Sacrifício escrita por Mrs Moon


Capítulo 10
Sapatinho Rosa - Parte 2


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo ficou enorme, esse momento é tão tocante que mesmo sem poder não parava de escrever. Eu gostaria de finalizar essa etapa da história aqui. Mas a última cena me fez chorar, então, vamos respirar e guardar um pouco para o próximo capítulo.
Não tenho beta-reader, então se alguém se voluntariar ficaria muito grata.



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Pela primeira vez em meses, Kimberly dormiu um sono profundo, pesado e sem sonhos. Somente a escuridão envolvia sua mente enquanto o corpo repousava. Despertou sozinha no quarto do hospital.  Um pouco atordoada não conseguia lembrar-se de onde estava. Sentiu o corpo dolorido e imediatamente as lembranças do parto e dos últimos meses voltaram.

— Nasceu – murmurou tocando o ventre vazio.

Junto a criança o espírito da Garça também sumiu e sentiu-se só pela primeira vez em muito tempo. Olhou para os lados e não viu a mãe. Não se lembrava do rosto da filha, todos os detalhes do parto estavam confusos em sua mente.

Tentou se levantar e esbarrou em um copo de água do lado da cama, segundos depois uma jovem enfermeira entrou no quarto.

— Calma moça, não pode se levantar sozinha.  Acabou de acordar?

— Sim... – murmurou Kimberly sentando-se. – Onde está a minha mãe?

Olhando o prontuário a enfermeira sorriu novamente e respondeu:

— Acabou de sair. Precisou buscar alguns documentos que faltaram para o seu cadastro e algumas roupas para passar a noite.

— Quanto tempo eu dormi?

— Doze horas.

— Nossa!

— Não se preocupe é normal. O primeiro parto não é fácil e fiquei sabendo que você foi muito corajosa.

— Não me lembro de você – respondeu Kimberly confusa com a animação da enfermeira.

— Meu plantão começou agora. Aí! Me desculpe, eu nem me apresentei, eu sou a enfermeira Alice. Como esta se sentindo?

— Bem, mas eu gostaria de ir ao banheiro.

— Claro, venha eu te ajudo. O médico deve passar no quarto daqui a pouco.

Enquanto conversava, Alice ajudou Kimberly a ir ao banheiro e acomodou-a novamente na cama e verificou sua pressão e sinais vitais.

— Como esta se sentindo agora? Alguma dor?

— Melhor, gostaria de um pouco de água.

— Um segundo - disse servindo um copo de água para a garota e logo depois o médico entrou no quarto.

— Que bom vê-la acordada Kimberly! – aproximando-se perguntou: - Como se sente?

— Bem.

— Enfermeira Alice? – indagou o médico olhando a enfermeira.

— Ela foi ao banheiro normalmente e seus sinais vitais estão normais.

— Que ótimo. Uma refeição quente e um bom banho irão fazê-la sentir-se bem melhor. Sua mãe ligou agora a pouco, ela está presa no congestionamento. Houve um acidente na Avenida 24.

— Oh! – murmurou a garota.

— Não se preocupe querida, enquanto isso eu cuidarei de você – disse Alice sorrindo.

— Ótimo, eu vou deixa-las sozinhas agora. Qualquer coisa poderá me chamar é só apertar a campainha perto da cama.

— Ok, obrigada doutor.

O médico saiu e Kimberly olhou para a jovem enfermeira a sua frente. A garota devia ser só um pouco mais velha que ela e irradiava animação. Enquanto isso, Kim só queria ficar quieta no vazioque seria sua vida agora.

— O jantar será servido em uma hora e você vai se sentir melhor. – vendo a expressão tristonha da garota ela ficou confusa. Levantando-se de um pulo ela completou.

— Já sei o que pode animá-la, eu volto em um segundo fique quietinha aí na cama! – com essas palavras a garota desapareceu.

Kimberly afundou a cabeça no travesseiro, o tagarelar constante da enfermeira dava-lhe dor de cabeça. Sabia que estava com fome, mas teria que esperar. Queria tanto que sua mãe chegasse e lhe contasse onde estava a filha. Doze horas era muito tempo, será que ela já estaria na Casa Verde? Será que ela era perfeita? A Garça estaria com ela?

