Série Lobos II - O Clã da Lua escrita por M Schinder


Capítulo 16
Décima Sexta Caçada: Pistas e visões


Notas iniciais do capítulo

Chegando perto da reta final, o que nosso lobo preferido vai fazer depois que acordar? E será que ele vai acordar?



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— Lobos... Tsukuyomi... Matilha... Origem... O que essas coisas querem dizer? — perguntei irritado.

Há horas o deus da Lua resolvera atrapalhar minha inconsciência e ficar falando em meus ouvidos. Nada daquilo fazia sentido, mas ele não parecia preocupado em me responder.

— Isso é ridículo! Como quer que eu salvo o feudo se não me dá respostas claras? — exigi aos berros. Ou pensava que estava berrando. As coisas são bem diferentes quando acontecem dentro de sua cabeça. — Eles estão me seguindo como se eu fosse a resposta! Isso é ridículo!

— Katsuo, eu já te disse que você é a resposta — respondeu Tsukuyomi finalmente aparecendo. — Você é o verdadeiro guardião. É você quem tem que descobrir as respostas.

— Eu não tenho NADA! — gritei ainda mais irritado. Aquilo era peso demais. Nem mesmo meu corpo pudera aguentar toda aquela pressão e cedera. O que mais precisava acontecer para ele entender? — Dê-me a resposta agora! Ou terei o prazer de ir te caçar e te jogar para qualquer monstro que surgir em meu caminho!

O deus fez a melhor expressão de assustado que conseguiu, mas não parecia estar levando minhas palavras a sério. Bufei, querendo pular sobre a imagem que flutuava, mas nada pude fazer. Ele desceu até mim, parando bem a minha frente.

— Não é assim que o destino funciona — explicou parecendo, por um verdadeiro momento, triste. — As respostas nunca podem ser obtidas por humanos de maneira tão fácil.

— Não sou humano — retruquei com firmeza.

— Não? — perguntou surpreendendo-me com o olhar ainda mais triste. — Não precisa afirmar isso ainda. Muitas coisas estão envolvidas nessa resposta.

— Eu preciso de ajuda — murmurei cansado das mil voltas que o deus insistia em dar. — Quero ver Ailee, minha mãe, minha família...

— Você vai, muito em breve — prometeu sério. — Mas precisa voltar. Katsuo. Voltar até muito antes do que sua memória pode recordar. Precisa conhecer sua história; os lobos.

— Como espera que eu faça isso?

Estava exausto – e tinha certeza que não era mais fisicamente. Meu cérebro girava de muitos jeitos. Culpa, pela morte do senhor Tsukiko e por não ter feito nada para ajudar meu sobrinho que fora levado para o palácio contra sua vontade. Medo e insegurança, por não me acreditar ser capaz de enfrentar tudo aquilo; por acreditar que perderia. Acho que Tsukuyomi viu tudo isso em meu rosto, pois um suspiro escapou por seus lábios.

— Tudo bem. Mostrarei a você o caminho — falou acenando com a mão. — Por favor, Katsuo, preste muita atenção, pois não poderá fazer isso outra vez.

Vocês já imaginaram como é apagar já estando apagado? É a sensação mais confusa de sua vida. Seu consciente sabe que não há mais para onde ir, mas o inconsciente vai e apaga de qualquer jeito. Tudo ficou preto por vários segundos até que me encontrei no meio de uma floresta. Uivos ecoavam ao meu redor. Uma matilha caçava. Um pouco atrás deles, um enorme lobo bronze observava a tudo com uma garota em suas costas. Éramos eu e Ailee. Ela sorria e apontava, observando ao grupo de Seiji com animação. Minha expressão estava séria, distante. Eu observava o grupo sabendo o que cada um faria.

Tudo ficou preto novamente.

Depois, uma nova imagem de lobos surgiu em minha visão. Eram tão grandes quanto nós; o pelo também possuía coloração parecida e seus olhos não eram tão diferentes dos nossos. Pude identificar a alma e a inteligência dentro deles. Contudo, faltava a consciência humana. Pude deduzir que aquele era a nossa alcateia no começo de tudo.

Eles estavam sentados em volta de uma figura muito conhecida por mim. Tsukuyomi. Ele conversava com os animais, sorridente e animado. Ao seu lado direito, estava o maior dos lobos. Seus olhos tinham a mesma frieza que os meus momentos antes. Ele não parecia interessado no que o deus dizia, observava os arredores como se procurasse por qualquer problema.

Era o alfa. O chefe de todos os lobos.

A escuridão voltou, seguida por um breve momento de luz intensa e, novamente, lobos. Dessa, no entanto, eles se reuniram em volta de um jovem humano. Ele olhava para as próprias mãos com surpresa.

— Você será o responsável, a partir desse momento, por todos meus descendentes — decretou Tsukuyomi com um sorriso triste. — Perdão por pedir por isso, velho amigo, mas é necessário que eles estejam em segurança.

O jovem curvou-se com a cabeça abaixada e todos os outros fizeram o mesmo. Aquele era o primeiro Hogosha, a pessoa que o deus chamara de verdadeiro. Ele não parecia saber falar, mas compreendia tudo que lhe era dito e concordava com o que era pedido. Protegeria aquela família com sua vida.

