The Seven Deadly Sins escrita por Coffee


Capítulo 4
Sloth - Gift from the Prince who Brought Sleep


Notas iniciais do capítulo

Heyo, heyo! Tudo bom?

Então... Eu sei que vai se fazer um ano desde que eu postei o último capítulo e eu ainda estou tentando sumir com a vergonha e vir com minha cara de pau postar esse novo capítulo. Ocorreram várias coisas, mas vou tentar postar novos capítulos em outras fanfics e peço enormes e sinceras desculpas. De verdade. Mil desculpas por não ter postado nada e nem ter dado uma notícia a respeito de estar viva.

Certo, certo, então, aqui estou com o capítulo da Preguiça! Eu sinto a necessidade de dar uma pequena explicação a respeito do porque do menino Regulus ter sido o escolhido para representar esse pecado. Preguiça, como pecado, tem dois significados: pode representar uma pessoa que tem aversão ao trabalho, uma pessoa que prefira o descanso a trabalhar, alguém que dorme o tempo inteiro. O segundo significado é, em minha visão, o mais interessante. Uma pessoa preguiçosa pode também ser uma pessoa que prefere a solução mais fácil ou simplesmente não faz nada para impedir que algo ocorra. Nos livros, Regulus era um garoto inteligente e que podia muito bem ter se rebelado contra a família. Porém, o que o impediu? Na minha interpretação, foi preguiça. Seria muito mais fácil aderir as ideias da família do que ser rejeitado, assim como Sirius. Regulus apenas tomou uma decisão quando viu o quão longe aquela loucura estava indo. Por isso que Regulus Black foi o meu escolhido para representar esse pecado!

AVISOS SOBRE O CAPITULO: Contem relacionamentos abusivos, suicídio e assassinato. Se algum desses assuntos podem lhe incomodar de alguma forma, não leia. Por favor.

Vídeo do capítulo: https://www.youtube.com/watch?v=U4JMw4M1SA4

Enfim, era apenas isso. Espero que possam me perdoar e aqui vai o capítulo:



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SLOTH

Gift from the Prince who Brought Sleep

***

Please sleep with this gift of mine. You can sleep well with this gift of mine. Yes, I am Princess Sandman who brings eternal repose, just so that you can be happy forever

***

Agora, vá dormir!

***

Em certo período da história, existiu um reino com o nome de Azkaban, sendo a capital Grimmauld. Esse reino era governado pela família Black; os cujos eram muito ricos, quem sabe até mesmo mais do que todos os outros reis dos reinos ao redor. Walburga e Orion Black tinham dois filhos, ambos os meninos, sendo um mais velho por dois anos. O filho mais velho, Sirius, era extremamente rebelde, sempre desafiando os pais, que se preocupavam como seria o reino sob o governo daquele garoto.

E, claro, havia o filho mais novo, Regulus. Ele era um menino de cabelos negros e olhos escuros, com a pele extremamente pálida devido à falta de sol e olheiras escuras cercando seus olhos, o dando uma aparência semelhante a de um guaxinim. Ninguém costumava falar muito de Regulus, sendo que eram poucas as pessoas que realmente se importavam com o garoto devido uma rara doença que ele possuía. Regulus não dormiu um único minuto desde o dia em que nasceu. O único motivo de ele estar vivo era um remédio, um medicamento que permitia que seu cérebro descansasse sem a necessidade de uma noite de sono.

Porém, os seus pais não se importavam muito aquilo. Afinal, ele não iria influenciar em nada. Sirius seria o futuro regente de Azkaban. Era ele quem importava. Se Regulus morresse a qualquer momento devido o extremo cansaço, não iria fazer diferença alguma, sendo que o seu irmão era a única pessoa da família que realmente se importava com ele.

Em uma específica noite de outono, era possível escutar a chuva caindo do lado de fora do enorme palácio dos Black. Naquele horário, tanto os funcionários quanto a família real estavam dormindo naquele momento. Uma das únicas pessoas acordadas era Regulus, que encarava o teto escuro de seu luxuoso quarto, iluminado pela luz de um único lampião. Era a quarta vez em que ele se virava na cama, tentando achar uma posição que fosse confortável, contudo, sem sucesso. Ele suspirou, cansado, sabendo que seria mais uma noite em que passaria acordado.

Regulus então ouviu o barulho da porta se abrindo. Ele levantou a cabeça do travesseiro, franzindo a testa ao ver que Sirius havia entrado em seu quarto. Seu irmão parecia aflito, talvez com a expressão um pouco triste. Ele se aproximou de Regulus, que, antes mesmo de perguntar o que o irmão estava fazendo ali, recebeu um abraço apertado do mesmo, de forma que o mais novo ficasse estático e em choque.

— Sirius, o que você está fazendo aqui nesse momento? – perguntou Regulus. – Você deveria estar dormindo, certo?

