Oposto Complementar escrita por Tai Barreto


Capítulo 8
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

Olar, meninas. Sumi, não foi?
Agradeçam a minha cunhada, pois ela está levando o notebook para o trabalho há quase duas semana.
Eu bem que tentei atualizar pelo celular, mas eu não obtive resultado, como puderam observar.
Semana passada eu fiquei sem internet, por isso ainda não respondi a ninguém.
Pelo que há de mais sagrado, não pensem que eu não vou responder. Eu não sou esse tipo de pessoa.
As coisas só estão complicadas para mim.
Minha cabeça anda um turbilhão e eu não tenho tido onde escrever.
Desculpem, meninas.

Sem mais, boa leitura.



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E mesmo de olhos fechados, a claridade repentina no meu quarto me faz apertá-los. Solto uns resmungos, viro de lado e coloco minha cabeça sob o travesseiro, querendo minimizar a dor que se espalha por ela. Aperto-o, mas pelo fato de ser preenchido com espumas de ganso, ele se divide ao meio. O grunhido escapa e eu remexo-me, querendo encontrar uma posição que favoreça a volta do sono, mas o martelar da dor me impede de tal coisa. O nome disso? Ressaca. Eu sinto o gosto do álcool na língua e faço uma careta, colocando-a para fora.

— Deseja mais um shot de tequila, senhorita Vidal? — Seu tom de voz é petulante e ele puxa o travesseiro.

Rolo os olhos, amaldiçoando até a quinta geração do Harry e me sento, recusando-me a abrir os olhos.

— Que horas são? — Meu tom, por outro lado, soa rouco.

Depois de duas horas na boate, fomos jogar boliche e a cada comemoração, gritávamos de felicidade. Harry se recusou a ir, sabendo que eu estava bêbada o suficiente para tombar algumas vezes, mas não queria bancar a minha babá.

— Cinco da manhã. Acabo de chegar.

— Porra, Harry! — exclamo, furiosa. — Eu estou com ressaca. Dá um tempo. — Torno a deitar e puxo o cobertor, arrumando a camisola sob.

— Deveria controlar seu linguajar. — Ele puxa o cobertor para baixo e eu sinto o calor do aquecedor nas pernas.

— Só me deixa em paz, está bem? Eu sei que cheguei com você naquela boate. — Eu saio da cama. — Mas isso não significava que eu tinha que sair dali com você. Não vou tolerar que me trate dessa forma. Muito menos dentro da minha casa. — Vou ao closet e pego a pasta onde está a escritura. — Aqui está a prova. — Coloco o papel diante dele. — Minha casa. Isso não te dá o direito de entrar aqui e fazer isso comigo. Eu amo você e nada do que eu fiz por você, ao longo dessas últimas semanas, foi por querer algo em troca. Eu só não acho justo que piore a minha ressaca, quando eu cuidei de você sem me importar com nada além do seu bem estar em todas as vezes em que chegou aqui bem pior do que eu. Justo na minha primeira ressaca em Londres, você só piora as coisas para mim.

Eu pego a minha escritura, guardo-a e entro no banheiro, furiosa e com uma puta dor de cabeça. Dispo-me, coloco-me sob a cascata de água morna e tento relaxar, massageando meu couro cabeludo. Tomo uma ducha e permaneço um tempo ali. Quando decido sair, enrolo-me na toalha e penteio os cabelos calmamente, querendo evitar a piora da dor. Saio do banheiro, pego um baby doll de seda, preto, com alguns detalhes em renda e visto. Calço minhas pantufas e saio.

— Desculpa.

Eu o ignoro e saio do quarto, indo estender a toalha na área de serviço. Caminho até a cozinha e pego os ingredientes para fazer o chocolate quente.

— Só desculpo se preparar para mim — digo, quando ele aparece no topo da escada.

E lá está aquele meio sorriso de matar.

— O que você não me pede que eu não faço? — Ele desce a escada, arregaçando as mangas da camisa preta, passando a mão nos cabelos.

Eu estreito os meus olhos e o abraço.

— Só tome cuidado, porque da próxima vez, eu posso simplesmente te colocar para fora daqui. Eu posso ser pisciana, mas tenho ascendente em capricórnio, o que me faz ser fria quando eu quiser.

— Para quem mal sabia o signo solar, você está se saindo muito bem. — Harry ri e eu o acompanho. Ganho um beijo na testa. — Deixa eu fazer logo esse chocolate quente.

— Eu estaria abusando se pedisse um pouco? — questiona Letícia, descendo a escada de camisola de seda.

— Claro que não. — Harry lhe dá um meio sorriso. — E você. — Ele me olha. — Vá deitar. Eu levo o seu pedido em instantes.

