Ela é o Cara escrita por Priscilla Florêncio


Capítulo 9
Uma estranha ajuda


Notas iniciais do capítulo

É aquela coisa. Eu sei que demorei, mas eu sempre volto. Lá embaixo conversamos mais.



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Harry estava sendo um excelente treinador.  

Ginny conseguiu aprender várias táticas novas de futebol, apenas naquela semana, provocando um ótimo resultado nos treinamentos do time. Também fez com que o treinador Black notasse a presença de Geofrey, ele deu apenas uma erguida de sobrancelha como aprovação quando Ginny conseguiu acertar três pênaltis, um seguido do outro. De acordo com Harry aquele era um ótimo sinal vindo de seu padrinho, o treinador Sirius Black. E não foi uma surpresa para Ginny quando ele revelou o vínculo de parentesco. 

Geofrey e Harry estavam ficando cada vez mais próximos, tanto que o moreno até convidara Geff para as noites de vídeo game no dormitório de Draco Malfoy. Ginny tivera que presenciar e até mesmo que participar de muitas cenas cômicas, competições ou apostas cujo objetivo era saber quem conseguia ter o “arroto mais longo” ou o “pum mais mortal”, chegando à conclusão de que todos eles eram no mínimo bem porcalhões. 

Tivera que passar muito tempo com Cho Chang durante a semana também, com vários encontros na biblioteca e outros no laboratório de química fazendo o projeto que Snape pedirá. Cho continuava insistindo em ter assuntos sentimentais e de segundas intenções com Geofrey, por mais que Ginny desviasse do assunto ou encontrasse uma desculpa para não estender o tempo junto da garota, isso parecia deixá-la ainda mais interessada em Geofrey. O que acabará sendo um grande problema, pois estava sendo bem mais complicado do que pensará, fazer com que Cho ficasse interessada no seu colega de quarto. Por mais que Ginny falasse e mostrasse para a oriental todos os pontos positivos e interessantes do capitão dos Lions, a garota sempre respondia de forma indiferente dizendo coisas como — “É, ele é legal” ou “Talvez, mas ele é só um amigo” — depois lançava a Geofrey um sorrisinho insinuante. 

Num dado momento quando estavam na biblioteca pesquisando, Cho passará a mão por debaixo da mesa dando um leve apertão na coxa de Geofrey com um sorriso de canto nos lábios, fazendo Ginny pular da cadeira e quase cair no chão. Que garota oferecida! O que eu tenho fazer pra ela se tocar que não  afim?  

Dando uma desculpa de que iria procurar algum artigo para o projeto, Ginny saiu de perto da mesa onde Cho estava escondendo-se entre as estantes altas. E como não queria voltar tão depressa, resolveu dar uma olhada nos artigos por mera curiosidade. Acabou encontrando muitas reportagens de uma mulher chamada Rita Skeeter de uns dez anos atrás, uma em especial chamou sua atenção por mencionar o nome Potter, era de um jornal local chamado O Profeta Diário. A reportagem dizia:  

ROUBO COM FUGA MALSUCEDIDA  

“O assalto ao banco Gringotts no condado de Devonshire foi reivindicado pela quadrilha que se denomina A Marca Negra. Estima-se que o valor roubado esteja na casa dos milhões, a direção do banco não quis dar maiores informações sobre o prejuízo causado a instituição “Não temos nada a declarar” declarou Fudge atual diretor do banco. O mais surpreendente, no entanto, tenha sido o fracasso dos meliantes durante a fuga. Devido a uma informação anônima, a Interpol conseguiu chegar rapidamente ao local, apesar de não conseguir impedir que um dos assaltantes fizesse dois reféns durante a fuga. Houvera uma negociação entre as duas partes. Mas, não houvera um acordo. Infelizmente, os dois reféns foram executados a sangue-frio e morreram no local. O criminoso mandante da quadrilha foi preso e identificado como Tom Riddle  conhecido no submundo pelo pseudônimo de Voldemort, especialista em roubos a bancos, narcotraficante e assassino  procurado pelo FBI, Interpol e CIinformação obtida exclusivamente para o Profeta Diário por Rita Skeeter. 

