Oposto Complementar escrita por Tai Barreto


Capítulo 7
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Olar. Eu sei que eu estou devendo a resposta. Mas a semana tem sido uma loucura para mim.
Eu vim com esse capítulo programado, então, perdoem-me a ausência.
Espero que gostem do que está por vir.
Ouçam Work da Rihanna no momento certo.

Sem mais, boa leitura.



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Talvez os amigos do Harry tivessem razão sobre sermos opostos. Ao longo da semana, presenciei um pouco da sua grosseria quando algo saiu do trilho, sua frieza com o rapaz responsável pela publicidade da empresa que cometeu um pequeno deslize e seu estresse. Não que eu seja a pessoa mais calma desse mundo, mas admito que me surpreendeu demais tais cenas. Agora estamos dentro do elevador da CCC, algumas horas depois do horário do expediente, feliz por finalmente tê-lo encerrado e por ser sexta-feira. O lado ruim é que Harry vai sair essa noite e só vai chegar amanhã. Eu sei que ele só sai depois que eu durmo, mas é chato ficar em casa enquanto ele se diverte. Eu poderia ter companhia.

— Duas mil libras pelos seus pensamentos — diz, divertido.

— Vai sair hoje? — Eu o olho.

— Sim.

Saímos no subsolo e eu caminho ao seu lado em direção ao seu carro. Harry desativa o alarme e abre a porta do carona para mim.

— Obrigada. — Eu entro e coloco o cinto.

— Não tem de quê. — Ele me dá uma piscadela e logo se junta a mim.

Ao longo da semana, conversei mais um pouco com a minha irmã, que está contando os dias para o início das férias. Eu sequer me importei em saber o dia exato e evitei ao máximo tocar no assunto. Isso significa sua vinda.

Observo a paisagem lá fora, em silêncio, pensando na diferença gritante de clima. Eu, sem sombra de dúvidas, estaria na casa da Marcela, jogando conversa fora, enquanto nos programávamos para ir ao baile funk perto de onde ela mora. Bons tempos...

Harry não parece se importar em querer conversar comigo. Ou talvez ele esteja apenas cansado e não queira conversar. Ou talvez ele queira respeitar meu silêncio. Suspiro e o olho.

— O que vamos jantar? — questiono, curiosa e faminta.

— Bife Wellington. Vou preparar lá em casa e depois levo para comermos lá.

— Certo.

Ele entra na garagem do nosso prédio e para na sua vaga. Eu saio e espero-o se juntar a mim. Caminhamos lado a lado.

— Você está bem? — Eu sinto seus olhos em mim.

— Estou, Harry. — Dou um pequeno sorriso e chamo o elevador. — Não se preocupe.

— Não me preocupar com você? É sério?

Eu resisto à vontade de revirar os olhos e entramos na cabine. O som das engrenagens, como sempre, soa alto.

— E o senhor deveria relaxar um pouco mais. Todo frio e grosso ao longo da semana. Nem parece o Harry que me coloca na cama, para dormir. — Cutuco sua costela e ele ri.

— Lalinha! — Ele se vira e me faz cócegas e nós saímos aos tropeços, gargalhando e pedindo para parar.

Ouvimos um pigarreio, o que faz Harry e eu nos afastarmos. Eu olho na direção: exatamente em frente à porta do meu galpão, está Letícia. Ela dá um gritinho agudo e corre até mim, eufórica, se jogando em meus braços e me balançando de um lado para o outro, como se fizesse séculos que não nos vemos. Sequer fez um mês.

— Maninha! — Letícia me aperta em seus braços. — Que saudades eu senti de você.

— Por que não me disse que estava vindo? — questiono, afastando-a, irritada.

— Eu queria fazer surpresa. — Ela coloca os cabelos atrás da orelha. — Não gostou?

— Eu poderia ter ido te buscar.

— Nós poderíamos. — Harry retifica e ela o olha.

— É ainda mais lindo pessoalmente. — Ela diz em português, arregala os olhos para mim e o abraça. — Oh, desculpa. — Letícia o afasta bruscamente, falando em inglês. — Eu me empolguei. Adoro abraçar.

— Tudo bem. — Ele sorri. — Seja muito bem-vinda.

— Obrigada. — Minha irmã abre um imenso sorriso. — Vocês ficam tão lindos juntos.

Reviro os olhos e empurro-a de volta à minha porta.

— Harry, vemo-nos amanhã.

— Negativo. — Ele aparece ao meu lado. — Eu vou fazer o jantar e volto logo.

— Não precisa. Eu peço uma pizza.

— Volto logo. — Harry beija a minha testa. — Letícia, foi um prazer conhecê-la.

— Igualmente. — Ela acena, toda boba.

Solto um grunhido, pego as chaves e destranco a porta. Empurro a mulher de cabelos encaracolados para dentro, puxando suas duas malas em seguida. Como se ela não fosse uma. Sem alça, ainda por cima.

— Bem-vinda. — Fecho a porta.

— Nossa, mana. Esse lugar é lindo. Cadê o Bruno?

