Murta Elizabeth Warren. Uma corvina que cursa o terceiro ano de Hogwarts.

Não era bonita. Não era popular. Ninguém gostava dela, ninguém a notava.

Murta costumava chorar no banheiro feminino do primeiro andar. Ela andava lentamente, com os olhos baixos, encarando os livros que abraçava.

Ela tinha talento, aquela menina. Ela tinha ido para a Corvinal por um motivo. 

Amava aprender, e ansiava por isso. Via nos livros seu refúgio. Fugia da realidade, correndo para os braços das páginas amareladas de um romance inglês, ou de uma tragédia russa. 

Os personagens dos livros confortavam Murta, que retribuía, lendo o que eles sentiam, ouvindo-os, e entendendo-os.

Murta estava com vários livros trouxas em suas mãos naquele dia. De Jane Austen e Dickens a Dostoiévski e Tolstói. 

A garota atravessava os corredores que mais pareciam labirintos de Hogwarts. Mas ela os conhecia bem. Estes corredores já lhe eram familiares, pois eles viam suas lágrimas sendo derramadas no caminho do banheiro feminino daquele andar. 

Naquele dia não fora diferente. As lágrimas escorriam e pingavam nas capas velhas dos livros que segurava, como se fossem sua única salvação, o que era, de fato. 

Murta entra no banheiro. Ela coloca os livros no chão e escolhe um. As palavras dramáticas a envolviam e confortavam, e as lágrimas pingavam naquelas páginas, deixando marcas nas folhas. 

Ela não conseguia impedir. 

Aliás, ela não queria. Talvez alguém, no futuro, fosse observar aquelas páginas, ler aquelas frases, observar aquele conjunto de palavras até fazerem sentido, até conseguirem ver a beleza exótica e complexa delas. 

Murta está lendo, e um barulho começa a incomodá-la. Ela acha que é apenas mais uma daquelas garotas vaidosas que todo mundo conhece e que a ignoram. 

Ela vê a água inundando o banheiro. As pontas da capa preta e azul da Corvinal começam a ficar molhadas, e os sapatos engraxados de Murta também. 

Mas ela não temia a água. Ela segue o barulho que ouvia, tentando saber o que era. 

O barulho vai ficando mais alto, e Murta vira o rosto na direção que o som vinha. 

E a última coisa que Murta viu foi um par de olhos amarelos assustadores.