Meia hora depois com mais dez galeões adicionados a conta, tudo o que eu podia fazer era encarar o celular de Draco com uma mistura de pavor e descrença.

— E se eu desistir?

— Você perde tudo o que ganhou. Vamos lá Granger, — incentivou. — você pulou seminua do 2º andar de um prédio. Quão difícil isso pode ser?

O encarei. — Eu odeio agulhas. E meu pai me colocaria de castigo para sempre se descobrisse.

— Então é só escondê-la. — se virou pra mim. — O que você quer fazer Granger? Não seus pais, o Potter ou aquela namoradinha Weasley dele. Você. — e apontou pra mim.

Suspirei, pensando no desafio proposto. Estava tão acostumada a seguir o conselho dos meus amigos que por um instante me vi sem resposta.

— Eu... Eu quero fazer isso. — respondi mais confiante. Draco clicou no "sim" em seu celular. — Podemos? — indiquei a loja.

Ele estendeu o braço. — Damas na frente.

Acabei revirando os olhos. — Quem não te conhece que te compre. — decretei.

Após falarmos com a recepcionista "relaxa garota, o J.P. já deixou tudo pago" e dar uma pequena explicação a Draco sobre o que era uma tatuagem "quer dizer que um cara vai escrever em sua pele utilizando uma agulha Granger? Vocês são insanos", fomos direcionados a uma salinha. Lá, outro cara se apresentou como Roger e disse que iria ser o nosso tatuador hoje à noite, me passando uma pasta de desenhos em seguida.

O desafio era deixar Draco escolher a tatuagem, por isso, ele logo fez questão de tirar o portifólio de minhas mãos.

— Não quero esqueletos, motos, carros ou pior, uma cobra está me ouvindo? — comecei a listar. — Também não quero aranhas, palhaços, unicórnios...

— E tubarões? — ele me mostrou um.

— Não!

Ele debochou. — Ok, já entendi Granger. Porque você não se senta ali enquanto eu decido em?

— Draco Malfoy! — senti minhas mãos pegajosas. — Ok, talvez seja melhor eu me sentar e acalmar... Ai. Meu. Deus. — olhei a máquina de matar que Roger segurava. — A agulha... é maior do que eu pensei que seria. — me virei para Draco. — Quer saber? Eu mudei de idéia. — peguei meu casaco que tinha deixado em cima de uma mesa. — Podemos ir embora?

Roger começou a rir atrás de mim. Isso não foi legal Roger.

Draco me segurou pelos ombros. — Não vai desistir agora Granger. Já chegamos até aqui...

— Eu não sei se você percebeu Malfoy, mas essa agulha é enorme! — o interrompi — E para de rir caramba, isso não é engraçado Roger! — o tatuador ergueu as mãos para o alto, gargalhando agora. Otário.

— Ei, ei Granger. Para de matar o cara em pensamento e olha pra mim. Aqui, isso. — ele suspirou. — Não acredito que vou fazer isso, mas vamos lá. Quem é você?

— Uma garota com um medo enorme de agulhas. Agora, será que dá pra irmos embora?

Ele me balançou. — Não. Você é Hermione Granger, a rata-de-biblioteca, bruxa mais inteligente da sua idade, princesinha da grifinória. E qual o lema da grifinória? Coragem, exatamente. Então você vai sentar essa bunda naquela cadeira e se acalmar, porque eu só saio daqui depois que você tiver tatuado alguma coisa nesse corpo. Você entendeu? — assenti. — Então senta lá. — apontou pra cadeira.

Depois de alguns segundos de silêncio, Roger começou a balançar a cabeça.

— Discurso inspirador brother. Não são muitos caras que têm a paciência de vir aqui com as minas deles. Tua namorada tem sorte de ter você.

Eu, que já estava uma pilha de nervos sentada naquela cadeira, mandei um "Cala boca Rogers", no que ele riu e respondeu:

— Ela é meio brava né? Sabe, eu tinha uma namorada exatamente assim: bonita, brava e mandona.

— E o que aconteceu? — Draco perguntou.

— Nos casamos, não é obvio? Eu que não ia perder um mulherão daqueles.

Depois de mais algumas palavras trocadas, Roger me explicou como seria o processo e começou a trabalhar.

E porra. Como aquela merda doía. Depois de mais alguns segundos de dor e sofrimento, Malfoy se aproximou com a câmera.

— Está doendo Granger?

Com a cara vermelha de dor, respondi. — Eu vou te bater Malfoy. Tira essa merda da minha car... AI ROGER! — os dois começaram a rir. — Bom saber que eu divirto vocês. Panacas.

Escondi o rosto entre meus braços, apertando meus dentes tamanha era a dor. O desafio só falava que a tatuagem tinha que ser maior que uma moeda e isso – seja lá o que fosse – parecia já ter chegado ao tamanho mínimo. Draco e Roger estavam conversando sobre algo, não consegui prestar muita atenção com a agulha parecendo rasgar meu pescoço. Já estava para pedir clemência quando uma batida bem conhecida por mim começou a soar pela sala. Levantei meu rosto das minhas mãos.

