Sisterhood escrita por Eponine


Capítulo 1
Capítulo Único




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As três observaram o bocejo escandaloso de Marlene, visivelmente entediada.

Lílian mordeu os cantos da boca, pensando em uma desculpa muito convincente para sair daquela situação estranha. Arranjou uma boa desculpa, agora pensava em formas para se auto desmentir e ela já ter respostas prontas. Mary balançou a cabeça com a música, observando o Três Vassouras, olhando a porta de cinco em cinco segundos, começando a ver coisas. Olhou sua amiga, Lílian, e sorriu rapidamente, com as duas trocando mensagens secretas com os olhos.

“Eu quero sair daqui...” Mary apertou os olhos negros. Lílian ergueu uma sobrancelha.

“Só você? McKinnon tem um cheiro tão forte de cigarro que eu vou pegar câncer de pulmão só de estar sentada aqui”, Lílian brincou com as sobrancelhas e Mary assentiu lentamente, não sabendo se a amiga estava com um tique nervoso ou tentando dizer algo.

Emmeline mascou seu chiclete com mais vigor, chamando atenção das duas. Ela continuou inclinando-se na cadeira, sem tirar os olhos de Mary e Lilian. A ruiva sorriu rapidamente, mas a Vance não retribuiu o sorriso.

— Vocês não querem uma cerveja? — perguntou Marlene, cruzando os braços. Lily achava incrível o ar másculo e irritado que a garota conseguia passar, sem o menor pudor em praticamente só ter uma roupa para as visitas a Vila. Mary, diferente de Lílian, sentia-se mal em julgar a bolsista, dedicava sua desconfiança a Emmeline, que tinha olhos debochados que só se reforçavam com seu mascar barulhento.

— Não... Acho melhor continuarmos esperando os meninos. — respondeu Lílian, fazendo Marlene bufar e pender a cabeça para trás, girando os olhos. Lílian considerou aquilo uma ofensa: — Você pode começar se quiser.

— Ela não pode. — sorriu Emmeline, ainda mascando seu chiclete. Mary analisou seu casaco furado. — Ela não tem dinheiro.

Cala a boca, Vance! — Marlene lhe deu um soco no ombro. — Eu tenho dinheiro! Só que preciso comprar uma capa nova...

— Eu tenho uma capa reserva, posso te dar se quiser. — Lílian deu de ombros. — Você só é dez centímetros mais alta que eu... Você tem 1,80, certo...?

Marlene focou seus olhos azuis em Lílian, com uma expressão definitivamente intimidante.

Não preciso de vestes de segunda mão. — sibilou McKinnon. Emmeline soltou uma risadinha, colando seu chiclete debaixo da mesa.

— Não quis te ofender. — justificou-se, Lílian.

— Claro que não. — Marlene apenas abaixou os olhos e começou a cutucar as unhas. Lílian passou a mão em suas madeixas, respirando fundo. Olhou para Mary, erguendo uma sobrancelha, olhando para Marlene de forma estranha. A McKinnon pareceu explodir, ajeitando-se na cadeira, inclinando-se na direção de Lily. — Olha, só pra você saber, eu só saio com esses idiotas porque eu não preciso pagar a conta, ok? Eu tenho dinheiro para pagar uma cerveja, eu só não trouxe. Porque eles estariam aqui e James é milionário, por que eu vou trazer dinheiro quando tem um milionário no rolê?

— Ok... — respondeu Lily, assustada.

— Porque ele não tem obrigação de te pagar nada. — retrucou Mary, atraindo os olhos azuis da McKinnon. A MacDonald engoliu seco, arrependendo-se de ter aberto a boca. Marlene era conhecida por seu pavio curto e ninguém queria ser o balaço que ela socava com tanta força durante os jogos de Quadribol. — Digo, vocês nem namoram... Entendo James querer pagar a conta de Lily, mas a sua...

— Eu não quero que ele pague minha conta. — cortou Lílian. — Meus pais me dão dinheiro justamente para isso.

Emmeline soltou um muxoxo de escárnio que irritou Lílian.

O quê?!

A garota ergueu as sobrancelhas.

— Bem, não é todo mundo que tem o papai para dar mesadinha. Algumas pessoas não são... — Emmeline suspirou, olhando Lílian com deboche. — Filhinhas do papai.

Marlene colocou a língua para fora, rindo, Emmeline e ela bateram suas mãos em sintonia, rindo de Lílian. A ruiva olhou as duas, sem palavras. Olhou Mary, em busca de ajuda, mas a garota continuou fitando o nada, sem querer se envolver. Lílian respirou fundo, começando a ficar vermelha de raiva.

— Bem... Eu prefiro ser filhinha do papai do que... Dar para metade do colégio!