— Eu não tenho muito tempo. – Sirius disse rapidamente, se afastando do irmão e colocando uma mão em seu ombro, o encarando. – Reg, você sabe que eu te amo, não sabe?

— Claro que sim. – Regulus respondeu, arqueando uma das sobrancelhas. – Quero dizer, você é o único que realmente se importa comigo nessa casa.

— Não se esqueça disso. – murmurou o mais velho. – Por favor, me prometa que você não vai se importar com nada do que papai e mamãe falarem de você. Regulus, você é uma pessoa maravilhosa, não pode se importar com o que eles falam. Prometa-me.

— Sirius, o que…

— Apenas me prometa.

— Certo, eu prometo.

— Eu te amo, irmão. – murmurou Sirius, suspirando, abraçando Regulus mais uma vez.

— Sirius, por que tudo isso? – Regulus franziu a testa, encarando os olhos cinzentos e tristes de seu irmão. – Nós iremos nos ver amanhã.

— Claro que vamos. – Sirius sorriu levemente, quase como se estivesse rindo de uma piada sem graça. – Boa noite, Reg.

— Boa noite, Six.

Regulus observou o irmão rapidamente sair do seu quarto, se perguntando com curiosidade por que ele havia dito todas aquelas coisas. Porém, ao se lembrar da última frase que o seu irmão lhe disse, ele sentiu uma tristeza profunda o invadir, pois ele sabia que não seria uma boa noite, assim como todas as outras de sua vida.

***

No dia seguinte, Regulus pode ouvir de seu quarto uma enorme gritaria vinda do andar de baixo. Ele preferia ficar o dia inteiro trancado em seu quarto, porém, a curiosidade o invadiu. Lentamente e sem fazer barulho, ele saiu de seu quarto, descendo as escadas e colocando o ouvido próximo a enorme porta que dava passagem para a sala do trono.

— Eu não acredito! – Regulus conseguiu escutar o grito raivoso de sua mãe, Walburga, que parecia estar quase soltando fogo pelas orelhas. – Ele é um verdadeiro imprestável! Se um dia eu encontrar aquele garoto, eu irei matá-lo!

— Fique calma, tia. – tranquilamente disse Andrômeda.

— Sim, querida. – continuou Orion, tentando soar tão tranquilo quanto à sobrinha. – Ninguém está conseguindo entender o que o mensageiro disse a você com essa sua gritaria! Fale calmamente!

— Não tem como ficar calma em uma situação como essa. – rosnou Walburga. – Sirius fugiu de noite!

Todos exclamaram. Regulus arregalou os olhos, sentindo o ar fugir de seus pulmões. Sirius havia fugido. Agora, tudo fazia sentido. Estava explicado o porquê de Sirius ter dito tudo aquilo na noite anterior. A única pessoa que realmente se importou com Regulus não estava ali, e, provavelmente, nunca mais estaria. Quem mais iria perguntar se ele estava bem? Quem iria acalmar Regulus em seus surtos? Quem iria abraçá-lo, confortá-lo, quando ele começasse a chorar? Ele não sabia, porém, fez força para continuar escutando a conversa.

— Sirius fugiu?! – Regulus conseguiu escutar Narcisa exclamar.

— O que deu na cabeça daquele desmiolado? – Bellatriz perguntou com a voz repleta de ódio.

— E eu que vou saber? – Walburga provavelmente estava emburrada naquele exato momento. – Sirius é um completo idiota!

— Não se preocupe querida. – Órion tentou acalmar a esposa. – Sirius não irá fazer falta nessa casa.

— E quem disse que eu me preocupo com aquele imprestável? – A voz de Walburga estava repleta de ódio enquanto ela falava. – Eu me preocupo com o futuro dessa família! Sem Sirius aqui, o próximo a governar terá que ser Regulus!

Um silêncio profundo se instalou no lugar. Regulus engoliu em seco. Ele não estava preocupado em como a sua mãe havia falado dele (quase como se fosse um ser abominável), afinal, ele estava acostumado com aquilo. Sua verdadeira preocupação vinha de como seria possível ele ser o futuro rei. Ele não havia sido preparado para aquilo, diferente de Sirius, que estava acostumado a conversar e negociar com as pessoas desde que era jovem. Regulus nunca foi a uma das festas da família, além de praticamente entrar em pânico quando precisa conversar com alguém que não seja conhecido. E, aparentemente, todos naquela sala estavam pensando a mesma coisa.

— Eu não acredito que eu vou dizer isso, mas seremos obrigados a escolher o plano B. – Orion suspirou cansado.

— Plano B? – Andrômeda exclamou incrédula. – Tio, você não quer dizer…

— Isso mesmo, minha sobrinha. – Walburga interrompeu Andrômeda. – Vamos ter que fazer um casamento arranjado. Preciso que alguém chame o mensageiro. Tenho que mandar uma mensagem para a família Carrow.

