Só mais uma missão - (Contos do Branco e Vermelho) escrita por emrys


Capítulo 5
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Espero que goste.
E não se esqueça de deixar seu comentário no final.



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Caída ao chão, Iris tentava se levantar inutilmente.Faltavam forças em seu corpo, ou no corpo que agora era dela. Sentia-se como se um prédio inteiro se equilibrasse sobre ela.

— Calma, demora um pouco até se acostumar. Aqui, deixe eu te ajudar. – Ruman, um rapaz jovem de pele morena e cabelos escuros, falava enquanto a erguia pelo braço.

Concentrando suas forças nas pernas para não voltar ao chão, Iris, com o apoio de Ruman, conseguiu se erguer.Observando o lugar onde estava viu as velas espalhadas em um círculo ao seu redor, um incenso queimava à sua frente, dando um doce cheiro ao cômodo mal iluminado, cortinas brancas haviam sido colocadas bem toscamente aos cantos do que parecia ser um quarto.

— Pelos arcanjos!Por que sinto como se tivessem derrubado uma montanha em minha cabeça?

— Bem-vinda à Haled. Como eu disse, os efeitos demoram um pouco a passar.

— Já estive aqui há tempos e não estou lembrada de me sentir tão fraca.

— Então já deve fazer muito tempo mesmo que você pisou aqui, não é?

Iris apenas levou a mão até a cabeça sem responder, mas estava claro para ambos que de fato já fazia alguns séculos.

— O véu engrossou muito nos últimos tempos, é uma tarefa muito difícil trazer anjos de nível tenente ou general aqui para baixo, o pupilo deve estar preparado para criar uma brecha no véu. E quanto a anjos de poder maior, é praticamente impossível descê-los.

— Entendo. – Respondeu Iris já sentindo um leve alívio em seu corpo. – Bem, por onde começamos então?

— Aqui, beba isto. – Ruman entregou uma pequena garrafa com um líquido transparente.

— O que é isto?

— Água benta, vai ajudar seu corpo a relaxar.

Iris bebeu e imediatamente sentiu os efeitos do líquido sobre seu corpo, aliviando imensamente a dor em sua cabeça.

— Uau!Há muito tempo que eu não sentia isso. – Disse já se levantando da cama. – Bem, antes de darmos continuidade à missão me dê uns instantes para conversar com minha pupila. – Ao assumir o corpo de alguém, era uma questão de educação o celestial meditar para falar com o dono real do corpo físico, já que enquanto o anjo o utilizava como “um veículo de carne”, a mente humana estava em um estado de sonho dentro do próprio corpo.

— Achei que fosse falar isso. Aqui, isto irá ajudar. – Ruman agora pegava um pequeno espelho de mão.

Iris se surpreendeu com a eficiência do aliado, pegou o objeto voltando a se sentar no chão, cruzou as pernas e notou o longo vestido completamente branco que usava e um pequeno colar com uma cruz em seu pescoço.

— Faz lembrar minha armadura. – Relembrou Iris.

— Verá que não é só isso que combina, tenente.

Olhou para Ruman confusa, este que só se afastou, enquanto apontava para o espelho na mão de Iris.

— Vou deixá-la sozinha, quando terminar, eu vou estar te esperando lá embaixo. – Ruman disse saindo pela porta do quarto, ao lado da cama.

Iris o viu fechando a porta, em seguida deu atenção para o objeto em suas mãos. Levou um susto ao ver seu reflexo, era idêntica à sua real forma, longos cabelos escuros e cacheados desciam por suas costas, olhos tão escuros quanto eles, e somente a cor da pele estava um pouco mais clara do que a original. Perplexa com a semelhança, Iris começou a meditação, precisava conhecer sua pupila.

Meditação não é algo incomum para os Querubins, muitos deles têm o costume de se prepararem mentalmente para suas missões, mas para Iris aquilo era algo um pouco diferente. Mesmo não tendo a mais remota prática de meditação, ela entendia como aquilo era feito, e após alguns minutos de olhos fechados, ela inconscientemente os abriu para encarar seu reflexo no espelho.

— Uau, você é meu anjo da guarda? – Seu reflexo começou a falar.

— E posso saber o seu nome, minha pequena? – Iris respondeu sem ver o reflexo de seu sorriso no espelho.

— Nossa, tenho tantas coisas para perguntar, tantas coisas que quero descobrir!

— Não sei se posso responder a todas, mas você pode tentar, minha querida. – Um afeto imediato tomou conta de Iris por aquela pequena humana.

— Ok, ok, deixe-me pensar... Hmm... Depois que eu morrer, existe mesmo um paraíso para a minha alma?

— Mas é claro que sim. Existe um círculo inteiro do Céu reservado especialmente para vocês.

— Então se existe um paraíso, também deve existir um inferno, não é?

Estranhando a mudança no rosto da menina, Iris se intrigou com o que a garota queria descobrir.

— Infelizmente sim, é o lugar no qual as almas pesadas caem quando elas não conseguem ascender ao paraíso.

— E é verdade que quando morremos o nosso anjo ou o nosso demônio aparece para nos levar?

— O quanto você sabe sobre a transição na hora da morte? – Iris perguntou, surpresa com o conhecimento da garota.

— É que eu e meu amigo, Gabriel, estudamos bastante do assunto, ele nasceu em uma família de cultura africana e me ajudou com algumas coisas. – A garota respondeu com um sorriso no rosto.

Iris pensou por um segundo se deveria mesmo responder àquela garota, mas o sorriso inocente da jovem mostrava uma dúvida pura, e agora ela já sabia da existência dos celestes, descobrir sobre todo o resto era somente questão de tempo.

— Então me diga, pequena, você já conhece sobre as diferentes castas angelicais?