“Conforme as informações divulgadas pela Interpol, havia um informante que notificou o local e horário que a ação ocorreria. A identidade deste informante é altamente sigilosa, tendo proteção à testemunha. O julgamento de todos os envolvidos no assalto a banco foi publicado e notificado pela imprensa, com exceção apenas de uma pessoa. A identidade do funcionário que ajudou no assalto ao banco de Gringotts foi preservada, para a segurança deste e dos familiares”.  

“Tom Riddle, foi condenado à prisão perpetua por latrocínio, roubo seguido de morte, homicídio qualificado, com a intenção de matar com crueldade premeditada e sem arrependimentos”. 

“Em nota, A Interpol e o Departamento Policial de Devonshire, juntamente com a Direção e a Gerencia Chefe do Banco Gringotts, lamentam profundamente o ocorrido e o falecimento de James e Lily Potter.”  

— Meu Deus! — Ginny exclamou em choque, arregalando os olhos com o semblante abalado ao saber dos acontecimentos informados na reportagem. 

Não pode ser, são os pais do Harry!  

Num súbito impulso, quase saiu correndo para falar com ele para disser que sentia muito pelo que ocorrerá com os pais. Queria abraça-lo, confortá-lo e chorar com ele. Mas, então, percebeu que aquilo havia acontecido há dez anos atrás e sabia que não iria adiantar coisa alguma naquele momento. 

Limitou-se em rasgar o jornal onde estava a reportagem, guardando o pedaço de papel no bolso da calça como um lembrete. Voltando para a mesa, fez uma anotação mental de guardar essa informação para si mesma. No fim das contas, era um assunto particular de Harry e se ele quisesse que seu colega de quarto soubesse algo a respeito, ele mesmo lhe contaria. Ginny só esperava que em algum momento ele confiasse o suficiente nela para contar.  

x.x.x.x  

A Quermesse Beneficente aconteceria no próximo final de semana e Hermione estava totalmente empenhada no seu projeto de arrecadação. Tanto que até finalizará o projeto de química dois dias depois da aula que Snape solicitará, e Ron que era a sua dupla, ficou imensamente agradecido. Ao contrário de Lavander que não gostou nenhum pouco de ver o abraço de agradecimento e o beijo no rosto que o ruivo deu em Hermione, o que acabou gerando uma crise de ciúmes bem dramática por parte da garota para todo mundo que quisesse assistir no Salão Principal.  

Ron tomado por uma dose de coragem e incentivo dos amigos e também do primo, encarou a namorada no meio do escândalo dizendo — “Já chega Lavander. Acabou!” — o que não foi uma boa escolha de palavras, já que a garota entendeu como sendo uma intromissão brusca no seu monólogo dramático no estilo novela mexicana, ficando com mais raiva ainda gritando a plenos pulmões — “COMO OUSA FALAR COMIGO ASSIM, RONALD WEASLEY? NÃO QUERO VER VOCÊ NUNCA MAIS!” —, ela finalizou com um belo tapa na cara do goleiro dos Lions, girando os calcanhares com pisadas duras e furiosas tendo Parvati Patil no encalço.   

O termino de Ron e Lavander foi assunto pelo restante de semana devido a cena dramática no Salão Principal, e todos concordavam num ponto, o ruivo não ficará nenhum pouco triste, muito pelo contrário, estava radiante e com as energias renovadas depois do término. Já Lavander ficará devastada, passará a maior parte dos dias em seu quarto na Ala Feminina, chorando, de acordo com Parvati. Ginny percebera que Hermione estava com um certo brilho no olhar e um sorriso contido, quando perguntara a ela o motivo de tanto bom-humor, a morena apenas respondera — “Oras, está fazendo um belo dia, não é mesmo?” —, só que Ginny sabia muito bem o qual era o verdadeiro motivo, mas também sabia que a amiga nunca irá admitir.  

Faltando dois dias para o final de semana, Ginny havia decidido que iria para a Quermesse Beneficente que os Delacour estavam organizando como sendo ela mesma. Sem disfarçasses. Uma pequena folga de todo aquele teatro. Mas para isso teria que encontrar um pretexto para Geff ficar em Hogwarts e não participar da quermesse, e também pensar num plano para despistar sua mãe e os Delacour, já que deveria estar em Paris estudando moda junto com a filha mais velha deles. 