Eu concordo e subo a escada, mas não sem antes beijar a bochecha da minha irmã. Fecho as cortinas, arrumo a cama e me deito, fechando os olhos.

Sinto sua presença.

— Entra — digo, antes mesmo que ele fale algo.

— Com licença. — Harry entra, cauteloso e se senta na beira da cama. — Está quentinho do jeito que você gosta.

Eu sento e pego a caneca, inalando o delicioso cheiro de chocolate.

— O que você me disse antes de eu sair do quarto? — questiono e ouço sua risada.

— Desculpa.

— Está desculpado. — Assopro e beberico. — Que delícia.

Harry se recosta contra a cabeceira da cama e coloca um travesseiro no colo.

— Vem, eu vou te fazer cafuné.

Mas, ao invés de deitar, já que eu quero beber meu chocolate, eu me recosto contra o seu peito e apoio a cabeça no seu ombro.

— O que minha irmã te falou? — questiono.

— Que não é a primeira vez que você tem ressaca, que você é assim mesmo, com o tempo eu me acostumo... — Ele dá de ombros e eu beberico mais um pouco. — Viu os marshmallows?

— Sim. Apenas não dá para comer agora.

Ficamos em silêncio e Harry começa a me fazer cafuné. Eu fecho os olhos, deliciando-me tanto com isso quanto com a bebida. Dou-lhe dois marshmallows, comendo os outros três e depois de deixar a caneca sobre a mesinha de cabeceira, eu repouso a cabeça no travesseiro e me rendo ao sono.

***

— Harry! — exclamo, sentando, ereta, procurando por ele pelo quarto.

A porta é aberta e eu vejo Letícia entrar com um sorrisinho nos lábios. Eu não me atrevo a olhá-la por mais tempo, indo ao banheiro, lavar o meu rosto. Em seguida, troco o baby doll, vestindo uma calcinha, short de cintura alta, jeans, justo e escuro e uma camiseta curta cor de vinho. Prendo os cabelos secos e desgrenhados num rabo de cavalo, calço chinelos e saio, encontrando minha irmã do mesmo jeito.

Seus cabelos encaracolados estão bagunçados e contidos num coque. Ela usa short e camisa alças finas. Já chegamos a dividir roupas, coisa típica de irmãs, mas eu me tornei bem ciumenta com tudo o que é meu recentemente.

— Ele só saiu daqui depois que você dormiu.

— Claro. — Passo por ela, saindo do quarto. — Que horas são?

— Meio dia.

— Lalinha? — Harry entreabre a porta e eu desço os demais degraus rapidamente.

— Oi. Achei que fosse dormir comigo. — Vou até ele e o abraço. — Quer dizer, na minha cama.

— Eu entendi, meu doce. — Ele afaga o meu rosto. — Mas, não. Você não me convidou. E eu não acho que você ia gostar de acordar e me ver ao seu lado.

— Não acho que seria uma visão muito ruim. — Brinco e sua risada me faz sorrir de imediato e imensamente.

— Você não tem jeito. — Sinto seus lábios no meu nariz, num beijo terno.

— Quando acabarem de romancezinho, eu vou adorar almoçar.

Reviro os olhos.

— Não estamos de romancezinho. — Cruzo os braços e viro-me para ela.

— Sua irmã é muito adorável. — Harry me abraça por trás. — O que eu posso fazer?

Letícia dá de ombros.

— Sou adorável, mas isso não é algo que a minha família valoriza. Eu sou a ovelha negra.

— Como assim?

— Sou de esquerda, enquanto todos da minha família, de direita.

— Eu não sou de direita. — Leti cruza os braços e eu arqueio uma sobrancelha.

— Não? E quando teve a Parada Gay ano passado, você ficou de choramingo para o meu lado somente porque eu fui.

— Você não deveria ter ido sem avisar aos nossos pais.

— Eu te avisei. Você é irmã mais velha. Deveria servir para isso.

— Está me dizendo que eu não sirvo para ser?

É minha vez de dar de ombros.

— A direita não vai chegar aonde quer.

— Eu não estou entendendo nada. — Harry resmunga.

— Temos que almoçar, Laila Maria. Ainda temos que comprar o vestido para o casamento do Bruno.

Eu resisto à vontade de mostrar a língua para a conservadora e decido ir preparar o almoço com Harry.

***

— Ele vai babar quando te vir — diz Letícia, batendo palminhas.

— Ele quem? — Franzo o cenho, mantendo a atenção no vestido em meu corpo.