— Está morando com a Skye.

— Você mora aqui sozinha? — Letícia arregala os olhos castanhos para mim.

— Sim. Harry vem aqui toda noite, antes de ir dormir, me colocar na cama, desejar boa noite... Então eu apenas durmo. Exceto nos fins de semana. Divido o sofá com Harry.

— Espera. Eu não estou entendendo.

Suspiro e sento no sofá, chamando-a para se juntar a mim. Eu lhe explico tudo o que aconteceu desde que eu cheguei aqui até o momento.

— Laila? — Harry abre a porta.

— Droga! — exclamo, enquanto ele entra com luvas acolchoadas como as do Mickey Mouse, carregando uma forma refratária coberta com papel alumínio. — Eu não tomei banho.

— Seu cheiro é divino. Fica tranquila.

Eu sorrio e levanto.

— Obrigada. Vou arrumar a ilha.

Ele me segue.

— Sua irmã está bem? — questiona, num murmúrio.

— Ela só é retardada. Fica tranquilo.

Arrumamos tudo e quando eu olho Letícia, encontro-a olhando as fotos sobre o rack da antiga televisão. A maioria é comigo e Harry. Já vai fazer um mês que cheguei aqui e nesse tempo, nos aproximamos demais.

— Vocês são, realmente, muito bons juntos. — Ela nos olha. — É sério. Quem não conhece, deve pensar que são namorados.

— A quantidade de pessoas que nos perguntou isso é imensa, acredite — diz Harry.

— Vem comer antes que o jet lag te assole. — Eu chamo, não querendo tocar nesse assunto.

— Que jet lag. — Ela desdenha, se aproximando. — Você não tem mesa?

— Eu ainda vou comprar. Depois eu te conto.

— E onde vamos nos divertir essa noite? — Letícia senta na ponta.

— Eu não saio para me divertir à noite. — Ocupo o banco do meio.

— Justo você, que não perdia um baile funk na comunidade que Marcela mora? — Ela ergue as sobrancelhas e eu dou de ombros.

— Londres é outro lugar, querida. Outro mundo.

Harry nos serve e ocupa o acento ao meu lado. Ele está de banho tomado, com o seu maravilhoso perfume com toque de ervas mais intenso, os cabelos compridos molhados e a barba por fazer. Sua camisa azul marinho tem gola em V. Ele não é musculoso, mas o que possui de músculos é satisfatório. A calça jeans é preta e ele arregaça as mangas, totalmente à vontade.

A camisa da Letícia é cinza, com alguma frase em inglês preta, com uma parte para dentro da calça preta, de cintura alta, justa e com cortes no joelho. Os tênis brancos, os cabelos volumosos e sem maquiagem. Seus agasalhos estão sobre o sofá.

— Ah, não. Hoje eu quero mostrar a Londres que eu cheguei. — Ela bate palminhas.

***

O jeito da minha irmã, de mostrar a Londres que chegou, é impressionante. Quer dizer, ela está apenas mostrando quem ela realmente é, logo, surpreende algumas pessoas. Do momento em que cruzamos a porta de entrada da boate que Harry costuma frequentar até agora, ela atrai atenção de todos por onde anda. Letícia é linda, isso eu jamais negaria. E está ainda mais, mesmo usando um tubinho. A questão é que ela frequenta a praia tanto quanto eu fazia. E veio para cá com um bronzeado de me fazer inveja. E mesmo trabalhando e estudando, ela sempre tinha um tempo de ir para a academia e praticava esportes comigo aos fins de semana. Logo, o vestido vermelho está exatamente na metade de suas coxas torneadas. Tem alças grossas e é tipo bandagem. Sua maquiagem é discreta, tendo apenas um esfumado nos olhos. A sandália de salto é preta e tem uma tira grossa no tornozelo. Letícia não deveria ser tão linda assim.

Agora estamos sentados numa mesa, enquanto Harry conversa com uma loira distante de nós. Nós, inclui não apenas minha irmã e eu, e sim, o grupo de amigos dele. Eu nem preciso avisar que os rapazes estão babando pela minha irmã, preciso? Letícia está na pista, dançando com Will. Os cabelos cacheados dela estão ainda mais incríveis. Eu gostaria de ter nascido com ele. O garçom coloca a primeira rodada de shot de tequila. O casal da pista se aproxima e eu vejo Harry colocar uma mecha dos cabelos da mulher para trás, enquanto ela ri.

— Quando eu falar três, todo mundo vira — diz Isaac.

— Certo. — Pego meu corpo e todos fazem o mesmo.

— Um. Dois. Três.

E eu viro o meu. Batemos o copo contra o tampo da mesa e o pessoal ri.

— Nossa. — Eu faço uma careta.

— Não esperei que fossem virar mesmo. — Isaac comenta.

— Não vai dançar, Lalinha? — questiona Mia.

— Eu não sei. A semana foi cansativa.

— Sua irmã cruzou o oceano e está com mais disposição que você.

Eu faço outra careta, até que eu ouço a introdução de Work, da Rihanna.

