Watashi Wa Yakusoku escrita por G E W


Capítulo 3
2.


Notas iniciais do capítulo

Queria pedir desculpas pela demora.
Realmente não tenho entrado no computador por muito tempo, debilitando a passagem da fanfic para o Word :

Bom, no more talks, enjoy the 2nd chapter



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Roku e Yuki foram para a aula no dia seguinte, mas não se falaram. Isso durante duas semanas. Roku viu que o armário dele era vizinho ao seu, mas sempre cuidou para que não se encontrassem; quando um ia almoçar, o outro não ia, intencionalmente e ao acaso .

 

——

 

No décimo quinto dia depois do início das aulas, perto do amanhecer, Roku acordou por causa de um sonho muito confuso. Não conseguiu voltar a dormir, ficando sentado na cama tentando decifrá-lo. Eram cenas de sua infância, onde era feliz em casa, mas quanto tinha que se relacionar com outras pessoas passava maus bocados. Sonhou também que era excluído até mesmo pelos professores por não ser considerado deficiente e ir para a classe especial. Todas aquelas lembranças vieram em sua mente, mas ele se fixou em uma: Yuki. Provavelmente tenha passado pelas mesmas coisas que ele. E, além disso, eu o desprezei. Quem deveria entendê-lo e ajudá-lo foi quem primeiro o rejeitou. Amanhã vou concertar esse erro! E serei mais gentil. Como pude ser tão indiferente? Determinado, ele se levantou e começou a se arrumar para a aula, saindo depois mais cedo de casa.

Na casa do outro neko, Ellen tentava fazer Yuki largar aquela touca hoje.

— Está um dia quente hoje, Yuki-kun. Não precisa ir de touca!

— Mas tia Ellen... E-eu...

— Deixe-a em casa hoje. Pode te fazer mal usar isso.

— Hai.

Cabisbaixo, Yuki deixou a touca no braço do corrimão e saiu de casa, indo para o carro. Durante o caminho ele tentou arrumar o cabelo de um jeito que escondesse suas orelhas. Ellen viu, só agora entendendo o porquê de ele querer usar o acessório. Parando na frente do colégio, ela suspirou, escolhendo as palavras para se desculpar, mas o garoto já havia se despedido e saído do carro.

Ele passou correndo pela parte de fora, parando na entrada onde tinha um maior volume de estudantes, forçando-o a andar entre eles. Sentiu alguns olhares em sua direção e ouviu algumas exclamações como: olha!, o que é aquilo?, nossa!. Fechando seus olhos e apertando o passo, tentou ignorar tudo aquilo. Mas, como qualquer um poderia prever, ele não notou alguém a sua frente e colidiu com a pessoa, levando os cadernos dos dois ao chão.

— M-me desculpe. E-e-eu não o v-vi! – Yuki se abaixou rapidamente e começou a recolher suas coisas.

— Não tem problema – Aquela voz o assustou. Ele já a conhecia. A pessoa também se abaixou para pegar seus livros do chão, mostrando a Yuki seu rosto. R-Roku...! Ele ficou paralisado. Sua expressão não demonstrava nada, mas ele estava espantado por dentro. Justo em quem ele fora esbarrar?

— Aqui, acho que é seu – Roku segurava um dos cadernos do outro, oferecendo-o a ele. Voltando um pouco ao normal, ele percebeu, pegando o caderno rapidamente. Agradecendo, se levantou e andou apressadamente para seu armário, deixando Roku, que seguiu sozinho para a sala.

Era aula de arte e as carteiras foram substituídas por cavaletes e telas com dois banquinhos cada um; algo um tanto incomum. O garoto escolheu um mais ao fundo e ficou de pé ao lado da banqueta, apoiando o material nela. Antes de o segundo sinal tocar, Yuki entrou, mais calmo no andar, porém ainda de cabeça mais baixa, indo para um cavalete onde não havia ninguém ainda. O professor veio logo depois, sem esperar os alunos se sentarem, começou a falar.

— Bom dia, classe. Não precisam se separar ainda. Podem ficar de pé como estão. Eu vou colocá-los em duplas para fazerem uma pintura nestas telas que estão no cavalete. Quando eu disser os nomes, escolham um cavalete e sentem-se na frente dele – O professor começou a dizer dois nomes de cada vez, esperando que os alunos se arrumassem para falar a próxima dupla – Higashi Iroki, Tsudoki Amaya. Esqueci-me de falar que a nota será pelo grupo. Prontos? Próxima dupla: Kisetsu Yuki e Kazoku Roku.

