Arrest me, beat me. escrita por Caroline Delawere


Capítulo 1
Capítulo 1




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— Estou apaixonada pelo Palhaço Assassino. – Continuava a repetir para si mesma em frente o espelho quebrado, mais duas lágrimas caíram, uma de cada olho; Afinal, o reflexo também estava quebrado. O banheiro escuro e úmido não ajudava na recuperação, ela só desejava estar em um pesadelo terrível.

Harley massageou o braço esquerdo, que continha marcas roxas, deixadas ali com raiva e ciúmes pelo seu amado “Pudinzinho”. Ela chorava por dor e vergonha, a culpa havia sido dela, ele já tinha avisado: Se eu ver você de graça com os meus homens, não serei capaz de medir as consequências. Mas como ela poderia imaginar que seria tão grave? Como ela poderia pensar que um simples encostar de pele fosse o suficiente para desencadear a pancadaria que acontecera no andar debaixo?

Ouviu um rangido de madeira no metal, reconheceu como o som da porta do quarto sendo aberta, tremeu. Ninguém podia entrar em seu quarto, exceto ele. Passou as mãos pelo rosto para limpar quaisquer resquícios de choro, ao olhar-se novamente no espelho percebeu que não obteve sucesso. Penteou os cabelos rapidamente e ajeitou a blusa preta colada ao corpo.

Coringa estava deitado em sua cama, de olhos fechados, respirando fundo. Apesar disso não aparentava estar dormindo e sim concentrado em algo. Está mantendo o controle— pensou Harley.

— Seu perfume é inebriante. – A voz rouca do palhaço preencheu o quarto.

Como ele pôde? Há poucos minutos ele quase havia quebrado seu braço, atirou no capanga a queima roupa enquanto o homem estava a centímetros de Harley.

E o que ela deveria responder? Pedir desculpas parecia tão ilógico quanto não pedir. Ela estava errada, não estava? Mas ele tinha exagerado, não é mesmo? Tantas perguntas pairadas no ar. A mulher não sabia o que fazer...

— O que quer que eu faça? – Perguntou baixinho, sentando-se na ponta da cama.

O palhaço abriu os olhos e virou seu rosto para o lado, observando-a. Coringa não sabia direito o que pensar, não estava conseguindo controlar suas emoções e a culpa era dela. Ele tinha vontade de enchê-la de socos apenas por ser capaz de hipnotiza-lo com seu corpo ou lhe desconcentrar com sua voz agradavelmente irritante.

Coringa apoiou o cotovelo na cama e posou sua cabeça na mão, Harley observou cada movimento, tentando prever se iria levar uma bronca. Estava tudo calmo demais.

— Está bravo? – Harley perguntou novamente, não aguentando aquele silêncio.

— Eu deveria estar bravo? – Coringa rebateu, suspirando e levantando-se da cama.

A loira arregalou os olhos e abaixou a cabeça, não tinha ideia do que responder. Achou que perguntando ele iria simplificar as coisas, ele iria agredi-la e depois nunca mais falariam no assunto. Mas não foi o que aconteceu, aparentemente ele estava conversando com ela.

— E-eu não sei, Pudim. – Respondeu com os olhos fixos no chão.

Coringa segurou gentilmente o rosto de Harley entre suas mãos geladas. Ele a olhava intensamente, gravando cada traço da mulher. Ela não conseguia captar nada através do olhar dele.

Harley tentava controlar o nervosismo, seu lábio inferior tremia e literalmente podia sentir sua pressão sanguínea baixando, lhe deixando sonolenta. 

— Não sabe? Mesmo? – Indagou. Sua respiração lembrava um ronronado.

A palhaça fechou os olhos e buscou todos os detalhes da cena, procurou onde ela teria cometido tal erro.

Depois de um dia cansativo – ou nem tanto – no shopping, Harley Quinn chegava em casa com várias alças de sacolas penduradas em seus braços. Ela estava tão avoada que se atrapalhou com próprios pés e tropeçou. Um dos capangas do Coringa não pensou duas vezes se não segurá-la, se ela se machucasse e ninguém tentasse ajuda-la, o chefe iria ficar irado, provavelmente iria atirar em todo mundo.

