—Chapeuzinho vermelho?- Olhei para Isaac, que exibia um sorriso vitorioso.
Brody estava no chão de tanto rir.
—Combina com a minha.-
—Ridículo. Você está claramente se superando, menino do freezer.- Joguei a fantasia na cama. -Isso foi ideia do Danny?-
—Ele não sabe que eu sou um lobisomem.-
—Do Peter?-
—Ele tá na cidade?- Perguntou dando de ombros.
—Você me paga, Lahey!- Esbravejei dando socos aleatórios no mais alto enquanto ele apenas ria de mim.
—Prova aí-
—Isaac...-
—Sério. Prova. Não entendo nada de vestidos, mas acho que esse vai ficar bem em você.
Show. É um vestido de menininha do campo, com tudo o que uma menininha do campo tem direito. Saia rodada, corpete e tudo mais. Babados, rendas...
Entrei no banheiro e coloquei o vestido.
Apertado.
Saí do banheiro e os olhos de Isaac varreram meu corpo enquanto ele soltava um assobio.
—Tá...-
—Apertado.- Falei
—Perfeito.- Disse levantando e pegando a capa. -O tamanho era esse, mesmo.-
—Você vai pro congelador, menino.-
—E você vem comigo.-
Bufei enquanto colocava meias 7/8 e cinta liga pretas, que apareciam, dado ao tamanho do vestido. Calcei saltos altos pretos. Fiz duas tranças RIDÍCULAS nos cabelos curtos e passei um batom vermelho aveludado matte.
—Como estou?- Perguntei em frente ao espelho enquanto encarava Isaac.
—Sexy.- Respondeu enquanto engolia em seco. Não esperava essa reação de Isaac. Acho que ele se arrependeu de ter comprado essa fantasia.
—Quanto é o programa?- Brody perguntou ao meu lado enquanto "brincava" com as minhas tranças (que ele não conseguia tocar).
Ok, estou parecendo uma prostituta.
—Vamos logo com isso- Falei puxando Isaac para a sala. -Aliás, como entrou no meu apartamento?-
—Sua tranca é uma merda.- Respondeu óbvio.
—Você veio aqui outra noite?- Perguntei pegando meu celular.
—Não... Loren, mais alguém esteve no seu apartamento?-
—Não.- Menti.
Saímos e Brody nos acompanhou sem que Isaac percebesse.
As ruas estavam decoradas com abóboras e as mais diversas "assombrações".
—Quer dizer que lobisomens existem mesmo?- Brody perguntou ao meu lado enquanto Isaac falava sobre a festa que iríamos.
—Uhum.- Resmunguei concordando com Isaac e Brody.
—Acha que eu devo falar pra Allison?- Falou parando no meio da rua.
—Quê?-
—Que eu gosto dela.-
—Uhum!- Repeti.
—Isso não é resposta!-
—Meu filho, essa é uma dica que uma garota com experiência. Eu já vivi, morri e vivi de novo. Fala logo com ela.-
—O Scott vai me matar.-
—O Scott não tem mais nada a ver com ela. É simples. O fim de um relacionamento é o fim.-
—Mas eles são tipo...-
—O casal épico de um filme? Rony e Hermione? Querido, eu sempre shippei a Hermione com o Harry, veja como é a vida.-
—Mas eu não sou o Harry Potter.- Falou óbvio.
—Nem ela é a Hermione. Então se você tem uma história em branco, escreva.- Dei um tapinha em suas costas.
—Ok, chegamos.- Disse e senti uma imensa vontade de agredi-lo.
—Não me diga.- Rolei os olhos. Era um caos. Uma festa de Halloween de fraternidade. Muita gente, muita bebida, som no último volume e garotas semi-nuas (Inclusive eu).
—Loren!- Gritou Danny de dentro da casa. Ele estava vestido de presidente Kennedy (Depois da bala).
—Danny!!!- Gritei de volta "animada". -Socorro- sussurrei pra Isaac, que me empurrou pra dentro daquele rebuliço.
Talvez não fosse uma má ideia.
Então eu decidi que pela primeira vez na vida eu iria encher a cara.
Um cara passou com uma bandeja repleta com os mais diversos tipos de bebidas coloridas de Instagram e eu peguei um copo com uma bebida transparente que ia gradualmente ficando vermelha ao fundo. O negócio aqui é fino. Mixologia molecular.
—Opa, opa...- Isaac puxou o copo da minha mão. -Isso aqui é vodka. Você não vai beber isso, né?-
—Por que não?- Dei de ombros. -É uma festa. Todo mundo tá bebendo.-
—Mas isso aqui é muito forte. Você não é de beber, Loren.-
—Você virou meu pai agora? Relaxa, Isaac. Uns drinks não vão me matar... De novo!- Exclamei rindo alto. Puxei o copo antes que ele pudesse protestar e me enfiei no meio de uma multidão.