As três soltaram um ruído sonoro de surpresa, fazendo Mary tapar a boca, Marlene arregalar os olhos e Emmeline continuar de boca aberta, chocada. Não demorou muito para Lílian reconsiderar o que dissera, engolindo seco. Eu me tornei James, pensou ela, arrependendo-se de ter aberto a boca sem pensar. Ela sempre sentira um pouco de raiva de Emmeline pelos boatos dela e James já terem tido coisas além de amizade.

Emmeline maneou a cabeça negativamente.

— Você se acha tanto, não? Fez todo esse showzinho durante sete anos, ugh eu odeio James Potter! — simulou Emmeline, afinando a voz e colocando as mãos na cintura. — Era tudo para aumentar seu ego, não? Eu prefiro conseguir o que eu quero, na hora que eu quero, do que fazer esses joguinhos idiotas, que no final... — ela inclinou-se na mesa, sem piscar para Lily. — Ser apenas uma Mary.

Mary uniu as sobrancelhas.

— Eu?

— Não, idiota. — riu Marlene, então olhou Lily. — Mary são virgens bonitas que os garotos se matam para conseguir descabaçar.

Lílian olhou Marlene, sentindo-se tonta.

James me considera uma Mary? — perguntou ela, com a voz falha. Emmeline e Marlene se entreolharam. A Vance ergueu a sobrancelhas, arrumando-se na cadeira.

— Desde sempre.

Lílian abaixou os olhos, sentida. Tocou seu pescoço, sem ar. Sua cabeça girava de forma tão violenta que ela começou a suar, certa de que colocaria seu almoço para fora muito em breve. Marlene rolou os olhos.

— Não, ele não te considera uma Mary. Ele nunca te considerou uma Mary, James gosta de você, Emmeline está sendo uma vaca, só isso.

Marlene! — estrilou Emmeline.

— Se James descobrisse que você falou isso para essa tapada, ele ia fazer você sentar no colo do demônio em menos de segundos. — retrucou, cruzando os braços e esparramando-se na cadeira, olhando Lily. — Você não vai chorar, vai?

Lilian continuou olhando para as calças de seu macacão, recuperando-se da dor. Agora quilo ficaria em sua cabeça, já bastava o fato de seu namorado ser mais rodado que as rodas do expresso de Hogwarts, agora a possibilidade dela ser apenas uma “conquista” para James iria assombrá-la.

As quatro ficaram em silêncio após a pré discussão. Mary suspirou e acenou para um elfo, pedindo quatro canecas grandes de cerveja. Marlene molhou os lábios, animada e Emmeline sorriu, ansiosa. Lílian demorou um pouco até conseguir olhar as meninas na mesa, ainda sentindo suas bochechas queimarem. Marlene notou o olhar quase perfurante de um garoto na mesa ao lado e fez sua melhor careta, feliz ao espantá-lo. Emmeline riu, com as mãos nos bolsos. Lily segurou o riso, mas Mary acabou rindo, cobrindo a boca em seguida.

A cerveja finalmente chegara e as quatro pegaram suas canecas com prontidão. Marlene tremelicou os olhos enquanto dava sua primeira golada, parecendo ter um orgasmo. Emmeline ficou com um sorriso imenso e com um bigode de espuma, relaxada.

— Emmeline, me desculpe pelo que eu disse. — disse Lílian, sem conseguir dar seu primeiro gole, precisava tirar aquele peso de suas costas. — Eu não te acho vulgar ou qualquer coisa do gênero. Na verdade, eu te admiro, porque sim... Eu sou... Uma virgem... Tapada.

A Vance ergueu as sobrancelhas, dando mais um gole enorme em sua cerveja. Marlene continuou tomando sua cerveja, com os olhos azuis focados em Emmeline, com uma expressão divertida.

— Olha... — ela respirou fundo. — Eu não dei pra todo mundo. Muito menos para James, eu acho que prefiro a morte.  — Marlene riu, quase engasgando com a cerveja. — Talvez eu tenha pegado Remus... E Peter... — ela olhou para Mary rapidamente, fazendo a garota virar o rosto, um pouco irritada, apesar de não ser uma novidade. — John da Corvinal e Daniel da Sonserina. Mas foram eles! O maldito do Desario que espalhou para todo mundo que eu era uma... Puta.

— Por que ele fez isso? — indagou Lílian, indignada.

— Porque caras não sabem lidar com garotas que fazem as mesmas merdas que eles fazem. — cortou Marlene, colocando a caneca na mesa. — É ridículo, eu não tenho nem paciência, já chuto o saco.

Ela ergueu uma sobrancelha para o garoto que insistia em olhá-la.