Tem cerca de três horas que estamos rondando Londres, em busca de algo aceitável para o casamento do Bruno com a Skye. Não que eu esteja muito empolgada para ir; ela não gosta de mim e eu não vejo motivos para isso, pois eu nunca na minha vida dei em cima do Bruno ou fiz algo semelhante. Ele é como um irmão mais velho. Se foi porque ele me deu o galpão, eu não tenho culpa. Sequer imaginei que ele fosse me dar. Mas que foi o melhor presente, eu admito que foi.

— Harry, claro.

Reviro os olhos e viro de lado, a fim de analisar minunciosamente. Prendo os cabelos de qualquer jeito, somente para ter uma noção e tento olhar as costas.

— Harry não tem que babar nem dada do tipo. Somos apenas amigos.

— A quem você quer enganar?

Eu finalmente olho para Letícia, enquanto ela amassa os cachos, depois de mudá-los de lado pela milésima vez. Odeio quando ela mantém esse sorriso insolente. Eu tenho vontade de tirar sob bofetadas.

— Vai à merda. Eu juro que nunca o vi como nada além de amigo. E não vamos passar disso. Então, tira esse sorriso de merda ou eu vou aí resolver isso.

Eu imito o seu sorriso quando ela o desfaz e me aproximo da vendedora, para que ela retire o vestido.

— Vai levar? — questiona Letícia.

— Sim. — Olho para a moça. — Eu vou levar.

***

— Pede comida — diz Letícia, jogando-se no meu sofá, enquanto eu subo a escada. — Frango xadrez.

Eu entro, coloco a bolsa de alça tiracolo no tripé, a bolsa com o vestido no closet e vou ao banheiro, onde lavo as mãos. Pego o smartphone do bolso e ligo para o restaurante de comida chinesa de sempre, fazendo o pedido para três pessoas. Depois do almoço, Harry disse que ia para casa, tentar relaxar um pouco e eu estou para ir buscá-lo para que jante conosco. Ao fim, enfio o smartphone no bolso traseiro, prendo os cabelos num coque com um elástico, pego a carteira e saio.

— Fiz o pedido para três. Estou indo buscar o Harry em sua casa. Caso eu demore e o pedido chegue, você paga. — Ofereço-lhe a carteira.

— Está bem. — Ela pega.

Saio e sigo para a porta ao lado. Dou duas batidas contra e entreabro-a, não o encontrando na sala, como imaginei.

— Harry?

— Entrada ao lado da televisão.

Eu entro, fecho a porta e sigo o caminho indicado. Encontro-o sem camisa, de calça preta e com um cigarro preso nos lábios. Os cabelos escuros e compridos estão bagunçados e eu solto um suspiro.

— Você está foda de gostoso assim. — Cruzo os braços e me recosto contra o batente da porta.

Harry ergue as sobrancelhas, surpreso e traga o cigarro. E quando ele solta a fumaça pelo nariz, eu espirro.

— Eu vou apagar. — Ele leva a mão ao cigarro.

— Não. Não apaga.

— Tudo bem, então. — Harry dá de ombros e traga outra vez.

— O que faz? — Eu dou somente dois passos: ele ergue a mão, impedindo-me.

— Você não pode ver ainda.

— Tudo bem. — É minha vez de dar de ombros. — Vim te avisar que pedi comida chinesa.

— Frango xadrez?

— Sim.

— Vou apenas vestir uma camiseta e nós vamos. — Ele apaga o cigarro.

Por mim, você nem vestia. Quer dizer, Harry não é musculoso, mas é bom demais de ver. Bom demais mesmo. Ele prende os cabelos de qualquer jeito, num coque e sai, passando por mim, mas não sem antes beijar a minha testa. O cheiro de nicotina é forte, mas o perfume dele misturado a isso é interessante. Viro-me e o encontro vestindo uma camiseta branca.

Eu saio do galpão dele, indo ao meu, sabendo que ele me segue.

— Bem na hora — diz Letícia, assim que abro a porta. — Acabo de arrumar a mesa.

— Oi, Leti. — Ele acena para ela, entrando.

— Oi, Harry. O que fazia?

Eu fecho a porta e o puxo pela mão à cozinha.

— Estava pintando um quadro.

— Você pinta? — Letícia ergue as sobrancelhas em claro sinal de surpresa e lá está aquele meio sorriso encantador.

— Sim. Eu pretendia fazer graduação em artes plásticas, porém, como filho único, eu tinha que assumir a empresa.

— Que pena.

— Depois eu sigo o meu sonho. Não precisa se preocupar. — Harry puxa o banco alto para mim. Beijo sua bochecha e me sento.


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Notas finais do capítulo

Bom início de semana.
Desculpem o sumiço.
Responderei em breve.



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