***

Regulus se olhava no espelho, tentando parecer calmo. Porém, ele sabia que não estava tranquilo. Ele, na realidade, estava se esforçando para não entrar em pânico naquele momento. Suas mãos tremiam enquanto olhava a própria aparência, nervoso. Regulus não havia pedido para se casar. Porém, os seus pais estavam organizando um casamento arranjado. Naquele dia, iria conhecer a sua noiva. Ele apenas sabia que o seu nome era Alecto Carrow, nome que ele vagamente se lembrava.

O jovem Black suspirou, cansado, observando o seu reflexo no espelho. Ele sabia que, se não fosse por um casamento arranjado, ele nunca iria se casar. Além de ter nascido com uma rara doença, ele não era o exato sinônimo da palavra “atrativo”. Ao contrário de Sirius, Regulus era baixo, extremamente pálido e os seus olhos não pareciam ter uma única gota de vida. Ele se considerava tão sem sal que se perguntava como ele e Sirius eram irmãos.

Ele quase deu um pulo de susto após ouvir alguém entrar no quarto. Assustado, ele se virou, achando que iria encontrar a sua mãe, parada, lhe encarando. Porém, para a sua surpresa, era a sua prima, Andrômeda. Em seu olhar, era possível perceber que ela sentia pena dele. Pena. Ele odiava quando as pessoas sentiam pena dele. Ela caminhou em sua direção e lhe abraçou. Andrômeda era (além de Sirius) a única daquela família que realmente o tratava bem.

— Não fique tão nervoso. – ela murmurou, lhe lançando um sorriso tranquilizante ao perceber que ele suava frio. – Não é como se Alecto fosse te matar.

— Eu não tenho medo dela. – Regulus imediatamente desviou o olhar do rosto de sua prima, que ajeitava a sua roupa. – Tenho medo do que a minha mãe irá fazer caso eu estrague tudo, o que é bem provável.

— Não tenha medo, Walburga iria apenas expulsá-lo do castelo. – brincou Andrômeda na intenção de descontrair, porém, se arrependeu ao perceber que Regulus pareceu cinco vezes mais desesperado do que já estava. – Foi apenas uma brincadeira. Apenas... Fique tranquilo, tudo bem? Você vai gostar de Alecto. Ela me parece ser uma boa mulher.

Regulus não respondeu. Andrômeda suspirou, sabendo que o seu primo não estava confortável com a atual situação. Ela segurou o seu rosto de forma leve, como se ele pudesse quebrar com um único toque, e o virou em sua direção, fazendo com que ele a encarasse, a confusão presente em seu olhar.

— Escute. – ela rosnou seriamente. – Eu sei que você não quer isso. Eu sei que não era o que planejava para a sua vida. Mas, você precisa. É necessário. Não faça isso por mim, por sua mãe ou por seu pai. Faça isso por Sirius.

Ele suspirou e assentiu, limpando algumas poucas lágrimas que se concentraram nos cantos de seus olhos. Ele sabia que aquela seria a oficial condenação de que ele não faria mais nada em sua vida. Estaria preso em um casamento, provavelmente, infeliz. Sua mãe iria colocar todo o reino nas mãos de sua nova esposa e ele não teria direito de governar. Não que ele esperasse muito de sua vida, porém, com certeza esperava mais do que isso.

— Regulus! – ambos conseguiram escutar Walburga gritar. – A família Carrow chegou! Venha aqui agora!

“Certo”, ele pensou, nervoso, engolindo em seco. “Pelo menos uma vez na sua vida, Regulus, não estrague tudo”. Andrômeda lhe lançou um olhar de incentivo antes dele respirar fundo e abrir a porta do seu quarto e começar a descer as escadas. Ele segurou no corrimão, ansioso, sentindo o suor escorrer por sua testa. “Não vou estragar tudo”, ele pensava repetidamente. “Não vou estragar tudo”.

Quando ele chegou até o salão principal, a família Carrow já estava ali, assim como a família Black. Os patriarcas das famílias conversavam tranquilamente enquanto bebiam vinho e riam forçadamente de alguma piada. Um sorriso falso se formou no rosto de Orion quando ele percebeu que o filho observava, em pé no último degrau da escadaria, a situação de forma desconfortável.

— E era dele de quem eu estava falando, Sr. Carrow! – exclamou Orion, colocando o vinho na mesa de centro e caminhando até o filho, lhe dando uma tapinha leve nas costas, porém, a tapinha foi o suficiente para que ele perdesse o ar que tivesse nos pulmões. – Regulus Black, o meu filho mais novo!

Todos os olhares se voltaram para ele. Regulus sentiu o sangue se esvair de seu corpo. Ele imediatamente ficou paralisado, sem saber o que fazer após o nervosismo e o desespero invadirem a sua mente. Ele abriu a boca, tentando pensar em alguma coisa para dizer, porém, o único som que conseguiu produzir foi um chiado de desespero. A Sra. Carrow arqueou uma das sobrancelhas, encarando Orion.

