Start escrita por Queen Of The Clouds


Capítulo 27
Cegueira




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Anastasia

Eu tentei evitar estremecer quando a campainha tocou. Ela havia chegado. Alexy estava me ajudando a organizar a mesa para o almoço com Lily, mas deixou bem claro que não participaria.

—Pode pelo menos abrir a porta?—Arrisquei, com um olhar cansado. Antes que ele pudesse responder, Armin desceu a escada. Quando viu que o irmão estava na cozinha, ele parou na entrada. Alexy apenas respirou fundo e subiu para o quarto.

Armin se aproximou, hesitante, esfregando os olhos. O resultado de uma noite em claro estava estampado em seu rosto: suas olheiras estavam ressaltadas e seu cabelo, despenteado. Os olhos azuis estavam avermelhados e lacrimejavam.

—Então... como você está?—Os cantos dos seus lábios se curvaram num pequeno sorriso.

—Estou bem.

—Tem certeza?

—Sim. Deveria estar mais preocupado com o seu cabelo.

Eu segurei uma mecha rebelde que caía sobre seus olhos e a coloquei atrás da sua orelha. A campainha tocou outra vez.

—Obrigado, Annya.

Apressado, ele beijou minha bochecha e correu para atender a porta. Eu fiquei parada no meio da cozinha, até ouvir Vitória suspirar.

—Vocês se dão tão bem... não entendo porquê ele está correndo atrás dessa garot...

No mesmo segundo, Armin e Lily entraram na cozinha, juntos. Ela usava um vestido verde-limão claro e tinha um sorriso estampado no rosto. Enquanto Armin a apresentava à Vitória, eu tentava me acalmar.

Se o eles voltaram a sair juntos, pode ser que Armin tenha mudado de ideia sobre ela. Deve ter descoberto que está apaixonado. Isso é bom... eu acho. As coisas devem ficar mais fáceis entre nós dois agora. Talvez ela até seja legal. Talvez eu só tenha tido uma primeira impressão ruim.

Vitória puxou-me pelo braço.

—Você já conhece a Annya?

—Ela conhece...—Murmurei, forçando um sorriso.

—Sim! Você é a... amiga do Armin, né?—Perguntou, dando certa ênfase na palavra "amiga".

Eu vou fingir que não senti o tom de desdém na sua voz. Aliás, vou fingir que foi coisa da minha cabeça.

—É... sou a amiga dele.

—Hum, não deve ser muito importante para, já que ele quase não falou nada sobre você!—Ela encostou a cabeça no ombro dele e repousou a mão sobre seu peitoral. Eu ergui as sobrancelhas.

Quando eles ficaram tão íntimos?

—Estou brincando, não fique tão séria!—Ela falou, dando um empurrãozinho no meu braço.—Meu Armin falou bastante sobre você.

—Ah, falou? Espero que o seu Armin tenha falado apenas coisas boas.—Brinquei, olhando fixamente para Armin. Ele arqueou a sobrancelha e balançou a cabeça negativamente, sério.

—Na verdade...

Eu a interrompi.

—Hum, pode me dar licença? Preciso resolver um problema.

—Precisa de ajuda?

Eu tirei meu avental e o pendurei.

—Sua? Não, obrigada.

Subi as escadas e me tranquei no quarto. Alexy me observava, curioso.

—Aconteceu alguma coisa?

—Está tudo ótimo.—Eu comecei a andar de um lado para o outro, até parar, angustiada.—Na verdade, está tudo péssimo! Não sei se vou conseguir ficar lá embaixo com Lily. A cada cinco palavras que saem da boca dela, sete me incomodam!

—Ela te fez alguma coisa?

—Não! Quer dizer... não sei. Droga! Eu simplesmente não consigo gostar dela!

Armin entrou no quarto, de repente, fazendo com que eu me calasse.

—O que aconteceu lá embaixo?

—Do que está falando?—Indaguei, confusa. Eu estava certa? Ele também achava que ela estava agindo estranha comigo?

—Você foi... totalmente dura com ela.

Eu?! Eu mal troquei duas palavras com ela!

—Exato!

—Mas, Armin, foi ela quem começou!

—E o que ela fez?

—Bem, ela...

Eu não sabia como explicar! Os sinais estavam implícitos!

Armin passou a mão pela testa.

—Eu pensei que você fosse um pouco mais madura do que o meu irmão, mas acho que me enganei.—Ele me dirigiu um olhar mal-encarado.—Se for voltar lá para baixo, tente não estragar tudo.

Ele deixou o quarto, batendo a porta. Eu ainda encarava o lugar onde ele estava, boquiaberta. Eu tinha ouvido direito? Armin havia acabado de brigar comigo para defender a Lily?

A risada de Alexy me despertou e eu me virei, tentando disfarçar minha raiva.

—Qual é a graça?

—A graça é ver meu irmão agindo como um idiota. Como ele pôde brigar com você e colocar a mão no fogo por uma pessoa que acabou de conhecer?

Falando assim, a questão me parece ainda mais dolorosa...

