Extraordinária escrita por Lyn Black


Capítulo 1
O ordinário estava fora de questão.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/709133/chapter/1

 

Extraordinária

 

Rose era uma pessoa aparentemente aberta, mas na verdade fechada até demais. Era um enfeite de mesa que sempre ameaça quebrar de vez, mas se reorganiza, de forma nova é claro, logo que se despedaça. Ela era um abraço caloroso e um olhar cortante. Diz-se que pessoas assim são paradoxais. A garota talvez fosse um tanto disso, mas ela nunca se contentaria por ser um mero paradoxo. Tristonha e alegre, sociável e antissocial, esquecível e memorável.

Rose era uma pessoa que ou fazia bem feito ou nem começava. É claro que havia casos onde o seu clássico ”oito ou oitenta” não prevalecia, mas sua inclinação a respostas de suas opções era notável. Era óbvio para ela que de jeito nenhum acataria ordens, diga-se de passagem, de seus colegas. Ou Weasley lidera, ou o conflito está semeado. Um quadro levemente problemático, mas Rose é assim e não pensa em mudar tão cedo.

E as pessoas? Rose é educada, simpática e simplesmente adorável. Agora, pergunte se conta seus segredos para alguém? No vocabulário de Weasley, não existe essa tal melhor amiga confidente. Sua mãe é o mais próximo disso, uma das únicas pessoas que permanece incondicional em sua vida até o dado momento, mas Rose diz que não é burra. Ela sabe que essas coisinhas que se contam aos sussurros são armas.

“Por que diabos você daria uma arma carregada com tudo de mais fatal à você para alguém?”.

É simples para ela. Informação é poder, e a garota está determinada a tomar muito cuidado com tudo que escuta e toma ciência. Ao menos tenta. Não que taxe sentimentos como bobagens, ela apenas nunca teve muita fé na bondade humana, afinal a Weasley nunca a viu em verdadeira e espontânea ação, com algumas exceções, é claro, mas exceções não são suficientes para a garota.

Se eu penso que Rose Weasley usa as pessoas?

A própria se prontifica a responder. Sim, ela usa. Algum pecado nisso? Mesmo se houvesse a menina não está nem aí. A vida funciona assim, quanto mais cedo entender melhor, diria. Para Rose, o mais indicado é dar uma simplificada nos problemas. Ela sempre dá uma chance para novas amizades, isso se não sabe de nada extremamente comprometedor sobre esse alguém. Se esse tal foi um amigo ruim, Rose talvez o descarte. Porém, vista utilidade, ora, por que não? As pessoas razoáveis que tem em seu meio são inúteis em trabalhos, então ela simplesmente faz o que lhe dará menos dores de cabeça.

Certo, ela é amiga de Olga, mas está fora de questão fazer algo escolar ou mesmo que envolva comprometimento com a outra. Elas riem, e tudo o mais, se dão bem, saem, mas Rose sabe que aquilo não dará certo, então não insiste num provável erro. Olga é boa com ela e por isso mantem a amizade, ela considera Olga bastante. Não trabalharia com a garota, mas gosta de sua companhia e opiniões. É simples, mas nem todos compartilham da mesma opinião.

Agora olhe só, ela é colega de Kim, não que a garota saiba disso. E isso não é a dita manipulação. Rose não vai dar espaço para alguém que na sua humilde opinião foi deplorável com ela. Enumerou seus defeitos (mesmo se lhe conhecesse bem, ela nunca teria esse direito) e quase lhe causou um dano que ela considerou como sério. Weasley não se esquece das coisas. Acredite, a primogênita de Hermione não se esquece mesmo. Entretanto, Kim é séria quando se trata de trabalhos. E colabora com a sua organização, mesmo que na maior parte das vezes a contragosto. Kim não é tão inútil assim, Rose até considera a menina, elas são obrigadas a conviverem, a dividirem o mesmo dormitório, então que seja uma convivência agradável. Está feito. Ela às vezes chama a menina para fazer trabalhos com ela. Dá certo. É útil. E a outra ainda crê em uma amizade. Companhia, utilidade. Aquele elo se baseia nisso, e Rose não sente remorsos, ela tem certeza que isso é o melhor a se fazer.

Ela é bem crítica com os outros e consigo mesma. Talvez seja por isso que a garota não dê abertura profunda para ninguém. Mentira. Weasley apenas não confia nesses elos levianos e descartáveis que aparecem pela frente. Faz bem, os precavidos diriam.

Outra coisa que abomina é que alguém simplesmente acredite tê-la, possuí-la. Ninguém a tem, ela é dela mesma. E isso não se restringe a relacionamentos amorosos, afinal desde quando Rose tem que sentar com o mesmo grupo todo santo dia? Sinceramente, acha isso chato, enjoativo. A garota não gosta de pessoas grudentas, por assim dizer. A sua família mais próxima não se incluí nesse aspecto, é claro, ela conviveu com eles desde sempre e aprendeu a lidar com os detalhes e manias. Entretanto, quanto aos outros? Pode parecer grosseiro, mas ela diria que não tem cordão umbilical ligando-a à nenhuma daquelas pessoas.

Talvez hajam vários que digam que ela é complicada, mas não se preocupe, porque Rose Weasley levará como um elogio. A menina não quer ser fácil ou previsível ou desvendável. Se então a categorizam assim, que seja, não se importa. Complicada, difícil de lidar, a jovem pode se incomodar levemente, mas realmente não deseja se preocupar com isso.

É possível que algum dia tenha dado a impressão de se importar com o que os outros pensam a seu respeito, mas Rose não poderia ligar menos. Ela é influenciada todo santo dia a ser insegura, menos confiante,  menos determinada, a ter menos amor-próprio e, é claro, menos incisiva em relação a seus objetivos. Ela não deveria ser tão obstinada, as pessoas se assustam com tanta segurança, se incomodam por verem alguém como ela, confiante e que não se abala diante de todos os impropérios que lhe são dirigidos.

Só que os esforços dessas pessoas não funcionam. Rose Weasley entendeu o jogo. Eles não querem que ela chegue ao topo de forma alguma, porque sabem que depois que ela própria se considerar como alguém, será próximo do impossível tirá-la de lá. Então, todo dia se reúnem e comentam, xingam e escancaram o quão inseguros são. Como ela disse uma vez, eles são tão fracos que só conseguem se sentir melhores, anestesiados quanto às suas próprias dores, quando veem alguém em estado pior, beirando o colapso psicológico.

A grande questão é que Rose não quer ser mais um alguém, a feiticeira detesta estar na categoria do ordinário, medíocre, comum. Ela anseia por saber cada vez mais, conhecimento é ar para a garota, é algo tão substancial quanto o próprio alimento que possibilita o seu respirar. Weasley já se cansou das mesmas cores, das mesmas pessoas e do jeito semelhante como estas agem diante dela.

Sair do padrão, desviar do imposto pela sociedade, ela não é rebeldia, é revolução. Manifestar-se e se expressar, defender as suas lutas, adentrar em algum lugar onde ela não seja a filha da primeira-ministra e sim, com toda a pompa e elegância, Rose Weasley, pois isso haveria de ter algum significado grande demais até para a sua compreensão.  

Extraordinária. Talvez ela até agradeça caso a agracie com esse título, é provável que diante dessas quatorze letras, a garota abra aquele sorriso verdadeiro, atípico da Weasley.

Essa é a realidade, ela acha que todos deveriam entender que ser ordinária não estava em opção, à venda para a sua excêntrica pessoa. Ela não podia, nem queria. Na realidade, Rose Wealsey gosta de ser assim, ela deseja com todo o seu ser sair da norma-padrão.

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!