Annabethse sentou na mesa da cozinha revisando mentalmente todo o discurso que iria fazer, mas na verdade não tinha ideia do que faria com a resposta da mãe, já que não fazia ideia do que esperar dela, ela poderia tentar imaginar quanto quisesse nada parecia fazer sentido, nenhuma palavra que poderia sair pela boca das rainhas das fadas poderia ser prevista pela garota.

A porta foi aberta e logo a loira ouviu a voz da rainha das fadas ao telefone, discutindo coisas que ninguém queria resolver.

— Filha, pensei que estaria na casa da Thalia ou da Piper. – A mulher elegante parecia assustada e foi quando a fada percebeu que ela não estava no telefone e sim com um homem vestido de terno que parecia nervoso com a ideia de encarar a mini versão da rainha, e logo a loira se lembrou deste tal homem, o pai de Percy.

— Resolvi ficar, queria conversar com você mãe, mas pode esperar. – Annie disse imaginando que a mãe trataria sobre o baile de inverno com o homem ou quem sabe algum outro negócio pendente e com certeza o assunto que ela trataria seria bem delicad.

— Sobre o que seria? – Atena questionou indo até a cafeteira para se servir e para servir a Poseidon.

— Sobre a poção de cura que deu para mim quando pequena e para Thalia a algumas semanas que fica no seu livro escondido. – A adolescente despejou arruinando todo o seu belo discurso planejado e vendo sua mãe a olhar surpresa.

— Annabeth...

— É por isso que minhas asas não assumiram uma tonalidade, não é? Por conta do feitiço? – A garota disse triste, encarando sua mãe com os olhos azuis que agora estavam tão cinza que pareciam um céu tempestuoso o que arrancou um suspiro de sua mãe.

— Eu fiz isso para o seu bem, filha, era isso ou seria tarde demais e nunca mais voaria, não tem como se saber qual a consequência quando se dá essa bebida, mas não ter uma cor de suas asas realmente não é nada do que não tê-las, o que seria uma fada sem asas? – Atena disse e a menina abaixou a cabeça.

— Thalia virou metade lobisomem. – Annabeth concordava com a mãe, o que ela seria sem suas asas, nem fada ela poderia ser chamada.

— Imaginei quando vi o ferimento no braço dela que tinha algo relacionado a lobos. – A rainha disse se apoiando no balcão. – As consequências não são tão ruins assim comparado no preço que você ou ela pagaria se não tivessem tomado a poção.

— E o que você paga? – A filha questionou a mãe que negou.

— Nada importante. – Ela disse se apoiando na pia.

— Mãe não minta para mim, eu não sou cega e sei ler, eu sei que tem um preço, independente do que diga, sei que ainda é um peso. – Anne disse olhando sua mãe preocupada e com lágrimas nos olhos, como sua mãe poderia te esconder as coisas tão descaradamente?

— Conte a ela. – Poseidon se pronunciou pela primeira vez desde que chegara, chamando a atenção da mais nova ali para ele, que depois desviou o olhar ao ver sua mãe soltar um suspiro cansado e triste.

— A primeira vez que fiz o feitiço eu era uma adolescente, estava desesperada ao ver Poseidon e Zeus tão feridos, entrei na casa da minha mãe em busca de ajuda e assim como você achei o livro escondido, achei o feitiço e precisava testar, Poseidon estava se curando, mas Zeus era vampiro não poderia sobreviver ao veneno de lobisomem que é extremamente letal para a espécie dele.

— Pera... – Annabeth disse interrompendo a história. – Você disse era, ele não é mais?

— Claro que é, mas é complicado, deixe eu prosseguir. – Atena disse e Annabeth assentiu vendo sua mãe começar a ficar abalada.

— Eu tinha dezesseis anos e não era o exemplo a ser seguido, assim como ninguém com que eu andava, qualquer regra que existisse para nós poderia ser quebrada, era nosso lema, a única regra era que não existiam regras, então não me importei para o aviso que tinha no livro, foi quando fiz o feitiço e dei a Zeus e Poseidon, talvez por ter dado o liquido para duas pessoas o peso foi tão grave... – Atena parou a história respirou fundo tentando conter as lágrimas. – Eu...

— Quer que eu conte? – Poseidon perguntou vendo a mulher assentir e se sentar, tentando se manter calma deixando claro que aquele era um assunto muito difícil para ela tratar.

— Sua mãe estava grávida de dois meses, ninguém além dela e do pai da criança sabia na época...- Poseidon disse, mas não era uma história que precisasse ser terminada considerando que Annabeth nasceu quando sua mãe tinha vinte três e ela não tinha nenhum irmão ou irmã.

— Ela perdeu...? – Annabeth perguntou e Poseidon confirmou também estando claramente abalado.

— Não é sua culpa, nem da minha mãe, vocês estavam desesperados, nenhum de vocês sabiam. – Anne disse vendo o homem se apoiar na pia e puxar o ar para si.

— É, nós dois sabemos disso, mas ainda assim é difícil perder um filho. – O homem falou o que fez com que a princesa das fadas arregalasse os olhos em surpresa e virasse para sua mãe, que prosseguiu a história.

— Poseidon ficou completamente dependente da água e o talento dele de habitar a água virou uma necessidade se tornando o primeiro dragão marinho, podendo ficar fora dela apenas por alguns dias e ainda assim com muito esforço, já Zeus se tornou humano, algo que se Hades não tivesse nos contado que existia nós mesmos não acreditaríamos e nem saberíamos como denominar, mas esse problema foi resolvido quando o pai dele o transformou de volta em vampiro fazendo ele deixar de ser puro e se tornar um criado, perdendo muitos talentos que ele tinha. – Atena disse olhando a filha e ela suspirou.

— E as outras consequências? – A menina perguntou e ela assentiu.

— Quando te dei a bebida para a sua asa, perdeu a coloração esverdeada que começava a ganhar e eu soube que você não teria uma área definida e seu pai acabou descobrindo que eu usava magia ilegal para curar as pessoas e nos separamos. – Atena disse sorrindo leve. – Não sei se essa foi a consequência, mas foi a única coisa que aconteceu, pelo menos a única coisa significante.

— E com a Thalia? – Questionei e ela sorriu leve.

— Ela se tornou uma hibrida e eu não tenho mais facilidade para usar meus poderes sem usar artifícios como palavras ou itens. – Ela disse e Annabeth encarou sua mão perplexa.

Era claro que ela esperava qualquer informação alheia, mas ela não esperava algo como um irmão morto, sua mãe grávida aos dezesseis anos, um grupo rebelde e diversificado na escola, uma hibrida, um divórcio e sua mãe, a rainha, com dificuldade de fazer seus truques básicos sem artifícios para tal.

— Filha. – Atena disse olhando nos olhos de Annabeth que levantara a cabeça para falar. – Qualquer mágica daquele livro é estritamente proibida, se for feita deve ser feita em extrema necessidade e com cautela, de preferência que nunca ninguém saiba que a fez, e todas, exatamente todas as mágicas tem uma consequência principalmente as que contrariam a ordem natural da vida.

Annabeth assentiu nervosa e olhou para Poseidon que sorriu triste para a loira, quase como se visse algo que ela não conseguia. E talvez visse, visse o futuro que ele queria ter com a rainha das fadas que foi arruinado devido a uma ideia idiota tomada em conjunto, talvez visse nela o filho ou filha que ele perdeu, ali naquela casa ele talvez pudesse imaginar a vida que ele teria tido com a mulher ali naquela cozinha.