P.V. Alexander

 Entrei na minha sala sem acreditar. Respirei fundo uma, duas, três, quatro vezes. Contei até 10 uma 3 vezes e quando percebi que nada ajudaria a me acalmar eu joguei um vaso de porcelana na parede, depois passei o braço pela mesa e tudo que tinha em cima dela foi parar no chão. Tamanho era meu ódio que nem me importei.

—Hey – ouvi Allan entrar dentro da sala, mas eu não estava olhando pra ele nesse momento eu tava socando a mesa de canto de vidro – Alex!!

 Ele atravessou a sala rapidamente enquanto eu distribuía socos repetidamente na mesa. No momento em que ele me puxou pela cintura a mesa rachou e quebrou na minha mão. Ele me empurrou pra longe onde eu cai sentado num grande sofá do outro lado da sala.

—Meu Deus! – exclamou ele afoito – O que foi que te deu Alexander?

 Eu estava com a respiração acelerada. Minha sala estava destruída, meu computador tava jogado no chão junto com papeis e outras coisas espalhadas, o vaso espatifado perto da janela e a mesa quebrada com vidro espalhado sobre o chão. Allan observou cada canto do lugar também e depois me olhou assustado. Pegou uma cadeira e arrastou pra perto de mim se sentando e me encarando curioso.

—Pode me dizer o que aconteceu?

  Eu fui passar as mãos no cabelo e percebi que minha mão estava sangrando. Não tive forças para tomar uma atitude.

—A Beatrice voltou! – Murmurei. Allan ficou com o rosto congelado absorvendo a informação, depois de alguns minutos ele balançou a cabeça em negação.

—Beatrice? Beatrice Hagen? – eu assenti. – A nossa Bia? De volta na cidade... Tem certeza?

—Quem derá eu não tivesse – disse segurando minha mão contra o peito com força pra estancar o sangramento. – E ela não só voltou para a cidade, como veio assumir a presidência do pai dela!

 Allan se levantou de uma vez fazendo a cadeira cair pra trás.

—Ta brincando? – ele riu admirado – Fala sério, ela ta aqui agora? Vou lá falar com ela.

 Olhei incrédulo pro meu melhor amigo. Eu estava na merda pela volta dela e ele estava feliz pelo mesmo motivo. Revirei os olhos sem acreditar.

—Ah cara desculpa, mas eu sinto falta dela e vou atrás dela na primeira oportunidade. Só pra deixar claro... – ele levantou a cadeira e se sentou de novo me fitando – E ai, vai fazer o que agora?

—Não sei. O que você acha, suicídio por afogamento ou me jogar de uma ponte?

—Cara – ele, pois a mão no meu ombro solidário – Tenta uma bala no meio da sua testa, é mais rápido e você nem vai sentir! – riu.

—Vou pensar sobre isso – bufei. – Agora é serio, eu não sei o que fazer...

—Para – ele me cortou – Tava na cara que isso ia acontecer, pelo menos pra mim. Sabia que ela voltaria ou você iria acabar indo atrás dela de novo. Vocês terminaram de um jeito muito estranho, vocês tem muita coisa pra resolver ainda, coisas que vocês fingem que não aconteceu, mas sabem tanto quanto eu que aconteceu. Então pense nisso como uma oportunidade de mudar as coisas.

—Não tem nada pra mudar, não da pra conversar com ela e eu não quero aproximação nenhuma com aquela garota. Quero distancia dela! – Me lembrei do modo como ela chegou hoje na empresa e me arrepiei só de lembrar – Ela ta o puro inferno!

—Qual é, ela ta muito gata? – Allan perguntou brincalhão.

 Gata? Haha! Vou repetir ela tava o inferno!

 Quando a revi pela primeira vez na festa de sábado pensei que não fosse suportar. Ela estava tão diferente, uma mulher. E eu ainda a tinha na minha memoria como uma adolescente rebelde que ela era, o cabelo dela na época era mais curto nos ombros e ela por mais que já tivesse um corpo bonito era esguia. Mas naquele sábado, quando a vi descendo as escadas naquele vestido escuro e marcante com os cabelos claros e grandes agora, me deixou fora do ar. E hoje então? Quando ela entrou daquele jeito na sala de reuniões, toda sexy, toda autoritária eu quis jogar ela contra parede e comer ela ali mesmo. E agora eu estava tão inconformado por ela ainda me causar essas reações que destruí minha sala, eu devia odiá-la com todas as minhas forças e não ficar pensando nessas coisas e reparando na quantidade de curvas que ela tinha adquirido nesse tempo. Ela precisava ir embora o mais rápido possível antes que eu cometesse mesmo erro do passado!

Afundei as mãos no rosto e devia estar todo sujo de sangue! Eu simplesmente não estava suportando a ideia de ter que encontra-la todo dia!

—AHHHH! – gritei de raiva e ouvi Allan gargalhar.

—Você esta tão ferrado cara! – disse se divertindo.

 Levantei-me xingando aquele idiota que estava se divertindo as minhas custas e fui até o banheiro lavar a minha mão machucada. Quando voltei Allan tinha arranjado uma caixa de primeiros socorros, e eu enfaixei minha mão. Já tinha uma faxineira também arrumando toda a bagunça quando minha secretaria entrou na sala.

 Observou a bagunça por um segundo e deu de ombros.

—O senhor foi convocado para comparecer lá em baixo. Reunião... – disse ela.

 Bufei.

—De novo? – perguntei a interrompendo.