— O que pensa que está fazendo Malfoy?

Ele se aproximou de mim, nossas testas quase se encostando.

— Relaxando você. — sussurrou. Um frio subiu pela minha espinha. Aquela voz sussurrada combinada com os olhos e sorrisinho cafajeste... — Estou conseguindo?

Assenti, rindo um pouco pela escolha da música. — Quem sugeriu? — perguntei.

— O Roger. — não soube dizer se ele ficou realmente vermelho ou foi um truque de luz. — Porque?

— Acho que o Roger te enganou... — vendo sua expressão confusa, expliquei: — É que a letra da música não parece fazer bem seu estilo.

Roger riu atrás de mim, provavelmente entendendo o meu ponto. Draco continuou confuso, e eu, como quem não quer nada, comecei a cantar a música.

— By the way, what he say? he can tell I ain't missing no meals, come through and fuck him in my automobile, let him eat it with his grills, he keep telling me to chill, he keep telling me it's real, that he love my sex appeal say he don't like 'em boney, he want something he can grab, so I pulled up in the Jag and I hit him with the jab like... Ai meu Deus! Olha a cara dele Roger! Tá vermelha! — comecei a rir. — Acho que quem precisa relaxar agora é ele. — debochei voltando a cantar, eventualmente apontando para um lugar ou outro —Oh my Gosh, look at her butt...

O loiro começou a rir, já recuperado. — Nem em mil anos eu esperaria isso de você Granger. — e continuou a gravar.

Dei de ombros, sentindo uma pequena fisgada no local que estava sendo tatuado.

— Gosto de surpreender. — lhe mandei uma piscadela.

Roger riu em minhas costas. Após mais alguns traços doloridos, o final da música começou, me fazendo dar um gritinho.

— Essa é a melhor parte. — expliquei. Quando Malfoy se aproximou do meu rosto com a câmera, fiz a minha melhor cara de gangster. — Yeah, he love this fat ass... — ri, seguindo o roteiro da música. — Yeah, this one is for my bitches with a fat ass, in the fucking club, I said, where my fat ass big bitches in the club? Fuck the skinny bitches, fuck the skinny bitches in the club, I wanna see all the big fat ass bitches, in the motherfucking club, fuck you if you skinny bitches, what? Yeah...

Então Roger soltou: — Você meche a bunda enquanto canta.

— ROGER, QUAL É!

E "The Night Is Still Young" começou a tocar. Depois dela, mais três se seguiram, e com muitas gracinhas e risadas, Roger finalmente falou que havia acabado.

— Finalmente! — agradeci aos céus, já me levantando e indo em direção ao espelho. Aparentemente tatuagens daquele tamanho não levavam tanto tempo, mais eu estava me divertindo muito na concepção de Roger e ele não queria cortar o meu barato. Tirando meu cabelo da frente do pescoço, acabei me deparando com... — asas? Uou. Draco, isso é... extremamente lindo e delicado. — me virei pra ele.

— Uma vez... — ele suspirou, parecendo criar forças. Seu rosto antes calmo e divertido agora se encontrava sério, quase atormentado, quando ele continuou. — uma vez, uma sabia mulher me disse que se ela pudesse escolher ter qualquer coisa no mundo, mágica ou não, ela escolheria ter um par de asas. Porque independente do que acontecesse, ela teria um meio de fuga quando não soubesse mais o que fazer ou como aguentar determinada situação, tendo sempre uma garantia de liberdade com ela. Essa mulher é a minha mãe. — confidenciou.

— Draco... — peguei suas mãos, virando suas palmas para cima, acariciando-as, protegendo-as com as minhas. — O que está acontecendo?

Dando uma rápida olhada na sala e não encontrando mais ninguém, ele desabafou.

— Meus pais estão se separando Granger. Mamãe já estava tentando há dois anos, mas Lucius não queria entregar o divórcio de jeito nenhum. Quando Sirius Black apareceu mamãe só faltou chorar, já que pela lei um casamento pode ser quebrado se um parente da noiva não aprovar o matrimônio. — eu conhecia a regra puro-sangue, ela se aplicava aos parentes homens de cada família. — E foi o que aconteceu. Mas Lucius está insano, ameaçando minha mãe de coisas, coisas horrorosas Granger, e eu não sei o que fazer.

O abracei, tentando confortá-lo o máximo possível.

— Se você quiser... — ofereci. — posso falar com meus pais ainda essa semana. Ver se eles conhecem um local seguro para sua mãe ficar, ou ela poderia ficar na minha casa, com eles. Certamente seu pai nunca pensaria em procurá-la no mundo trouxa não é?

— Acho que sim.

Sorri. — Viu? Metade do problema resolvido. Agora é só...

— Obrigada Granger. — ele me interrompeu. — De verdade. Me sinto muito melhor agora.

— Vem cá. — o puxei pra outro abraço, apertando seus ombros. Ele, por sua vez, passou seus braços pela minha cintura. E então Roger voltou.

— Que fofos. É agora que vocês se beijam?