Start escrita por Queen Of The Clouds


Capítulo 48
Armin


Notas iniciais do capítulo

Sinto dizer, mas esse pode ser o penúltimo capítulo da história.
Muito obrigada à quem comentou, avaliou e me ajudou a ter ânimo pra continuar; se não fosse por isso eu com certeza já teria deixado de lado♡
Obrigada, de verdade.
Em breve posto o (talvez) último capítulo, e prometo que dessa vez não demoro!
Boa leitura.



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P.O.V ARMIN

Eu abri os olhos devagar. Já devia ser a terceira ou quarta vez que eu adormecia sem perceber. Annya permanecia no mesmo estado, imóvel, distante. A música que eu havia colocado para tocar no meu celular continuava ecoando pelo quarto apesar de estar num volume baixo.

A última coisa que me lembro de ter visto antes de dormir foram os avós de Annya, sentados na ponta da cama. Eles vieram para a França por causa dela e a visitavam sempre que podiam. Eles tentavam me tirar do quarto, me pediam para ir para casa, descansar, mas era impossível. Meu corpo se recusava a dormir se não fosse ao lado dela. Eu queria ser o primeiro a ver aqueles olhos abertos novamente.

Eu estava começando a enlouquecer, sem dúvidas. Era assustador. Já havia se passado quase três semanas e não surgiu nenhum sinal de melhora, nenhum movimento, nem mesmo um mexer de pálpebras.

Era mais do que assustador... era doloroso.

Vez ou outra, eu voltava a pesquisar sobre a condição de Annya na internet. Eu queria um pouco de alento, algo que me confortasse, mesmo que não fosse lógico. Quer eu acreditasse ou não, eu não podia negar o que vivenciei naquela noite: eu senti aquele tiro antes de ouví-la gritar. Era um fato e nenhuma ciência do mundo poderia me convencer do contrário.

Encontrei alguns artigos que diziam que certos pacientes conseguiam escutar o que estava acontecendo, mesmo estando em coma. Eu pensei em cantar para ela, mas realmente  não queria que ela acordasse assustada ou pedindo para que eu parasse. Bem que eu adoraria pegar a voz do Lysandre ou do Castiel emprestada por alguns dias.

Eu queria falar, mas... eu não sabia o que dizer. Eu era péssimo com palavras e, aos pés daquela cama, tudo que eu conseguia fazer era implorar. Todos os dias eu pedia à ela que se recuperasse mais rápido, que acordasse logo e não me deixasse sozinho... mas talvez eu estivesse sendo egoísta, ansioso demais. Eu deveria tranquilizá-la também, lembrá-la de coisas boas. Não era só eu que estava passando por um tempo difícil.

Eu podia pelo menos tentar.

Eu pigarreei e apoiei o cotovelo sobre a cama.

—Annya, ahn...—Eu suspirei e olhei as horas no celular.—Está quase entardecendo... lembra daquele dia em que nós passamos a tarde inteira tentando montar um boneco de neve?

Eu instintivamente esperei que ela respondesse. Eu devia ser um imbecil.

—Você, de alguma forma, conseguiu rasgar aquele seu cachecol novo com os galhos da árvore... quer dizer, com os braços do boneco de neve... e eu te dei o meu. Passei o resto da semana gripado só por causa disso.

Eu pensei por alguns segundos, observando-a.

—Para falar a verdade, eu só fiquei gripado nos três primeiros dias. O restante foi tudo fingimento porque eu queria chamar sua atenção.—Eu franzi o cenho.—Nem sei porquê estou te confessando isso. Eu sou um péssimo mentiroso, aposto como você deve ter percebido tudo desde o começo, não é?

Eu parei de falar à espera, novamente, de algum movimento... algum sinal, qualquer coisa! Mas nada aconteceu.

—Okay, eu não consigo fazer isso.

Eu pausei a música e me levantei.