— Minha música. Sai da minha frente. — Apresso-me até a pista.

Já chego me requebrando lentamente no ritmo. No primeiro Work, meu corpo já está se movendo por contra própria. Mexo os quadris de maneira sutil e provocante e quando olho para o meu grupo de amigos, encontro todos boquiabertos, inclusive a minha irmã. Jogo os cabelos para o lado, desço um pouco, rebolando. Minha saia de couro de pregas dá um movimento bom. Felizmente as botas são abaixo do joelho, o que não limita meus movimentos provocantes.

Eu canto, passando a mão pelos cabelos, rebolando. Eu tento, ao máximo, lembrar de uma coreografia que vi na internet e faço uns passos ou outros. Os demais, eu improviso. Qual é. Eu subia o morro para dançar funk. Sei fazer quadradinho de quatro. Jogo o cabelo e rebolo para o pessoal. Fecho os olhos quando chega a parte do Drake, mas continuo dançando.

E quando os abro, na parte da Rihanna, percebo que a maioria das pessoas me olha. E não me importo nem um pouco. Encontro os olhos do Harry em mim, semicerrados, e em seu rosto, a expressão é de raiva. E mais uma vez, eu não me importo nem um pouco. Eu lembro da rebolada da Rihanna e tento, ao máximo, fazê-la.

Ao fim da música, eu me aproximo do pessoal, recebendo uma salva de palmas deles.

— Querida! — Mia me abraça. — Que rebolada, hein?

— Enlouqueceu geral.

— Podemos conversar? — questiona Harry, com um tom de voz irritado.

— Hm? — Pego outro shot de tequila e o olho, com a cara mais cínica que eu posso fazer.

— Eu quero conversar com você.

— Espera um pouco. — Viro o shot, deixo o copo sobre a mesa e ergo os braços. Mia ri. — Agora podemos ir.

Sigo-o sem saber para onde exatamente estamos indo e Harry me coloca contra a parede. Seus olhos escuros me fitam como se me analisassem e eu espero.

— O que te deu na cabeça para dançar daquele jeito na pista? Viu a quantidade de homens que estavam te olhando?

— Vi sim. E adorei, não vou mentir.

— Laila, eu...

— Não é nada meu. — Corto-o. — Eu sou uma mulher solteira e danço onde e como eu quiser. Mesmo se estivesse namorando, acredite, eu estaria assim naquela pista, sabe por quê? Nenhum homem manda em mim. Então, volte para a sua loira e me deixe em paz. Eu vim aqui para me divertir e é isso que eu vou fazer.

Eu passo por ele, voltando à minha mesa.

— Vocês estão bem? — questiona Tyler.

— Não existe “vocês”. Somos apenas Harry e Laila. Amigos. — Dou-lhe uma piscadela. — Agora, vamos para pista?

Mia segura em minha mão e nós nos afastamos. Alguém esbarra em mim e quando eu viro, encontro Oliver Taylor, o, aparentemente, arqui-inimigo do Harry.

— Ei. — Ele sorri para mim, exibindo as lindas presas, e eu retribuo, cumprimentando-o em seguida. — Como vai?

— Bem, obrigada, e você?

— Estou ótimo, obrigado. Que show você deu, hein? Caramba. Deixou muitas pessoas aqui comentando sobre você.

— Isso é bom. — Sorrio para ele. — Gosto disso.

— Você está maravilhosa.

— Obrigada. Você está lindo.

Taylor usa uma camisa cinza, com blazer preto com risca de giz e jeans. Os cabelos castanhos estão levemente bagunçados.

— Obrigado.

— Conhece a Mia? — Indico-a e ela solta a minha mão e o cumprimenta.

— Como vai, Mi?

— Bem, obrigada. — Ela sorri.

— Preciso te apresentar à minha irmã. Vem. — Pego a mão dele e o puxo até a mesa. Toco no ombro dela, que conversa com Tyler e Jack. — Oliver, essa é a Letícia. Leti, esse é o Oliver.

— Taylor. — Ele estende a mão para ela.

— Vidal. — Ela o cumprimenta.

— Pelo que vejo, beleza é algo hereditário na sua família. — Oliver sorri e minha irmã concorda.

Ele cumprimenta o restante do pessoal.

— Eu estou indo para a pista com a Mia.

— Vou com vocês. — Aidan se apressa e nós vamos.

Riley se junta a nós e passamos um tempo ali, dançando ao som de Calvin Harris. Mia é ótima e me diverte bastante. Aidan e Riley dividem a atenção entre nós duas e eu sinto que alguém me olha. Eu não preciso tentar localizar para saber que se trata do Harry. Ele deve estar muito puto comigo. Eu até me importaria, se ele não estivesse de conversa com aquela loira.

Letícia se aproxima com Isaac e logo o grupo todo está ao nosso redor. As meninas ficam no meio, sendo cercadas e protegidas pelos garotos. Eu só me rendo à sensação de liberdade que é para lá de prazerosa.


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Notas finais do capítulo

Harry com ciúmes sim ou claro?
Vejo vocês depois.



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