— Eu não sabia que ele era mudo. – ela murmurou da forma mais educada que podia.

— Eu não sou mudo! – Regulus protestou repentinamente em bom e alto som.

— Oh, quer dizer que ele fala? – zombou o Sr. Carrow maldosamente, fazendo com que Regulus corasse de vergonha. – Interessante.

— Claro que eu falo! – Regulus estava pronto para dar mais uma resposta, porém, o olhar que Walburga lhe lançou fez com que ele se calasse e abaixasse a cabeça.

— Sabe com quem está falando, garoto? – O Sr. Carrow arqueou uma das sobrancelhas de forma ameaçadora.

— Perdoe o menino, Carrow. – Walburga forçou um sorriso. – Ele não sabe do que fala. Você sabe, não sabe? Sobre a questão daquilo.

— Sim, claro que sim. – O homem revirou os olhos, entediado. – Vamos ser diretos, Black. Por que eu teria interesse de fazer com que a minha filha aceitasse o noivado? Ela merece coisa melhor.

— Talvez seja o alto dinheiro envolvido. – rosnou Orion, sorrindo maldosamente. – Ou, talvez seja o fato de que será ela a governar o reino.

— Você conhece as regras, Orion. – A Sra. Carrow se intrometeu de forma tranquila. – O homem primogênito deve governar.

— Exceto se ele não tiver condições psicológicas. – Walburga retrucou com um sorriso de lado. – Sejamos sinceros, Carrow. Vocês realmente acham que ele estaria em condições de governar? Uma pessoa que nunca sequer dormiu na vida, que não faz a mínima ideia do que a palavra “descanso” significa?

O Sr. Carrow e a Sra. Carrow trocaram olhares, pensando bem sobre o assunto, se deveriam ou não aceitar a proposta. Regulus sentiu todo o almoço revirar no seu estômago. Estavam falando dele como se ele não estivesse ali. Ou, melhor dizendo, estavam falando dele como se ele fosse um objeto a ser barganhado por um preço alto. Interrompendo os seus pensamentos, o Sr. Carrow sorriu e exclamou:

— Regulus, eu quero que você conheça a minha filha e a sua futura esposa, Alecto!

A jovem mulher que estava sentada no sofá se levantou e caminhou até Regulus, que sentiu o coração bater cinco vezes mais rápido. Cabelo escuro, face angelical, traços aristocráticos que ele se lembrava muito bem. Um olhar maldoso e ambicioso sempre presente no olhar. Regulus se lembrava dela da sua época de infância, época essa em que uma menina ia ao castelo, no mínimo, uma vez por semana para brincar com Narcisa. A garota mal devia saber de sua existência. Porém, todos têm um primeiro amor. E Regulus teve azar de amar Alecto Carrow.

— É um prazer te conhecer. – ela disse tranquilamente, o encarando nos olhos, pois eram da mesma altura (talvez, ela fosse um ou dois milímetros mais alta). – Como você já deve saber, eu sou Alecto Carrow.

— R-Regulus Black. – ele murmurou, sentindo o rosto ficar de uma cor extremamente vermelha quando ela segurou a sua mão.

Awnt, você é uma graça! – Alecto riu levemente, fazendo com que Regulus corasse mais. – Acho que vamos nos dar muito bem!

Ele também riu. Aquela foi uma das únicas vezes em que havia rido desde que Sirius havia fugido. Regulus queria imaginar... Não, sonhar, que Alecto era uma das únicas coisas que poderiam ter acontecido em toda a sua vida. Que, pela primeira vez em sua vida, alguém além de Sirius iria valorizá-lo e fazê-lo sentir-se seguro. E no que Alecto estava pensando? Bem, ela estava pensando em uma coroa de ouro em sua cabeça, dinheiro em suas mãos e joias em seu pescoço.

***

— Quartos diferentes? – murmurou Regulus, triste, se virando para encarar Alecto, que parecia estar indiferente. – Por que iríamos dormir em quartos diferentes?

Estavam completados exatos sete dias desde que Regulus e Alecto se casaram. Foi um casamento grande, que reuniu diversos líderes políticos. Nos primeiros dias, ela havia se mostrado amável. Era quase como um sonho que havia se tornado realidade. Porém, no quinto, ela se tornou mais distante. Dizia que estava ocupada com assuntos do reino. Ele entendeu perfeitamente, afinal, o seu pai quase nunca estava presente em sua infância devido o seu trabalho. Regulus não se importava. Amava Alecto tão cegamente que apenas queria que ela estivesse ao seu lado, nem que fosse uma vez por dia.

