Don’t Panic escrita por Siaht


Capítulo 2
I blinked and the world was gone


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas lindas!!! ;D
Não sei se alguém ainda está lendo essa história, mas sinto muito pela demora. Estive surtando com várias coisas de faculdade, família e afins. Mas, se ainda não desistiram, aqui está o primeiro capítulo. Juro que tento não demorar muito com o próximo!
Espero que gostem! ♥



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I Blinked and the World Was Gone

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O vestido preto parecia estranho no corpo magro e pálido da garota. Havia pelo menos dois anos que a peça estava jogada em seu guarda-roupa, no entanto, um dia havia lhe caído bem, parecendo perfeitamente desenhado para se encaixar nas curvas da jovem. Ela já não se importava. Calçou os sapatos de salto, os amaldiçoando no instante em que seus pés se acomodaram neles, e amarrou os longos cabelos ruivos em rabo de cavalo. Lily Evans adoraria dizer que gostou da imagem que viu refletida no espelho, mas seria uma mentira. Na verdade, sequer conseguia reconhecer a figura fantasmagórica que a encarava com os olhos verdes e sem vida.

Suspirou, procurando a varinha. Sua cabeça criava desculpas esfarrapadas para permanecer em casa e não ir àquele evento patético. A garota simplesmente não via qualquer propósito naquilo. Havia um ano que a guerra chegara ao fim. O Lorde das Trevas caíra e a paz voltara a reinar. Ao menos na teoria, já que alguns de seus aliados mais leais não desistiram tão facilmente de levar caos, morte e devastação por onde passavam. De qualquer forma, havia quem acreditasse que aquela era uma data para ser celebrada. Um dia para agradecer, honrar os heróis que lutaram bravamente e se lembrar daqueles que perderam suas vidas. Um dia completamente inútil na concepção da moça.

 Lily não tinha uma única maldita coisa pela qual sentir-se grata, não merecia honras por ser uma suposta heroína – o que ela conseguira salvar no fim das contas? – e não passava nem mesmo um instante sem lembrar-se daqueles que perdera. Merlin era testemunha de como estava farta de chorar por eles! No entanto, acima de tudo, estava farta dos vivos e sua insistente tentativa de se assegurar que ela estava bem. A ruiva não estava bem! Como alguém poderia estar bem após tudo o que acontecera? Ainda assim, a garota não acreditava que havia algo que pudesse ser feito para alterar a forma como se sentia. Talvez devesse apenas aceitar que aquela era quem se tornara e não havia nada a ser feito sobre isso.

Balançou a cabeça, em uma tentativa vã de expulsar os pensamentos, pegou a varinha e aparatou. Era um dia iluminado e quente, algo que, para Lily, soava bastante inapropriado. O local definido pelo Ministério da Magia para o tributo já estava cheio de bruxos e bruxas bem vestidos. A moça sentiu o estômago se revirar com a visão, enquanto cada célula de seu corpo gritava que corresse para o mais longe possível.

Ainda assim, contrariando seus instintos, algo que sabia que nunca era uma boa ideia, a Evans se obrigou a seguir em frente e buscar por uma cadeira vazia. Ela sabia que Mary Macdonald jamais a deixaria em paz, se não fosse àquele estúpido memorial. Sabia também que a amiga não fazia por mal. A menina sempre fora do tipo que se preocupa demais e após as mortes de Marlene, Alice e Dorcas, só sobrara Lily para lhe tirar o sono. Agora eram apenas as duas, algo estranho de uma forma sufocante.

Marlene, Alice e Dorcas estavam mortas e o quinteto inseparável se tornara uma dupla em ruínas. A Evans não achava que algum dia seria capaz de se acostumar à ausência. Não era justo que as pessoas entrassem em sua vida, tomassem um pedaço de seu coração e depois fossem violentamente roubadas. As lágrimas começaram a queimar em seus olhos, fazendo a garota se amaldiçoar por ter saído de casa. Antes que a mulher conseguisse traçar uma rota de fuga, no entanto, uma voz conhecida se destacou entre a multidão, chamando seu nome.

— Lily! — a figura pequena de Mary apareceu, se desvencilhando de um grupo de bruxos, e correndo com os braços abertos, em direção a amiga. — Que bom que você veio! — disse a prendendo em um abraço apertado.

Os abraços de Mary eram sempre reconfortantes, cheios de afeto e calor humano. Lily sentia que poderia passar o resto de suas vidas ali. Que podia deixar suas muralhas desmoronarem e se permitir chorar como uma criança. Mas não podia. Tal certeza a fez se afastar da amiga, apenas para encontrar os olhos cinzentos de Amelia Bones a observando atentamente. Sentiu o estômago se contrair dolorosamente e logo passou a encarar as próprias mãos.