Estava tão absorta em seus pensamentos que não notou quando a enfermeira entrou silenciosamente no quarto.

— Olha quem veio ver a mamãe!

Imediatamente, sentou-se na cama, nos braços da enfermeira estava o bebê embrulhado em uma manta rosa. Incapaz de se mover, Kim ficou olhando a filha aproximando-se da cama.

— Como ficou tanto tempo dormindo, nem teve a chance de vê-la direito não é?

Kimberly engoliu em seco e assentiu com a cabeça. Sem esperar o convite a enfermeira entregou-lhe o bebê. Instintivamente abriu os braços para segura-la.

— Com calma e apoie a cabecinha.

Muda ela admirou o rosto da neném adormecida. A pele da menina era branca como a sua, os olhos estavam fechado e a boquinha estava aberta no sono. Um chumaço de cabelos castanhos enrolava-se na cabecinha. Ela era absolutamente perfeita. Sem conseguir se conter ela aninhou a menina nos braços e sentiu seu perfume envolve-la. Não sabia identificar a mistura de aromas, mas jamais esqueceria o calor e o cheiro da criança em seus braços.

— Ela é muito linda. Como você estava dormindo, ela já foi alimentada.  Mais tarde já pode começar a amamentar.

Kimberly assentiu distraída.

— Ela já tem um nome?

Olhando para a enfermeira ela respondeu:

— Não, ainda não.

— Então me conte quando decidir ok? Preciso dar uma olhada nos outros pacientes, vou deixá-las sozinhas um pouco.

Kimberly continuou concentrada olhando a menina. Nada mais no mundo existia. Sem conseguir resistir segurou as mãozinhas e contou os dedos das mãos e repetiu o processo com os pés. Beijou-lhe a testa e uma lágrima escorreu de seus olhos. Sentiu o espírito da Garça presente e a menina abriu os olhos.

— Oie – murmurou sorrindo. Os olhos da menina eram castanhos claros. – Acho que você tem os olhos do seu pai.

A neném suspirou e fechou os olhos adormecendo. Kimberly a estreitou nos braços e cantarolou baixinho enquanto a embalava. Iria aproveitar cada segundo com a filha.

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Logo depois, a enfermeira entrou trazendo o seu jantar. Animadamente ela disse:

— Voltei. Como vocês estão?

— Bem, ela só acordou por alguns instantes – Kimberly disse sorrindo.

— Você tem sorte, algumas crianças não param de chorar. Agora, eu preciso levá-la para o berçário e você precisa comer.

Kimberly beijou a cabeçinha da criança e a entregou a enfermeira.

— E a minha mãe?

— A cidade esta toda parada, ela deve estar presa no transito.

— Hum...

Sorrindo para o bebê ela disse:

— Não se preocupe, cuidarei de vocês duas até ela chegar. Coma tudo e mais tarde eu volto para buscar a bandeja – disse sorrindo enquanto saia com o bebê no colo. 

Kimberly suspirou resignada e começou a comer.

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Carol passou quatro horas presa no trânsito. Na correria trouxera as roupas da neta, mas deixou as coisas de Kimberly em casa. Não imaginava que iria ficar tanto parada no trânsito. Mesmo ansiosa, ela parou no berçário antes de ir ao quarto da filha. Não cansava de admirar a neta, a menina era linda e tão quietinha. Tirou a câmera da bolsa e tirou uma foto.

— Se Kimberly não mudar de ideia essa provavelmente será a única recordação que vou ter dela – murmurou guardando a máquina na bolsa novamente e correu para o quarto da filha.

Ao entrar, encontrou Kimberly recostada na cama olhando para o teto. Sorrindo se aproximou:

— Que bom que acordou querida. Como se sente?

— Bem, jantei agora a pouco.

— Nossa, eu estou faminta. Fiquei horas trancada no carro. Quando você acordou, o médico já passou por aqui?

— Sim, ele já me examinou. Não sei exatamente que horas, não tem um relógio por aqui. Mas foi antes do jantar.

— Então, você acordou logo depois que eu sai. Trouxe as suas coisas, quer tomar um banho.

— Não prefere comer primeiro mamãe?

