A dream is a wish your heart makes escrita por Kiih Linnankivi


Capítulo 1
Único - A dream is a wish your heart makes.


Notas iniciais do capítulo

Apesar de ter terminado a fic quase quatro da manhã, eu gostei do resultado. Espero que também gostem! ♥



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Último dia da semana. Tradicionalmente, aquela seria uma das que Watanuki Kimihiro gostava de chamar de noites livres— uma folga que lhe era concedida em uma das noites do fim de semana, geralmente aos sábados, caso Yuuko não precisasse dele para a realização de nenhum desejo.

 De fato, naquela noite ela não precisaria. O clima na loja estava bastante tranquilo e nenhum cliente era esperado para aquela madrugada. Tradicionalmente, Watanuki estaria liberado para ir embora assim que o sol começasse a se pôr. No entanto, naquele sábado em especial, Yuuko pediu que ele ficasse. E estranhamente, ele aceitou.

 Caso fosse para casa, ficaria sozinho – e provavelmente entediado – durante toda a noite. Leria alguns capítulos dos mesmos mangás que já estava cansado de ler, faria o jantar e assistiria a um programa qualquer na televisão enquanto comia, tomaria e banho e se deitaria – provavelmente cedo. Ficaria deitado até que o sono viesse, o que poderia demorar e lhe dava grandes chances de ser incomodado por seus tão conhecidos inquilinos indesejados.

 Olhando assim, a noite de filmes proposta por Yuuko, juntamente com Maru, Moro e Mokona, lhe parecia muito mais agradável.

 Após ser encarregado – em outras palavras, escravizado – por Yuuko e Mokona de fazer a comida, comprar as bebidas e buscar uma televisão e um dvd velhos no porão, que foram dados em troca de um desejo à Yuuko há mais tempo do que podia imaginar, Watanuki se juntou aos outros no quarto.

 Yuuko, Maru, Moro e Mokona estavam amontoados na cama da feiticeira com várias capas de dvd em mãos, discutindo sobre qual filme veriam primeiro. Enquanto Watanuki arrumava os aparelhos para exibir o filme, foi informado de que como ainda não tinha nenhuma preferência entre os filmes disponíveis, seria dele o voto de Minerva.

 Depois de muita discussão, Watanuki estava pronto para levar a mão até a capa de um filme de fantasia escolhido por Mokona. Mas não estava em seu destino.

 - Não, Watanuki! – Exclamou Yuuko, já um pouco alterada pela bebida, prolongando a última sílaba.

 - Mas por quê? – Perguntou, confuso – Eu não podia escolher o que quisesse?

 - Mas eu não quero ver esse! – Cruzou os braços e fez bico como uma criança birrenta – Quero ver o que os humanos gostam de ver! Mostra pra gente, Watanuki!

 Watanuki ignorou o momento em que Maru e Moro repetiram a última frase de Yuuko e olhou os filmes em volta. Fantasia, escolhido por Mokona; Terror, escolhido por Maru; Romance, escolhido por Moro e Comédia, escolhido por Yuuko.

 Pensou. O que os humanos gostam de ver? Poderia ser humano, mas não tinha tempo para assistir filmes. Mal sabia o que se passava na televisão. Só a ligava enquanto comia e mal prestava atenção no programa que estivesse passando.

 Enquanto ponderava, olhou também as outras capas espalhadas pela cama. Nada lhe agradou. Porém, uma capa azul lhe chamou a atenção. Isso! Podia não saber exatamente que tipo de filmes as pessoas mais gostavam de assistir, porém tinha certeza que daquele todos gostavam.

 - Cin...de..rella?— Perguntou Maru, olhando a capa.

 - Cin...de...rella?— Repetiu Moro.

 Yuuko estava concentrada demais em sua garrafa de sakê para notar algo, e Mokona não tinha uma expressão muito agradável, visto que sua chance de ver o filme que queria fora expressamente cortada.

 - Não faça essa cara. – Disse Watanuki enquanto tirava o dvd da capa – É da Disney, todos os humanos gostam.