Sabendo qual seria o primeiro passo, Ginny ligou para Madeleine dando notícias e contando as últimas novidades da moda em Paris falando: “La mode se démode, jamais le style” — para soar convincentemente fizera algumas pesquisas em revistas e sites de moda franceses, e também aprenderá umas frases em francês de Coco Chanel para impressionar sua mãe —, aproveitou para avisá-la que iria chegar em Devonshire no sábado de manhã para participar da Quermesse Beneficente.   

Depois cogitou em pedir a ajuda de Hermione, mas ela estava empenhada demais com o projeto de arrecadação beneficente, avistará a monitora chefe dormindo sentada numa das mesas da biblioteca com um grande amontoado de papéis e livros no entorno dela, então decidiu que não iria dar mais trabalho ainda para amiga. 

Coloque essa cabecinha para funcionar Ginny, pense em alguma coisa.  

Era o último treinamento do time da semana — faltando pouco mais de uma semana para o jogo contra o Badgers, já que o jogo contra os Wilders fora adiado —, e o treinador Black estava empenhado em praticar a sua jogada estratégica de ataque e defesa. E hoje era o dia do time substituto praticar, para poupar o esforço físico dos principais jogadores que treinaram a semana toda, como ele mesmo havia explicado.  

Ginny havia demonstrado bastante habilidade nos últimos treinamentos, por mais breves que tenham sido o seu tempo com a bola. E percebeu que aquele poderia ser o momento de provar ao treinador Black que poderia jogar no time titular.  

— Rapazes, hoje vocês vão jogar! — anunciou Black animadamente, então jogou  a bola para o jogador reserva mais próximo, e Neville Longbottom agarrou a bola com certa insegurança. Incentivado pelo treinador para dar início à partida, ele atirou a bola para o alto na tentativa de fazer um drible, quando a bola caiu em direção ao chão Neville acabou errando o movimento escorregando na bola ao invés de fintá-la, tropeçando-nos próprios pés caindo com baque sentado no chão.  

Foram várias reações ao mesmo tempo.  

— OLÉ! Calma aí, perna de pau! — zombou Draco rindo.  

Harry e Ron apoiaram-se um no outro rindo ruidosamente com lágrimas nos olhos, assim como o restante dos colegas. 

Com os braços cruzados o técnico Black fechou os olhos balançando a cabeça num misto de aborrecimento e embaraço, para não demonstrar nenhuma reação contraiu os lábios numa súbita vontade de rir.  

Tentando não rir, Ginny estendeu a mão para Neville ajudando-o a levantar. Notando que ele estava rubro de vergonha, só que Neville acabou rindo também, mesmo que o som tenha soado agudo e meio estridente, parecendo mais como um riso nervoso. 

— Droga, nem devia estar fazendo isso — resmungou ele com raiva, chutando a bola para Colin Creevey. 

Após esse início animador, o jogo acabou não sendo nenhum pouco bom também, pelo menos não para o time dos reservas. 

Ginny percebeu que não podia fazer muita coisa, visto que seus colegas em sua maioria sofriam com uma grande falta de confiança. Estavam jogando contra o time principal e era bem óbvio que eles iriam ganhar sem fazer muito esforço. Mesmo que eles fizessem tudo o que treinador Black preparara durante a semana inteira, passo a passo, lance a lance, não havia como ganhar. O que já era de se esperar, afinal essa era uma das finalidades do time reserva — quando jogavam contra o time titular —, mostrar as falhas da estratégia, lance a lance, mesmo que não houvesse nenhuma. Foi ingenuidade achar que seria uma boa oportunidade para demonstrar o que sabia. É óbvio que isso não vai dar em nada. 

Sabendo que não adiantava mais esforçar-se inutilmente, Ginny acabou tendo uma ótima ideia quando passou a bola para Colin, vendo-o errar a finalização do lance ao chutar a bola na direção errada fazendo-o parar diretamente nas mãos do goleiro. Em seguida Ron chutara a bola para o alto fortemente, e ela foi parar do outro lado do campo sendo driblada facilmente por Harry.  

