu da órbita da terra. Você consegue ver tudo, é uma visão incrível. Não tem nada melhor. E pra falar a verdade, é a queda que conta. Porque no momento em que o pára-quedas abre... é até meio brochante.
—Hum... legal... -Raven tentava não tirar sarro fingindo espanto. Abby por outro lado, conhecendo bem a amiga já lia todos os pensamentos dela baseado nas expressões, não vendo a hora do rapaz se afastar delas para que elas zombassem dele. O Mais absurdo era o jeito em que ele tocou no assunto de salto de pára-quedas, já contando sua história presumindo que as duas eram completamente leigas no assunto. Nem ao menos as perguntou se já tinham saltado, porque se tivesse perguntado, saberia que Raven salta desde os 16 anos com o pai, e quase tomou rumo profissional. Optou arqueologia por pura paixão. Inclusive, o primeiro salto de Abigail foi por insistência da amiga, que a levou arrastada. Abby tinha pavor, mas acabou cedendo, prometendo a si mesma que jamais faria de novo. Até encenou um desmaio no avião tentando enganar Raven para que as duas desistissem, mas não teve jeito.

—E você? Não tem vontade de saltar? -Alex perguntava já com uma expressão convencida, esperando que a menina desse uma resposta covarde do tipo "Tenho medo". Raven puxou os lábios, pensou numa resposta por um segundo e mandou:
—Não. Estou bem aqui no chão. -Respondeu de modo seco para que o assunto fosse cortado.
—Alexandre! -A Voz com extremo Sotaque de Henrich chamou ao fundo. O rapaz se levantou:
—Já volto, meninas.
—Vai lá... -Abigail dava um tchauzinho.

Assim que ele se retirou, as duas se olharam rindo, Raven então abaixou a cabeça inconformada:

—Homem é um bicho estranho...
—Meu Deus, eu não via a hora dele calar a boca.
—Senhor Jesus, a gente falou cachoeira e ele: "Já fiz escalada" bla bla bla. A gente falou de animais, e ele "Eu tive um Hottweiler" e bla bla bla... a gente falou de altura, e "Eu saltei de pára-quedas" bla bla bla... meu Deus... que cara chato, exibido.
—Horrível. Você viu o jeito como ele olhava as horas no relógio? Exibindo aquela porcaria de ouro?
—Nossa...nem me fale. Onde a Amber acha esse povo?
—No fundo das garrafas meu amor.
—Não sei quem era mais dourado, ele com esse bronzeamento ridículo ou o relógio.
—Falando em bronzeamento, quando ele tava aqui sentado eu olhei na canela dele. Estava mais branca que um fantasma! Tipo, a perna estava bronzeada, beleza. Mas da canela para baixo não. Acho que ele passou bronzeador Spray.
—Jesus! -Raven gargalhou. -Isso explica.
—Ridículo.
—Quando a gente voltar para casa vamos chamá-lo de "Alexandre - O Grande... babaca".
—Boa!
—Ai ai... eu estava olhando pra esse lugar e pensando, como vai ser incrível depois que ele for descoberto oficialmente. Sabe, depois vou estar vendo documentários no National Geographic e dizer "Haha eu já enchi a cara ali!".
—Eu sei. Isso é muito legal. Mas será que vão tirar todas essas plantas que estão vem volta? Porque isso seria um crime.
—É mesmo. E acho que vão. Sempre fazem isso.
—Incrível pensar que eu estou sentada num lugar que daqui a alguns meses, ou semanas pode estar sendo cobrado até 80 dólares a visitação.
—Não é?! Isso é insano. Isso se alguém achar.
—Claro que acha! Se o colega bobão da Meredith achou no Google Earth, qualquer um encontra essa coisa.
—Inclusive eles... -Disse Raven apontando para baixo. Seu rosto de repente ficou sério. Abby virou o rosto na direção que a amiga apontava vendo um homem surgir da mata e entrar na clareira, ele andava devagar olhando diretamente para elas.
—Pare de apontar.
—Desculpe. -Raven abaixou o braço.

As duas continuaram observando-o curiosas. Ele vestia roupas velhas e brancas já amareladas. Parecia um indígena mas não dava para dizer ao certo, por conta dos objetos que estavam em sua cintura, sustentados por um tipo de coldre.

—O que ele está carregando?... -Raven espremia os olhos curiosa.
—Eu não faço ideia.

De repente, um cavalgar ecoou levemente. As duas se entre olharam por um segundo, voltando seus olhares para a clareira, de onde um cavalo marrom surgia em alta velocidade, o bicho vinha bufando pelas narinas freneticamente sacudindo o pescoço para os lados, assustado, como se estivesse se recusando a chegar perto, não importando o quanto o homem que ele carregava o mandasse. O cavalo freava sua corrida com as patas de modo preocupante.

—O que está acontecendo? -Abby comentou um tanto tensa. Raven não dizia um pio.