 Após colocar o filme para passar, Watanuki tirou as outras capas de cima da cama e as colocou no chão. Logo, abriu espaço entre os outros e deitou-se, ao lado de Yuuko.

 Quando a tela azul apareceu, formando o castelo da Disney, Watanuki sorriu. Lembrou-se de sua infância. Ainda que não tivesse sido das melhores, filmes como aquele haviam feito parte de sua vida, e daquele, em especial, decorara quase todas as falas.

 Enquanto o filme passava, repetia-as mentalmente e competia consigo mesmo para ver quantas conseguia acertar.

 Yuuko, Maru, Moro e até mesmo Mokona pareciam extremamente entretidos, então achou melhor não fazer nenhum comentário.

 No entanto, após aproximadamente meia hora desde o início do filme, as coisas ficaram diferentes. O quarto já não tinha nem Maru, nem Moro e nem Mokona, e a televisão estava desligada. A única coisa que podia ver, além do teto bege, era o reflexo de Yuuko no visor da televisão. Com os cabelos soltos, ela dormia profundamente.

 Estranhou. Será que dormira no meio do filme? Não poderia ser. Era um de seus filmes favoritos!

 Parou de tentar entender o que estava acontecendo quando sentiu uma movimentação na cama. Virou apenas a cabeça para o lado e percebeu que Yuuko parecia querer acordar. Ela ajeitou um pouco o corpo, esticou os braços para cima, bem devagar, e só então abriu os olhos. Virou o corpo para o lado, ficando de frente para Watanuki, colocou a mão debaixo do travesseiro e piscou devagar.

 Ela sorriu. Ele nunca reparara – muito mais por falta de tempo e atenção do que de vontade -, mas assim, com aquele ar de serenidade e sem nenhuma responsabilidade, ela ficava adorável. Parecia muito diferente da mulher forte e confiante que sempre costumava ser. Estava desprovida de qualquer título. Não a grande feiticeira Ichihara Yuuko, mas a mulher por trás dela que ele não sabia nem o nome e provavelmente nunca viria a conhecer. Por alguns poucos minutos após abrir os olhos, era apenas ela mesma.

 E ele nunca reparara, mas era linda assim.

 Não pôde deixar de estranhar quando, sem chamá-lo ou pedir que ele lhe trouxesse o café, ela se apoiou no braço como se fosse levantar. Sabia melhor que ninguém que ela nunca se levantava sem comer. Nem Maru e nem Moro foram desejar bom dia à sua mestra, o que também era estranho. Mokona também não entrou no quarto pulando como de costume, o que era mais estranho ainda.

 Mas o mais estranho de tudo foi quando ela inclinou o corpo e começou a se aproximar. Passou o braço livre sobre o corpo de Watanuki, antes de deslizar os dedos da cama até o rosto dele. Ela nunca fora desse tipo de contato. O que diabos estava acontecendo?

 Watanuki queria muito entender, mas quando ela chegou o rosto bem próximo ao dele, não pôde mais pensar, apenas sentir. Sentia o perfume exótico dela e os longos cabelos negros que caíam como uma cortina sobre seu corpo. Sentia a pele macia e delicada contra a sua, e seu coração parecia querer explodir com aquele contato. Apesar da ansiedade, a sensação era boa. Mas nada se comparava ao que veio depois.

 Sua mente se tornou um mero borrão branco quando ela tocou os lábios nos seus. Macios como fora capaz de imaginar naqueles poucos minutos em que prestara atenção nela de um modo diferente. E quando ela deslizou a língua para dentro de sua boca e a pressionou contra a sua própria, Watanuki podia jurar que estava no céu e tudo que pôde fazer foi corresponder.

 Seu maior desejo estava sendo realizado e não precisava dar nada em troca. Pelo contrário, pela primeira vez na vida, tudo que precisava fazer era aproveitar.

 E da mesma forma estranha e repentina que aconteceu, tudo sumiu. Não havia mais Yuuko, nem beijo, nem a melhor sensação que tivera em toda a sua vida. Ao contrário de tudo que sentira anteriormente, todo o seu corpo estava tenso. Só via o teto acima de si e pôde ouvir as últimas frases do filme. Mas a televisão não estava desligada?