Cenas de lutas se passaram. O jovem lobo aprendendo a se portar como um humano com uma jovem Tsukiko. Era a irmã mais nova do soberano. Outros em que ele estava ao lado de seu protegido, por último, uma grande batalha, sangue e uivos. O Hogosha caído no chão, quase sem vida. Vários lobos ao seu redor.

— Meu velho amigo — murmurava o soberano que deveria ser o filho de Tsukuyomi. — Por tudo que você fez, ganhará um lugar no céu ao lado de nosso deus. Descanse.

Seus olhos se fecharam e a escuridão voltou para mim. Eu esperava que mais alguma coisa acontecesse, mais uma cena iniciasse. Contudo, só o breu me acompanhava.

— Apenas o verdadeiro pode manter o lugar — murmurou Tsukuyomi ao meu redor. — Isso algum dia terminará muito mal, meu filho.

— Eu sei pai, mas precisamos disso — respondeu uma voz desconhecida. — Precisamos mostrar que ser lobo é muito melhor do que ser humano. E rápido.

Silêncio. Meu coração batia com força contra minhas costelas. Eu sentia como se meu corpo mudasse da forma lupina para a humana por vontade própria. Alguma coisa estava errada, mas o quê?

— Entendeu, Katsuo? — o deus voltasse para mim. Não mais com um sussurro. — Apenas um pode ter esse lugar.

Eu estava deitado, na forma humana, olhando para cima. A única coisa que minha visão captava era a Lua. Dentro de meu cérebro, eu sabia a resposta. Entretanto, meu próprio consciente dizia que não podia suportar aquelas respostas naquele momento.

— Volte, Katsuo. A energia de Tsukiko já te curou completamente — continuou o deus. — Eles precisam de você.

***

Aquele foi o despertar mais brusco que tive em toda a vida.

Em meus sonhos, foi como se estivesse caindo; na realidade, eu cai de verdade em uma madeira muito dura. Ergui-me sentindo o ombro latejar por causa do impacto e da dor. Minha cabeça girava, mas, com essas exceções, eu parecia perfeitamente bem. Já não sentia toda a exaustão de antes e todas as dores que se espalhavam por meu corpo sumiram.

Obra do senhor Tsukiko, supunha.

— É ótimo vê-lo acordado.

Virei-me surpreso, pronto para escolher entre tentar fugir ou lutar quando minha visão prendeu-se a figura moribunda parada a minha frente. Membros finos, esqueléticos; cabelos tão longos e brancos quanto os do próprio soberano estavam quando conversei com ele em seus últimos segundos. Roupas rasgadas e, para completar meu pavor, seus olhos estavam vendados por uma faixa branca.

— Hidetaka? — perguntei sem saber o que deveria fazer ou sentir.

— É ótimo saber que se recuperou de seu semi-coma — comentou caminhando com a mesma delicadeza de sempre até mim. — Pois acho que precisamos conversar.

— O que aconteceu com seus olhos? — continuei sem realmente querer tocar no assunto. Era como se tudo fizesse com que eu me voltasse em sua direção e olhasse para aquela coisa maldita que tampava sua visão. — Por que está usando isso?

— Nem sempre podemos confiar em nossa visão, Katsuo — murmurou uma das frases que eu tanto ouvi sair de seus lábios em minha adolescência. — E eu, hoje, não posso confiar mais na minha.

Meus dentes trincaram.

Hidetaka não podia mais enxergar; Seiji não possuía uma de suas patas; Ailee estava trancada em algum templo distante tendo que sofrer coisas que eu não podia imaginar; meus sobrinhos deveriam estar passando por coisas que eu não queria saber e só Tsukuyomi sabia o que minha família deveria estar passando. Tudo porque eram ligados a mim.

— O que aconteceu enquanto eu dormia? — insisti mudando de assunto. Não parecia que meu antigo professor me contaria o que acontecera a ele tão cedo.

— Pelo jeito, você fala muito enquanto dorme — comentou apontando com a cabeça para o lado de fora. Olhei para a janela, finalmente notando Issa que cochilava ao meu lado. Ergui-me sem grandes dificuldades. Tudo em mim pedia para voltar a ser um lobo e era essa a vontade que eu precisava ignorar por mais algum tempo. — Seiji tomou a liberar de juntar quantos podia para lhe ajudar.

— Juntar quem?

Praticamente corria até a abertura da janela. Bem a minha frente, até onde minha visão humana, inferior a de lobo, conseguia enxergar, havia fileiras de tendas de pano e muitas pessoas. Pessoas velhas e novas que eu conhecia ou não fazia ideia de quem eram.

— Hidetaka, que merda está acontecendo?

— Essa, Katsuo, é a sua matilha.

Se eu fosse tão alto quanto muitos outros eram, minha boca teria despencada de uma altura que poderia quebrar todos meus dentes. O que eu tinha falado enquanto estava dormindo? Como tantas pessoas concordaram em seguir Seiji para onde ele fosse? Um gosto ruim começava a acumular em minha garganta.

Meu retorno tinha começado mal e, pelo visto, terminaria muito mal.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? A ajuda do Tsukuyomi tá mais para ajuda ou pedra no meio do caminho? Ainda tenho um pouco de medo desse deus perdido!



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