Série Lobos II - O Clã da Lua escrita por M Schinder


Capítulo 17
Décima Sétima Caçada: Lobos... que não são lobos


Notas iniciais do capítulo

As coisas estão ficando cada vez mais difíceis e impossíveis para Katsuo e os lobos, mas será que não tem mesmo uma saída? Ou o melhor plano seria continuar a vida longe dali?

Leiam para descobrir!



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— E foi isso que você disse.

Eu encarava Seiji sem conseguir articular nenhum tipo de palavra. Sentia como se tivesse sido reduzido a um par de resmungos que queriam fugir dos meus lábios, mas que não significavam nada.

— Está tudo bem, Katsuo? — perguntou Seiji confuso.

Era claro que não estava. Por que Tsukuyomi deixara aquilo acontecer? Eu ficava com cada vez mais raiva dos deuses por causa daquelas mancadas – ou como eles gostavam de chamar: destino. Deixar que Seiji reunisse aldeões insatisfeitos que nunca haviam usado suas presas para nada era uma coisa muito errada.

— Seiji, você realmente acreditou que isso era uma boa ideia?

— Mas é claro que sim! — exclamou parecendo ofendido. Hidetake, Shino e Kriran assistiam a nossa conversar calados. Issa estava correndo em volta da cabana, perseguindo uma pobre borboleta. — Eles não concordam com o que está acontecendo e querem a família Tsukiko de volta. São a força que nós precisamos!

— Desconsiderando, claro, que eles não têm força nenhuma — completei irritado. — Essa é a parte de nosso povo, se você não se lembra, que não sabe controlar a transformação e estão tão acostumados a serem humanos que ser lobo, para eles, é muito difícil.

Seiji rosnou para mim, respondi do mesmo jeito. Aquele era um assunto delicado entre todos nós. A parte do feudo onde viviam os jovens demais para serem parte da matilha; velhos que já não podiam participar; e lobos que não conseguiram se destacar nos testes ou não quiseram, era um lugar que todos da matilha evitavam. Muitos os tratavam com perdidos ou traidores; outros, apenas ignoravam o fato de terem escolhido viveram como humanos, pois ainda eram parte de nossa família. Contudo, ninguém podia negar que eram fracos e precisavam serem protegidos.

— Acalmem-se — pediu Hidetaka sem tentar fazer nada. Pelo jeito, pensava que não valeria a pena tentar apartar uma briga entre mim e Seiji. — Não adianta discutir agora, eles já estão aqui.

— E o que vamos fazer? — chiei para Seiji. — Eles esperam que eu os leve para algum tipo de confronto, mas, pelo que eu saiba, a única pessoa aqui que precisa confrontar alguma coisa, sou eu!

Ficamos em silêncio. Eu contara a eles, um pouco antes de ouvir a explicação de Seiji, sobre as visões que Tsukuyomi mostrara a mim. Não precisei dizer muito, eles compreenderam no mesmo instante o que estava em jogo ali.

— Talvez, só talvez, eles também sejam a solução para evitarmos uma guerra — comentou Hidetaka sentou-se ao meu lado. Como estava escuro, pois o Sol se pusera poucos minutos antes, ele retirara a venda e encarava-nos com os olhos vazio. Aquilo partia meu coração. — A nova matilha é formada, principalmente, de jovens que ainda estão aprendendo seu valor.

“Muitos ainda estão conectados as suas mães e, provavelmente, sentem falta delas. É só uma suposição, mas e se, para impedir que você precise enfrentar e machucar tantos lobos, nós não possamos usar essas pessoas como forma de pará-los?”

— Isso é ridículo — resmunguei irritado. — Não arriscarei a vida dessas pessoas. Eu não faço a menor ideia do que meu pai fez com os lobos dentro dos muros e se eles ainda são eles mesmos. Além disso, até onde os poderes de Sora vão? Não é possível que um descendente de Izanagi seja fraco...

Minha questão era ótima em minha cabeça, mas Hidetaka já a descartava com um aceno de mão.

— É possível sim. Em toda a história, apenas dois deuses tiveram a coragem de confiar uma parte de seus poderes a humanos: Tsukuyomi, com os Tsukiko, e Susanoo, com uma família de pescadores — explicou o lobo com um dar de ombros. — Izanagi não correria o risco de passar parte de seus grandiosos poderes para humanos. Ele, de certa forma, nos despreza por podermos alcançar o fim de nossa existência enquanto ele é obrigado a ser um imortal.

Se era possível que aquela história ficasse ainda mais complicada, ela estava ficando.

— Por isso, não acredito que Sora seja, de alguma forma, poderoso — concluiu com um leve balançar de seus ombros. — Ele está ali porque o deus quer e porque seu pai permitiu. Izanagi precisa que alguém de dentro destrua nossa alcateia. É a maneira mais fácil, sem levantar suspeitas.

