Um Cãoto escrita por Nathalia Schmitt


Capítulo 8
Capítulo VIII


Notas iniciais do capítulo

O capítulo sofreu um atrasinho devido a problemas de doença na família. Desculpem por isso :/ Até a próxima sexta ♥



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Pipa e eu já caminhávamos há um tempo. Ela sempre sabia onde pegar os melhores restos de comida, principalmente de restaurantes! Admito que vomitei duas vezes. Éca.

O importante é que eu acho que encontrei um rastro de Luz! Pipa não a conhece, então isso é algo que cabia só a mim!

Esse rastro nos levou até um lugar — que Pipa disse se chamar bairro — cheio de casas. E casas bonitas, coloridas e com cercas. Senti saudade dos nossos pais, mas tinha que continuar a missão por eles!

— Ok, loirinho — Pipa sentou e eu fui cheirar umas lixeiras. — Agora é com você. Encontre a bichana e vamos voltar pros trilhos. Vou dar uma volta pra ver onde tem comida por aqui, depois nos encontramos.

Pipa levantou-se e foi embora. Não queria que ela fosse, me senti abandonado, mas tudo bem! Luz era prioridade aqui.

Farejei seu cheiro até ver uma casa com algumas crianças. Lati. As crianças não deram a mínima pra mim, do outro lado da cerca, mas aí eu a vi!

Luz saiu de dentro daquela casa. Provavelmente tinha sido sequestrada como Pipa disse que era possível.

Pulei, abanei a cauda, lati, choraminguei. ELA PRECISAVA VOLTAR PRA CASA!

Ela se aproximou de mim do outro lado da cerca, Pipa brotou na esquina e sentou, observando. Eu disse a Luz que ela precisava voltar pra casa porque pai e mãe estavam muito preocupados, mas ela me interrompeu.

— Fred, pare. Não retornarei àquele ambiente, pois estou velha e prefiro um lugar aconchegante. Não faz sentido, para mim, morrer com você e eles dois, quando estão em casa, não é? Pois exatamente. Aqui existem esses filhotes humanos, a moçoila nunca viaja, tampouco tem cão para levar a passear. São todos meus, me dão atenção e não como nada de biscoitos secos super premium, aqui é carne, ovo e peixe! Mereço ter uma velhice em paz, Fred. Volte para casa e leve o recado consigo: lá, não mais. Liberdade já! Ah, é! Aqui eu também posso dar voltinhas. Adeus, Frederico.

Senti minhas orelhas murcharem e meus ombros caírem conforme ela falava. Virou na direção da casa e eu sabia que nunca mais a veria. Suspirei e vi Pipa sacudir-se de canto de olho. Ela se afastou e voltou com um pedaço de carne banhado em molho que devia ter roubado de algum lixo da volta, parecia querer me animar. Mas eu não estava animável.

Pipa largou a carne na minha frente e se coçou, com meio metro de língua pra fora. Me afastei e deitei na esquina. Tudo aquilo foi em vão. Eu falhei.

— Gatos são como humanos, Fred. Eles têm o dom de nos decepcionar. Mas não se preocupe, você gosta de pessoas e, pelo menos, voltará pra casa logo.

Bocejei, como qualquer cão ansioso faria no meu lugar. Disse a Pipa que voltar para casa era o menor dos meus problemas. O caso era que eu voltaria sem Luz.

— Ótimo, melhor pra você! A casa será só sua e você será muito mimado.

Percebi que ela falava isso só para me animar; lembrei que Pipa não acreditava em humanos bons, para ela, todos os humanos tinham uma essência egoísta e por isso não nos entendiam. Então, ali estava Pipa, a orgulhosa, tentando me consolar. Fiquei agradecido e dei umas abanadas de cauda pra ela. Levantei.

— Vamos para os trilhos, loirinho. — a falsa animação de Pipa era contagiante. Me convenceu! Ok, vamos pra casa!

Corremos para fora daquele bairro até o centro, que não era muito longe e poderíamos comer e dormir bem. Estava muito feliz de poder voltar para casa logo!

Ela brincou muito comigo, mais do que o normal na verdade. Acho que ela percebeu que eu estava triste pela Luz. Tentei me distrair o máximo possível e pensar que, pelo menos, mãe e pai ficarão felizes ao me ver! Será que humanos fazem festa que nem a gente?

Pipa pegou um osso para roer e eu decidi deitar dentro de uma caixa de papelão. Perguntei a ela por que ela não gosta de pessoas novamente, já que em nenhum momento recebi uma resposta direta.

— Quando você conhece o pior lado de uma criatura, você descobre seu potencial destrutivo e tenta fugir disso o máximo que pode.

Não entendi bem, mas ela voltou a roer o tal osso e tinha finalmente me dado uma resposta direta que, entendendo ou não, era o que eu queria. Ok, me conformei e espreguicei dentro da caixa de papelão em meio a um lixo. Achei melhor dormir e me aninhei ouvindo o som dos dentes da Pipa raspando contra o osso. Em mais ou menos dois dias eu estaria de volta em casa.


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