Naquele dia especifico, ela disse que tinha uma surpresa para ele. Regulus ficou animado. Achou que ela iria querer começar uma família com ele. Regulus sempre quis crianças. Ele adorava crianças, sempre as mimava, e sempre quis uma só dele. Ter uma com Alecto, então? Seria um sonho realizado. Porém, ela o levou até um quarto de solteiro (enorme, vazio, assim como diversos outros no castelo) e disse que, a partir daquele dia, iriam dormir em quartos separados.

— Querido, não me olhe assim. – disse Alecto, revirando os olhos. – Eu estou repleta de coisas para fazer, diversos afazeres. E eu estou muito cansada. Não tenho conseguido dormir. Você fica acordado a noite toda, e isso tem me incomodado. Seria melhor se dormíssemos em quartos separados, entende?

— Eu... Eu prometo não fazer nenhum barulho. – Regulus parecia estar quase ao ponto de chorar. – Prometo que irei ficar calado durante toda a noite. Por favor, Alecto, por...

— Eu já disse que não! – Alecto gritou nervosa com os punhos cerrados. – Será que eu vou precisar repetir cinco vezes para que você entenda?!

Ele a encarou, em silencio, em choque, por um momento. Ele não esperava que Alecto tivesse um ataque de raiva tão repentino. Ela, percebendo o que havia dito, respirou fundo e forçou um sorriso doce, colocando a mão esquerda no ombro de Regulus.

Reg, se eu estou fazendo com que durma em um quarto separado, é totalmente culpa sua. – ela explicou tranquilamente. – A culpa é sua de ter nascido com tal doença. Se você tivesse nascido como eu ou o seu irmão, meu amor, talvez você dormisse comigo. Se contente com o fato de que eu vou vir te visitar todos os dias.

Por um momento, Regulus desviou o olhar do rosto de Alecto. Ele mordeu o lábio inferior, pensando melhor no que ela havia dito. A culpa era dele? Bem, essa é uma boa pergunta. Regulus não pediu para nascer com aquela doença. Porém, ele nasceu. Seria egoísta da parte dele querer dormir no mesmo quarto que Alecto, condená-la a seu castigo eterno. Ele suspirou e, em voz baixa, murmurou:

— Compreendo.

— Ótimo! – Alecto exclamou alegre, batendo palminhas. – Fico feliz que entenda! Bem, agora eu tenho que ir.

— Não tem como ficar mais um pouco? – Regulus perguntou, arqueando uma das sobrancelhas. – Por favor.

— Desculpe-me, meu amor, mas, sabe como é. – ela sorriu de lado e lhe deu um beijo na bochecha. – Negócios do reino. Vejo-te mais tarde!

Ele observou Alecto caminhar até a porta, abri-la e lhe lançar um último olhar antes de sair do quarto. Regulus prestou atenção no barulho do salto alto no corredor, até que o barulho fosse sumindo, até que deixasse de existir. Ele suspirou e se jogou na cama, olhando para o teto. Por mais que ele achasse que poderia haver um pingo de esperança em sua vida, as pessoas iriam sempre tratá-lo da mesma forma. Elas iriam sempre se distanciar, no final.

***

Regulus começou a suspeitar quando surgiram pequenos sinais. Boatos rodavam por todo o castelo, boatos que diziam a respeito de homens visitando a rainha Carrow todos os dias. Mas, até aí, tudo normal. Poderiam ser apenas homens envolvidos com política, que iam até o castelo para tratar de reuniões e assuntos referentes ao reino. Porém, ele começou a ficar preocupado quando a sua esposa começou a ir até o seu quarto com marcas roxas no pescoço e em outros locais mais íntimos.

— O que é isso no seu pescoço? – ele perguntou, uma vez.

— Nada demais. – ela hesitou um pouco, antes de responder, passando a mão pela marca roxa no pescoço. – Eu acabei caindo do cavalo.

Ele ignorou a desculpa fajuta e a aceitou. Regulus tentou ignorar esses pequenos sinais. Ele apenas queria passar o seu tempo ao lado de Alecto, mesmo que fosse por pouco tempo e mesmo que ela sempre lhe insultasse das mais diversas formas. Porém, ele começou a ficar verdadeiramente magoado quando marcas de batom começaram a aparecer nas roupas e no pescoço de sua esposa, quando ela ia o visitar durante a noite.

Porém, Regulus estava se sentindo traído. Ele estava se sentindo triste, sabendo que não era o único, sabendo que a sua esposa era infiel a ele, sabendo que todas as palavras no dia do casamento eram apenas mentiras. Simples mentiras, que eram contadas até os dias atuais. Ele achou que já era hora de conversar com ela sobre isso. Afinal, ele queria ouvir vindo dela a verdade. Não queria assumir algo e, depois, descobrir que era mentira.

