Luxúria escrita por Diego Lobo


Capítulo 5
Luxúria




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Algum tempo antes, Cherry havia chegado da escola. Veio conversando ao longo do caminho com Mike.

Ela estranhou que seu irmão subiu para seu quarto sem se despedir, mas já era um lucro. Foi para seu quarto quase rastejando, pensando nos incontáveis deveres de primeiro dia de aula que já tinha que fazer. Quando abriu a porta do quarto, havia algo em cima de sua cama. Um embrulho.

Christine estava ao lado da cama.

Cherry se aproximou do embrulho e, depois de abri-lo, percebeu que era um vestido.

— É para mim? — perguntou, tocando no tecido com cuidado.

Era negro e um pouco ousado, moderninho, porém informal. Resumindo: era o vestido dos sonhos de Cherry.

— Sim, senhorita. E se apresse, por favor, temos que fazer seu cabelo e maquiagem ainda! — falou a empregada aflita.

— Eu vou me casar? — perguntou confusa.

— Não, senhorita. Sua avó mandou que arrumasse você para o chá da tarde com as pessoas influentes da cidade.

— Opa, opa! — interrompeu. — Diga a ela que eu não quero me envolver em política.

— Ah, senhora! É uma tradição de família. Por favor, se apresse.

Cherry tentou se trocar sozinha, mas acabou precisando da ajuda de Christine.

— Espero que Mike tenha ganhado uma roupa dessas também! — riu maldosamente.

— Seu irmão não irá. — disse a empregada. Cherry franziu a testa.

— Oras, por que não?

— Sua avó disse que sua presença já era o bastante.

— Que injusto! — reclamou. — Injustiça comigo, é claro!

Cherry já estava arrumada. Para sua surpresa, no castelo existia uma área onde pessoas de avental circulavam, parecia uma espécie de pequeno hospital. Christine a levou na área com o nome escrito “estética”.

Era grande assim como tudo no castelo, havia algumas criadas e outros funcionários se embelezando, as pessoas de avental pareciam entender muito bem do assunto.

— Pierre vai cuidar muito bem de você, senhorita. — Um homem de cabelos grudados na testa e muito alto estava a sua espera.

Assim que ela sentou-se na cadeira, outras pessoas vieram e tiraram seus sapatos, cuidaram de suas unhas dos pés e das mãos, enquanto Pierre analisava seu cabelo.

— Vamos fazer uma espécie de coque, mas não se preocupe, isso vai valorizar seu rosto. Sem dúvida que vai! — Cherry soltou um gemido quando uma das pessoas que cuidava de suas unhas quase arrancou seu dedo.

Passaram-se duas horas e ela estava pronta.

Christine estava maquiando mais um pouco a garota. Ela estava muito atraente e realmente o “coque” deu um certo destaque para seu rosto, que estava meio rosado.

Cherry gostou do que viu, mas queria só tirar uma foto e nada mais. Sair vestida assim, jamais.

Uma criada miudinha chegou apressada e sussurrou ao ouvido de Christine:

— Os convidados chegaram. Vamos, senhorita?

— Vamos! — A falta de coragem dela era evidente.

Christine conduziu Cherry ao salão de jantar, um enorme salão repleto de quadros, e no caminho ela perguntou:

— Ah, senhorita, me perdoe! — falou aflita a mulher. — Era para eu instruí-la quanto ao uso básico de etiqueta à mesa!

— Ah, não se preocupe, Christine. Em Baltimore, eu e Mike fizemos aulas intensivas quando éramos pequenos. Eu sei onde fica o garfo da salada até com olhos vendados!

— Ah, se é assim...

Cherry lembrou-se das dolorosas aulas que ela e seu irmão tiveram quando pequenos. Sua mãe nunca fizera questão, mas seu pai era um homem que valorizava muito esse tipo de coisa. Acabou pegando o jeito com o tempo, apesar de sempre ter vontade de socar a instrutora. Mike não teve a mesma sorte.

Christine abriu a enorme porta para Cherry, porém ela não entrou.