O Homem passou uma perna para o lado, saltando de cima do cavalo. O Animal se empinou, ficando nas patas traseiras ainda bufando, dando meia volta desaparecendo às pressas em sua corrida para fora da clareira. O Sujeito, se erguendo depois do salto, possuía vestes parecidas com a do primeiro rapaz, e de seu coldre ele tirou o que as meninas puderam ter certeza de que era um facão. Abigail puxou o ar fazendo expressão de espanto, se levantando cutucando Raven enquanto se levantava dando um passinho para trás:

—Ai... vem... vem...

Raven não hesitou muito, ainda com os olhos mirados nos dois sujeitos, ela se levantou andando para trás totalmente desconfiada.

—Ai, gente quem são eles? -Ela se questionava em voz alta.
—Não sei, vem... -Abby a puxava pelo braço. -Galera! -Exclamou acenando para o resto do grupo na rodinha ali no canto esquerdo. Todos lançaram seu olhar a ela, ainda portanto os sorrisos da conversa aparentemente agradável que estavam tendo. -Vem aqui! -Ela mostrou preocupação.
—O que foi? -Meredith abaixou seu caderno, colocando-o no chão ameaçando se levantar.


Abigail apontou para trás de si com o polegar com expressão bem séria:

—Melhor virem dar uma olhada nisso...

Respectivamente, a turma se pôs a levantar se questionando com o olhar o que poderia ter acontecido para que a garota tão palhaça e divertida que era Abby, ter subitamente mostrado seriedade. Ela e Raven deram as mãos retornando à beira do escadão sob os últimos minutos antes do pôr do sol, paradas esperando o grupo as alcançarem. Os murmúrios dos cinco colegas que se aproximavam eram ouvidos pelas duas, que preocupadas com o que viam, nem davam atenção ao monte de palavras que saiam das bocas dos gringos e dos outros. Raven apertou forte a mão da amiga ao notarem mais um cavalo emergindo da floresta. O Animal veio do canto direito da visão delas, cruzando a clareira em disparada cavalgando pelas bordas, não se aproximando do templo. O Homem sobre ele saltou de cima do animal ainda em movimento, rolando estrategicamente no chão, já se levantando normalmente. Óbvio que aquele movimento magistral era algo que o sujeito com certeza já tinha feito muitas vezes, e isso talvez era o que seria mais preocupante se não fosse pelo simples detalhe: O Arco e flecha em suas costas.

—Ai meu deus... -Raven demonstrava imensa tensão. -Acha que vieram nos roubar?
—Não sei. Mas seja o que for, não parece coisa boa.
—O que foi, meninas? -Stephen se aproximava com os outros. Não houve resposta, apenas o indicador de Abby que o apontou o que acontecia lá embaixo. O Rapaz parou sem dizer uma palavra.

Os três homens se alinharam em formação de triângulo, com suas cabeças levantadas fitando o grupo no topo das ruínas que na visão deles, encobriam o pôr do sol que estava a caminho. O Do meio, que pulara do primeiro cavalo, apontou para o da direita que com certeza era seu colega, lhe dando algum tipo de comando aos berros numa língua desconhecida.

—O que isso? -Meredith perguntou aflita quando seus olhos notaram as armas que os sujeitos carregavam. Ninguém a respondeu. O Moço que recebera o comando, gritou de volta para os companheiros. Parecia que ele concordara com eles. Foi quando este, passou a correr em velocidade invejável para o canto direito da clareira. A Turma, incrédula o acompanhava com os olhos, vendo-o contornar o templo correndo portando o que parecia ser um revólver. Logo, o da ponta esquerda que carregava o arco e flecha, fez o mesmo indo na direção oposta.

—Eu estou ficando assustado. -Stephen agarrou o braço de Meredith, que gentilmente saiu de perto do rapaz dando uma desculpa:
—Espere aí, deixa eu ver se eles estão subindo pelo templo!

Ela se virou deixando Stephen para trás, correndo até a lateral que ficava à sua esquerda.

—Eu te acompanho! -O Grego vociferou correndo atrás da menina.

O Grupo ainda na beira dos degraus de pedra, avistava um grupo de mulheres com vestidos bem parecidos com a que Raven e Abby viram anteriormente, do qual não mencionaram nada a respeito. As duas se olharam espantas, com Raven sussurrando no ouvido de Abby:

—Será que aquela mulher se sentiu ofendida?
—Ai meu Deus...

Elas portavam cestas, carregando-as no topo das cabeças, se sentando na beira da clareira. Uma das mulheres, vinha de mãos dadas com uma criança, um menino.