— Oh, sim, existem os Querubins, os Hashmalins, os Ophanins, as Ishins, os Tronos e os Serafins. Alem dos anjos mais fortes e primogênitos de Deus: Gabriel, Rafael e Miguel o mais velho.

— Sua sabedoria me espanta. Sim, você está certa. – Iris preferiu não corrigi-la. – E quanto a mim,a qual casta eu pertenço?

— Uhum, eu joguei búzios com o Gabriel, e sempre aparecia a rainha de espadas junto do Ás de copas para mim. Você é uma Querubim, não é?

— Certa de novo. Todas as castas possuem suas peculiaridades, mas cada anjo é único. Caso eu tivesse nascido da casta dos Ophanins, eu com certeza viria para lhe guiar ao paraíso, porém, as outras castas nem sempre possuem a conexão necessária com vocês para fazer isso. – Vendo a animação murchar dos olhos da garota, Iris completou. – Mas agora que você me deixou entrar em seu corpo, farei de tudo para lhe ajudar quando chegar a sua hora, mas isso com certeza ainda irá demorar bastante, não é.

— Haha. Muito obrigada. Mas não é exatamente por minha causa que eu lhe perguntei sobre isso.

 - Por que foi então?

— Senhora anjo, quando chegar a hora,você poderia guiar meus pais para o paraíso?

A confusão em sua mente deixou Iris quieta por alguns instantes.

— O quê? Você sabe que eles também possuem os seus próprios anjos da guarda não é?

— Sei disso, mas acredito que os demônios de cada um já os influenciaram muito mais que seus anjos da guarda. Meu pai fuma desde jovem, mas desde que ele descobriu que possuía câncer dos pulmões, ele começou a beber também, desde então as coisas só têm piorado. Se meu pai não estiver em coma induzido no hospital, ele está em casa bebendo até não poder mais e brigando com minha mãe, eu e ela estamos nos esforçando para pagar pelo tratamento, mas é um caso grave e até então ele não teve melhoras. Minha mãe também não é mais jovem e tem pegado trabalhos como faxineira ou arrumadeira para ajudar com o tratamento, não tem sido nada fácil para ela. Agora mesmo ela está com ele no hospital e ambos estão enfraquecendo a cada dia. Eu não suporto vê-los assim, já rezei a Deus até não poder mais para curar meu pai e dar forças à minha mãe, parece não ter funcionado muito bem. Já estudei tudo sobre anjos e parece que não são muitos que podem curar doenças e com certeza Querubins não são um deles. Por isso eu te peço, por favor, quando chegar a hora, dê paz aos meus pais.

Iris ficou em silêncio, sentindo a dor da garota antes de responder.

— É claro que sim.

— Muito obrigada. Nossa, é bem difícil conversar com você enquanto estamos assim, eu me sinto muito cansada.

— Pode ir descansar, minha pequena, voltaremos a conversar mais tarde.

— Obrigada.

Silêncio, o reflexo do espelho voltava a mostrar o “rosto de Iris”. Ela ficou sentada observando por mais alguns instantes e se levantou indo atrás de Ruman.

Saindo do quarto, Iris se deu conta que estava em uma pequena casa. Roman estava encostado ao lado da porta. Ao ver Iris ele disse:

— Pelo visto já está bem melhor do que quando chegou. E então, quer que eu te mostre os arredores? – Disse já se desencostando da parede e andando pelo corredor em direção à porta de sair, sendo impedido quando Iris o agarrou pelo ombro fazendo-o girar e bater com as costas na parede. Iris chegou a levantar o corpo do aliado, segurando-o pela gola da camiseta social e perguntando:

— Você sabia? Sabia das condições psicológicas da minha pupila e usou isso para convencê-la e me invocar? – Iris estremeceu devido repentino esforço físico e acabou largando-o.

— É, você já conheceu sua pupila... E não, eu não sabia como estavam os pais dela quando recebi a missão, vim a descobrir recentemente conversando com meu pupilo. Essa garota parece ter bons amigos ao redor dela.

— E como depois de saber disso você ainda a manipulou para deixar que eu usasse seu corpo?

— Francamente, você está no corpo dessa garota e já deve ter percebido que não seria eu que a influenciaria a tomar decisões. Ela é seu Avatar perfeito aqui na Haled, até suas personalidades se assemelham, tudo que essa garota fez foi por vontade própria, e se deseja ficar brava com alguém pelo  que tem acontecido com essa menina, deveria bater em si própria, afinal, quem é o anjo da guarda dessa garota?– Ruman falava friamente, por ser um Querubim de campo, já estava familiarizado com situações desse tipo.

Iris tomou aquelas palavras como um soco no estômago, de fato os anjos poderiam interferir na vida de seus pupilos, mas isso normalmente se limitava a assuntos que correlacionam com a casta do celeste, no caso da garota, um Ophanim seria a melhor opção para ela, já que os Querubins tratavam melhor de assuntos relacionados a confrontos e brigas, mas aquilo não era uma regra, os protetores poderiam interferir em qualquer assunto se tivessem uma forte relação com o pupilo e fosse algo que tivesse dentro do seu alcance de influência.

  - Hey, não precisa ficar assim. Isso acontece com os humanos. – Completou Ruman.

   - Mas não vai acontecer com esta aqui. Vou voltar ao Céu e procurar por ajuda, esta garota não precisa perder os pais dela.

   - Epa, você não pode fazer isso. Os generais vão tomar isso por desacato. Você é muito importante nesta missão, além disso, uma das desaparecidas é sua general.Você vai deixar esta chance de encontrá-la passar?

   Novamente as palavras mexiam com ela.

  - Droga!Tudo bem então, vamos encontrar os desaparecidos e retornar logo para que eu possa ajudar minha pupila.


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Notas finais do capítulo

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