Mesmo perdendo, Ginny ficará animada sorrindo internamente, ante a possibilidade de conseguir o passe livre para Geofrey não participar da Quermesse Beneficente. Vai ser fácil, só preciso esperar o momento certo.  

Depois de mais alguns lances, na tentativa de não deixar o time adversário marcar mais um gol, Neville chutou a bola em sua direção, rápido e forte demais. 

Mas no ângulo perfeito.  

Ao invés de pular dobrando a perna direita fazendo a bola parar batendo entre o seu joelho e a coxa para pegar no chão depois — como teria feito para acertar o lance —, Ginny deixou que a bola batesse com toda a força em seu baixo-ventre, propositalmente. 

A reação geral foi instantânea e instintivamente primitiva.  

Todos os jogadores ofegaram, paralisando imediatamente o jogo.  

E ela entendeu rapidamente o que devia fazer. 

Dobrou-se para frente urrando de dor com as mãos protegendo as partes intimas. Caindo no chão em posição fetal, representando a sua melhor cara de sofrimento, as pálpebras fechadas ao franzir o cenho rangendo os dentes, gritou: 

— AAAIII!  

Todos os representantes do sexo masculino que ali estavam ao verem a cena compartilharam imediatamente a mesma dor que Geofrey fora infligido. Alguns repetiram o mesmo gesto protegendo certas partes, instintivamente, outros fizeram caretas de puro desagrado ao reconhecerem a dor.  

Homens, tão previsíveis.  

Contendo uma vontade enorme de dar um sonoro riso, Ginny falou com a voz rouca e entrecortada:  

— T-treinador acho, acho q-que... vou p-precisar... d-daquele seu f-favor.   

x.x.x.x  

Segurando uma compressa de gelo no meio das pernas, Geofrey estava sentado na Ala Hospitalar, aguardando.  

 A enfermeira da escola madame Promfrey havia dito para esperar até ser atendido, depois entrará novamente na ala dos leitos, reclamando de alunos descuidados, de esportes em geral e suas brutalidades. 

A sala da recepção da enfermaria estava praticamente vazia, exceto por uma garota loira sentada de frente para Ginny na fileira de cadeiras que ficava encostada na parede com janelas. Porém, naquele momento ela não prestará muito atenção nela, pois estava com outras preocupações preenchendo seus pensamentos.  

Depois do acidente durante o treino, o treinador Black havia dito que daria permissão para Geff não participar da Quermesse Beneficente que aconteceria no dia seguinte. Mas para isso Ginny teria que conseguir o atestado médico assinado por madame Promfrey informando que Geofrey não estaria apto para participar de atividades e festivais que exigissem esforço físico. O único problema é que para isso acontecer madame Promfrey teria que examinar o “ferimento” de Geofrey. 

Ótimo, me esqueci desse detalhe. 

Não havia lesão alguma, exceto talvez por uma leve pressão no seu baixo-ventre causada pela batida da bola. Obviamente madame Pomfrey iria perceber que havia algo errado, afinal as enfermeiras pediam para os seus pacientes mostrarem os ferimentos — aonde quer que fosse —, fazia parte do procedimento e elas deviam estar acostumadas a isso.  

Talvez pudesse declarar extrema timidez e vergonha, dizendo não querer ficar sem roupas na frente de ninguém. Só que isso acabaria levantando suspeitas fazendo com que madame Pomfrey alegasse ser uma grande besteira e se Ginny insistisse naquilo ela certamente ficaria desconfiada, constatando que aquilo tudo não passava de fingimento. Então, além de não conseguir o atestado médico, ela acabaria conseguindo problemas mais sérios indo parar na sala da Supervisão Disciplinar da velhota com cara-de-sapo. 

O que seria um grande risco para o seu disfarce, desencadeando um efeito em cascata com questionamentos e acusações que ela não estava preparada para encarar, e tinha quase certeza de que a professora Umbridge ficaria extremamente feliz em poder anunciar a sua expulsão depois que descobrisse a verdade. 

Droga, como vou sair dessa?  