Entendeu a sua deixa.

Dentro, ela se deparou com um lugar bastante iluminado. No lugar da mesa gigantesca, onde jantou em seu primeiro dia no castelo, havia agora pequenas mesas redondas espalhadas por todo o salão.

No meio do salão havia pessoas mais velhas sentadas, sua avó estava lá. Espalhados adiante, pessoas de meia idade tomavam vinho sem parar e discutiam algo, e perto das enormes janelas se encontrava um grupo mais jovem.

— Ah, Cherry! — Acenou sua avó com o sotaque mais europeu que Cherry já ouvira na vida.

Ela abriu um sorriso e foi ao encontro da avó, com seus cabelos grisalhos e amarrados de uma forma que lembrava muito um enorme coração. Exibia um sorriso exageradamente branco, seu vestido violeta escuro fazia com que a garota relembrasse a infância, onde havia rainhas más nas histórias.

— Essa é minha neta de quem falei. — disse a avó para os outros senhores e senhoras à mesa. — Ela não é encantadora?

Houve muitos murmúrios concordando. Uma senhora de idade bastante avançada ergueu seus óculos para analisar Cherry melhor.

— Qual a sua idade, menininha? — perguntou a senhora.

— Dezesseis. — respondeu acanhada.

— Sua postura é impecável. Sem dúvida faz parte da família dos White! — Cherry corou.

— Essas, minha querida, são as pessoas mais influentes de nossa cidade! —disse a sua avó apontando para os velhos à mesa.

— E de outras cidades também. Não esqueça! — falou um senhor sorridente.

— Naquelas mesas você poderá ver os filhos delas. Todos muito bem sucedidos, é claro! E lá perto da janela, apreciando o nosso belo jardim, são seus netos.

— Oh! Acredito que já os tenha conhecido. Afinal, estudam na mesma escola. — disse uma senhora de cabelos tingidos de vermelho.

Cherry olhou novamente para janela, mas dessa vez mais atenta. Foi quando viu Alphonse, e seu coração parou.

— Não!

— Como é, querida? — perguntou sua avó assustada com a reação da neta.

— Er... Não fomos apresentados ainda. É uma escola muito grande! — Tentou se conter.

— Pois não demore. Vá lá, minha querida, e sente-se com eles!

Aquilo parecia uma ordem direta. Então, ela não queria se arriscar a desobedecer. Ao se virar, ela ouviu mais murmurinhos vindos da mesa dos velhos.

Cherry se sentia cada vez mais perto do inferno. Estava bem à sua frente e sua avó comprara passagem direta para ela. Primeira classe e temia que seria só de ida.

“Mas o que em nome de Deus ele está fazendo aqui?”, pensou Cherry, enquanto caminhava lentamente para mesa. “Ele é tão influente assim?”

Alphonse, o Luxúria, como era conhecido, estava conversando muito descontraído com duas belas garotas que estavam ao seu lado. Pareciam garotas comuns.

Ainda havia a luz do sol lá fora e refletia intensamente nos cabelos extremamente negros do garoto. Ali estava aquele sorriso novamente, um sorriso eterno. Estava vestido com trajes caros, e a gravata frouxa representava muito a pessoa que ele era. Porém, a mesa em que ele estava se encontrava cheia de garotas, só havia vagas nas mesas que se seguiam com mais jovens. Eram várias, então Cherry não conseguiu concluir quem seriam os netos das pessoas que sua avó havia lhe apresentado.

— Olá! Meu nome é Cherry! — cumprimentou com um amável sorriso, fingido, é claro. — Prazer em conhecê-los!

Ela havia feito esse anúncio para um garoto de cabelos castanhos estranhamente acinzentados e do seu lado uma linda garota de cabelos curtos e escuros. Ambos olharam para ela como se fosse um inseto insignificante.

Cherry perdeu o fôlego imediatamente. Deu um passo para trás até esbarrar em alguém que fez todos os pelos de seu corpo subirem.