—Talvez ele goste dela.

—Não, ele não gosta. Eu já vi o meu irmão apaixonado e esse não é o caso. Não sei porquê ele está saindo com ela, mas não é por amor.

Coloquei a mão na cintura.

—Certo. Então o que vai fazer para ajudá-lo?

—Eu? Não vou fazer nada.

Eu o olhei, incrédula, aguardando uma explicação.

—Alexy, ele é seu irmão.

—Ele é um cabeça-dura. Se ele quer seguir em frente com essa palhaçada, eu não vou impedir. A vida é dele.

—Mas...

—Annya, deixe ele quebrar a cara. Pare de esquentar a cabeça pelo meu irmão. Ele já está bem grandinho, sabe se cuidar sozinho.

Sua expressão mudou. Ele desviou os olhos, quando um semblante de culpa preencheu seu rosto.

—A propósito, falando em saber se cuidar sozinho... desculpe pelo que aconteceu hoje de madrugada, quando você teve aquele pesadelo. Eu queria ter te ajudado, mas não tive reação. Me desculpe, de verdade. Fui um idiota.

—Não precisa pedir desculpas, fui eu quem assustei vocês.—Eu o abracei.—Aposto que preferia ter convidado alguém que roncasse, ao invés de mim.

Ele me abraçou de volta.

—Eu não trocaria você por nada no mundo. 

—Sério?—Perguntei, com uma pontada de felicidade.

—Nunca falei tão sério na minha vida.

Eu olhei seus olhos violetas por alguns segundos antes de me aninhar em seus braços e choramingar, baixinho: 

—Droga, por que você precisa ser gay?

Ele riu alto.

—Vamos almoçar, Anastasia.

 

Armin

Eu, minha mãe e Lily levávamos uma conversa empolgada à mesa, enquanto Annya e Alexy, lado a lado, se entreolhavam a cada palavra proferida por Lily. Eles agiam como se ela fosse uma louca que a qualquer minuto surtaria e os espancaria com o frango.

—Vocês estão quietos.—Tentei os chamar para a conversa.

—Eu estou normal.—Annya e Alexy responderam em uníssom.

—Normal? Nunca vi os dois tão calados e quando estão juntos a dor de cabeça só piora.—Minha mãe brincou.

Annya limpou a garganta.

—Está estudando o que na faculdade, Lily?—Annya perguntou.

—Ainda não comecei a faculdade, mas pretendo cursar medicina veterinária.

Um silêncio pairou sobre a mesa até Alexy fazer a pergunta que, sem dúvidas, todos ali queriam fazer.

—Você disse que não começou a faculdade ainda, então quantos anos...

—Eu tenho dezenove.—Lily respondeu, simpática.

Alexy e Annya trocaram olhares mais uma vez. Eles nem disfarçavam mais e aquilo estava começando a me incomodar. Talvez todo aquele meu estresse fosse uma consequência por não ter dormido, mas eu tinha certeza de que, naquele momento, nem todo sono do mundo me deixaria menos irritado com aqueles dois.

O celular da minha mãe tocou em algum lugar da casa e ela deixou a mesa, pedindo licença.

—E você, Anne...

—Annya.—Ela corrigiu, entre dentes.

—...o que você estuda mesmo?

—Design de moda.

—Sério? Li uma vez que era uma das faculdades menos concorridas. Aposto como deve ser extremamente fácil, não é?

Annya piscou e encenou um sorriso como se não tivesse entendido. Eu conhecia aquela expressão e sabia que ela estava furiosa.

—O que disse?

—Bem, estamos falando de moda. Não é algo tão importante como um médico, um veterinário, um professor...

—Então experimente andar sem roupas na rua, Lily. Aliás, quando pensar em comprar um vestido, peça a um veterinário para costurar um para você.

—Annya...—Eu a repreendi, apesar de ter achado sua resposta hilária. Sua língua afiada sempre me surpreendia.

Ela revirou os olhos e se levantou, deixando a louça na pia. 

—Céus! Como você está mancando! O que aconteceu?—Lily parecia curiosa.

—Ah, está falando desse hematoma enorme? Foi o Armin.—Annya sorriu, maliciosa.

—O-o quê?

—Pergunte à ele depois. A história é deliciosamente divertida.

Ela piscou para Lily e deixou a cozinha, sem dar mais explicações. Alexy pediu licença e também saiu, segurando o riso.

—Armin? 

Eu olhei em seus olhos castanhos, exigentes. Ela devia estar fantasiando sobre como exatamente eu havia machucado Annya, mas não a culpo. Por um segundo eu até havia me esquecido do jogo de futebol. A resposta de Annya deu àsas à minha imaginação e eu admito que... eu havia gostado.

Infelizmente, Lily ainda exigia uma explicação.

—Estávamos jogando futebol e eu... chutei a bola com mais força do que deveria, acabei acertando-a.

Ela não pareceu acreditar em mim e muito menos se acalmou, mas o assunto foi deixado de lado, por ora.


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Notas finais do capítulo

:D