— Sabe algumas pessoas acabam não podendo mais ter filhos por causa de acidentes como esses... — falou a garota loira sentada em frente a ela, tirando-a momentaneamente do seu devaneio particular. Ela não olhou diretamente para Geofrey ao dizer aquilo, porque estava observando sonhadoramente algo muito mais interessante do lado de fora da janela, e continuou falando —... Poderia ser útil em alguns casos, Besarion Jughashvili, por exemplo, poderia ter sofrido um acidente desses.  

Ginny notou que ela tinha um olhar avoado e meio etéreo, seus olhos eram grandes e azuis e o cabelo loiro tinha um aspecto meio sujo. Mas o que mais chamava atenção na sua aparência um tanto excêntrica, eram os brincos em formato de rabanetes que ela estava usando. 

Mas afinal quem era Besari... Espera, qual era o nome que ela falou mesmo?  

— O que? De quem você está...?  

Sua pergunta foi completamente ignorada, já que naquele exato momento um pequeno pássaro amarelo pousou alegremente no dedo indicador que a garota mantinha estendido para fora da janela, conforme se apoiava levemente no parapeito. 

— Tico-tico, que bom ver você de novo — a garota estranha falou sorridente com o passarinho, estranhamente chamado tico-tico, como se fossem velhos conhecidos —, estou vendo que você está melhor, isso quer dizer que os outros pararam de implicar com você, não é?  

Para a surpresa de Ginny o pássaro respondeu com um pio melodioso. 

É maluquice minha ou aquele passarinho entendeu mesmo o que ela falou? Vai ver era por isso que ela estava ali na enfermaria, já que até onde Ginny sabia, falar com pássaros não poderia ser considerado algo normal. Surto psicótico, era como aquilo seria definido por Hermione. E Ginny assistiu Psicose diversas vezes na vida para compreender que pessoas que falam sozinhas ou que acabam vendo coisas que ninguém mais consegue, poderia ser altamente perigoso. Por isso achou melhor não engatar uma conversa com a garota estranha que continuava num diálogo interessantíssimo com o passarinho amarelo...  

— Acho que você pode ter razão tico-tico — concordou a garota depois que o pássaro piara novamente —, ele acha que você está com sérios problemas. É verdade?   

Ginny olhou para os lados na vã tentativa de procurar mais alguém com quem a garota pudesse estar falando, mesmo que soubesse que a recepção da enfermaria estivesse vazia. Por isso acabou tendo que encarar a garota loira que olhava para ela distraidamente, aguardado por uma resposta.  

— Bom, foi um passarinho que te contou isso? — e riu com a própria piada, mas a garota estranha sacudiu os ombros, como se dissesse “Não é óbvio?” então continuou falando —... É estou com problemas, mas quem não está?  

Soltou um longo suspiro, repentinamente sentido um grande peso nos ombros, certamente aqueles eram os seus últimos momentos em Hogwarts. Estava sem saída. O pior é que nem vou poder me despedir...  

— Ninguém pode achar que falhou na sua missão neste mundo, se aliviou o fardo de outra pessoa — ditou a garota olhando para o teto — Charles Dickens, ele tem razão sabe. Por isso, se quiser posso tentar te ajudar.  

Ginny arqueou as sobrancelhas piscando algumas vezes. 

Aquela garota estava realmente sugerindo ajudá-la, somente por que um passarinho havia falado para ela que o garoto que segurava uma compressa de gelo no meio das pernas estaria com problemas?   

Isso é muita maluquice! 

— Peraí, quem é você mesmo?   

— Luna Lovegood, e você deve ser Geofrey Weasley o colega de quarto do meu parceiro no projeto de química, não é?  

Ah certo, agora está explicado. Harry havia mencionado o desagrado dele pela falta de sorte, por ter uma tal de Di-lua Lovegood como sua dupla no projeto de química, em uma das noites de vídeo game no dormitório do Malfoy.   

— Sim, e você deve ser a Di-lua...  

— Não gosto que me chamem assim — cortou ela de forma ofendida.  

— Oh me desculpe, não sabia disso.   

— Tudo bem, eu sei que as pessoas me acham estranha, não me importo com isso. Só não gosto que se refiram a mim desse jeito, afinal eu já tenho um nome.  

Ginny sorriu inconscientemente.  

— Certo, Luna é o seu nome, é justo.  