— Se não é a nervosinha! — Alphonse havia se materializado atrás da garota. Ela estava tão em choque com o desprezo de seus convidados que não percebera que o garoto se levantara para ir ao seu encontro.

Ele passou o braço em volta da garota e começou a falar.

— Esse aí de cara emburrada é o Christopher Memmom, mais conhecido como Avareza. Ele vem de uma família de egípcios ou algo do tipo! — Ela olhou para o garoto pensando em cumprimentá-lo com a mão, mas o garoto fechou os braços como se os quisesse só para si.

— Essa beleza rara aqui se chama Verônica Levi, conhecida como... Inveja. Ora não sou eu quem diz! — falou rindo e olhando para cara de repreensão da garota.

— Você escolheu mal a mesa para começar a se apresentar. Essa é a mesa dos repelentes, a minha mesa é a da diversão!

— É... eu percebi isso. — disse Cherry, mas se arrependeu de ter dito.

— Oh, não, minha cara! Aquela é minha mesa reserva. A mesa dos aperitivos, sabe?

— Sei. — disse sem acreditar no que acabara de ouvir. Mais uma daquelas e ela responderia à altura.

Alphonse foi levando a garota para uma mesa logo atrás, que também era encostada na janela. Os jovens dessa mesa olharam para Cherry e sorriram.

— Olha só! Parece que o “Al” soube escolher finalmente.

Ela olhou para garota que acabara de dizer aquilo.

Era extremamente linda, seus cabelos loiros ondulados desciam em uma espécie de espiral. Seus olhos eram azuis, mas o que chamou a atenção foi que ela possuía tantas joias que faziam a garota brilhar.

Em cada dedo havia um anel luxuoso, usava no mínimo uns cinco colares, parecia uma sequência de ouro prata e bronze. Na sua cabeça havia uma tiara nada discreta, mas que completava o conjunto de exagero. Tudo aquilo era um tremendo exagero em uma pessoa só, mas o esquisito era que caía muito bem na garota.

— Essa é a encantadora Jennipher Balzebriam. Ela é nossa Gula!

— Pode me chamar de Jenny!­ — piscou a garota

— Do lado dela se encontra o único homem com quem eu ficaria se fosse uma mulher, o charmoso Julius Lucario Fercidade III, conhecido, é claro, como Vaidade!

Cherry deu uma boa e demorada olhada no garoto. Nunca vira alguém assim na vida.

Na televisão havia pessoas belas, mas não iguais a Julius, não de tão perto. Se para ela David era um anjo, esse Julius era um deus. Seus cabelos eram castanhos, vivos e desciam de forma graciosa até seus ombros, ondulavam e cintilavam de acordo com a luz. Nunca vira olhos tão verdes em toda sua vida. Uma floresta de menta parecia habitar aqueles olhos.

Em sua pele não existiam imperfeições nem sinais. Seu corpo era esculpido e nada faltava ali, não era exagerado era na media certa, tinha tamanho suficiente para ser um modelo famoso, e sua expressão esbanjava autoconfiança.

— Agora, se sua atenção puder se voltar para esse cara tão cativante aqui...

Cherry realmente estava perdida, mas agora sua atenção voltou para um garoto sonolento que também era atraente, mas não chegava aos pés de Julius.

— Esse é Stevan Belphegor, o nosso queridíssimo...

— Preguiça!­ — disseram todos em coro, depois que o rapaz bocejou.

— Está faltando um dos nossos. Eu te apresento depois. Agora sente-se, por favor.

 Ele arrastou a cadeira para ela se sentar e em seguida roubou uma da outra mesa e se sentou ao seu lado.

— Os seus aperitivos não vão se sentir só? — perguntou a garota.

— Já me esqueci deles. O prato principal está aqui. — disse ele, e todos da mesa reviraram os olhos.

— E então, Cherry, está gostando de Newcastle? — perguntou Jenny, tentando manter uma conversa normal.

— Até agora sim, mas os deveres...