— Evans. — Amelia saudou com um aceno de cabeça.

— Bones. — Lily respondeu, ainda evitando seu olhar.

Por mais que tentasse, não conseguia passar muito tempo perto da moça, ela era parecida demais com seu falecido irmão. E Lily não precisava de memórias de Edgar Bones a assombrando como um fantasma. O silêncio se estendeu de forma mortal entre as três mulheres. Nenhuma delas certa de como preenchê-lo. A ruiva sequer conseguia se importar com isso, estava ocupada demais, tentando se lembrar de como respirar. Cinco minutos ali e já sentia que todo o oxigênio lhe fora roubado. Sabia que isso iria acontecer. Passara meses evitando se encontrar pessoalmente com Mary, em uma tentativa patética de evitar Amelia – a namorada na amiga. Sabia que seus esforços eventualmente acabariam frustrados, ainda assim, não estava pronta para lidar com a profunda agonia que aquele encontro lhe causara.

— Bom, acho que vou procurar algum lugar, antes que fique cheio. ­— disse a primeira coisa que lhe veio a mente, apenas para se afastar do casal.

Tentou manter a dignidade enquanto caminhava, com aqueles saltos altos estúpidos, pela grama úmida. Era um dia bonito. O céu se estendia azul e sem nuvens, o sol brilhava. De algum modo, tornava tudo pior. Parecia errado, quase como se o universo estivesse provando que eram criaturas insignificantes, os lembrando de que suas vidas e sacrifícios de nada valiam. Eram pequenos, vulneráveis e inúteis. Tinham um tempo limitado para existir, destruindo tudo o que tocavam, e depois partiam, enquanto o mundo seguia seu curso, como se nada houvesse acontecido, como se não fizessem falta, como se nunca houvessem existido. A vida era cruel e sem propósito.

Com um suspiro resignado – que outra opção possuía? –, Lily acabou escolhendo uma cadeira vazia em uma das fileiras do meio. Não queria ficar muito à frente. Espantou-se, no entanto, ao perceber que acabara sentando-se ao lado de Sirius Black. Havia, pelo menos, um ano desde que vira o rapaz pela última vez, ele não poderia estar mais diferente. Assustadoramente magro, com os cabelos mais longos, grandes olheiras e olhos escuros, gritando em agonia, Sirius era um cadáver ainda vivo. O epítome do desespero. Havia feito um claro esforço para estar ali, os cabelos ainda estavam molhados, a barba parecia ter sido feita recentemente e o terno negro se exibia impecável. Ainda assim, a garota conseguia sentir o cheiro de álcool que o corpo do homem exalava e percebia o modo como ele agitava a perna repetidamente.

— Evans. — cumprimentou, sem sequer lhe dirigir um olhar.

— Black. — ela retribuiu a gentileza.

Tentou buscar em sua mente a última vez em que vira o rapaz. Havia sido no enterro de Marlene? Ou em alguma outra ocasião? Não conseguia se lembrar. Ainda assim, não conseguia evitar a sensação de desconforto ao pensar no Sirius que um dia conhecera e na versão do mesmo homem que observava agora. Black havia sido um jovem cheio de vida, sorrisos maliciosos e piadas sarcásticas. Havia sido um maroto e o intenso namorado – ou sabe-se lá o que, já que os dois nunca gostaram de rotular o que tinham – de Marlene Mckinnon. Agora, no entanto, a menina estava morta e Sirius Black não era mais que um espectro. O simples pensamento era doloroso demais.

Será que era assim que as pessoas se sentiam quando pensavam nela? Será que quando enxergavam a mulher destruída, tentando se equilibrar em sapatos velhos, tudo o que viam era a decadência daquela que um dia fora uma menina linda e vibrante? Não queria saber a resposta. Sirius, de qualquer modo, não disse mais uma única palavra e manteve-se imóvel, os olhos sem vida fixos a um ponto qualquer. Ao seu lado, Lily tamborilava os dedos nas pernas, incapaz de lidar com a ansiedade que percorria todo seu corpo, fazendo com que estivesse prestes a entrar em ebulição.