—Duas semanas, Annya! Duas semanas e meia! Eu não aguento mais! Eu... eu preciso que você volte. Preciso que se recupere! Tem tanta coisa que eu queria, t-tanta coisa que...—Eu gaguejei, nervoso.—Sabe o que eu queria agora? Eu queria estar na sua casa, numa tarde normal, assistindo um filme qualquer e rindo enquanto você critica os figurinos dos personagens. Poderíamos estar no Laser Tag agora, nos divertindo. Poderíamos estar deitados no chão do seu quarto, vendo estrelas. Poderíamos estar em qualquer lugar! Eu só quero que você volte para mim...

Eu me sentei ao seu lado outra vez, sentindo um nó se formar na minha garganta.

—Eu cansei de tentar ser o mais forte... eu preciso de você. Eu preciso que você me abrace mais uma vez e diga que vai ficar tudo bem... eu quero sentir sua mão apertando a minha... quero ouvir a sua voz... me diga que vou ouvir sua voz mais uma vez, Annya... por favor.

Eu segurei sua mão e a repousei sobre o meu rosto.

—Não é justo. É cedo demais, eu... não posso te deixar ir. E-eu ainda preciso colocar um anel nesse dedo... eu ainda preciso acordar e vê-la com cabelos brancos... eu ainda preciso dizer que te amo, mais um milhão de vezes, porque e-eu... eu amo você, Annya, com todo o meu coração.

Eu fechei os olhos, sentindo o seu toque inerte contra a minha pele. Sua mão estava fria. O quarto estava silencioso, com exceção do som do monitor multiparâmetros, que me indicava que seu coração ainda batia, apesar de não parecer.

Minha cabeça latejava de dor e eu conseguia sentir o inchaço nos meus olhos. O cansaço estava acabando comigo. Eu dormia e despertava o tempo inteiro, sempre esperando encontrá-la acordada.

Assim que senti o sono se aproximar, algo me acordou. Eu abri os olhos.

Era impressão minha ou o intervalo entre os sons estava maior? 

Parei para escutar.

Não era impressão. A frequência cardíaca dela estava diminuindo.

O coração dela estava parando.

—Annya? Annya, por favor. Não faz isso comigo, por favor, por favor, por favor...—Eu apertei sua mão.—Não, não, não!! 

Mal tive tempo para pensar quando um grupo de enfermeiros e médicos adentrou o quarto.

—Senhor, preciso que se retire agora.—Uma das enfermeiras informou, tocando meu ombro. Eu me desvencilhei.

—Eu vou ficar.

—Senhor, você tem que sair agora.—Um homem de jaleco ordenou, me empurrando levemente.

—Eu não vou sair daqui!!

Os sons estavam diminuindo cada vez mais. Senti braços me puxando para trás. Assisti, apavorado, enquanto os médicos energizavam os desfibriladores.

—Não! Eu preciso ficar com ela!!—Gritei, já chorando.

Os seguranças continuaram me puxando.

—Afastar!

—O senhor só está causando problemas, é melhor sair.—Escutei alguém da equipe dizer. Eu ignorei, ainda lutando para ficar.

—Afastar!—O médico falou outra vez.

O corpo dela pulsava a cada vez que aquela palavra era dita. Minha pele formigava e tremia. Eu ainda estava tentando me desvencilhar dos seguranças quando escutei o último som do aparelho. Um som contínuo. Agudo. A linha no monitor estava reta. Eu parei de me mover.

Era tarde demais.

Eles continuavam a usar os desfibriladores... mas era inútil. Eu queria gritar com eles. Eu queria gritar com todo mundo. Queria correr até ela e revivê-la com as minhas próprias mãos, mas não tinha mais forças. O meu mundo parou no mesmo segundo que o coração dela.

Por fim, deixei que os seguranças me arrastassem para fora do quarto. Eu me sentia derrotado... destroçado.

Nada mais importava.

A minha estrela havia se apagado.


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