— Nem me fale. Ainda bem que temos pessoas que fazem esse tipo de coisa! — disse ela rindo.

— Sério? — perguntou Cherry espantada.

— Mas é claro, minha querida! Vai descobrir que a alta classe nessa cidade tem muitos privilégios. — E dessa vez todos riram.

 Cherry se arriscou a olhar para os lados e Alphonse estava olhando para ela.

— Ele é sempre assim? — perguntou.

— O tempo todo!— falou Julius. — Chega a ser deplorável.

— Ah, feche essa boca, Julius! Você com esse espelho é o que há de deplorável!­ — disse Alphonse. Realmente Julius estava admirando sua imagem em um pequeno espelho que Cherry descobriu ser um celular.

As criadas passaram a servir tanta comida que Cherry não aguentava mais. Eram tantos doces deliciosos! Jenny sempre pegava mais um da bandeja, mesmo que demonstrasse não conseguir comer sequer mais um doce.

— Então, sua avó parece ser uma senhora legal! — falou Alphonse.

— Ela é! — respondeu Cherry.

— Você deve se sentir solitária aqui nesse castelo. Filha única assim como eu, eu sei como é...

— Eu tenho um irmão. — acrescentou Cherry, mas com finalidade de cortar a investida.

— Oh, isso é ótimo! Onde está o pequenino?

— Ele tem a minha idade, é alto, forte e muito protetor!­ — falou corajosamente.

— Acredito que seja. — riu o garoto. Stevan finalmente acordou e abriu a boca.

— Esse chazinho vai demorar muito? — perguntou.

— Acho que não. Eu tenho aula de violino ainda hoje! — falou Julius.

— Então não temos muito tempo.

Antes que Cherry pudesse perguntar o que ele quisera dizer com aquilo, Alphonse colocou sua mão no ombro dela.

Foi em um segundo apenas. Uma forte corrente elétrica viajou por todo seu corpo, ela nunca sentira aquilo na vida. Era tão forte que não conseguia mexer um músculo sequer. O garoto se aproximou de um dos ouvidos de Cherry e sussurrou:

— Vamos para um lugar mais adequado aos meus desejos de agora.

A voz de Cherry não saíra. Ela estava em pânico e sem perceber levantou contra sua vontade. Não conseguia gritar nem mudar sua expressão e novamente sem perceber eles já estavam deixando o salão.

Era prisioneira em seu próprio corpo.

Os dois caminharam lentamente pelos corredores frios do castelo. Não havia criados pelo caminho. Alphonse estava ainda à procura do lugar perfeito para realizar seus desejos. Cherry não emitia som algum, sua expressão era a mesma.

A verdade era que estava em pânico total. Mas algo estranho, inexplicável, impedia que tomasse controle de suas ações, nem deixava seu coração ficar acelerado. Algo como uma energia que fluía em seu corpo, controlando seu organismo e fazendo-a andar involuntariamente.

— É um castelo grande, sem sombra de dúvida, mas o meu é muito maior! — disse ele conduzindo a garota zumbi.

Depois de alguns minutos, ele parou em frente a uma porta diferente das outras, dando ideia de que algo importante se escondia atrás dela. O garoto deu a volta na garota, deslizando a mão que estava em suas costas até seu peito.

Ela não conseguia mais ver a porta. Alphonse colocou a mão na maçaneta, mas Cherry não conseguia ver o que ele estava fazendo. Uma luz azul rompeu o corredor.

— Vamos, então! — disse o garoto olhando para ela novamente. Cherry entrou em pânico novamente, mas a corrente elétrica a acalmou.

O quarto escuro estava completamente vazio. Não havia nada além dos dois ali dentro. O garoto fechou a porta e agora as duas mãos estavam sobre os ombros de Cherry, ele a olhava com intensidade. Ela era realmente o prato principal, ali seria violada...

— Você é linda! E eu sempre consigo o que quero! Sempre.

Colocou seus lábios nos ouvidos da garota paralisada.

Alphonse afastou-se milímetros, pois seu interesse ainda se encontrava no rosto de Cherry.

