—Iza... —O Michel chamou meu nome sem saber o que dizer. Seus olhos estavam grudados no meu rosto estudando atentamente cada reação minha. E eu não sabia que reação eu tinha que ter.

—Eu tenho que ir. —Eu disse me levantando. Enquanto tentava me decidir o que fazer ou dizer. Mas era claro que fugir sempre era mais fácil.

O Michel também se levantou, ele estava tão ou mais atormentado que eu.

Eu caminhei novamente para frente do portão e cruzei meus braços. Não havia nem sinal da Nice por ali. Porque merda a Nice estava demorando dando.

—O que você esta fazendo?—O Michel perguntou também parando ao meu lado. —Tá bancando a ratinha novamente e fugindo?

Ok. Quem sabe dessa vez ele tivesse razão e eu realmente tivesse fugindo. Mas quem podia me condenar? Eu ainda tinha um namorado, tá que ele não era muito esperto, mas mesmo assim o Max era o meu namorado, e ele tinha a loira anoréxica, claro e um enorme chifre. Mas quem se importava? Eu fechei meus olhos e respirei fundo antes de responder.

—Eu não tenho motivos para fugir de você.

—Eu não disse que você esta fugindo de mim. Eu disse que você esta fugindo de si mesma.

Ótimo agora eu não tinha idéia do que ele estava falando. Droga porque ele tinha que me dizer essas coisas.

—Tudo que eu quero é ir para casa e esquecer essa noite. —Eu disse com sinceridade, porque o teto não desabava na minha cabeça, cara era mais fácil do que ter que agüentar o que eu agüentei.

—Esquecer?!—Ele repetiu como se achasse que eu não tivesse motivos suficientes para isso. — O que você quer esquecer?

Deixa eu ver. Esquecer que o Max e a Emilia foram namorados e isso casualmente me torna uma amiga traidora, esquecer que o meu namorado teve um ataque de ciúmes e brigou com o seu melhor amigo por minha culpa, esquecer que eu vi a Thifany colocando um enorme par de chifres nele, esquecer que eu o beije, e esquecer que por mais que eu não queira admitir eu gosto tanto dele, mas tanto dele que o resto do mundo parece não ter a mínima importância quando eu estou ao seu lado... Ok. Eu nunca admitiria aquilo em voz.

—Tudo. —Eu disse em um completo resumo. Assim eu não falaria tanto burrada e não teria que me arrepender na manhã seguinte por ter uma enorme boca.

—Tudo. —Ele repetiu olhando para o chão. —E você tem razão esquecer sempre é a melhor saída.

Claro que era. Principalmente se ele estava envolvido nisso.

Ficamos em silencio por algum tempo. Eu olhando para a estrada e ele para o chão. Formávamos uma boa dupla.

—OK. Eu te levo pra casa. —Ele disse de repente como se tivesse enjoado de ficar ali olhando para o nada.

—NÃO. —Eu neguei rapidamente, eu não precisava ficar nenhum minuto a mais ao lado do Michel, minha cabeça já estava confusa demais.

—Porque não?—Ele perguntou sem se mover.

—A Nice vem me buscar.—Eu o lembrei.

O Michel sorriu silenciosamente balançando a cabeça. Será que isso era tão absurdo assim.

—Eu te levo. —Ele insistiu se afastando.

Eu suspirei pesadamente porque ninguém me escutava.

—Liga pra ela. —Ele disse jogando o seu celular pra mim. Eu o peguei no ar, enquanto o Michel sumia de vista.

É parecia que eu não tinha muita escolhas por ali.

No visor do celular do Michel tinha uma foto horrorosa dele com a Thifany, eu senti vontade de jogar ele no chão e esmagar. Mas ai eu lembrei que eu precisaria de uma boa desculpa para explicar o acidente. Claro que eu podia dizer que o visor quebrou com a foto da Thifany, mas acho que não ia convencer muito.

Então sem muita opção eu disquei o numero da Nice e desmarquei, eu não achei que ela ficou muito brava eu ate diria que ela pareceu satisfeita. Pela demorar eu diria que ela não tinha conseguido roubar um carro...

—Vamos. —O Michel chamou estacionando o carro.

Eu concordei, enquanto olhava para os lados.

—Eu não sei se tenho que avisar o Max. —Eu disse entrando no carro.

—Você não deveria se preocupar tanto com ele. —O Michel me repreendeu como se eu tivesse falando uma grande merda.

—Ué, e porque não?