Foi como se tivessem jogado um balde de água gelada em cada um dos dois. Eles não acreditaram, até o professor apressá-los

— Vão ficar aí parados? Vamos, juntem-se! – Mais atento, Roku se levantou de onde estava e foi para o cavalete atrás do seu, onde estava Yuki. Sentou-se no banquinho e esperou o professor terminar de separar a classe e de explicar sobre como deveriam fazer a pintura. Depois mostrou algumas obras feitas por dois artistas em conjunto – Agora vocês começam a pensar no que cada dupla vai pintar. Sei que não resta muito tempo, mas se conseguirem, podem começar a desenhar já. E a pintura pronta, quero para daqui três semanas.

Assim que ele terminou de falar cada aluno já tinha a atenção voltada para o colega ao lado, exceto a dupla no cantinho da sala. Eles continuaram quietos por alguns minutos, remoendo aquele silêncio constrangedor; até que Yuki, se sentindo um pouco culpado, quebrou aquela sina:

— Gomen nasai, Roku-san, por ter batido em você no corredor – Apesar de encorajado a falar primeiro, não direcionou seu olhar para o maior, olhando para as mãos, onde mexia os dedos.

— Sem nenhum problema. Foi só um acidente – Roku já havia reparado que ele não estava de touca no dia, mas ainda deixando o cabelo encobrir as orelhas de neko – Você veio sem aquela touca hoje – Yuki levemente estremeceu com o comentário, usando uma de suas mãos para verificar se estavam bem escondidas.

Roku suspirou. Já havia entendido o porquê da correria do outro neko – Não sinta vergonha das suas orelhas, Yuki-san. É só fingir que as pessoas não ligam para você e parar de se preocupar com elas e com o problema. Logo as pessoas se acostumam e passam a te ignorar. É só começar ignorando-as primeiro.

A forma com que Roku falara instigou sua atenção. Yuki ainda tremia, mas conseguiu olhar para ele e pronunciar alguma coisa:

— M-mas... T-todos riem. Alguns até apontam para mim! N-não sei o-o... – Ele parou de falar, dando conta de que Roku o olhava nos olhos. Suas bochechas coraram, enquanto o mais velho navegava naquele mar de mel, perdendo-se. Isso o fez lembrar da primeira vez que vira os olhos de Yuki. Lembrou-se também de sua determinação de mais cedo, em ser mais gentil e concertar o erro de antes.

— É só ignorar. E... Sobre aquele outro dia que nos encontramos, eu... Queria me desculpar por ter me exaltado com você. Ao primeiro momento não compreendi sua insegurança, mas saiba: eu passei por isso também, e não foi fácil. Por essa causa, quero saber se eu posso te ajudar a passar. Acho que tenho isso como dever, e não como um favor – Yuki refletiu um pouco, olhando para o cavalete à frente deles. Apenas com um aceno com a cabeça, aceitou o que Roku propôs; suspirou, aliviado, o mais velho.

Após mais um silêncio constrangedor entre ambos, Roku perguntou:

— Sobre a pintura... O que faremos?

— E-eu... Não sei... Talvez, se você conhecesse algo bonito p-para pintar – Yuki olhou de relance para Roku uma vez antes de fixar nele de novo. Sua imaginação vagou, enquanto o outro dizia, também mentalmente: Seus olhos...

— Ah...! Não, não conheço nada. Mas pode ser um lugar, não? – Ele tentou dar uma ideia.

— S-sim, mas... Qual? – respondeu o outro, endireitando-se no banquinho para pensar melhor. De tempo em tempo, um dava uma ideia e já a descartava, e assim ficaram durante toda a aula. Algumas duplas já haviam desenhado em seus cadernos, esboçando o que haviam pensado quando o professor começou a falar.

— Minna, podem ir parando que a aula está no fim. Mas antes de vocês saírem, quero avisar que iremos a uma exposição de quadros, no sábado – Antes de terminar de dizer, ele distribuiu um panfleto junto com um local para a assinatura de autorização dos pais – Para quem for, sábado, no horário de aula. As meninas que têm treinos nesse horário, me avisem! – De repente o sino de término de aula toca – E eu quero ver como vão as telas já na próxima aula!