— Digo, tanto faz se você deu pra Hogwarts inteira... Ninguém está pagando as suas camisinhas, certo? — Marlene virou-se para Emmeline, a fazendo sorrir.

— Vocês são amigas a muito tempo? — perguntou Mary.

‘Tá brincando? Marlene é quase minha irmã! — retrucou Emmeline, risonha. — Mas eu ainda não a perdoei por algo muito gr...

Fala sério, Emmeline! — estrilou Marlene.

— O quê? — perguntou Mary.

— Quando eu era afim de Remus... Em uma brincadeira de verdade ou desafio, eu pedi para Marlene me dar um empurrãozinho amigo... — Emmeline olhou a amiga com raiva. — E ela simplesmente me desafiou a chupar Remus! Argh, eu sinto raiva só de lembrar, todo mundo ficou em um silêncio mórbido, até James!

— Você pediu ajuda! — defendeu-se Marlene, desacreditada.

Lílian e Mary se entreolharam, sorrindo. Não demorou muito para Mary pedir a segunda rodada, um pouco depois de Marlene terminar seu copo, ela era o que os garotos chamavam de “bebedora profissional”, não tendo nenhuma barreira física para álcool. Lílian, entretanto, ainda estava terminando o primeiro copo.

— Marlene, você e Sirius ainda estão juntos? — perguntou Mary.

— Nós nunca estivemos juntos. — ela uniu as sobrancelhas, estreando o novo copo. — Se você se refere a nosso relacionamento aberto, bem, ele seguiu em frente, encontrou outra garota linda...

Outra garota linda? — riu Mary.

— É, uma garota legal, assim como nós. — explicou Marlene. — E é isso.

— E você não está com raiva dessa garota? — perguntou Emmeline.

— Não, por que eu estaria? Ela deve ser bem legal, afinal ele me trocou por ela. — Lílian assentiu, concordando com ela.

— Lene... Posso te chamar assim, né? — indagou Lílian, Marlene apenas assentiu, ainda irritada com o garoto que a fitava. — Como você tem tanta força para bater naqueles balaços, eu fico impressionada, você rouba toda a cena do jogo!

Você perdeu alguma coisa aqui? — questionou Marlene para o garoto de óculos. As quatro se viraram para ele e o amigo, que continuaram com aqueles sorrisos nojentos estampados no rosto, sem a menor noção de que estavam incomodando.

— Eu só estava me perguntando se eu posso te chamar de Lene também. — Lily abaixou os olhos, sentindo-se extremamente desconfortável.

— Não é possível... — Lily girou os olhos.

— Será que não dá pra gente sair sem passar por isso? — indagou Emmeline, mostrando o dedo para o garoto. — Vai se foder, seu imbecil. Sai daqui, você está nos atrapalhando!

— É melhor você mudar de mesa se não quiser que eu te deixe cego! — ameaçou Marlene, fazendo os dois garotos se entreolharem e levantarem da mesa, xingando as garotas, em um tom que McKinnon não ouvisse. Lílian tomou coragem pela companhia e gritou:

SEU BABACA! — urrou, com todas as forças de seus pulmões. Mary arregalou os olhos de surpresa, mas Marlene e Emmeline gargalharam, dividindo-se para bater na palma da ruiva, vermelha e excitada. As meninas continuaram rindo, animadas, e Lílian tomou um enorme gole de sua cerveja, sentindo-se vitoriosa.

— Eu me sinto tão viva! Eu nunca tinha retrucado esse tipo de coisa, tirando James, mas eu só conseguia porque eu o conheço... Deus, essa sensação é maravilhosa! — animou-se Lílian, olhando seus punhos fechados.

— Eu normalmente não tenho muita paciência, é como se eu vivesse em uma TPM eterna. — comentou Emmeline, finalizando seu copo.

— Isso é tão ridículo, uma mulher não precisa estar menstruada para sentir raiva, ninguém pergunta para os caras se eles estão menstruados quando eles dão surtos, quase matando todo mundo que estiver por perto. — disse Mary, pedindo a terceira rodada.

— Nunca pensei por esse lado. — analisou Marlene, cruzando os braços. — Isso explica eu estar sempre com raiva, por mais que minha menstruação seja... Uma miséria.

— Você tem sorte, teve um dia que eu fui encontrada quase morta no corredor do sétimo andar de tanta cólica. Sério, eu nem sabia meu nome mais e eu tinha certeza que ia morrer ali.  Já tinha até relembrado minha vida inteira. — relatou Lílian.

— Ah, eu lembro disso. — gargalhou Emmeline. — Desculpe, eu fiquei quase uma semana rindo disso, você parecia a murta-que-geme.