—Eu não estou vendo ele preocupado com você. —Ele respondeu sem olhar novamente para mim.

Eu nunca pensei que iria dizer isso na vida. Mas o Michel tinha razão, parecia que o Max não tinha sentido muito minha falta. Droga eu detestava aquilo. O que eu tinha que fazer mesmo? Porque as coisas sempre tinham que ser complicada para mim.

—Você não consegue fazer nada direito né?—Eu perguntei com raiva, claro que a culpa disso tudo que estava acontecendo era do Michel, se ele não tivesse cruzado meu caminho, a essa hora eu estaria dormindo na minha confortável cama sem me preocupar com o dia seguinte.

—O que?—Ele perguntou espantando como se não fizesse a menor idéia do que eu falava.

—Nada. —Eu resmunguei de volta. Olhando pela janela envergonhada por ter falado sem pensar. —Para o carro. —Eu gritei quando vi uma pessoa bem familiar num posto de gasolina fazendo algo suspeito.

—Nem vem que eu não estou correndo tanto assim. —O Michel protestou sem entender.

—Para o carro. —Eu pedi me virando no banco pra poder ver melhor. O que aquele ser do outro mundo estava fazendo. —O Jerry, eu preciso ver...

—Quem?—Era obvio que o Michel nem fazia idéia da existência do Jerry, acho que nem a mãe dele.

—O Jerry. —Eu resmunguei antes que o posto de gasolina ficasse completamente para trás.

—O que você quer com esse idiota há essa hora. —O Michel resmungou de mau humor diminuindo a velocidade mais não parando.

—Jerry não é um idiota. — Tá legal o Jerry era um idiota, mas só eu podia chamá-lo assim. —E não é da sua conta o que eu quero com ele. —Agora o Michel achava que mandava em mim.

— Você quem sabe. Mas eu vou te levar até a sua casa. —Ele disse irritado.

—Ah qual é?—Agora eu estava perdendo completamente a paciência. — O Jerry esta fazendo algo de errado e eu preciso saber o que é?—Eu não podia deixar uma coisa dessas passar.

—Mas um motivo pra você se manter longe dele.

—Eu quero descer.—Eu pedi sem nenhuma paciência agora. Isso era só que me faltava. —eu preciso ver o Jerry.—Eu protestei com raiva. O Michel não mandava em mim.

—Quem é esse idiota?—O Michel perguntou furioso freando o carro bruscamente. Eu fui jogada pra frente batendo minha cabeça no pára-brisa.

—Você que é o idiota aqui. —Eu disse saindo para fora do carro. Minha cabeça estava doendo eu estava com raiva do Michel.

Era nessas horas que eu entendia porque eu e o Michel NUNCA daríamos certo, NUNCA mesmo. A gente não conseguia ficar nem uma hora junto sem brigarmos.

Eu marchei igual um soldado indo pra guerra em direção do posto de gasolina. Eu ouvi o Michel abrir a porta do carro. Eu estava preste a gritar para ele ir para o quintos dos infernos, quando novamente ouvi a porta sendo aberta e fechada e o carro dele sair disparado pela rua.

Em nenhum momento eu me virei para olhá-lo. Eu estava com raiva. Minha cabeça estava doendo por ele ser um imbecil e agora eu estava sozinha num posto de gasolina.

Eu não me desesperei, o Jerry estava por ali, e a menos que ele tivesse matado alguém eu tinha uma carona até em casa.

Mas o que o Jerry estava fazendo ali? Eu caminhei em direção aonde eu tinha visto ele parado com o carro e... Nada.

Ah não, não e não. Ele tinha ido embora. Tudo isso era por culpa do Michel. Cara eu olhei para os lados desesperada. Agora sim eu estava ferrada de verdade.

De repente um idiota qualquer entrou com o carro, contudo no posto de gasolina freando em cima de mim, eu coloquei a mão no capuz do carro assustada, cara parecia que o meu coração ia sair pela boca.

Quando o infeliz do motorista saiu pra fora eu quis morrer, mas era de raiva.

—Esta querendo me matar?!—Eu perguntei furiosa. Aquilo era um pesadelo.

—Aonde você esta indo?—O Max indagou ignorando minha pergunta.

—Não é da sua conta.—Isso era só o que me faltava mesmo. Essa noite nunca ia acabar.

—Como não? Você é minha namorada. —O Max gritou isso era prova de que ele realmente não estava bem.

—Cala a sua boca Max. —Eu pedi furiosa, parecia que tinha um vulcão de raiva dentro de mim, eu nunca pensei ser capaz sentir tanta raiva assim nunca mesmo.