Ele acariciou seus cabelos e ela pôde sentir uma onda intensa de energia tomando todo seu corpo, seus lábios foram abrindo lentamente, sua língua tremia. Alphonse olhou para ela pela última vez e inclinou-a para seus lábios. Foi aí que tudo escureceu.

Era um parque ensolarado. Cherry só podia ver o chão. Olhando para baixo, suas lágrimas despencavam intensamente.

 Logo, o sol foi encoberto e Cherry, pequenina, olhou para cima. Lá estava um homem muito alto e sorridente.

— Cherry, minha flor, o que foi? — perguntou o homem.

— Nada, papai. — respondeu ela.

— Fala para o papai, por favor! — Cherry fez beicinho por um segundo e começou a falar.

— Tem uma menina... Ela fica me empurrando toda hora! — falou chorosa.

— E você faz o quê?­ — perguntou o pai.

— Nada!

— Minha querida, você tem que mostrar para essa menina que você não tem medo dela. — O pai passou a mão na cabeça da filha. — Você é forte Cherry!

— Não sou, eu tentei brigar com ela, mas desisti.

— E por que desistiu?

— Porque... assim eu não me machuco!

 O pai fez uma cara feia.

— Eu não estou criando uma filha medrosa!

— Eu sou medrosa e pronto! — falou emburrada.

— Então deixe-me ver se eu entendi. Você prefere continuar deixando essa menina te empurrar porque tem medo de se machucar?

— Sim!

— Mas quando ela te empurra não machuca?

— Machuca, ué!

— Então, qual é a diferença?

— Ah...

— É mais fácil não fazer nada, é isso?

— Acho que sim...

— Minha querida, nem sempre a escolha mais fácil é a melhor. — disse o homem com ternura.

 Mas a pequena Cherry só o encarou.

— Se quiser que dê tudo certo, você às vezes tem que fazer coisas chatas e difíceis!

— Muito difíceis?

— Sim, Cherry, muito difíceis! Mas depois vai valer a pena!

— Você promete?

— Faça essa promessa para si mesma. Seja amiga primeiramente de você mesma, que tudo vai dar certo! Ok?

 A garota começou a sorrir.

— Ok, papai!

Cherry levantou-se do chão e voltou para o encontro das crianças. Uma menina maior que ela se aproximou com uma cara feia, mas ela fez uma careta e rugiu feito um leão, a garota se afastou assustada.

Nesse momento ela começou a sussurrar: “Vamos Cherry, você consegue”.

Mais uma vez: “Você consegue, trabalhamos juntas”.

A voz começou a aumentar intensamente: “Somos guerreiras e nunca deixamos nada, nem ninguém, nos derrubar”.

A voz gritou: “SE MEXA, CHERRY!”.

TAP!

Cherry retornara à realidade. Viu claramente seu braço estendido com a mão colada no rosto extremamente virado de Alphonse. O barulho ecoara na sala. Seu braço havia acertado o garoto com muita força, antes mesmo de ele sequer tocar nos lábios dela. Estava imóvel, com a cara muito virada. A mão da garota agora ardia. “Preciso sair daqui!”

Cherry girou para a porta com muita agilidade e quase sentiu as pontas dos dedos tocarem a maçaneta, quando algo bruto, de força incomum, a puxou para trás.

— SE PREFERE ASSIM! — falou uma voz demoníaca.

Cherry olhou para trás e viu a expressão de Alphonse, seu sorriso era maior, estava em êxtase.

— ME SOLTA, SEU NOJENTO! ­

Mas a força do garoto era tanta que ele ergueu Cherry no ar e com um impulso levou-a para a parede.

As costas de Cherry doeram. Concluíra ali que ele a drogara, era a única explicação para isso. Mas ela não contava com tamanha força.

— Você será minha agora. Não há jeito de resistir à Luxúria!­

Ele ria freneticamente e com força inclinou-se para beijá-la. A mente de Cherry trabalhou em segundos.