Enquanto ela acariciava o passarinho amarelo que ciscava algumas migalhas em sua mão, Luna voltou a questionar:   

— Então, qual é o problema?  

Ginny hesitou por um momento, pensando se deveria ou não aceitar aquela estranha ajuda. Concluiu que não havia muitas opções no momento. Cavalo dado não se olha os dentes, Ginny.  

— Preciso de um atestado assinado pela madame Promfrey para não participar da Quermesse Beneficente amanhã — confessou —, o problema é que não estou com nenhum ferimento sério, e...  

—... E você não quer que madame Promfrey descubra. 

— Exatamente.   

— Por que não quer participar da Quermesse?  

— É que tem algumas pessoas que vão estar lá que eu tenho que evitar, senão terei problemas — alegou com sinceridade, mesmo que não houvesse citado todos os fatos —, mas eu vou contribuir com a arrecadação beneficente para as crianças carentes, é claro! — advertiu antes que ela pensasse o contrário. 

Então percebeu que Luna estava avaliando sua resposta, tentando reconhecer se aquele seria um motivo satisfatório e Ginny surpreendeu-se por estar torcendo internamente para que ela aceitasse ajudá-la. Só posso estar muito desesperada mesmo.  

— Tudo bem, posso te ajudar com isso. 

Ginny abriu um brilhante sorriso de satisfação, mas não pode agradecer e nem fazer maiores perguntas de como seria aquela ajuda. Uma vez que viu Luna se levantar beijando delicadamente o pequeno tico-tico colocando-o novamente no parapeito de janela, em seguida viu o passarinho amarelo piar melodiosamente voando janela afora. Depois observou ela ir até a porta da Ala dos Leitos por onde madame Promfrey havia entrado antes, dando duas batidas leves.  

A enfermeira logo apareceu pelo vão da porta. 

— Em que posso ajudar... — madame Promfrey falou sem tirar os olhos do formulário que estava preenchendo, mas ao levantar o olhar abriu um enorme sorriso —... Luna, minha querida, como você está?    

— Para falar a verdade, é o de sempre madame Promfrey. Teria um minuto?  

— Oh sim, claro. Entre, por favor.  

As duas entraram na sala e Ginny voltou a esperar. Estralou todos os dedos das mãos enquanto balança uma das pernas com nervosismo, lançando várias olhadelas para a porta de modo ansioso. 

Alguns minutos depois a porta tornou a se abrir.  

— Obrigada, Madame Promfrey — ouviu Luna dizer. 

— Por nada, querida. Dê um abraço no seu pai por mim. 

Luna sorriu afetuosamente para mulher mais velha vendo-a fechar a porta novamente em seguida. 

— Então, o que aconteceu? — Ginny quis saber.  

— Consegui, aqui está — respondeu ela estendendo o braço entregando-lhe um pedaço de papel.  

Sem conseguir acreditar e ao mesmo tempo impressionada, Ginny leu o que estava escrito no papel, “Atestado médico para lesões leves de dois dias” com a assinatura de madame Promfrey preenchida. 

— Mas, mas, como?  

— Madame Promfrey é amiga da minha família, me conhece desde criança e confia em mim... 

Então ouviram um movimento dentro da Ala dos Leitos, fazendo com que Ginny devolvesse o papel para Luna rapidamente. Madame Promfrey reapareceu parada na porta chamando por um nome:  

— Geofrey Weasley.  

Ginny se levantou indo até a enfermeira.  

— Queira entrar, por favor. Vou examinar a gravidade da lesão...  

— Não é necessário madame Promfrey, já estou melhor. O gelo ajudou bastante, obrigado.  

— Tem certeza? Posso examinar rapidamente...  

— Não, não precisa. Já estou melhor.  

— Ótimo, mas se voltar a sentir alguma dor, volte para cá imediatamente — avisou a enfermeira laconicamente e voltou para dentro da sala.  

Ginny relaxou os ombros sentindo-se aliviada. 

— Valeu Luna, você ajudou muito — reconheceu ao virar-se para olhá-la — Mas, como conseguiu isso?  

Luna deu de ombros distraidamente, com um sorriso sonhador.  