Esperando o professor terminar, todos se levantaram começaram a sair da sala.

— Cabe a tela no seu armário, Yuki?

— H-hai. Eu a deixo lá.

Os dois saíram por último, seguindo pelo corredor não muito cheio, mas ainda constrangedor para Yuki. Ouviu novamente em sua cabeça a voz de Roku dizendo para ignorar e passou mirar apenas o chão. Quando chegavam perto do final do corredor, onde eles tinham os armários, percebeu que o maior o seguia. Surpreendeu-se realmente quando viu que seus armários eram vizinhos, ainda não falando nada. Yuki aproveitou para observar melhor Roku, enquanto procurava o livro certo para a próxima aula.

Enquanto o garoto folhava um livro, ele pôde notar que suas orelhas diferenciavam na cor de seus cabelos, sendo pretas e o cabelo castanho, só não mais claro que o seu. Seus ombros eram largos também. Tinha um rosto uma bonita forma, angulada. Ele percebeu que sua cauda estava para dentro da blusa que usava, assim como ele estava fazendo. Acho que ele também não gosta dela. Ele ainda apontou outras características, mas quando se pegou sorrindo para uma delas, uma um tanto íntima, ficou com as bochechas vermelhas num instante. Agarrou seu material e correu para o banheiro, deixando o outro sozinho.

Apoiando-se na pia, Yuki estava um pouco ofegante; sentia seu coração palpitar forte. Droga. Sempre fico assim quando penso nessas coisas. Droga! Droga! Droga! Como vou conseguir realizar algum trabalho com Roku-san se fico envergonhado só de olhar pra ele?! Bem, pelo menos vou deixar tia Ellen satisfeita por arrumar algum amigo. Acho que posso considerá-lo um conhecido, ainda mais por ele ter sido gentil. E-e... Ele... Nya!, já estou envergonhado de novo!

Ele saiu do banheiro e viu que Roku o esperava. Torceu para que ele não visse a cor de seu rosto e seguiram para a sala de aula mais uma vez. Passadas mais duas aulas já era o horário do almoço. Não havia uma mesa vazia. Apenas a que Roku costumava se sentar, a última num dos cantos do refeitório, estava com uma pessoa. Yuki pegou uma maçã e uma caixinha de leite, indo com Roku para aquela mesa. Depois de se sentarem, a pessoa que estava nela se levantou e saiu apressada dali. Roku não pegara nada para comer, mas notou que o outro havia feito uma combinação um tanto diferente.

— É-é que eu gosto de maçã e... O leite... É p-para eu crescer bem, nã-não ficar muito... Baixinho – Yuki tremeu em revelar aquilo enquanto Roku ria-se por dentro com a forma que ele havia dito.

Depois de terminar de comer a maçã, em silêncio, o menor perguntou:

— O que o professor quis dizer com treinos para as garotas?

— Ah! É que as aulas de ginástica são nos finais de semana. Para as garotas no sábado e para nós no domingo.

— Não é necessário fazer, né?

— Que eu saiba é obrigatório. Você tem que escolher algum esporte e se inscrever. Ninguém te falou sobre isso?

— N-não – Roku estranhou. Já fazia um mês do início das aulas e o prazo para as inscrições já estava para se encerrar – E q-quais esportes eu posso escolher?

— Têm vários. Eu faço tênis, mas também tem futebol, basq-

— Tê-tênis?

— É... Você se interessou?

— Sempre quis aprender a jogar tênis. Como faço pra fazer a inscrição?

— O prazo já acabou. Ele acaba mais cedo que os outros.

— Ah... – Os olhos cor de mel de Yuki se entristeceram – V-vou ter que escolher o-outro esporte?

Roku se reteve em pensamentos um tempo.

— Se eu falar com o treinador, talvez dê para você entrar. Mas as aulas já estão bem na frente. Você teria que treinar separado para alcançar os outros alunos... E o treinador não tem muita paciência – O leve lampejo de esperança sumiu da face de Yuki – A não ser... Bom, só se ele deixasse – Falando consigo mesmo, Roku deixou o outro curioso, que hesitou um pouco antes de perguntar:

— S-só se ele dei-deixasse o q-quê?