— Fraco. — disse ela. Alphonse parou imediatamente.

— O que disse?

— Nada, pode continuar. — respondeu ela revirando os olhos. Estava fingindo o melhor que podia.

— Fale para mim! — disse ele sacudindo a garota.

— Não é nada. Só achei que você fosse melhorzinho.

Alphonse pareceu não entender a palavra!

— Não imaginava que você precisasse usar a força para conquistar garotas...

Alphonse riu.

— Eu não uso a força. Só com você foi necessário.

— Claro que foi... — afirmou ela revirando os olhos novamente.

— Está duvidando da minha palavra?

Cherry estava aterrorizada de como seu plano estava dando certo.

— Ok, eu acredito. Sou muito para você e o Luxúria não dá conta de usar os meios normais. É isso?

Ele escutou e soltou uma risada alta.

— Você sabe com quem está falando?

— Sim. Com um covarde mimado que não tem cacife para conquistar uma garota do jeito certo! — falou corajosa.

Alphonse foi colocando-a lentamente no chão, estava claramente pensativo.

— Deixe-me ver se eu entendi. Você está dizendo que eu não sou capaz de conquistá-la?

— Sim. Estou afirmando isso! — falou ela olhando para o teto. É um fato, fazer o quê...

— Será que estou surdo? — perguntou ele ironicamente.

— É, deve estar. Então anda logo que eu tenho mais o que fazer. Quero gastar meu tempo com garotos que saibam conquistar! — disse ela piscando.

Ele finalmente a colocara no chão e tirara os braços.

— Quer apostar? ­— disse ele friamente.

— Como é? — perguntou ela, sem esperar por aquilo.

— Quer apostar que eu consigo conquistá-la?

— Bem... Agora com certeza você não ganhou pontinhos comigo!

— Eu irei me redimir sobre isso, quer apostar?

Cherry só queria que ele fosse embora. Seu plano funcionara muito bem, e tudo o que ela tinha que fazer era aceitar a aposta.

— Que seja!

— Se eu ganhar, você vai se entregar a mim. Está me entendendo?

— Sim, não sou burra!

— Não tenho muito certeza quanto a isso! — disse ele pensativo.

— Tá. Você já está indo embora? — perguntou ela ironicamente.

Ele foi até a porta ajeitando as suas vestes.

— Mas já lhe disse, você não pode resistir ao Luxúria!

— Já apostamos, não é?

Ele riu e foi embora.

Depois de seus passos sumirem de vez, Cherry despencou no chão em pânico. Estava muito ofegante. Suas pernas bambas não suportaram o peso. Quase fora violada bem ali naquela sala escura. Lágrimas escorriam sem parar, sua avó não percebera sua falta?

Ela deitou no chão frio esperando que seu coração parasse de bater tão depressa. Se livrara por pouco, por muito pouco. Ficou por lá por vários minutos incontáveis. Ainda sentia vestígios daquela energia estranha em seu corpo. Que tipo de droga ele lhe dera?

Finalmente abriu os olhos. Seu rosto no chão se deparou com uma marca estranha no piso. Abobada, ela estendeu o braço e deixou sua mão deslizar sobre o piso até a tal parte estranha.

Com o dedo, ela reparou que era um buraco em que seu dedo cabia perfeitamente, pressionou e o piso se soltou imediatamente. Criando forças para levantar, ela olhou o que havia embaixo, viu uma espécie de caixa de madeira. Analisou-a por alguns segundos até finalmente abri-la.

Foram duas coisas que chamaram a atenção da garota, duas coisas que fizeram seu coração acelerar mais rápido. A primeira foi a tampa de madeira, na qual, ao virá-la, pôde ler claramente o nome entalhado em maiúsculo:

CHERRY

A segunda foi quando ela, mesmo depois de constatar seu nome na tampa, resolveu puxar uma carta do estranhíssimo baralho que estava dentro da caixa. A carta que a fez gelar e desejar nunca ter vindo morar em Newcastle, a carta de nome “Luxúria”.

 


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