—Bom, os funcionários estão preocupados já que os presidentes estão afastados, então seria uma boa se você e a senhorita Hagen se apresentarem e acalmassem eles. – Helena disse – Produtividade Alexander, eles trabalharão melhor se, se sentirem seguros!

Bufei de novo irritado por ter que ter outro encontro com aquela demônia nesse mesmo dia.

—Certo, eu já to indo – avisei e ela assentiu saindo da sala.

 Assim que Helena saiu da sala eu mesmo senti meu rosto desmoronar. Allan passou por mim dando tapinhas encorajadores no meu ombro.

—Vamos cara, acaba logo com isso – disse ele.

 Sai da minha sala semi destruída e entrei no elevador escutando as piadinhas escrotas de Allan. Se ele não parasse com essa merda por hoje eu ia machucar minha outra mão quebrando a cara dele. E ele riu quando disse isso em voz alta.

 Conheço Allan e a família dele desde a minha infância, estudamos juntos e somos melhores amigos desde a adolescência. Ele conhece a Beatrice porque ela também estudou com a gente, pois é. Ele conhece cada detalhe maldito do nosso passado.

 Saímos do elevador direto pro refeitório da empresa o espaço não muito grande estava abarrotado por todos os funcionários cochichando sobre: demissões, redução de salario, mudança de cargo. Ai deus eram tanto os rumores desnecessários. Tinha um pequeno palanque improvisado onde eu subi com Allan do meu lado me apoiando silenciosamente e Helena subiu também. Beatrice apareceu 5 minutos depois e todos os meus pensamentos coerentes foram por agua a baixo. Eu queria soca a cara dela de tanta raiva que eu sentia pelo fato dela ainda mexer comigo, como podia isso?  Ela não tinha esse direito, não tinha!

 Ela veio desfilando com a secretaria do seu pai atrás dela, até onde eu estava, com um rosto determinado. Ignorava os olhares e lançavas alguns comentários maldosos para aqueles que ficavam encarando ela no caminho. Eu teria rido se ainda não tivesse irritado.

 Quando ela subiu e se posicionou do meu lado quase teve um ataque ao ver Allan! Ele sorriu pra ela.

—Allan? – disse surpresa - Caramba! Não acredito! – abriu um sorriso enorme. Ele a puxou pra um abraço.

—Eu é que não acredito. Só acontecendo uma desgraça dessas pra você aparecer de novo – ela revirou os olhos se soltando dele.

—O que você esta fazendo aqui?

—Bia, eu trabalho aqui – disse rindo e ela arregalou os olhos.

—Desde quando?

—Desde que você foi embora – ele disse como se fosse obvio e o sorriso dela foi sumindo. Ela não gostava de tocar nesse assunto – Mas isso não importa, cara faz 2 anos que não te vejo e você esta ótima. Precisamos parar pra conversar a qualquer hora!

—Obrigada – ela disse tímida – Claro, vamos sim quando você quiser.

 Nessa hora graças a Deus Helena pegou o microfone e começou a falar porque eu já tava quase indo embora dessa merda de lugar. Allan só fode com a minha vida. Ele não podia esperar eu sair pra fazer essa ceninha? Puta merda!

—Bom dia pessoal. – Helena começou a dizer suavemente - Estou aqui para dar algumas noticias breves sobre o rumo da empresa e acabar com alguns rumores. Nossos presidentes estão temporariamente afastados do cargo. O senhor Christopher Hagen teve um problema de saúde e esta internado sem data prevista para sua saída e Michael Vaulse esta com alguns problemas pessoais que precisam de sua atenção em tempo integral. Sendo assim eles não compareceram na empresa e nem nos evento relacionados a ela. – Helena tomou folego pra dizer quando algumas pessoas começaram a murmurar – Mas gente, calma! Isso não quer dizer que a empresa vai fechar ou fazer demissões nem nada disso, os presidentes tomaram suas decisões quanto a isso antes mesmo dessa noticia chegar até vocês – então ela se virou um pouco encarando a mim e a Beatrice – Quero que vocês conheçam a representante de Christopher Hagen, Beatrice Hagen a filha dele. Ela ficara por um tempo cuidando e tomando as decisões pelo seu pai assim como Alexander Vaulse, que já conhecemos, pois ele já trabalha conosco. Ele também vai representar seu pai por tempo indeterminado! – Então de repente tinha muitos olhos curiosos em nos dois e me permiti olhar pra Beatrice. Estranhamente ela já estava me olhando e eu me senti perdido por um instante. Ela fitou minha mão enfaixada e ergueu uma sobrancelha pra mim. Dei de ombros. Eu não ia explicar pra ela que quase quebrei minha mão por causa dela. – Agora não precisam mais se preocupar, tudo ira continuar como antes. A empresa vai continuar sendo comando pelos Vaulse e Hagen e tudo vai ficar bem. Agora podem voltar ao trabalho e qualquer duvida e problemas podem tratar comigo mesmo!

 Respirei aliviado quando aquela pressão de olhares tinha acabado. Fiquei por um instante observando os milhares de safados, sem vergonha nenhuma, que se aproximaram pra cumprimentar Beatrice olhando pra ela como se ela fosse um pedaço de carne na vitrine. E ela é claro estava só sorrisos pra eles...

 Eu serrei os punhos e antes mesmo que alguém viesse falar comigo eu já estava longe dali. Tinha acabado de decidir que o melhor para o fim desse meu maldito dia ia ser quebrar o que tinha sobrado da minha sala!