— Costumo vir bastante aqui. Acho que por me acharem esquisita, algumas pessoas gostam de pegar algumas coisas minhas e esconder por aí — contou ela despreocupadamente —, já me machuquei algumas vezes tendo que subir em árvores, cavar buracos e escalar estantes altas para poder recuperar os meus pertences. 

— O que? Isso é horrível, não podem fazer isso! — afirmou indignada com uma certa dose de pena.  

— Ah, não é legal mesmo. Mas o lado bom é que pude estar hoje aqui na enfermaria e por isso consegui te ajudar — argumentou sorrindo —, só não esqueça o atestado. Agora você só precisa colocar o seu nome e da assinatura do técnico Black.  

E entregou novamente o papel para Geofrey. 

— Sim, vou fazer isso, mais uma vez obrigado Luna. Você ajudou muito.  

— Tudo bem, se encontrar o tico-tico por aí agradeça a ele também — falou ela informalmente. — Vou para o salão principal, está quase na hora do jantar, acho que vai ter pudim hoje... 

Enquanto a acompanhava com o olhar, Luna se afastou. 

E Ginny sentiu uma imensa alegria por saber que iria poder participar da Quermesse Beneficente podendo ser ela mesma. 

x.x.x.x 

Depois de conseguir o atestado médico e a permissão do técnico Black para não participar da Quermesse Beneficente, Ginny precisou ir até a sala da vice-diretora para entregar a autorização. 

Infelizmente, a professora McGonagall não estava sozinha.  

— Com licença, professora — falou depois de bater ao entrar na sala. — Desculpe interromper. 

A vice-diretora e a supervisora-disciplinar estavam tendo uma acalorada discussão antes de Geofrey aparecer, a velhota com cara-de-sapo estava com as bochechas vermelhas e seu lacinho cor de rosa estava meio torto e desalinhado pregado em seu casaquinho felpudo. Ao contrário da professora McGonagall que continuava com a fisionomia impecável e rígida, exceto por estar parecendo mais alta que o normal.    

— Do que se trata Sr. Weasley? 

— Só queria entregar o atestado e a permissão do técnico Black... — começou falando com certa cautela, sabendo que estava sob o olhar penetrante da professora Umbridge. — É para não participar da Quermesse Beneficente nesse final de semana. 

A professora McGonagall analisou rapidamente os papéis depois que Geofrey entregou-os.  

— Pelo que vejo está tudo certo — constatou a vice-diretora, fazendo Ginny sentir outra vez um imenso alívio. — No entanto precisa estar ciente Sr. Weasley, de que isso não vai eximi-lo da participação das arrecadações beneficentes. Você vai precisar encontrar algum projeto que possa participar de forma não presencial.  

Geofrey concordou balançando a cabeça. 

— Ótimo, então está dispensando. 

Então virou-se para abrir a porta e sair, quando um som agudo interrompeu-a antes que pudesse fazer isso. 

— Hem, hem — pigarreou a professora Umbridge. — Creio que isso não é tudo Sr. Weasley. 

Girando nos calcanhares, Ginny encarou a velhota com cara-de-sapo. 

— Não? 

— Não, querido — respondeu ela de modo afetado com uma risadinha falsa. — Poderia me explicar qual a gravidade dos seus ferimentos para que não esteja apto de participar das atividades extra curriculares? 

— Bem, não vejo como poderia professora Umbridge. Sem ofensas, mas acho que a senhora não entenderia, só posso dizer que é uma região muito sensível.  

— E como isso aconteceu? 

— Foi durante o treino de futebol... 

— E houve alguma lesão na cabeça? Quais foram os exames aplicados para determinar a gravidade dessa lesão?  Quem foi que... 

— Ora, já basta Dolores! — vociferou a professor McGonagall enraivecida. — Tenho plena confiança nos procedimentos médicos de madame Promfrey, e certamente não precisamos de um interrogatório para determinar a veracidade de um simples atestado médico.  

— Pois sabia que eu não concordo nenhum pouco com isso Minerva, é extremamente imprescindível verificar o que isso pode ser... 

— Pouco me importa com o que você concorda ou não Dolores. Isto não está violando nenhuma regra disciplinar, portanto não é da sua alçada. Não acha? 