— Pode apostar que eu também me lembro todos os dias. — respondeu Lily, constrangida. — Não é estranho em como nós ficamos nos martirizando por coisas que às vezes nem são nossa culpa? James soltou um arroto de quase uma hora no meio de uma palestra e nem teve a dignidade de corar.

Marlene finalizou seu terceiro caneco, assentindo solenemente para Lílian.

— Eu quis morrer quando Sirius disse que eu precisava fazer o bigode. Era uma sala, eu, ele e Dumbledore. — relatou Marlene. — Eu pensei que ia desmaiar.

— Toda vez eu que depilo a sobrancelha e o bigode fica gritante, parece que além de estar vermelho e em uma cor que nunca habitou meu corpo, eu escrevi na testa que me depilei. — disse Lílian, indignada. Ela tomou mais um gole a aproximou-se da mesa, tensa. — Vocês depilam... Lá...

— A punnanny? — indagou Marlene.

VGG, vaggy, faniquito, portal para o paraíso, boce... — Continuou Emmeline.

— Isso! — cortou Lílian.

— De três em três meses, sem falta. — relatou Emmeline.

— Nunca. — retrucou Marlene. Lílian semicerrou os olhos.

— Mas e quando você... Nenhum garoto reclamou?

— Reclamou do que? Tem que reclamar com Merlin, não posso fazer muito se mulheres tem pêlos.

— Vocês são tão evoluídas. — sussurrou Mary, imersa na conversa. Lílian bateu na mesa, liberando a quarta rodada. Emmeline tirou seu casaco e Marlene pousou seus cotovelos na mesa, elogiando as tranças de Mary, que se revelou apaixonada pelos olhos azuis intensos de Marlene e o quão maravilhoso é o efeito do lápis de olhos ao redor deles.

— Não posso mentir, eu tinha um pouco de medo de você... Estou completamente em choque em notar o quão legal você é. — revelou Mary, risonha, fazendo Marlene sorrir enquanto estreava seu quarto copo. — Nós devíamos ter um pouco mais de empatia por nós mesmas, não? Quantas garotas eu classifiquei como puta, frustrada, mal-amada, bonita-burra sem ao menos trocar um bom dia?

— Eu te achava uma burra metida. — sorriu Emmeline. — Eu ainda te acho metida, mas até que você é inteligente.

— Obrigada! — agradeceu Mary, animada.

— Eu sempre disse que ter amizade com caras é melhor do que com garotas... Me sinto uma idiota nesse exato momento. — disse Marlene, fazendo Lily rir.

— Eu sinto que posso falar sobre tudo com vocês! Desde os sérios problemas com pelos ao redor dos meus peitos até a vez que eu fiquei três horas sentada na biblioteca porque ela estava cheia e meu absorvente tinha vazado! — soltou Lílian, de olhos fechados. Ela os abriu, sorridente, colocando a mão no peito. — Me sinto livre.

— Uma vez eu beijei o teste de gravidez e só depois notei que tinha mijado em cima daquilo. — contou Emmeline.

— Uma vez uma camisinha simplesmente caiu de dentro de mim. Durante a troca de aulas. Eu não tinha feito nada naquele período de tempo. — murmurou Marlene, fitando o nada.

— Eu às vezes rezo pra que o Peter durma no meio da transa. — contou Mary.

— Nós devíamos fazer isso se... — Lily sentiu que a pressão em sua cabeça desceu violentamente para o estomago e subiu pela garganta, a fazendo gorfar em si mesma. Emmeline gargalhou enquanto as outras duas se afastavam, enojadas. A ruiva pendeu a cabeça para trás, zonza. — Eu vou morrer...

As três levantaram uma Lily molenga, segurando seu cabelo, a levando em direção do banheiro. Continuaram a conversa ali mesmo enquanto Lílian Evans tinha seu primeiríssimo porre. Fora durante aquele tempo que os Marotos finalmente chegaram ao bar, depois de terem perdido o mapa para Filch. Sirius Black estava emburrado, indo em direção do balcão, sem preocupar-se em procurar as garotas.

— Onde será que elas estão? — perguntou Peter.

— Acho que devem ter ido embora. — disse James, tentando achar um fio ruivo no bar lotado. — Digo, elas não iam ficar aqui sem nós.

— Não mesmo. — concluiram, pegando uma mesa, prontos para traçar um plano de salvamento do Mapa do Maroto.

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Quantas décadas que eu queria escrever algo assim? hahahahahaha

Eu consigo pensar em mil conversas entre elas, com uma timidez impulsiva da Lílian, a "maneirisse" da Marlene, a descontraidez da Emmeline e a arrogância da Mary.

Espero que gostem, porque eu amei escrever ♥