— Nunca pensei que além de um mimadinho de carteirinha Draco Malfoy também saberia escolher jóias pra compor um figurino. — debochei, passando a mão pelo choker de diamantes que ele havia acabado de colocar em meu pescoço. — devo admitir: estou chocada!

— Tenho muitas habilidades ocultas Granger. — falou com aquele típico desdenho, fingindo limpar o terno que ele conseguira em um desafio semelhante ao meu. — Quem sabe você não descubra mais alguma antes da noite acabar?

Coloquei a mão no peito. — É impressão minha ou Draco Malfoy está me cantando? Deus, acho que vai chover hoje a noite.

— E porque choveria? — ele perguntou repentinamente confuso.

— É uma figura de linguagem trouxa. — expliquei. — Quando algo muito improvável acontece você diz que vai chover. Entendeu?

— Acho que sim. Vocês são muito confusos Granger, por Merlin. E quem por diabos seria Deus?

Vendo uma senhora arregalar os olhos, rapidamente o puxei pela mão, tentando logo mudar de assunto.

— Eu te explico outra hora. Então, o que estamos procurando?

— Sapatos. — explicou, ainda segurando minha mão. — Exatamente como... esses aqui. — se afastou, pegando o par e logo voltando ao meu lado. — Mademoiselle. — Indicou a poltrona.

Arregalei os olhos quando o mesmo começou a me ajudar a tirar os coturnos.

— Ok, esquece a chuva Malfoy. A previsão de hoje com certeza será de uma tempestade, com direitos a muitas trovoadas. Tá se sentindo bem?

Ele riu. — É tão impossível acreditar que eu realmente quero te ajudar Granger? Não é porque sou sonserino que sempre vou desejar o mal de todos... — pontuou me encarando.

Olhei bem pro seu rosto. O garotinho de 11 anos que me ignorara após saber minhas origens já não se encontrava mais presente. Em seu lugar havia entrado um homem de belas feições, com um cabelo loiro-branco perfeito, olhos mais azulados que muitas águas límpidas por aí e um queixo de dar inveja a qualquer ator, sem contar do sorrisinho sacana, que com certeza levava muitas mulheres – e até senhoras – a loucura.

Mas a mudança não se encontrava somente na aparência. Há dois anos que Malfoy não me xingava de sangue-ruim, falava mal dos meus cabelos ou do meu intelecto. Ele simplesmente soltava comentários bobos quando passava por mim pelos corredores, como o fato de eu esquecer a minha mochila aberta, andar sempre acompanhada de Harry ou Gina ou ficar tempo demais na biblioteca. Arregalando os olhos, percebi que Malfoy já havia mudado há muito tempo, só eu mesma não parecia ter percebido. Me senti envergonhada.

— Pronto. O que acha senhorita?

E se Malfoy pudesse mudar, esquecer seus preconceitos – pelo menos era o que estava parecendo - e até mesmo me aturar por algumas horas, porque eu não poderia fazer o mesmo? Com um sorriso e a decisão de mudar de postura, me levantei da cadeira.

— Não são os saltos mais confortáveis que provei, mas também não são ruins. — o informei, me virando para o espelho. Pelo reflexo, notei que ele começou a me gravar. — Na verdade, acho que você acertou na escolha senhor. Vou levar três, caso eu estrague um e me canse do outro. — brinquei. — Isso pode ser arrumado?

Malfoy logo entrou no papel.

— Claro, senhorita. Algo mais?

— Já que perguntou... — lembrei-me de uma revista que Gina havia me obrigado há ler uns meses atrás. — Também quero um casaco, óculos e meia-calça. Briguei feio com papai essa semana, e prometi a mim mesma que só voltaria para casa depois de acabar com todo o seu dinheiro. — joguei meu cabelo para trás, colocando a expressão mais esnobe que pude me segurando pra não rir. — Podemos?

— Claro, senhorita. — fui recompensada com um riso sincero, que logo se transformou em uma tosse falsa quando eu lhe lancei meu melhor olhar de garotinha indignada. — Por aqui por favor.

E foi assim que acabamos voltando para a área de provadores do 5º andar, periodicamente rindo ou fazendo alguma gracinha, enquanto eu me sentia cada vez mais quente. Se era pelo Malfoy ou o casaco que ele escolhera pra mim, isso já era um mistério.

Deixando-me no meu provador para trocar de roupa, ele voltou ao seu para fazer o mesmo. Foi ai que o frenesi começou.

Não encontrei minhas roupas no chão. Nem embaixo da cadeira, ou até mesmo atrás do espelho. Após pensar que eu havia entrado no provador errado e conferir em todos os outros – ainda sem sucesso –, cheguei até a perguntar a uma vendedora que passará por ali, que me respondeu não tão gentilmente que ela obviamente não tinha pegado as minhas coisas.

Analisando agora, foi uma pergunta burra de se fazer.

Já estava entrando em desespero quando ouvi Malfoy me chamando. Rapidamente o puxei pra dentro do provador.

— Minhas roupas desaparecerem.

— É, as minhas também.

Nossos celulares apitaram. Ele me devolveu o meu.

Saia da loja em 2 minutos, valendo 30 galeões.

Arregalei os olhos. O temporizador começou a contar.

— Não. Definitivamente não Malfoy.

— Vem. — puxou meu braço. — Temos que ser rápidos.

— Tá maluco? Não sou uma ladra.

— Mas precisa do dinheiro!

— Não se tiver que roubar em troca. — falei o óbvio.

Passou as mãos pelo cabelo. — Sou um Malfoy, assim que falar com o gerente...

— Acorda Draco, estamos no mundo trouxa! — gritei sussurrando. — Ninguém se importa ou até mesmo sabe seu status aqui...

Ele bufou. — Bom, você tem alguma outra idéia Granger? Estamos meio que sem muitas opções no momento!

Coloquei meu cérebro pra funcionar, olhando o relógio no celular: 1 minuto e 20 segundos.

— Aqui não diz nada sobre sairmos da loja com as roupas.

Ele arregalou os olhos. — Bem pensado Granger. — e começou a tirar o terno.

— Só tem um problema. — encarei o teto.

— E qual seria?

— Eles levaram meu sutiã.

Isso chamou sua atenção. — Como é?