Os olhos verdes da moça percorreram agilmente o local. Viu Emmeline Vance lhe sorrir fracamente, algumas cadeiras à frente. Uma parte da Evans desejou que a moça não tivesse lhe oferecido tal gentileza, era terrível receber um sorriso morto de alguém que sempre fora o sol. Viu a Professora McGonagall na fileira do lado, com os lábios comprimidos, não em sua típica e rígida expressão de censura, mas como se esforçasse-se para não cair no choro. Detestou a visão. Viu Remus Lupin encolhido em um dos cantos da última fileira, tentando passar despercebido, o rosto exausto e cheio de cicatrizes. Perguntou-se se havia algum motivo para a distância entre ele e Sirius.

Não parecia certo. Era como contemplar um quebra-cabeças incompleto. Os Marotos estavam sempre juntos. Eram quatro, sempre foram quatro – desde o primeiro maldito minuto em que colocaram os pés em Hogwarts – e deveriam permanecer quatro. Deveriam, se a vida não fosse toda errada. Sirius e Remus estavam distantes. Não havia qualquer sinal do Potter – Lily percebeu, com certa estranheza, que uma parte dela sentia e se preocupava com a ausência de James. E Peter Pettigrew estava morto. Nunca seriam quatro novamente. Nunca estariam completos. Era errado. Era insuportavelmente errado!

Reprimiu um suspiro. Não sabia por que sua cabeça perdia tempo com tais pensamentos. Não sabia sequer quando passara a se importar tanto com os Marotos. Mas talvez sempre houvesse se importado. Não há como passar sete anos com um grupo de pessoas, lutar uma guerra ao lado delas, e não se importar. E, independente do quanto tentasse fingir, pedir a Lily Evans que não se importasse, era como pedir que deixasse de respirar.

Antes que chegasse a qualquer conclusão, seus olhos – seus estúpidos e inquietos olhos – se prendaram a uma senhora de cabelos grisalhos, com um bebê loiro e gorducho no colo. Sentiu um soco no estomago. Sabia, sem que ninguém precisasse lhe dizer, sem precisar observar a cicatriz em formato de raio na testa do menino, que aquela era a senhora Longbottom, e que o garoto que trazia nos braços era o filho de Frank e de Alice. Neville. O Menino que Sobreviveu. Era um título pesado para uma criança. Uma criança de dois anos de idade que perdera os pais da forma mais trágica possível. O garotinho se parecia com Frank, tinha seus cabelos loiros, rosto redondo e nariz pequeno. Os olhos, no entanto, eram de Alice. Castanhos e meigos.

O pequeno Neville sorria, inocente a tudo aquilo. Era demais para Lily. O ar começou a lhe faltar.  Levantou-se em um ímpeto, fazendo Sirius se sobressaltar. Não importava. Precisava sair dali ou sufocaria. Caminhou desajeitada pela grama, ignorando os olhares sobre ela. A garganta queimava. O estômago se embrulhava. A ansiedade corria por suas veias. Queria correr para longe dali. Sequer pensou em aparatar. Não seria suficiente, seu corpo precisava se mover. Andou por poucos metros, até sentir os malditos saltos se partindo.

Colidiu contra o asfalto áspero, provocando um baque surdo. Lágrimas lhe vieram aos olhos, pela cena patética, pelo sangue que agora corria por suas pernas raladas, por Alice, Frank, Marlene, Dorcas, Peter, Edgar – oh, Edgar! –, mas também pelo pobre Neville, por Mary, Amelia, Sirius, Remus... Pelos mortos, pelos vivos, por ela. Tudo estava tão errado! Eles haviam vencido a guerra. Por que, então, sentia que haviam perdido? Por que tudo ao seu redor era dor e sofrimento? Não restara nada além de desolação na vida de Lily. O mundo inteiro estava em ruínas. Que espécie de vitória era aquela?

As lágrimas continuaram a cair copiosamente, os soluços escapando por seus lábios. Tudo o que tentara trancar dentro de si, exposto naquela calçada e irregular e imunda. Um par de sapatos negros enlameados entrou em seu campo de visão. Os cheiros de nicotina e perfume masculino lhe atingiram como um tapa.  

Evans? — a voz, tão conhecida, chamou. Havia surpresa, incerteza e preocupação misturadas ao timbre grave do rapaz.

Lily levantou o rosto, resignada em sua humilhação, sabendo exatamente quem estaria parado ali. Seus olhos verdes se encontraram aos olhos castanhos amendoados, escondidos por óculos redondos, de um fantasma de seu passado. Seu coração saltou uma vez em seu peito.

Potter. — seus lábios sussurraram.


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam? Espero que tenham gostado! ♥
Bom, em todo esse tempo que levei pra atualizar acabei postando uma one-shot Jily. Talvez algum de vocês se interesse: https://fanfiction.com.br/historia/715386/Yes/
Beijinhos...
Thaís



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