Virei o líquido de gosto péssimo. Era horrível, amargo e queimava. Tossi e quase vomitei aquilo. Um calor subiu à minha cabeça e as batidas da música pareciam mais altas.
Estava tocando Backstreet Boys, Everybody.
E eu me juntei a uns caras que ainda lembravam a coreografia, assim como eu.
Dançamos no meio da grande sala de estar da República estudantil. Os caras eram mais velhos, óbvio. Logo fizemos amizade e nossas danças se estenderam por horas. Jeff, Tony, Daniel e eu éramos o centro das atenções e isso me exigiu mais bebida. Alguns rostos familiares estavam nos observando dançar e eu nem liguei.
Depois paramos um pouco para beber mais e jogar.
—Cada resposta errada é um shot de tequila, chapeuzinho.- Jeff disse tacando um beijo em minha bochecha.
—Isso é válido para todos nós, meninos! Não abusem da minha embriaguez.- Disse.
Jogamos e eu perdi duas vezes.
E foi ótimo.
—Então, você estuda na Beacon High?-
—Uhum- Assenti.
—E joga Lacross? Meu Deus, você é minha musa inspiradora! Estou no segundo período de medicina.-
—Temos um Grey's Anatomy aqui? A escola é um saco, Daniel. Eu estou lá porque... Eu nem lembro porquê eu estou lá!- Disse rindo. -Mas sério, é um saco. Todos e todos e... todos os dias. Aula, aula, Stiles...- Stiles?
—Stiles?- Repetiu confuso. -O que é isso?-
Stiles estava com Malia. Ou melhor, vamos corrigir. Stiles estava beijando a Malia.
—Nada.- Respondi. Me levantei do canto que estávamos no chão, quase caindo, e fomos à cozinha.
—Olha, você já tá bem bêbada. Tem certeza que vai beber mais? Whisky? Você tá misturando muita bebida forte.- Jeff advertiu e eu ri.
—Depois da sua te-qui-la... Nada, nada, nadinha vai me fazer ficar pior.- Disse virando o copo. -Isso aqui tá fraco demais.- Olhei para a janela aberta da cozinha. Tinha uma bela vista do jardim e da rua. E eu tive a impressão de estar sendo observada.
Óbvio que eu estava bêbada.
Começou a tocar "Girls gone wild" e eu corri imediatamente para a sala. Comecei a dançar como nunca antes. Mal me reconheci quando desci até o chão com aquele vestido. Quando subi novamente todos já olhavam pra mim. Era o meu showzinho de piranha bêbada e os caras estavam adorando. Subi numa mesinha de centro incrivelmente equilibrada em meus saltos altos enquanto cantava o refrão da minha música favorita da Madonna.

It's got me singin'
Hey-ey-ey
Hey-ey-ey
Like a girl gone wild
A good girl gone wild

Eu sabia que o vestido era curto de mais e que minha bunda já deveria ser cartão postal no outro dia de tanto que já tinha aparecido que nem ligava mais em rebolar bêbadassa naquela mesa.
Eles já gritavam meu nome (e outras coisas também) e eu estava me sentindo a personificação da depravação e adorando toda a atenção que estava recebendo, quando fui puxada por braços fortes de cima da mesa. Me debati em vão e fui levada para fora da casa.
—Já chega!- Ouvi Isaac. - Eu te observei a noite toda e você definitivamente passou dos limites naquela mesa!- Gritou.
Dei uma gargalhada enquanto o observava nervoso.
—Você não manda em mim, Isaac.- Falei me virando para entrar de novo na casa, quando ele me puxou e tropecei, quase caindo. -Me solta!- Gritei.
—O que é que tá acontecendo?- Danny apareceu.
—Esse empata-foda não quer me deixar voltar pra festa. O papai não gostou de eu ter ficado bêbada.- Respondi com a voz embargada praticamente encostada em Isaac, que me segurava como se sua vida dependesse disso.
—Ela tá muito bêbada, Danny. Sério.- Falou me observando.
—Eu tô vendo. Tira ela daqui. Agora!-
—Até tu? Brutus!- Falei. -Eu não entendo vocês! Queriam que eu viesse à festa, eu vim! Estava muito bem! Comemorando! Não é o que todo mundo faz? Huh?- Me debati. -Eu tô bem!- Bem tonta.
—Vamos pra casa.- Falou Isaac. -Eu vou levar ela para o apartamento e depois eu te ligo pra avisar.-
E me puxou dali.
Fechei a cara quando ele me obrigou a andar pela rua. Toda aquela música alta deixada pra trás e lá estava eu. Na merda. Tudo porque, segundo Isaac, eu estava "bêbada".
—Não pode ficar com raiva de mim por te ajudar.- Falou. Virei a cara e continuei meu caminho, tropeçando. Isaac de repente parou e olhou ao redor.
—Tem alguém nos seguindo.- Disse.
