Série Lobos II - O Clã da Lua escrita por M Schinder


Capítulo 13
Décima Terceira Caçada: Nova Chance


Notas iniciais do capítulo

Como disse, tentarei postar o máximo por hoje ou todos, então, aproveitem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/707569/chapter/13

Eu me recuperei o suficiente para ouvir os planos que Seiji fizera com aqueles dois. Shino e Kriran, o outro lobo, seguiam o ex-líder da caçada como se ele soubesse de tudo e fosse o mais capaz entre os três. Eu não duvidava daquilo e seguiria Seiji de olhos fechados, se ele não estivesse tão disposto a me seguir.

— Primeiros precisamos de provas — continuava o lobo andando de um lado para o outro. O barulho de sua perna de madeira começava a mexer com meus nervos já estragados. — Quero entrar e encontrar nosso monarca, mas não sei se teremos muito tempo, por isso tive uma ideia simples, mas que dará certo se bem executada.

— Você está falando como se estivéssemos saindo para caçar — comentei com um suspiro. Queria que a tensão sumisse do ambiente, mas parecia impossível e os três apenas me ignoraram. Para alguém que acreditava que eu era a salvação, eles não agiam dessa forma.

— Kobayashi deixa os aposentos particulares do soberano com Sora por duas horas, depois das três horas da tarde — continuou Seiji como se eu não tivesse comentado nada. — Acha que é tempo suficiente para que você possa ir lá e conversar com Tsukiko.

— Mas só eu? — questionei surpreso. — Onde vocês estarão?

— Do lado de fora te dando cobertura.

Encarei meu antigo rival como se ele estivesse ficando maluco. Contudo, ficou claro que falava muito sério. Eu teria que fazer aquilo sozinho. Enfrentar um dos homens que mais me detestavam em nosso feudo. Sabem quando as coisas só podem melhorar? Parecia que eu não chegara a esse ponto ainda.

***

Perto das três horas deixamos os antigos aposentos de minha protegida e caminhamos, os quatro, até a área particular do senhor feudal. Deixem-me contar uma coisa: aquele lugar é apavorante. Tem pinturas borradas, nenhuma claridade, rangidos estranhos... Vocês devem imaginar o resto. Não faço ideia de como alguém pode sobreviver ali.

Enfim, chegamos lá um pouco depois do horário, o que nos deu tempo de evitar um encontro problemático com meu amado pai. Àquela altura minhas pernas já tinham voltado a tremer e o ar fugia de meus pulmões humanos. As pálpebras pesadas imploravam para que eu parasse, mas o sentimento de urgência ainda era mais forte.

A porta do quarto de Tsukiko não estava trancada e eu parei, sem saber se aquela era uma boa ideia. Eu já estava cheio de más notícias suficientes e não queria encontrar o pai de Ailee morto – mesmo que meu nariz não capitasse nada relativo a morte ali perto.

— Ande, Katsuo, não temos o dia todo — resmungou Seiji transformando-se, no segundo seguinte, em lobo. A pata traseira que não ocupava mais seu lugar de direito também fora substituída por madeira. Ele rosnou para mim e eu me apressei.

Seiji era um cara de sorte. Eu não podia voltar a minha forma animal ainda, Tsukuyomi avisara que não seria aconselhável perder minha sanidade para o selvagem que existia dentro de mim. Por mais que, muito internamente, eu ainda tivesse dúvidas sobre o que era mais indomável – o humano ou o lobo.

Abria porta com calma e soltei um leve uivo, o pedido de licença tradicional entre os de minha raça. Um resmungo foi minha resposta e eu atravessei o quarto tropeçando nas minhas próprias pernas. Issa sentou na porta, como se concordando com a ideia dos outros de deixar que eu conversasse a sós com o soberano. Traidor.

— Senhor Tsukiko, o senhor está acordado? — perguntei sem saber exatamente sobre o que conversar com ele.

— Katsuo? É você? — murmurou. Sua voz arrastada e baixa obrigou-me a aproximar ainda mais da cama. Ele estava ainda mais velho do que eu podia me lembrar e, de alguma forma, era horrível ver a pessoa que protegia meu povo tão debilitado.

— Sim, sou eu senhor.

— Venha até aqui...