— Imagina querida, eu te ajudo e desço até a cafeteria. Você certamente esta desconfortável nessa camisola do hospital.

Sem conseguir conter o alívio, Kimberly concordou e aceitou a ajuda da mãe. Pouco depois já estava deitada novamente com a sua própria camisola, sentia-se muito melhor agora.

— Sabe quando vou ter alta?

— Provavelmente amanhã.  A Sra. Mason telefonou mais cedo e disse que viria visita-la pela manhã.

— Ok... – murmurou Kimberly distraída. – Vai jantar mamãe, você esta com fome.

Carol sorriu e beijou os cabelos da filha.

— Estou indo, quer alguma coisa da cafeteria? Posso trazer algum doce escondido.

Kimberly riu e respondeu:

— Um biscoito nunca é má ideia, mas eu queria mesmo um café forte.

— Isso eu tenho certeza que não posso trazer, mas um biscoito com certeza.

— Obrigada mamãe!

Carol pegou a bolsa e saiu. Exausta Kimberly virou-se na cama, apesar do cansaço não conseguia dormir. Jogou o lençol para o lado e encontrou um sapatinho rosa de lã que a filha estava usando.   

— Deve ter caído... – cuidadosamente o pegou sentindo a textura macia em suas mãos. Sem pensar guardou-o no bolso da camisola.

Desistiu de ficar na cama e mesmo com dificuldade levantou-se e começou a andar pelo quarto. Sabia que seria difícil, mas tanto assim? Queria tanto poder falar com Zordon agora, mas era tão arriscado. Subitamente a porta se abriu assustando-a.

— Kimberly, você deveria estar deitada! – exclamou a enfermeira Alice.

— Não aguento ficar parada – respondeu impaciente sem olhar para a moça. 

— Bom, eu lhe trouxe companhia. Alguém esta com fome.

Ela se virou e viu a filha nos braços da enfermeira.

— Devagar ou vai acabar caindo – ralhou a enfermeira. – Vamos sente-se no sofá mesmo que essa pequenininha aqui esta tão faminta que praticamente foi expulsa do berçário.

— Ela chorou? – Kimberly perguntou estendendo os braços para a filha. Em resposta a menina começou a choramingar.

— Fez um barulhão, ela esta com fome. As outras enfermeiras queriam dar-lhe mamadeira, nós temos um Banco de Leite Materno. Mas como você ainda não tinha amamentado eu fiz questão de trazê-la. É muito importante que ela mame o primeiro leite da mãe.

Enquanto, falava ela ajudou Kimberly a abrir os primeiro botões da camisola explicando como deveria segurar a menina. Impaciente a neném começou a mamar.

— Dói um pouquinho no começo e precisa sempre dar de mamar nos dois seios, depois eu lhe mostro como fazê-la arrotar.

Assustada Kimberly observou a menina em seus braços. Sabia que cada minuto com a filha era precioso, mas nunca imaginou que teria a oportunidade de amamenta-la.

— A sua mãe já chegou? – Alice perguntou despreocupadamente.

— Sim, ela foi jantar.

— Hum... eu sei que a comida do hospital não é ótima. Mas nada de comer doces ou outras bobagens ou a neném vai ter cólica.

Kimberly sorriu assentindo, a enfermeira obviamente não sabia que iria entregar a filha para adoção. Se soubesse não traria menina para o quarto com tanta frequência. Provavelmente não veria a filha amanhã.

Se tudo desse certo, nenhum dos vilões descobririam a existência da criança e ela cresceria longe em segurança. Pela primeira vez desejou nunca ter se tornado uma Power Ranger e poder criar a filha, mas se nunca tivesse vestido o manto da ranger rosa também não teria conhecido Tommy e a menina não existiria.

Um sorriso amargo surgiu em seus lábios e ela acariciou a cabeçinha. A menina choramingou largando o seio. Seguindo as instruções da enfermeira ela trocou de seio e depois a fez arrotar.

— Está vendo, é fácil – o sorriso da enfermeira era brilhante. – Me dê ela agora e deite-se na cama.

— Já vai levá-la? – a voz da jovem era aflita.

— Eu posso deixá-la mais um pouquinho, mas você precisa ficar na cama. Já esta a muito tempo no sofá.