— E-eu posso te dar as aulas. Já que sou o melhor da turma, talvez. Ensinar pode ser a última coisa que o professor deixe que façam. Além do fato de eu ser melhor que ele, ele pode temer que eu roube seu cargo! – Novamente ele fez o comentário para si, rindo disso depois. Yuki se surpreendeu, entretanto, não mudou de expressão. E-ele é melhor que o professor?! Terminou o leite da caixinha, lembrando-se da aula de artes.

— A-agente precisa começar a pintar aquela tela o qua-quanto antes – disse.

— Mas primeiro temos de saber o que vamos pintar – Roku tinha razão.

Para disfarçar o óbvio, Yuki tentou fazer um comentário.

— Achei a id-ideia de um lugar... Mu-muito boa.

— Então onde podemos nos encontrar?

— A-ah! É-é mesmo... Po-pode ser na minha c-casa... Talvez no d-domingo, depois d-do tênis.

— Isso! A aula começa as duas e vai até umas cinco horas da tarde. Se você quiser vir na quadra nesse horário eu já falo com o professor.

— Hai.

Com o assunto resolvido, eles se levantaram e seguiram com calma pelo corredor. Yuki tentou focalizar alguma coisa em sua mente para esquecer os demais. Pensou na viagem de sábado que quis saber se o outro também iria.

— Não sei. Se você for, eu te acompanho – Ele não notou, mas Yuki corou suas bochechas com o que ele disse, ficando feliz.

Passaram pelos armários e seguiram para a sala. A aula seguinte transcorreu normalmente. Na saída, se despediram timidamente, cada um seguindo para um lado. Roku foi sem pressa, pensando no outro neko. Ao entrar em casa, seu pai, Watanabe Mushi, que passava por perto da escada, parou, esperando o filho se aproximar.

— Boa tarde, bichano. Chegou da escola?

— É... – Rispidamente Roku passou pelo homem e correu escada acima, sem ser mais mal-educado que o pai, o qual adorava atormentar o filho.

Mushi era um homem grande e corpulento. Era mais alto e robusto que Roku. Tinha os cabelos curtos e negros e um sorriso bem amarelo, o qual adorava exibir em suas tiradas sarcásticas. Se fosse para comparar, Roku não tinha nada dele. Puxara muito mais sua mãe; ela era esguia como ele, não muito alta; tinha os cabelos castanhos, também não muito longos; seus olhos eram mais redondos que o normal, indicando uma ascendência não totalmente japonesa.

Yuki chegou da escola e deitou-se em seu quarto. Ficou devaneando sobre o período que passou com o outro neko e acabou adormecendo. Mais tarde Ellen veio acordá-lo para o jantar.

— Iie, obasan. Eu comi na escola.

— Tudo bem. Mais tarde você toma alguma coisa então, ok? – Acariciando seu rosto, ela se levantou da ponta da cama e saiu do quarto.

Ellen era irmã da mãe de Yuki. Dois anos mais velha, era mais baixinha e mais forte. Era dotada de olhos castanhos, mas não tão claros como os de Yuki. Estudou e viveu muito tempo nos Estados Unidos, resultando num sotaque diferenciado mesclado com gírias americanas.

Rapidamente o garoto voltou a dormir. Enquanto ele sonhava, o tempo foi se fechando, nada fora do inesperado, mostrando-se apto para uma chuva bem forte .

 

Ao norte do Japão, numa cidade relativamente populosa, havia um parque muito querido por pais e filhos, onde as crianças podiam se divertir sem fugir dos olhos dos mais velhos.

Dentre as muitas famílias que passeavam por ali, uma se diferenciava, composta por dois adultos e... Um garotinho. Sua diferença da maioria era tão notável porque o pequeno menino tinha, no topo de sua cabeça, duas orelhas e, no final de suas costas, uma cauda, ambas parecidas com as de um gato. Ele era, na verdade, um Neko. Um ser humano com cauda e orelhas de gato.

Após olhar para sua mãe e ver um sim expresso em seu sorriso, o menino atravessou o gramado do parque e chegou a um tanque de areia, onde outras crianças com quase a mesma idade dele brincavam.

— Posso brincar com vocês? – Perguntou o menino, atraindo a atenção das crianças. Elas olharam estranhamente para ele. Algumas fizeram comentários, se perguntando por que ele tinha orelhas e cauda, e por que esta balançava levemente atrás de seu corpo. Uma das crianças, uma garota, perguntou para ele:

— Por que você tem orelhas de gatinhos? – O menino perdeu o doce sorriso que tinha nos lábios, ficando cabisbaixo, triste por terem lhe perguntado de novo o que era aquilo. Eles não veem que são as minhas orelhas? 

