Série Lobos II - O Clã da Lua escrita por M Schinder


Capítulo 5
Quinta Caçada: Izanagi


Notas iniciais do capítulo

Atrasei um dia, o que não é comum, mas tenho dois motivinhos:
1) Estou estagiando para a faculdade, acabou que meu dia de ontem foi todo consumido;
2) Não tive nenhum feedback de vocês semana passada e fiquei me perguntando se o capítulo ficou muito ruim rsrs. Não farei ameaças sobre parar de postar por isso, nunca! Todavia, seria legal a participação o/ rs

Enfim, é o mesmo glossário de sempre (dessa vez irei colocar no final). Espero que gostem e boa leitura!



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Se eu estava me sentindo um guardião merda? Completamente. Fiquei tão preocupado e desesperado que algo tivesse acontecido que nem entrei em casa novamente, apenas assumi minha forma original e corri em disparada para o palácio.

Quando cheguei ao portão, Ailee me esperava. Seu rosto estava manchado por lágrimas e ela parecia assustada. Parei em frente a ela e não me surpreendi quando ela caiu de joelhos e abraçou o meu pescoço peludo. Nervoso, assumi minha forma humana e a abracei de volta, sentindo minha camisa ser molhada pelas lágrimas que caiam novamente.

Ficamos naquela posição até que se acalmasse e depois a coloquei em pé, segurando em seus braços para que não desabasse de novo. Conhecendo Ailee como eu conhecia, apenas algo muito grave poderia ter acontecido para que ela ficasse naquele estado.

— Ai, qual o problema? – perguntei bagunçando seu cabelo com a mão esquerda. Ela segurava minha blusa com força e fungava sem dizer uma palavra. – Vamos, fale comigo.

— Eles... Eles acreditaram, Katsuo – murmurou de forma desconexa. – Papai, acreditou em tudo que eles disseram.

— Do que está falando, Ailee?

Era óbvio que ela estava desesperada e meio confusa. Sem saber o que fazer e tendo notado que nenhum dos guardas estava sem suas posições, eu a peguei no colo e cruzei o caminho que conhecia tão bem.

Eu não passara uma semana fora e várias coisas haviam mudado dentro do palácio. Tive que passar pelo Iro no Seiiki e minha respiração ficou presa em minha garganta. Era outono e quase não havia flores? Era, mas o jardim nunca parecera tão morto, nem mesmo no Inverno. Ailee se encolheu ainda mais contra meio peito e nada que vinha a minha mente era motivo suficiente para deixá-la tão perturbada.

Além das amuradas, o palácio também estava vazio e aquilo me deixou ainda mais preocupado. Quando chegamos ao quarto da princesa, Hidekata estava parado em frente à porta e sua expressão, pesada e profunda, pareceu se iluminar a me ver.

— Katsuo, que bom que está de volta – comentou e soltou um novo suspiro de alívio ao me ver colocando Ailee no chão. – E graças a Tsukuyomi que você encontrou a princesa.

— O que está acontecendo aqui, Hidetaka?

Ailee ainda tremia e voltara a se agarrar ao meu corpo. A envolvi protetoramente e olhei para Hidetaka pedindo por uma resposta. Vendo que a menina não explicaria nada, seus ombros caíram como se estivessem sendo pressionados para baixo.

— Acho que nós precisamos conversar...

~000~

Fiz com que Ailee se sentasse em sua cama. Issa, que estivera preso no quarto o tempo todo, saltou sobre nós abanando o rabo. Ele era a única criatura naquele quarto que exalava um pouco de felicidade.

— Alguém vai me explicar o que está acontecendo? – exigi me afastando um pouco da princesa. Ela parecia mais calma, mas estava tão incrédula quanto eu. Olhei para Hidetaka, começando a ficar irritado. – Só sobrou você.

— Muito bem. Depois de cinco décadas, a família Tsukiko finalmente recebeu uma mensagem dos deuses – explicou abrindo os braços para mostrar a grandiosidade daquele fato. – Ela chegou à madrugada de hoje. Todos nós dormíamos e foi um choque quando a reunião de emergência foi convocada.

— Por que ninguém me chamou?

Hidetaka desviou o olhar. Deixem-me explicar uma coisinha, sempre quando os lobos da matilha são convocados, todos precisam estar presentes. Eu, como o Hogosha, precisava estar lá; fazer parte. Tinha esse direito.

— Seu... O senhor Kobayashi nos contou que a senhora sua mãe estava muito doente e que você fora cuidar dela – explicou hesitante. – Nós preferimos não incomodar você, já que ele estava aqui.

Eu acho que fiz a maior cara de idiota, porque todos no quarto pararam e olharam na minha direção. Sabia que minha boca estava aberta porque o interior dela começava a ficar gelado. O que eu não sabia era por que meu pai mentira daquela maneira.

— Katsuo, eu pedi para te trazerem de volta – murmurou Ailee abraçando meu braço. – Mas meu pai me trancou aqui e eu só consegui sair escondida.

Meu olhar voltou a se fixar em Hidetaka e ele ainda não conseguia me encarar.

— Você manteve a Ailee trancada aqui? Contra a vontade dela? – rosnei. Eu senti minhas presas se alongarem e meu corpo se projetar para frente. Como o protetor pessoal dela, eu deveria ser o único homem a pisar naquela parte do castelo, com a exceção, claro, de meu pai e o mais dela. – Como você pode, Hidetaka?

