Série Lobos II - O Clã da Lua escrita por M Schinder


Capítulo 14
Décima Quarta Caçada: Presa


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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As cores no céu começavam a se misturar, mas aquilo já não atraia minha atenção como antes. Estava cansada. Era como se, pouco a pouco, minha energia fosse sendo drenada de mim e levada para o palácio dos deuses. Minha vida já não valia muito a pena, mas eu lutava para continuar. Continuar sobrevivendo. Lutando.

A porta do quarto permanecia trancada. A pessoa designada para cuidar de mim sempre ficava do lado de fora, calada. Evitando todo e qualquer tipo de contato comigo. Era como se eu possuísse uma doença muito grave e contagiosa.

Eles tinham medo que eu fizesse algo; que meus poderes fossem muito além da capacidade de cura de todos os outros descendentes de Tsukuyomi. Uma grande bobagem. Nenhum deus seria louco o suficiente para que deixasse todos os seus poderes com um humano, fosse quem fosse. Além disso, esse medo era infundado, pois estava perdendo todos eles.

Depois a segunda surra e de não conseguir recuperar nenhuma parte de meu corpo, descobri que minhas habilidades sumiam aos poucos. Aprendi desde cedo que curar meu próprio corpo era muito difícil, até mais difícil do que ajudar os outros e isso tinha uma explicação muito simples, seus poderes eram para cuidar dos lobos; pertenciam aos próximos.

Um suspiro escapou por meus lábios. Eu ainda podia cuidar dos outros, tanto que salvara a vida de minha irmã menor, que se recusava a comer, mas nada mais podia fazer. Continuar trancada naquele quarto escuro era a única coisa que eu tinha.

— Hora de comer, princesa — anunciou meu cuidador passando o prato de sopa por baixo da porta.

Nada mais ouvi dele. Hesitei em me levantar. Queria continuar sentada observando o lado de fora e desejando que o tempo passasse mais rapidamente do que o fazia. Aquela terra era muito longe de meu feudo; tão distante de casa que eu já não podia sentir nada de meu povo. Um suspiro escapou por meus lábios quando estiquei as pernas e sai da cama. Prometera a Katsuo que me cuidaria e esperaria por ele.

A comida estava fria, como sempre. As vezes desejava morrer, para acabar com aquela revolta de Izanagi, mas nada adiantaria se deixasse o feudo a própria sorte. Queria ter poderes que se voltassem para a luta, mas o corpo frágil com que nascera não ajudaria em nada. Queria tantas coisas, mas metade delas dependia de coisas que nunca aconteceriam.

— Isso é um saco — murmurei tentando mastigar os vegetais quase crus. Para quem estava acostumada a viver livre e fazendo o que queria com apenas Katsuo ao meu lado, eu acreditava estar me virando até que bem.

Ouvi sons do outro lado da porta. Conversas e risadas divertidas. Eles se divertiam com o desespero de minha família; com a falta de esperança que todos tinham. Eu queria gritar. Ofendê-los. Fazer qualquer coisa para me vingar e fazer com que aquilo parasse. Contudo, não podia. Precisava me controlar. A cada vez que falava algo me machucavam e ameaçavam minha família. Estava farta de ver os outros sofrendo por minha culpa.

Por isso, eram poucas as vezes que me permitia pensar em Katsuo.

Eu não poderia suportar saber o que ele estava passando. Os sonhos que assombravam minha mente todas as noites já eram o suficiente para que a culpa me corroesse. Ele sofria e eu sabia.

Larguei o prato perto da porta e voltei para minha cama. Minha cabeça doía. Não havia muito que fazer naquele quarto imundo, nem mesmo ver o resto de minha família eu podia. Deitei-me. Novamente a sensação de que estavam drenando algo de mim voltara. Eu sabia que eram os deuses querendo destruir o legado de Tsukuyomi na terra.

— Não vão conseguir me derrubar — murmurei para o quarto vazio. — Não vou deixar que destruam tudo que aquelas pessoas construíram.

Se eu me mantinha viva, era porque decidira que a vida do povo de Tsume valia muito mais a pena que a minha. Eles quem construíram e protegeram aquelas terras e espaço; eles quem caçaram e defenderam suas crias e as crias de Tsukuyomi. Tudo foram eles.

Os lobos eram a razão da família Tsukiko continuar viva, batalhando. Nós devíamos isso a eles e eu garantiria, depois do fracasso de meu pai como líder, que todos ficariam bem.


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Notas finais do capítulo

E o que acharam do POV especial da Ailee? Achei que gostariam de saber como a princesa preferida de todos está!



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