Regulus estava andando em círculos pelo seu quarto. Ele roía as unhas, ansioso, suando frio. Ele se perguntava se sua esposa estava realmente o traindo. Em busca de algo para distrair a sua mente, Regulus olhou para o quadro que estava no seu quarto. Ele sorriu levemente, se lembrando do fato de que esse quadro foi pintado no dia do seu casamento. Ele parecia mais feliz do que nunca esteve. Foi nesse momento em que, interrompendo os seus pensamentos, Alecto entrou no quarto, fazendo com que a sua atenção fosse desviada.

— Olá, Reg! — Alecto exclamou alegremente, fechando a porta e caminhando até ele e lhe dando um beijo na bochecha. – Como vai?

— B-Bem, eu acho. – ele murmurou, desviando o olhar.

Ele percebeu que havia uma nova marca roxa no seu pescoço. Porém, não só uma marca roxa, mas, sim uma marca de mordida, também. Parecia ser recente. Ele mordeu o lábio inferior, tentando encontrar coragem para dialogar com Alecto. Por fim, ele suspirou e, nervoso, resmungou:

— Alecto, nós precisamos conversar.

— Sobre o que, meu amor? – ela perguntou, arqueando uma das sobrancelhas. – Seja breve, tudo bem? Tenho alguns visitantes.

Visitantes. Ele queria rir, ele queria fazer algum comentário sarcástico ou debochado, como os que Sirius fazia diante as algumas declarações de sua mãe. Porém, ele estava tão nervoso que não conseguiu pensar em nada. Ele respirou fundo e, com certo receio, disse em voz baixa:

— Você está me traindo?

Ele percebeu que ela hesitou. Alecto pigarreou e, por um momento, o encarou com seus frios olhos claros. Ele sentiu como se alguém tivesse lhe jogado um balde de água repleta de gelo. Ele teve a confirmação: ela estava realmente traindo ele. Alecto o encarou por apenas alguns segundos, sendo aquela a primeira vez em que ela não tinha algo para lhe dizer ou justificar algum ato. Por fim, ela forçou uma risada.

— Por que a pergunta? – Alecto estreitou levemente os olhos, desconfiada.

— Apenas me responda. – ele insistiu, mexendo de forma ansiosa em um dos botões do colete. – Por favor.

— Eu não estou te traindo. – ela rosnou, tentando manter a calma. – Ponto final. Não há motivos para você sequer ter suspeitas.

— Não há motivos? – ele repetiu, cerrando os punhos. – Não há motivos?! Está de brincadeira comigo, não está?! Você só me visita durante o dia, e quando me visita de noite, está sempre com marcas roxas no pescoço! Você começou a ter marcas de batom, Alecto! Como explica isso?!

Nenhum som ecoou pelo quarto, exceto um estalo alto que foi possível de ser escutado em todo o castelo. As mãos de Alecto tremiam e a sua face estava vermelha, assim como o rosto de Regulus, onde agora estava a marca de uma mão. Ele a encarou, em choque, assustado. Ela já havia o insultado diversas vezes, dizia que a culpa era dele. Ele aceitava. Porém, ela nunca foi agressiva com ele, nunca sequer havia levantado a mão. Aquela foi a primeira vez.

— E se eu estiver te traindo?! – ela gritou de forma ameaçadora. – O que você irá fazer contra isso?! Nada! E sabe por quê?! Por que você não tem nenhuma importância! Não tem importância na vida de nenhuma pessoa nesse lugar! Acha mesmo que Sirius se importava com você?! A culpa é sua dele ter fugido!

As lágrimas começaram a se reunir nos olhos de Regulus. Céus, nem a sua mãe conseguia ser tão cruel ao falar dele. Alecto, percebendo que ele ia começar a chorar, revirou os olhos e saiu do quarto, irritada, fechando a porta com um estrondo. Regulus encarou a porta por um momento, as lágrimas descendo por seu rosto. Seu pai havia lhe ensinado a não chorar. Sirius havia lhe ensinado que, em algumas vezes, chorar era bom para aliviar as dores da alma. Ele se sentou no chão e enterrou o rosto nos joelhos, sem se importar se chorar era certo ou não. Era a única coisa que ele queria fazer naquele momento.

Enquanto isso, Alecto, estressada, caminhava pelo vazio corredor. Os funcionários não ousaram falar alguma coisa, sabendo que, quando ela estava irada, era impossível dialogar com a mulher. Ela resmungava frases odiosas e, quando viu Rabastan Lestrange em sua frente, cruzou os braços, irritada. O homem, percebendo a irritação dela, arqueou uma das sobrancelhas.

— Está tudo bem com você? – ele perguntou curioso. – Está com tanta raiva que parece que acabou de voltar de uma guerra que perdeu.

— Não é nada, apenas o meu estúpido marido. – ela revirou os olhos, sorrindo de lado e agarrando o braço dele, que também sorriu maliciosamente. – O que acha de esquecer isso e ir para o quarto? Senti falta de você e desses lábios.