—Sim, é a sua chatisse. Ela é enooorrme.- Debochei e ouvi um "shh" de Lahey, o que me deixou irritada.
—Realmente tem alguém nos seguindo.- Falou. -Fica atrás de mim, Loren.-
Nem isso. Só deu tempo de ver um vulto pulando em cima de Isaac. Era só o que me faltava.
Isaac lutou bravamente, mas ele não foi páreo. Não para um alfa.
Deixando Isaac num canto do asfalto, percebi que o objetivo do lobisomem descontrolado não era Isaac. Ele era só um empecilho. Era eu.
Engoli em seco quando os olhos conhecidos caíram sobre mim. Ele parecia muito mais selvagem, descontrolado...
Tentei me mover sem chamar atenção, mas era óbvio que aquilo não iria adiantar.
—Derek?- O chamei. Ele não pareceu ouvir. Estava fora de si e isso era aparente. -Derek?- O chamei e ele rosnou pra mim.
Comecei a dar passos para trás e tropecei no salto alto.
Parabéns, Loren! Hoje você se superou.
De costas no asfalto, fiquei em uma posição um tanto constrangedora. Eu posso estar bêbada, não estou louca. Nossa primeira vez daquele jeito e não era por causa de sexo. Ele estava me prendendo embaixo de seu corpo e era claro como água que ele ia estraçalhar a minha cara, se não fosse Stiles  dando com uma chave de fenda poderosíssima na cabeça dele. Foi quando minha cabeça pesou e eu apaguei.
Acordei com uma pontada no antebraço é uma enorme dor de cabeça.
Fiz uma careta e abri meus olhos. Estava numa maca em uma sala pequena.
—Foi só a hipoglicemia. Sua amiga vai ficar bem.- Ouvi um homem falar. Olhei para a minha direita e um Isaac PUTO estava encostado na parede.
—Isaac?- O chamei. -O Derek, ele...-
—Tentou te matar? É.-
—Que merda foi aquela?-
—Ninguém sabe. Eu falei com o Peter e ele disse que só falava com você, mas aí você estava apagada por conta da bebida.-
—Se você está esperando que eu me desculpe, eu não vou.-
—Você ainda está bêbada, então eu vou ignorar a maneira como você tá me tratando. Vamos pra casa.- Falou me jogando um casaco. Um casaco cujo eu sei muito bem quem é o dono.
—Stiles.- Falei involuntariamente e Isaac bufou pegando o celular e enviando uma mensagem de texto para alguém.
—Ele fez o favor de nos trazer aqui de carro.-
Levantei vestindo o casaco e senti meu tornozelo doer (muito). Isaac me pegou no colo com uma carranca e saímos do quarto. Stiles nos esperava do lado de fora, calado e sem Malia.
Eu ainda segurava uma bolsa de soro com glicose tomando cuidado para não soltar o catetér.
Seguimos calados até o meu apartamento. Stiles nos deixou lá e foi embora.
O clima no elevador era terrivelmente tenso entre nós dois, e apesar de estar tão perto fisicamente de Isaac, nunca me senti tão distante. Havia algo em estar bêbada que me fazia me sentir melhor. Acho que na verdade era porque eu não sentia muita coisa.
Isaac abriu a porta e me deixou no sofá. Então passou algo em torno de uns cinco minutos andando para um lado e para outro, até que desistiu e se virou pra mim.
—Isso tem que acabar. Você não pode continuar assim. Eu soube, desde que falei com você no treinamento de ontem. Eu soube que tinha algo errado.-
—Como não teria?- Bufei.
—Ah, porque você morreu? Você voltou, Loren! Voltou e está viva! Não pode agir alheia ao seu redor. Está sofrendo? Você tem amigos!-
—Amigos? Eu fui substituída.-
—Só porque tem uma novata na escola? Uma nova garota no time de lacrosse? A Loren de antigamente estaria feliz de ver outra garota no time.-
—A Loren de antigamente está morta!- Gritei. -Eu não sei quem eu sou!- Me levantei. -Eu não sou a mesma de antes. Eu não me sinto a mesma. Eu não sinto mais nada de bom. Meus amigos parecem estar à quilômetros de mim. Red? Dembe? Eles devem me abominar. Derek Hale tentou me matar.- Ri alto. -Você me viu bêbada na festa? Dançando que nem uma vadia? Aquele foi o meu melhor momento desde que voltei.- A essa altura eu estava chorando. Ótimo, Loren. Passa vergonha na frente do seu colega de time. -Vai embora, Isaac. Por favor.- Sussurrei.
—Loren...-
—Vai, me deixa sozinha.- Pedi arrancando o cateter e jogando a bolsa de soro num canto da sala.
—Não posso deixar você sozinha. Derek está à solta e não sabemos o que está acontecendo com ele.- Sua voz saiu fraca, quase falha.
Suspirei e me virei, andando para o quarto com dificuldade.

Nota da autora: Você quer cachaça @?