— Mas todos nós já sabemos — murmurou Shino confuso.

— Nem todos — contrapôs Hidetaka com um suspiro. — A parte mais antiga e experiente da matilha que ainda está dentro do castelo acredita que a família Tsukiko nunca mais irá voltar e que Tsukuyomi realmente nos abandonou.

— Alguma ideia de como podemos mudar isso? — inquiriu Kriran balançando-se para frente e para trás no chão.

Os dois jovens lobos, que não deveriam ter dezessete anos, faziam todas as perguntas que eu e Seiji não precisávamos fazer. As coisas que Hidetake estava falando eram óbvias para os lupinos mais experientes e já imaginávamos onde aquilo terminaria.

— Enquanto colocaremos essas pessoas como linha de frente, para que os lobos mais jovens não tenham coragem de lutar — começou fazendo-me prender a respiração. — Katsuo invadirá o castelo e enfrentará o pai dele. Enquanto isso, alguém trará, nesse exato momento, a princesa Ailee de volta. Mostrando, assim, que a família Tsukiko não desapareceu e que não fomos abandonados.

— Como vamos provar que não fomos abandonados? — insistiu Kriran teimoso. — Eu não estou vendo o deus aqui nos ajudando a resolver nossos problemas.

— Ele não pode fazer isso — comentei fazendo todos pararem para me ouvir. — Temos que conseguir sozinhos ou de nada valeria essa vitória. Se ganharmos com nosso próprio poder, isso afastará Izanagi de nós por um bom tempo.

— Katsuo está certo — concordou Seiji parecendo surpreso com minhas palavras.

— Tudo bem, podemos seguir o plano de Hidetaka — falei erguendo-me de onde estava sentado. — Só que só posso concordar com isso se conseguirmos ensinar essas pessoas a se protegerem. Sei que não são velhos, mas precisaremos de tempo.

— E é uma coisa que não temos — completou Seiji bufando.

Sabem aquelas situações muito ruins que parecem não ter saída? Então, eu sempre achei que as coisas podiam ficar piores, mas, naquele momento, não fazia ideia de como.

— Uma semana — sinalizou Hidetaka. — Acho que é o máximo que vamos conseguir.

— Isso não é merda nenhuma — comentou Seiji com um rosnado. — E como quer que achemos a princesa durante esse tempo?

Jikan no Shinden (Templo do tempo) — informei, novamente recebendo olhares confusos. — É onde ela está. Fica na divisa mais distante da Hikari no Mori (Floresta da Luz).

— Como sabe disso? — perguntou Shino cheio de suspeitas. Parecia que os jovens lobos pensavam em mim da mesma forma que em meu pai, alguém que sabia demais e não merecia confiança. Eu, sinceramente, não achava que estavam errados.

— Vamos dizer que o vento me contou — expliquei com um dar de ombros.

Eles achavam que eu era louco. Querem saber? Eu também. As coisas que aconteciam comigo desde que me tornara o Hogosha. Eles pareceram preferir ficar calados e continuar os planos.

— Então, como podem ver, já sabemos onde a princesa está — continuou Hidetaka sério. — O correto seria que Katsuo fosse buscá-la, mas isso não será possível. Precisamos dos dois ao mesmo tempo em que nossa frente de combate chegar aos portões do palácio, em uma semana.

— Acho que você não precisa ficar repetindo quanto tempo nós temos — murmurei um pouco deprimido.

— O melhor é que Hidetaka vá — comentou Seiji surpreendendo a todos. — Não me olhe assim. Você praticamente criou-a e não pode estar no campo de batalha.

Aquilo era verdade, mas o “não me olhe assim” dele quase me fez cair na gargalhada. Hidetaka rosnou, pronto para negar e, provavelmente, dizer que poderia lutar muito bem. Era o momento de intervir.

— Tudo bem, vocês me convenceram — concordei impedindo que uma discussão entre os dois lobos começasse. — Shino irá acompanhar Hidetaka e vocês buscarão Ailee. Sairão imediatamente.

— E eu cuidarei para que todas essas pessoas consigam, pelo menos, dominar a forma lupina — completou Seiji satisfeito. — Kriran me ajudará e Katsuo terá o tempo livre para se recuperar. Tudo dará certo.

O plano estava montado. Era o melhor? Com certeza não. Meu pai tinha um exército ao lado dele e muitos lobos experientes, se houvesse luta, seria ainda pior. Entretanto, eu confiava que trariam Ailee a tempo de impedir isso. Vocês devem ter se perguntado: mas e você, Katsuo, vai ganhar de seu pai? Muito bem. Essa é uma ótima pergunta.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? O Katsuo ganha fácil, difícil, não ganha? Vocês jogariam nos dedos e apostariam nele? Digam-me! kk



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