Rabastan retribuiu o sorriso, colocando a mão direita ao redor da cintura dela. Os dois então começaram a caminhar na direção do espaçoso quarto de casal, que, por mais que pertencesse a uma única pessoa, nunca estava verdadeiramente vazio. Nunca.

***

Quando Bartemius Crouch Junior (vulgo, Barty) foi visitar o castelo da família real de Azkaban, ele ficou surpreso com o clima tenso. Barty já estava acostumado com o clima que já existia na casa dos Black, porém, esse clima havia piorado de uma forma intensa. Ele andou pelos largos e vazios corredores por algum tempo, até que encontrou Alecto Carrow. Ele franziu a testa. Não sabia muito sobre ela, exceto o fato de que era esposa de um dos seus melhores amigos. Alecto lhe lançou um sorriso largo.

— Olá! – ela exclamou alegremente, se aproximando dele. – Eu te conheço?

— Hum... Não tenho certeza. – Barty segurou mais forte a bolsa de couro que trazia consigo. – Eu sou um amigo de Regulus. Sabe onde fica o quarto dele? Vim fazer uma visita.

— Tem certeza de que vai querer o quarto dele? – Alecto sorriu de lado, se aproximando dele, de forma que os seus lábios quase se tocassem. – Eu conheço outro lugar que você iria adorar passar a noite...

— Sim, eu tenho certeza. – Barty se afastou dela, franzindo a testa, se sentindo desconfortável quando ela o olhou de cima a baixo.

— É o primeiro quarto do corredor à esquerda. – ela rosnou com desprezo.

Alecto então cruzou os braços, indignada, e começou a se afastar. Barty lançou a ela um último olhar antes de caminhar na direção do quarto que ela falou. Ele abriu a porta, entrou no quarto e fechou, olhando ao redor logo em seguida. Barty franziu a testa ao perceber que Regulus estava na espaçosa cama, embaixo dos lençóis, olhando para o teto de uma forma melancólica. Era possível perceber um hematoma no seu rosto.

— Regulus, você está péssimo! – Barty arregalou os olhos, surpreso, se aproximando da cama. – O que aconteceu?

— Nada. – ele resmungou, se sentando na cama e olhando com um olhar triste para as mãos. – Há não ser o fato de que eu tenho mais chifres do que todos os bois do reino juntos.

— Alecto não é uma boa esposa, certo? – Barty suspirou, arqueando uma das sobrancelhas e sentando ao lado do amigo.

Regulus ficou em silêncio, porém, Barty encarou aquele silêncio como uma confirmação. Ele não precisou fazer mais perguntas quando o Black começou a chorar em silêncio. Barty observou o amigo chorando, sem saber exatamente o que fazer. Poucos minutos após, ele, levemente animado, tirou um pequeno frasco da bolsa que carregava. Regulus o encarou confuso.

— O que é isso? – ele perguntou, sem entender.

— Eu não fui para o país vizinho por qualquer motivo. – Barty sorriu levemente. – Eu fui estudar medicina. Aprimorar os meus conhecimentos. E... Digamos que eu achei uma fórmula que irá permitir que você consiga dormir.

Regulus encarou Barty, sem reação. Ele não tinha palavras. Ele não conseguia sequer raciocinar. Ele nunca esperou que pudesse haver um momento como aquele. Regulus piscou algumas vezes para ter a certeza de que não era um sonho. Após o choque, ele abraçou fortemente Barty, que retribuiu com um sorriso leve.

— Obrigado. – murmurou Regulus, o abraçando ainda mais forte. – Muito obrigado.

— De nada. – Barty retribuiu o abraço. – Apenas não tente acrescentar mais ingredientes ou aprimorar, tudo bem? Os resultados podem ser fatais para uma pessoa comum.

Naquele momento, Regulus teve uma ideia. Poderia ser perigosa, poderia ser doentia. Mas, ele não estava se importando. Aquela poderia ser a sua chave para a liberdade. Ele lançou um rápido olhar para o frasco em sua mão. Regulus sorriu de lado e murmurou:

— Pode deixar comigo.

***

— Alecto?

No momento em que seu nome fora chamado, ela estava escrevendo uma carta para um de seus amantes. A referida se virou e, surpresa, arqueou ambas as sobrancelhas, enfiando o papel com as palavras repletas de luxúria na gaveta da escrivaninha, percebendo que quem se encontrava na porta era o seu esposo, Regulus Black. Ela franziu a testa e passou a mão pelo cabelo sedoso, se levantando da cadeira e se colocando de pé, ajeitando a roupa, levemente amassada como resultado de seu desleixo momentâneo.

— Regulus? – ela caminhou até ele em passos pesados, os punhos cerrados. – O que está fazendo aqui? Já conversamos sobre sair do quarto, querido.