 Watanuki respirou fundo. O cômodo estava muito mais abafado do que se lembrava. Olhou para o lado e não encontrou nem Maru, nem Moro e nem Mokona. Teriam ido dormir no quarto das meninas? Não se lembrava de absolutamente nada.

 Virou a cabeça para o outro lado e viu Yuuko. Se encontrava sentada da mesma forma que estava quando o filme começou, ainda bastante concentrada na televisão. Pôde notar que os cabelos, antes presos devido ao calor, estavam soltos. Corou instantaneamente.

 A imagem do corpo de Yuuko sobre o seu, da pele macia contra a sua, dos cabelos lhe caindo pelo tronco lhe nublavam a mente. A lembrança da sensação do beijo lhe deixava completamente desconcertado, quase tonto. Como ela conseguia ficar tão tranquila e agir como se nada tivesse acontecido?

 Respirou fundo, tentando se recompor, e estava tão confuso que nem ouviu a televisão desligar.

 - O que há, Watanuki?

 Foi surpreendido pela pergunta de Yuuko. Como ela podia perguntar aquilo? Lembrou-se que ela estava bêbada. Devia dar-lhe um desconto. Só não sabia se o fator álcool tornava as coisas melhores ou piores.

 - Etto... Eu... Nós... – Tentou formular alguma frase, mas seu pensamento estava confuso demais para isso.

 - Você dormiu. – Ela cortou antes que ele pudesse dizer qualquer outra coisa.

 Então era isso? Havia dormido? Fora tudo um sonho?

 Respirou fundo outra vez, em um tom que não era possível identificar se era de alívio ou decepção.

 O silêncio reinou no quarto por alguns minutos, uma vez que Watanuki não sabia exatamente o que dizer. Logo, ela deslizou na cama até estar deitada, apoiada no braço esquerdo, de frente para Watanuki. Ele estranhou. Não era possível que aquilo também era um sonho.

 Só atinou para o fato de que gradualmente a realidade estava imitando seu sonho quando ela passou o braço direito sobre seu corpo e deslizou os dedos da cama até o seu rosto. Como no sonho, ela se inclinou sobre ele.

 Novamente, a pele macia contra a sua, os cabelos negros sobre seu tronco, o perfume exótico. O corpo dela sobre o seu, como sempre sonhara. Como sempre desejara. Inebriado por todas aquelas sensações – dessa vez reais – Watanuki pareceu perder o controle de seu próprio corpo. Guiou uma das mãos entre os cabelos de Yuuko, levando –a à sua nuca.

 Como no sonho, ela tocou os lábios nos seus. Inicialmente muito doce, como era ela ao despertar, mas logo ela deslizou a língua entre seus lábios e ele não demorou a corresponder. Estava novamente no céu, mas dessa vez era real.

 Não sabia se algo lhe seria cobrado em troca, mas enquanto pudesse ter aquela sensação, trocaria até mesmo sua alma.

 Quando se separaram por um breve momento, Watanuki voltou a si. Olhou para ela, assustado. Em um ato quase infantil, levou ambas as mãos aos próprios lábios como uma garotinha que tem seu primeiro beijo roubado e sentiu o rosto esquentar.

 Desviou o olhar. Era simplesmente incapaz de olhar nos olhos dela naquele momento.

 Yuuko riu, travessa. Sabia muito bem que ele estava se perguntando como ela fora capaz de imitar exatamente a situação vivenciada em seu sono. Mesmo após todo aquele tempo de convivência, se divertia com as reações dele às coisas mais simples da vida.

 Ainda havia muito sobre ela que ele precisava conhecer.

 - Um sonho é um desejo que seu coração faz.— Murmurou, após um riso bobo.

 Watanuki voltou a olhar para ela, incrédulo, e ela voltou a se aproximar.

 E depois daquele sábado, Watanuki Kimihiro nunca mais voltou para casa em suas noites livres, que deixaram de ser tão livres assim. 


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Notas finais do capítulo

Se você chegou até aqui, obrigada por ler! Espero que tenha gostado!



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