— Elas são as minhas orelhas. Eu escuto por elas – Diferente do que sempre acontecia, a menina abriu um sorriso muito maior do que seu rosto.

— Sugoi! Você tem orelhas de gatinhos!! – Rindo, a menina fez o garoto rir também. Feliz consigo mesmo, o menino virou-se para trás, acenando para os pais que estavam sentados num banco, um pouco mais distante.

Contudo, ao voltar para frente, viu que as crianças correram assustadas para trás de seus pais, que os adultos tinham olhares zangados e penetrantes, mirados no garoto. A mãe daquela menina lhe apontava o indicador, dizendo em uma voz alta demais para estar ao ar livre:

— Não chegue perto de nossos filhos, coisa estranha! Você pode machucar minha filha além de ser contagioso!

Amedrontado, o garotinho chamou por seus pais, que logo chegaram ao seu lado, perguntando se estava tudo bem.

— É claro que não está tudo bem! Não mais! Agora que vocês trouxeram esta aberração para cá não podemos sequer ficar um pouco distantes de nossas crianças sem nos preocupados se estarão bem! Como podem deixar uma criatura assim viva?!

As palavras duras daquela mulher, seu olhar de escarro e seu dedo podre acabaram deixando o menino Neko desequilibrado. Ele tentara fugir cobrindo os olhos, mas o escuro apenas fez todos desaparecerem, deixando-o só com a voz distorcida, que ainda o atacava.

— Ele vai ficar sozinho, vai ser odiado e ninguém vai poder ajudar. Uma aberração da natureza... Um distúrbio na sociedade...

Quanto mais a voz dizia, mais lágrimas brotavam dos olhos de Yuki, agora já crescido. Ele também gritava, por socorro, por ajuda, para que parassem aquilo; mas de nada adiantava.

— Todos se afastarão... Não sobrará ninguém...!

— Por favor, chega!

— Uma criança odiada...

— Pare!

— Infeliz...

— Pare... Por favor...

— E sozinha... !

 

— NÃO!

Ofegante, o neko se levantou do colchão, iludido por um pesadelo dos mais horríveis.

Não foi de imediato que Yuki percebeu que era um sonho. Demorou para notar que estava em seu quarto, sentado em sua cama, e que uma trovoada havia piorado seu susto ao despertar. Vendo tudo aquilo, não se conteve em começar a chorar. Cobriu o rosto com as mãos e chorou. Deixou derramar todas as lágrimas que tinha guardado. Com seus uivos e altos prantos, alguém irrompeu no quarto, correndo, e se sentou ao seu lado; Ellen o abraçou.

Ela tentou falar com ele, mas ele não podia escutá-la. Em seus ouvidos, as palavras de seu sonho ainda sussurravam ecoantes; os clarões de raios seguidos pelos imponentes trovões também só pioravam o seu estado.

Muitos minutos depois, a chuva deu uma leve trégua. Yuki já não chorava, mas ainda estava no suave balanço propiciado por Ellen. Ela o acalentava sem parar, levando o garoto a cair no sono mais uma vez. Olhando para a face do sobrinho que emanava serenidade, deixou uma lágrima escapar, também sentindo a falta principalmente de sua irmã caçula, quem sempre pode proteger. Ah!, mas você o deixou tão cedo, minha irmã.

A mulher passou a mão nos cabelos do neko e o deitou de volta na cama. Antes de sair pegou o copo de leite que havia deixado ali mais cedo para ele tomar, caso acordasse e sentisse fome. Apenas encostando a porta, ela ficaria de ouvidos aguçados para ouvir Yuki, se acordasse assustado novamente. A rápida pausa que fora dada pela chuva acabou-se, voltando às trovoadas, mas que não acordaram o garoto .


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Notas finais do capítulo

Para quem não é muito informado assim, vou postar um "glossário" nas notas finais.

Ohayo = bom dia [Este é referente ao 1º Capítulo]
Hai = sim
Iie = não
Gomen nasai = sinto muito
Minna = pessoal, turma
Obasan = tia


Tá ai, espero que tenham gostado
O 3º é curtinho, mas tenho que terminar de escrever o 4º pra colocá-los aqui...
Então, sem previsão @-@