Ginny viu os lábios da professora Umbridge se crisparem, assim como as sobrancelhas formarem uma única linha ao encarar a vice-diretora.  

— Certo, como queira, Minerva — respondeu ela, lentamente, palavra por palavra. — Espero que se recupere logo Sr. Weasley, certamente iremos nos ver em breve. Muito em breve. 

Ginny sentiu a ameaça velada. 

Ouviram alguns passos curtos e a porta bater quando a professora Umbridge saiu da sala da diretoria. 

— Me desculpe professora, não sabia que isso poderia causar problemas.  

— Não se preocupe com isso Sr. Weasley, a professora Umbridge já é um problema por si só. Por algum motivo ela está insistindo em assuntos mais que o necessário ultimamente. De qualquer forma, vou lhe dar um aviso, não dê motivos para que ela o supervisione pessoalmente, ok? Siga as regras disciplinares, frequente todas as aulas e sempre fique nos limites das escolas. Não quero dar nenhuma razão a Dolores Umbridge. 

Geofrey concordou assentindo firmemente, engolindo um seco. 

— Sim senhora.  

— Ok então está dispensado, pode ir.  

Ginny saiu da sala, olhando ao redor percebeu que estava finalmente sozinha. Jogou os braços para o alto, num grito mudo vitorioso. Pegando o celular digitou a mensagem no grupo ‘Elas sabem mais’ em que participavam as amigas. 

 

Vocês não imaginam o prazer que é estar de volta  Ginny Weasley 16:16 

 

‘Quê? Como assim? — Angelina Johnson’ 16:18 

 

Quem está de volta? — Katie Bell’ 16:18 

 

‘Contexto Ginny! Do você está falando? — Hermione Granger respondeu sua mensagem’ 16:19 

 

Preparem-se vadias. Ginny Weasley está de volta — Ginny Weasley’ 16:20   

 

Ué, quando foi que você saiu? — Angelina Johnson respondeu sua mensagem’ 16:21 

 

‘Aff, vocês precisam começar a entender as minhas referências, senão o nome do grupo não faz sentido né — Ginny Weasley’ 16:23 

 

‘Não temos bola de cristal Ginny. O que aconteceu? — Hermione Granger’ 16:23 

 

‘Consegui um atestado para o Geofrey não participar da Quermesse Beneficente. Vou poder ir como eu mesma! Uhuuu!— Ginny Weasley’ 16:24 

 

Chegando no quarto na Ala Masculina, Ginny recebeu várias mensagens das amigas com emojis, gifs e figurinhas animadas de comemoração e acabou soltando uma gargalhada com as respostas.  

— Qual é a piada? — Harry quis saber ao ver o colega de quarto entrar tão animado. 

— Ah então, depois do que aconteceu hoje, resolvi rir pra não chorar. Sabe como é, ver o lado bom da coisa. 

— Sinceramente, não queria ser você cara.  

— Pode crer, eu também não. Nem vou poder participar da quermesse amanhã. 

— Sério? Nossa que pena — Harry lamentou, mas Ginny notou que havia um certo tom de falsidade naquela frase. 

— Tudo bem, já me conformei — falou dando de ombros. — Ei falando nisso, minha irmã disse que vai participar da quermesse amanhã. 

— Hum legal — respondeu Harry, sem dar atenção ao que Geofrey estava falando.  

E pela primeira vez, Ginny não ficou tão empolgada por ir na Quermesse Beneficente. 

Que droga, Harry! 


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Notas finais do capítulo

Nesses tempos difíceis de quarentena, como vocês estão? Espero que estejam bem.
Sei que demorei para postar o capítulo, mas foi por vários motivos gente. Muita coisa aconteceu, e por isso acabou sendo mais demorado mesmo para escrever.
De qualquer forma, só posso dizer que conseguimos chegar na metade dessa confusão que a Ginny se meteu, estou ansiosa para terminar o próximo capítulo já hahaha.
Mas por enquanto, espero que vocês tenham gostado desse e me digam o que acharam! Não esqueçam! Preciso da opinião de vocês!
Um grande abraço, se cuidem, se protejam! Fiquem em casa se puder! E até a próxima!



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