Porque aquele maldito posto de gasolina não explodia. Juro que seu eu tivesse um fósforo eu mesmo o fazia explodir.

—Vamos embora. —O Max disse como se mandasse em mim.

—Eu não vou a lugar algum com você.

—Como não. —Ele pareceu indignado. Eu namorava um bebum. Rá bem feito Luiza, a macumba pegou direitinho. —Você é minha namorada.—Ele não parava de repetir aquilo.

—Algum problema?—O Michel perguntou aparecendo do nada. Quer dizer, eu pensei que ele tivesse ido embora.

—Fica fora dessa.—O Max disse furioso. Obvio que não tinha gostado de ver o Michel por ali.

—É só você não fazer burrada.—O Michel parecia mais controlado.

—Vocês estavam juntos. É isso.—O Max disse irritado como se só agora tivesse percebido isso.—Você estava com ele. É isso Luiza.—Lá ia o Max ter outra crise de ciúmes.

—Será que da pra respeitar a Luiza.—O Michel perguntou perdendo a paciência.

O que eu havia feito de errado pra merecer aquilo.

—Fica fora dessa meu.—O Max pediu furioso.

—Nós vamos ficar fora sim.—O Michel disse me pegando pelo braço e me puxando pra longe.

—Larga a minha namorada.—O Max nos seguiu inconformado.

—Tudo bem Michel. —eu disse me colocando no meio dos dois. Aquilo tinha que parar em algum momento.—Eu vou com você Max.—O Max sorriu triunfante enquanto o Michel ia abrir a boca para protestar eu o silencie com um olhar.

Eu queria que tudo acabasse rapidamente.Aquilo era uma grande idiotice.

—Max eu preciso tomar alguma coisa, compra um refri pra mim.—Eu pedi olhando para a conveniência.

—Você esta querendo ficar sozinha com ele é isso.—O Max disse acusadoramente, e com razão mais eu não ia deixar ele saber disso.

—Não Max.—Eu disse sem paciência. —Eu vou no banheiro.—Eu disse caminhando na direção do banheiro que ficava fora de vista dos dois, então eu me encostei na parede e esperei. O Michel apareceu no instante seguinte.

—Você não pode ir com ele.—Ele parecia bem decepcionado com a minha atitude.—Olha o jeito que ele te tratou, como você pode...

—Ele esta bêbado Michel.—Eu defendi o Max sem saber o porque.

—Não vai, eu to te pedindo.-Ele pediu suplicante.- O MAx não sabe o que esta fazendo.

—Eu não posso deixar ele ir sozinho.

—Você não pode entrar no carro com ele, ele esta completamente bêbado. Ele vai se matar e vai te matar também.—O Michel estava começando a se desesperar.

—Por isso mesmo que eu não posso deixa-lo sozinho.—Eu estava querendo evitar que alguma coisa ruim acontecesse com o Max.

—Certo.—O Michel respirou pesadamente olhando para mim por um instante. —Você tem razão.—Ele disse como se só agora tivesse pensado nas conseqüências de deixar o Max sozinho, mas não parecia arrependido. —Sabe dirigir?—Ele perguntou de repente.

Aonde ele queria chegar com aquilo.

—Sei. —Eu confirmei.

—Então toma isso.—Ele disse entregando a chave do seu carro na minha mão.

—O que? —O que ele queria que eu fizesse com aquilo, eu não ia pegar o carro dele. Não mesmo.

—Amanhã você me da a carona.—Ele disse piscando para mim.

—Não. —Eu disse apavorada.—Pra que isso?Para com isso.

—Eu não vou deixar você ir com ele.—Ele disse preocupado.

—Eu não acho que ele vai aceitar bem.- Na verdade eu tinha certeza quando a isso.

—Eu me entendo com ele. —Ele sorriu despreocupadamente.

Eu não resisti e acabei sorrindo também.

Eu desejei poder congelar o tempo naquele momento. Droga eu estava parecendo aquelas garotas apaixonadas tolas, eu detestava aquilo, mas o fato era que o tempo não parou e eu fiquei ali olhando pra ele igual uma retardada, quando de repente alguem se moveu nas suas costa, preocupa eu levantei a cabeça para ver se era o mas e para o meu total espanto não era... não sei se isso foi pior ou melhor.

-Nice.-Eu gritei a Nice que congelou na porta do banheiro. Mas que merda a Nice estava fazendo ali aquela hora da noite?