DON'T PANIC

.

“Bones sinking like stones

All that we fought for

Homes, places we've grown

All of us are done for”

.

A parte mais estranha da solidão é que você se acostuma a ela. É um processo gradativo, silencioso e quase imperceptível, mas quando se dá conta, ela já se instaurou em sua vida como uma velha amiga. Há uma amarga ironia em tal conceito, a garota, no entanto, aprecia a melancolia da ideia. Um meio sorriso quase se forma em seus lábios rachados, mas ela está cansada demais para sorrir. Ou talvez esteja apenas cansada de fingir.

Lílian Evans sempre foi uma farsa. Uma piada patética e deprimente. Ainda assim, é provável que já não seja sequer um gracejo. Há momentos em que se questiona se está realmente viva. Alguma alma ainda habita sua carcaça pálida e marcada por cicatrizes de guerra? Seu espírito ainda respira ou padeceu junto àqueles que amava? São indagações estúpidas e vãs, ela sabe, mas não é capaz de evitá-las.

Seus olhos verdes fitam atentamente o teto branco, contando as pequenas rachaduras no gesso. Repetira o gesto incontáveis vezes, em incontáveis madrugadas frias e silenciosas. De certa forma, aquilo a acalma e desanuvia os pensamentos irritantes e confusos. Do lado de fora, o mundo parece se acabar em uma tempestade. O som da tormenta e dos trovões é estranhamente reconfortante.

Ao seu lado, o rapaz acende o terceiro cigarro, mas a moça não se importa. Nos dias de hoje há muito pouco que verdadeiramente a incomode. Ainda assim, Lily aprecia o silêncio do homem, que contempla a chuva pelo vidro da janela. Ele nunca foi do tipo silencioso, pelo menos, não costumava ser. Mas ela não costumava sentir-se entorpecida, então, não pode julgá-lo. Eram pessoas diferentes agora. Ou talvez fossem simplesmente vestígios das pessoas que um dia foram. Fazia diferença?

A questão a faz fechar os olhos por meio segundo. Os cheiros de chuva, Whisky de Fogo e nicotina parecem impregnar seus pulmões, suas entranhas e sua alma. Um relâmpago corta o céu e James acende um novo cigarro. James Potter. Mais uma vez a ruiva sente vontade de rir da ironia, mas não consegue. Se algum dia lhe contassem que estaria nua – em uma minúscula cama de solteira – com o Potter, ela certamente gargalharia até que o oxigênio lhe faltasse. Mas Lily já não era Lily. E James já não era James. O que quer que houvesse restado em ambos se entrelaçara em uma noite de chuva, luto e dor. A vida certamente estaria se deleitando com mais uma das amargas reviravoltas que reservara aqueles dois.