Kimberly concordou e foi rapidamente para as cobertas e abriu os braços para receber a menina. Alice riu e perguntou:

— Nossa você esta mais rápida do que eu e acabou de ter um bebê.

— Eu sou ginasta e pratiquei artes marciais por muito tempo – respondeu Kimberly casualmente.

— Sério? – disse animada entregando a neném nos braços de Kimberly – Por isso esta tão magrinha.

— Não estou nada magra – replicou rindo.

— Você é a mãe mais magra desse hospital, acredite em mim.

Kimberly riu enquanto ajeitava a menina nos braços. Os olhos castanhos estavam abertos e parecia tentar entender o que estava acontecendo a sua volta.

— Acho que ela não esta gostando do nosso barulho – a enfermeira respondeu.

— Ela parece curiosa – murmurou Kimberly sorrindo para a menina. 

Subitamente a porta foi aberta e Carol entrou falando:

— Trouxe alguns biscoitos e um suco de laranja...- ao ver a enfermeira e a criança nos braços da filha parou assustada.

A enfermeira Alice rapidamente falou:

— Boa noite Sra. Hart. Eu sou a enfermeira Alice, como eu disse para a Kimberly não é recomendável que ela coma doces por enquanto.

— Desculpe, eu não sabia – estava tão surpresa em ver a criança nos braços da filha que nem percebeu que a enfermeira usou seu antigo sobrenome.

— Bom, eu vou deixá-las a sós e mais tarde volto para buscar a neném.

— Obrigada – sorriu Kimberly vendo a enfermeira saindo.

Lentamente aproximou-se da cama e olhou para a filha intrigada.

— A enfermeira?

— Ela não sabe... – sorrindo ela comentou. – Até me perguntou qual o nome eu daria para menina.

Carol continuou olhando a filha espantada.

— Aproveite o momento mamãe – ela sorriu e estendeu a menina para a mãe. – Quer segurá-la?

Um sorriso iluminou o rosto e ela pegou a neta nos braços. A menina ainda estava acordada e resmungou baixinho.

— Eu a vi no berçário, mas não tão de perto. Ela é tão linda e se parece tanto com você quando era pequena!

— Ela tem os olhos do pai.

— Ainda é cedo para saber, os olhos dos bebês mudam muito. Os seus eram quase azuis quando nasceu. Só em alguns dias poderemos saber com certeza – respondeu animadamente embalando a neta.

— Mamãe! – suplicou Kimberly olhando para a mãe – Nada mudou.

Carol olhou a filha

— Kimberly, você precisa parar com isso. Eu não sei o quê aconteceu entre o Tommy e você. Mas você não pode fazer isso.

— Mamãe, por favor! – implorou Kimberly.

— Colocando a criança no colo da filha Carol rebateu:

— Olhe bem para ela. Ela é a sua filha, minha neta. Ela merece ir para a casa com a sua família.

Kimberly olhou para a menina e deixou uma lágrima escorrer.

— Eu sei que é difícil de entender, eu queria poder explicar. Mas eu não posso... – tomando fôlego ela continuou. - Ela precisa estar a salvo mamãe. Eu não posso dar a ela uma vida segura, ela merece ser criada por uma família normal.

Carol deixou as lágrimas rolarem e disse:

— Nossa família foi tão terrível assim? Eu sei que brigamos muito antes do divórcio, mas... – sufocando um soluço ela perguntou. - Eu fui uma mãe tão ruim assim?

— Não, você foi uma ótima mãe e exatamente por isso vai me deixar tomar essa decisão e proteger meu bebê – os olhos de Kimberly estavam marejados de lágrimas.

Carol lançou um olhar dolorido para a filha e deixou as lágrimas caírem.

— Eu espero sinceramente que você não se arrependa Kimberly – saindo do quarto ela terminou. – Eu sei que sempre me arrependerei de deixa-la fazer isso.

Deixando as lágrimas caírem sobre a cabeça da filha ela murmurou:

— Eu não tenho outra opção – beijando a testa da filha ela completou.  – Isso não significa  eu vá me perdoar.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado e que tenham chorado comigo. A menina ainda não tem nome mesmo, então, aceito sugestões. Comentem e até o próximo capítulo.



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