Start escrita por Queen Of The Clouds


Capítulo 28
O sentimento não dito




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Armin

Depois do almoço, Lily me pediu para levá-la em casa. Mais uma vez, disse que não podia demorar porque tinha um compromisso. Preferi não incomodá-la perguntando os detalhes.

Quando saímos do chalé, Lily disse que esqueceu sua bolsa e voltou para procurá-la. Eu encostei na lateral do carro e encontrei Annya em questão de segundos, apesar da distância. Ela estava sentada no gramado a metros de mim, mas quando nossos olhares se cruzaram senti uma corrente elétrica percorrer meu corpo.

Eu deveria ter insistido? Eu deveria ter contado à ela o que sentia? Eu estava cometendo um erro?

Eu me sentia atraído por Annya de todas as formas. Ela me fazia sentir coisas que eu nunca havia sentido por mais ninguém. Eu a admirava e queria tê-la por perto, mas além disso, eu me sentia conectado à ela. Mesmo quando brigávamos, era porque nos preocupávamos um com o outro. Por medo. Porque não queríamos nos afastar.

De repente, me lembrei da sua expressão confusa quando briguei com ela hoje. Estava tão nervoso pelo almoço, tão preocupado em me forçar a gostar da Lily que agi como um idiota.

E eu precisava me desculpar.

Eu respirei fundo e dei um passo em sua direção. No mesmo segundo, Lily surgiu na varanda. Ela sorriu e ergueu sua bolsa branca, correndo até mim.

—Agora podemos ir.—Ela colocou suas mãos sobre meu peito e, lentamente, me empurrou contra o carro, selando nossos lábios.—A não ser que queira ficar mais um pouco comigo.

Quando procurei Annya, ela já não estava mais lá. Lily seguiu meu olhar e encostou o rosto no meu.

—O que está olhando?

Eu suspirei.

—Annya.

—Por que não vai falar com ela?

—Ela... prefere ficar sozinha.

Lily segurou minhas mãos e se afastou.

—Armin... as pessoas que dizem isso, na maioria das vezes, estão mentindo porque não querem incomodar. Você sabe disso, não é?

Eu sabia. Annya ainda não havia parado de se punir e provavelmente não deixaria de fazer isso nem tão cedo. É um processo demorado até você perceber que todas as coisas ruins que te aconteceram não são culpa sua. Que você não merece ser punido.

Eu sorri para Lily.

—Vamos embora ou vai se atrasar para o seu compromisso.

 ***

Depois de deixar Lily em casa, eu voltei para procurar Annya. Já estava escurecendo quando finalmente a encontrei, na cachoeira. Ela abraçava os joelhos de encontro ao peito e não notou quando me aproximei. Eu me sentei ao seu lado.

—Não deveria ficar aqui fora sozinha. É perigoso.

Seu rosto estava corado, como se estivesse chorando. Meu coração apertou. Eu queria enchê-la de beijos até apagar qualquer dor que houvesse dentro dela.

—Você está brava comigo?—Perguntei, pisando em ovos.

Ela suspirou, fechando os olhos.

—Nossas conversas vão ser todas assim agora?

—Assim como?

—Não sei se reparou, Armin, mas os nossos tópicos de conversa ultimamente vem sendo sobre o quanto magoamos um ao outro.

Ela se levantou da pedra para deitar na grama. Seu cabelo se destacava em meio às folhas verdes. Ela não parecia real. Naquele ambiente, cercada de flores, parecia uma pintura, uma obra de arte.

—Lily foi embora?—Perguntou.

—Sim.

—Legal.

Dessa vez, eu suspirei.

—Você sabe que isso é complicado para mim, não sabe?

—O quê?

—Vai ser difícil. Eu e Lily moramos em cidades diferentes, mas eu estou tentando começar algo novo. Estou tentando... gostar dela. E não me sinto bem sabendo que você não está bem. 

—Eu estou bem.

—Eu sei que não está, Annya. Preciso saber o que tem contra ela. O que você e meu irmão vêem que eu não vejo?

—Eu não tenho nada contra Lily. Foi ela quem ficou me atacando o tempo inteiro. Não é possível que você não tenha reparado!

—Sim, eu reparei!

Ela me lançou um olhar rude. Eu pensei bem, antes de falar:

—Annya, você é a minha melhor amiga. Nós nos damos bem, gostamos das mesmas coisas, sempre estamos juntos, eu sei tudo sobre você e você sabe tudo sobre mim e... até dividimos a mesma cama algumas vezes. É óbvio que ela ficaria desconfortável e te trataria mal. É praticamente impossível competir com você, ninguém pode ocupar o lugar que você ocupa na minha vida.

—Então eu vou me afastar. Deixo o caminho livre para ela.

—Nem pense nisso.

Ela cruzou os dedos das mãos e as juntou sobre o peito, desajeitada.

—Armin, não posso continuar atrasando sua vida desse jeito. Se, depois da Rachel, você finalmente está se sentindo pronto para amar alguém outra vez, não sou eu quem vai te atrapalhar. Eu sou apenas a sua amiga.

—Mas... o-o que você vai fazer?—Gaguejei, observando-a. Ela se levantou e limpou a terra das roupas.—Não posso simplesmente te excluir da minha vida. Não posso deixar você ir.

—Parece o melhor a se fazer.—Seus olhos se detiveram nos meus por uma fração de segundos e ela se virou para ir embora. Eu fiquei de pé num pulo e segurei sua mão, sustentando seu olhar.

—Não quero que diga isso outra vez.—Eu a abracei, como se ela pudesse desaparecer naquele segundo.—Não quero que diga isso nunca mais. Nós vamos dar um jeito, mas eu não quero que se afaste de mim. Não posso te perder, você é...

Eu mordi a língua.

—Você é... minha melhor amiga.


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