E foi essa a imagem que Coringa avistou quando saiu de seu escritório: Harley, sorridente e afobada, com os braços entrelaçados em um de seus homens.

— Eu não fiz nada de errado... – Harley acabou sussurrando a frase, mas Coringa ouviu claramente.

A loira sentiu as mãos deixando seu rosto, ela abriu os olhos e levantou, esperando por um tapa forte e opressivo. Mas nada aconteceu.

— Realmente, você não fez nada. – As palavras dele a surpreenderam completamente.

Coringa virou de costas e ia se retirando do quarto.

— O que você disse? – Harley perguntava desacreditada. 

Ele parou, revirou os olhos, impaciente. Girou os calcanhares e explicou com tédio:

— Foi exagero. Não importa mais. – Gesticulou com a mão e virou para a porta novamente.

Como não importava? Desde quando ele admitia que tinha exagerado? O jeito como falou com ela, mesmo depois de receber os piores tipos de tortura, aquela explicação seca e direta fora o que mais machucou a ex-psiquiatra.

Qualquer uma no lugar dela estaria comemorando, mas Harley estava surtando. Coringa raramente demonstrava que se importava com ela, era sempre a maneira dele. O palhaço a maltratava porque tinha sentimentos. Quinn aguentava tudo, cada tapa, cada soco, cada chute, todos os xingamentos, os puxões de cabelo; aguentava tudo, pois tinha certeza que – no final – quando ela fosse para o quarto, ele viria atrás dela. Ele deslizaria gentilmente as mãos por toda a extensão do corpo pálido e dolorido, ele beijaria seu pescoço e daria umas duas ou três mordidinhas, depois a abraçaria e sussurraria no ouvido dela alguma frase psicótica e obsessiva, que daria a entender que ele jamais poderia viver sem sua palhacinha. Ela sorriria e dormiria em paz, porque sabia que nunca estaria só.

Mas não era o que estava acontecendo. Coringa não lhe bateu, apenas virou as costas, segurou a maçaneta da porta e a abriu.

— Espera! – Harley aumentou o tom de voz.

Ele não se movera, mas ela sabia que ele estava prestando atenção.

— Então você não se importa mais? É isso? – Os olhos azuis estavam marejados, se deu conta de que eles nunca haviam parado de escorrer.

Não houve nenhum movimento.

— Olha pra mim! – Quinn gritou dessa vez.

O palhaço sorriu e apertou os olhos, virando-se para a mulher. Ele podia ouvir a respiração descompassada, seu olhar estava perdido e confuso, ela parecia zangada e melancólica. Era exatamente o que ele esperava.

— Você não se importa mais? Eu errei! Eu tropecei, seu capanga me ajudou e eu fiquei tempo demais nos braços dele, sorrindo feito uma idiota! – Harley passou as mãos pelo rosto, atormentada.  — Droga! Só me puna por isso! Me xingue! Se realmente é assim que você me mostra que sente algo, por favor, eu não quero que pare.

Coringa cruzou as mãos em frente o corpo.

— O que você quer, Harley? – Indagou com a voz pacífica.

— Eu quero... – Ela não encontrava maneira de se expressar. — Quero que me puna. Me torture. Me prenda, me bata. Mas não deixe de me amar.

Enquanto falava mal notou que Coringa tinha andado até ela, estavam tão perto um do outro que ela conseguia ouvir as batidas do coração perturbado dele.

As mãos do palhaço passaram pelo pescoço de Harley, os dedos pressionaram um pouco a traqueia e depois foram até a nuca, onde se enroscaram nos fios loiros, puxando-os precisamente, mas sem causar dor.

Os lábios avermelhados de Coringa se curvaram em um sorriso assassino e metálico.

— Já sei exatamente como resolver isso, amor.


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Notas finais do capítulo

Se gostou, comente ;)
Até o próximo. ♥