— Katsuo, por favor, não é por isso que você voltou – implorou Ailee tentou me puxar de voltar para meu lugar.

Entretanto, eu podia ver nos olhos de meu antigo professor que não era para estar ali. Que, por algum motivo, eles me consideravam um empecilho e não queriam que eu me envolvesse e estavam dispostos a quebrar todas as regras de nosso feudo para me manter afastado.

— Termine de contar sua história – rosnei mais uma vez.

− A carta era um aviso, assinado pelo próprio pai de todos os deuses, Izanagi – continuou ainda olhando para o chão. – Ela dizia que Tsukuyomi nos abandonou e que teríamos que nos proteger sozinhos de todos os outros deuses ou nos curvar ao novo líder que ele mandaria, para nossa proteção.

“Como prova de que isso realmente acontecera, Kobayashi jogou sobre nós o corpo de um animal sagrado que invadira nossas terras. Era um pássaro gigantesco, com uma penugem rubra e longa, nada que qualquer um de nós tivesse caçado em nossas vidas. Foi uma visão atemorizante e que fez o próprio senhor Tsukiko se recolher.

Horas mais tarde, vários empregados da mansão apareceram mortos, até mesmo integrantes de nossa matilha foram atacados. Hoje, pela manhã, nosso soberano decretou estado de crise e nos avisou que recebera uma segunda carta, avisando sobre a chegada de nosso novo senhor.”

A narrativa era tão absurda que eu fiquei meio perdido. Meio não, completamente. Nosso deus, o homem que sacrificou sua própria família por nós, nos deixara? O pai dele, que nos odiava, estava querendo ajudar? E teríamos que nos render às vontades de alguém que nem conhecíamos? Aquilo era coisa demais para um pessoa só e ainda não explicava o choro desesperado de Ailee, por mais que eu também sentisse lágrimas incomodando meus olhos.

− Desde então nosso senhor está trancado em seu quarto e quem dá as ordens é Kobayashi – terminou sério. – Esperamos por qualquer novidade e toda a família Tsukiko foi levada para a Hikari no Mori, onde estão sendo mantidos em segurança até a chegada do novo senhor.

~000~

Logo depois que ele terminou sua história, uma empregada bateu na porta e chamou por seu nome. Hesitante, ele pediu que eu não saísse dali ou tentasse fazer nada, disse que eu não poderia contra a opinião de todos da matilha e mais o Rei.

Ficamos novamente sozinhos, eu, Ailee e Issa. Meu pequeno amigo, que atingira seu tamanho adulto e ficara com a cor acinzentada, corria entre minhas pernas expressando sua saudade. Eu estava parado, olhando para a porta. Tinha vagas lembranças de como era a casa da família real no Hikari no Mori. Não era tão grande ou ostentava o poder e a posição que eles ocupavam, provavelmente nem tinha mais que um andar, mas eu tinha certeza que ficava escondida bem no meio da floresta, em um local especialmente escolhido para aquilo.

− Katsuo.

Eu olhei para Ailee. Finalmente saindo de meu transe. Aquilo era um problema que eu tinha, pois sempre que não entendia coisas ao meu redor, eu tendia a me isolar lembrando de coisas que não tinham nada a ver com o que estava acontecendo.

− Sim?                                           

− Tudo que Hidetaka falou é verdade, mas eu...

− Eu sei, Ai, você queria que eu estivesse aqui. Entendo que não pode fazer nada.

− Não é isso, me escute! – pediu pulando para ficar em pé e parada a minha frente. – Tudo isso está errado. Você precisa me ajudar a fazê-los perceber que é tudo uma farsa!

Eu olhei para ela sem entender. Tinha que concordar que várias coisas que meu antigo mestre contara eram tão absurdas, se levássemos em consideração nossa história, que compreendia a atitude de Ailee, mas afirmar com tanta força que era uma farsa era muito perigoso.

− Ailee, eu te entendo, mas...

− Escute aqui – pediu segurando meu rosto em suas mãos. Se eu travei? Lógico que sim. Em minha mente de adulto que não tinha experiência nenhuma, eu imaginei mil e uma coisas nada inocentes com aquele gesto, mas afastei-os tentando focar minha atenção no que ela dizia e não no quão próxima ela estava de mim. – Você é a única pessoa que pode acreditar em mim. Eu sinto que tudo está errado e não vou estar aqui por muito tempo, preciso mesmo de sua ajuda.

Se eu acreditava nela? Eu não sabia. Na verdade, eu sabia muito menos do que tinha o direito de saber e ter uma opinião formada era muito difícil com tão pouco. Entretanto, o desespero de Ailee; o fato de ter sido a única pessoa a não mentir para e ter afirmado, com tanta força, que não estaria lá por muito tempo – admito que foi a pior parte – me convenceu de que havia, pelo menos, várias coisas que mereciam certa dúvida.

− O que quer que eu faça? – perguntei recebendo o primeiro sorriso que pode ser visto dentro do palácio.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Bom, médio, ruim, péssimo? Reviews? rs

Glossário da História

Tsume = Garras
Hogosha = Guardião
Zetsubo no Yama = Montanha do Desespero
Iro no Seiiki = Santuário das Cores
Hikari no Mori = Floresta da Luz



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