Hesitei. E se ele também fosse um aliado de Izanagi? E se ele quisesse minha cabeça tanto quanto os outros? Seu rosto voltou-se levemente em minha direção e travei. Os olhos idênticos aos de Ailee, completamente cinzentos como símbolo de sua conexão com Tsukuyomi, estavam vazios e sem brilho. Eu poderia não sentir o cheiro da morte, mas ela estava lá, bem próxima a ele.

Ajoelhei-me ao lado de sua cama. Deixando minhas inseguranças de lado. Tsukiko colocou sua mão em minha testa. Estava gélido.

— É muito bom ver que está vivo, meu rapaz — murmurou descendo a mão novamente para descansar ao lado de seu corpo. — Mesmo parecendo tão debilitado quanto está... Seu estado é grave.

Meu coração falhou uma batida. Por acaso ele tinha se olhado no espelho ultimamente? Entretanto, eu não ousei duvidar do que falava. Tinha plena consciência das capacidades curativas dos descendentes do deus da Lua e sabia que podiam identificar doenças muito facilmente.

— Mas você precisa me ouvir, com muita atenção — continuou como se o fato de eu estar em estado grave não fosse tão importante. Acho que, depois de tudo, não era mesmo. — A carta que me fez mandar toda a família Tsukiko para o templo era verdadeira, mas as informações foram alteradas. Tsukuyomi não nos abandonara, mas desaparecera do palácio sagrado e deixara uma lacuna e seres muito poderosos que não deveriam existir, nós.

“Izanagi aproveitou-se de seu desaparecimento e, por saber que ele não estava presente a muito tempo, acabei acreditando em suas mentiras. Aceitar o novo senhor foi um erro, mas meu erro maior foi ter acreditado em seu pai... Meu próprio guardião, em uma das noites em que você sumira, trouxe o pai dos deuses para cá. Uma maldição muito forte foi jogado em meu corpo terreno e fiquei nesta situação deplorável em que me encontro.

É difícil admitir, mas desejei que você realmente tivesse morrido, junto a minha família. Assim, talvez, meu povo estaria livre das garras desse maldoso deus. Com todas as minhas forças pedi para as linhas do destino acabarem com essa situação, mas nada, nem ninguém, conseguia chegar até mim ou atravessar as paredes do castelo. Hoje, meu corpo está ainda pior e tende a não sobreviver por mais tempo.

Acreditei que não houvesse mais saídas, mas tive um sonho. Muito estranho. Eu já não enxergo mais e nem mesmo minha mente formula imagem, mas o vento da noite falou comigo. Pediu que eu suportasse por mais algum tempo, que a resposta viria até mim”.

Ele parou para respirar, parecia determinado a acabar, mas seu corpo pedia pelo mesmo que o meu, descanso e paz.

— Guardei tudo que eu podia de minhas forças para esperar por essa resposta — murmurou virando novamente a cabeça em minha direção novamente. — E você chegou... Como sobreviveu?

Aquela era uma boa pergunta e a resposta nunca chegaria aos pés do que Tsukiko, provavelmente, esperava ouvir. Lutas? Mortes? Fugas? Nada, eu apenas, como ele, tinha seguido o que o vento me mandara fazer e acabara descendo ao nível mais baixo na escala animal: o instinto.

— Isso não importa — continuou desconsiderando a própria pergunta. — Você tem seu caminho a seguir, apenas me prometa uma coisa, Katsuo.

— O que, meu senhor? — questionei abaixando a cabeça. Tinha quase certeza de que nunca me portara de forma tão submissa a ninguém, com a exceção de Ailee.

— Proteja seu povo. Minha família, por favor.

Ergui os olhos. A pergunta saíra mais fraca do que antes. Tsukiko ficava cada vez mais pálido.

— Protegerei com a minha vida.

Ele sorriu. Algo que só o vira fazer para Ailee e com o resto de seus familiares. Novamente colocou a mão sobre minha testa. Daquela vez, no entanto, estava quente. Queimava. Lutei contra a urgência de me afastar conforme o calor aumentava. Senti que começaria a suar a qualquer momento; meus olhos ficaram ainda mais pesados; meu corpo cedia lentamente.

— Então viva, Katsuo. Viva para cumprir sua promessa.

A voz dele saiu tão clara quanto nunca e meu coração pulsou com ainda mais força. Sabia o que estava fazendo, mas não pude impedir. Não tenho certeza se foi ao mesmo tempo, mas acredito que apagamos juntos. A vida de Tsukiko Koji correndo por minhas veias.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Série Lobos II - O Clã da Lua" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.