—Eu... eu não entende. -O Alemão dizia com seu péssimo inglês coçando a cabeça.
—Pessoal! -Meredith berrou do canto. Ela nem precisou chamar duas vezes, a turma já estava correndo em sua direção com olhares espantados. Abigail estava trêmula, seu coração batia contra o peito. Ela pensava que era tudo culpa dela, que de alguma forma pudesse ter ofendido aquela mulher, e que agora a mesma chamara reforços. Suas mãos tremiam, e Raven ainda de mãos dadas com ela, sentia a tensão na amiga conforme sua mão ficava mais gelada e molhada com o suor frio. Os cinco se aglomeraram atrás de Meredith e Alex, olhando por cima dos ombros deles. A vista era preocupante e inusitada. Haviam pelo menos 10 pessoas ali naquele canto, andando num grupinho indo em direção à frente do templo. Caminhavam nas bordas da clareira, enquanto o sujeito de arco e flecha os observava sem se mexer. Parecia uma verdadeira estátua.

—Será que invadimos alguma coisa sagrada? -Stephen questionou, já um pouco trêmulo.
—Não fala bobagem. -Meredith o respondeu. -Se isso fosse sagrado para eles, ainda frequentariam aqui. Esse lugar está abandonado. Ninguém pisa aqui há séculos talvez.
—Ah é e como você sabe? -Stephen mostrou um tom de voz grosso. A Loirinha se virou para ele tendo repulsa de sua grosseria.
—Gente, calma. -Amber tentou apaziguar a situação. -Não comecem a brigar agora por favor! A Gente ainda não sabe do que se trata!
—Talvez só estejam bravos por termos entrado sem permissão, deve ser isso. -Stephen continuava, desta vez num tom manso como um cachorrinho de rabo entre as pernas. -Vamos nos desculpar e dar o fora.

Meredith é quem foi grossa nesse momento:

—Ah é mesmo? Então vai lá. Desce o escadão e fala "Olá" pro cara que está com um revólver!
—Parem! -Amber levantou as mãos balançando-as frente ao rosto. -Parem com a palhaçada vocês dois! Eles não estão se aproximando. Vamos tentar manter a calma. -Ela deu as costas ao grupo, se afastando caminhando em direção a outra ponta, sendo seguida por Henrich.

E foi naquele começo de pôr do sol, que o templo era cercado por homens armados, que como guardas permaneciam a uma certa distância. Podia-se notar que as outras pessoas eram famílias, todos com vestes bem parecidas. Meredith sabia que eram uma tribo, disso ela não tinha dúvidas. Seja o que for o motivo da guarda, ela e seus amigos tinham algo a ver com isso.

—Oh meu Deus.. -Amber tampava a boca com uma das mãos, ao notar o tanto de membros da tal tribo que já estavam daquele lado. Aquele povo aparecia aos montes emergindo dos arbustos. Mais e mais homens armados com facões e outras parafernalhas corriam em volta das ruínas, contornando-a até finalmente acharem uma posição, e quando o faziam, permaneciam parados encarando o grupo do topo. A aglomeração na borda da clareira em frente ao escadão, já contava com mais de 20. Homens, mulheres e crianças que se sentavam em panos como num piquenique. Não expressavam nenhuma preocupação em seus rostos, tirando os homens é claro que se prontificavam firmes perante o templo.

Stephen andava de um lado para o outro bufando, ofegante e desconfiado:

—O que faremos? Descemos? Damos o fora? Ficamos aqui?!
—Stephen, se acalme! -Meredith lhe dava voz de comando. A Leonina feroz, diante da situação tensa se mostrava um verdadeiro general.
—Me acalmar? Parece que importunamos uma reunião de um culto esquisito da floresta, com caras armados até os dentes encarando a gente e você me diz para ter calma?!!
—Sim! Se acalme! Eles não estão se aproximando!
—E isso por acaso é motivo para não fazer alguma coisa? -O rapaz mostrava espanto como Meredith nunca tinha visto antes. Sempre soube que Stephen era um pouco frouxo e que se desesperava com coisas mínimas. Mas ainda sim, a questão na mente da cachinhos dourados era "Devo me desesperar?". Ainda que seu corpo dissesse para que ela gritasse e entrasse em pânico, Meredith mantinha a pose de líder que achava que era até que uma resolução lhe chegasse à mente.

Naquele instante, ninguém mais falava nada. O Grupo se dispersava indo observar as outras pontas, só para ter mais espanto ao perceber mais membros da tribo que chegavam, surgindo Deus sabe de onde. Abigail se mantinha calada remoendo um certo arrependimento. Nem sabiam ainda o que exatamente se passava ou o porque, mas ela já imaginava tudo indo para o brejo, já se culpando a ponto de chorar, pronta para ouvir sermões da turma. Sua mente era corroída com todos os palavrões que usariam para xingá-la ou todos os gritos que seriam dirigidos a ela. Nunca tinha visto tantos homens armados antes em sua vida. E não saber ao certo como tudo havia chegado a isso era ainda mais assustador. O Silêncio no topo das ruínas só era quebrado pelo som dos tênis que raspavam sobre o solo, onde todos mudavam de direções se dirigindo as outras pontas, só para ter o vislumbre de que estavam completamente cercados.

 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Por favor, comente o que achou! Já descobriu o segredo das ruínas? Hahaha. Até a próxima galera!



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