— Eu sei, eu... – Regulus hesitou um pouco nas suas palavras, desviando o seu olhar dos olhos maldosos e desconfiados dela. – Olhe, eu apenas queria me desculpar.

— Pelo quê, meu anjo?

— Pela briga do outro dia... Em que você me ba... B... B-B...

— Em que eu fiz o quê? – havia certa diversão cruel na expressão e voz de Alecto naquele momento quando ela segurou com firmeza o rosto do homem, fazendo com que ele a encarasse diretamente nos olhos, medo claro em seu olhar. – Vamos, Reg... Não posso aceitar suas desculpas se não falar o que aconteceu! Não consigo recordar.

— Em que você me b-bateu. – A voz dele era pequena, humilhada, assustada, como a de um garotinho que acabara de ser repreendido por seu pai.

— E por que eu te bati?

Ela estava se divertindo com isso, não estava? Ah, como estava.

— P-Porque eu disse que você estava me t... T-Traindo.

— Você me magoou muito, Reg. – Sua voz saiu serena, tranquila, e, nesse ponto, algumas lágrimas já se concentravam nos olhos dele. – O que se diz quando se magoa uma pessoa que te ama e cuida de você? Hum?

— D-Desculpas...

— Bom menino. – ela sorriu de lado e soltou o seu rosto, colocando as mãos na cintura. – Era apenas isso que queria fazer aqui?

— E-Eu... – Regulus engoliu em seco por um momento. – Eu trouxe uma coisa para reforçar as d-desculpas. Pedi uma t-torta na cozinha.

— Sério? – Alecto, surpresa, arqueou ambas as sobrancelhas, finalmente percebendo um prato nas mãos de Regulus, onde um pedaço de torta e um garfo se encontravam. – Que gentileza a sua! Bem que eu precisava de algo para comer agora, estava ficando com fome.

Ele não disse nada, apenas sorriu levemente e estendeu o prato com a torta. Um sorriso surgiu no rosto de Alecto ao segurar o objeto. Ela caminhou até a cadeira de sua escrivaninha e se sentou, contemplando a torta por um momento antes de pegar o garfo e cortar um pedaço, o colocando na boca. Regulus arregalou os olhos, mordendo o lábio inferior, ansiosamente esperando com que alguma coisa acontecesse. Alecto fez uma careta e, com esforço, engoliu o pedaço que já havia colocado na boca. Regulus fez um esforço para esconder o sorrisinho que queria dar.

— Esse negócio está simplesmente horrível! – ela exclamou, irritada. – Ugh, eu tenho que substituir esses cozinheiros, eles...

Antes que Alecto conseguisse terminar a sentença, uma expressão de choque assumiu o seu rosto. Suas mãos tremiam como se o ambiente estivesse gelado, apesar do calor agradável, e o garfo em sua mão caiu no chão. Sua boca se abria e se fechava diversas vezes, como se ela tentasse reproduzir algum som, porém, não conseguisse. Alecto levou seus dedos trêmulos até a garganta e a apertou levemente, engasgos e soluços abafados saindo da mesma. Tentou se levantar da cadeira, todavia, acabou por cair no chão, uma das mãos delicadas seguras na escrivaninha onde havia tentado se apoiar.

Era como se alguém tivesse enfiado uma faca em seu pulmão e a lâmina permanecesse ali. A sua garganta queimava; alguém havia ateado fogo nela. As palavras que tentavam sair apenas arranhavam ainda mais a sua já machucada laringe, fazendo cortes pequenos, contudo profundos, que deixavam com que o sangue escorresse. Alecto tentou forçar tossidas e vômitos em uma tentativa de colocar o que havia a intoxicado para fora de seu corpo; no entanto, em sua tentativa, sua boca acabou por se encher do gosto de metal que ela havia provado apenas uma vez em sua vida ao acidentalmente quebrar a boca. O sangue escorria por seus lábios e o seu rosto estava vermelho, tanto pelo líquido quanto pela falta de ar. O corpo todo de Alecto tremia agora. Alguém se ajoelhou a sua frente e quando ela fez esforços para ver quem era, percebeu que era Regulus, com um sorriso sincero no rosto.

— Funcionou! – ele exclamou, alegre. – Funcionou mesmo! Céus, eu não acredito, aquelas noites realmente valeram a pena... Enfim. Foi bom ter te conhecido, Alecto. Pelo menos na época em que você não era uma completa escrota.

— Regulus. – Alecto murmurou, a voz rouca, a garganta quase fechando. – Eu vou mudar. Me traga um antídoto. Agora.

— Não sou capaz de cair em suas mentiras novamente. – A voz dele era fria e, pela primeira vez, Alecto foi capaz de ver ódio naqueles olhos. – Você é uma mentirosa. Uma completa babaca. E quer saber de algo? Eu te odeio. Te odeio como nunca odiei alguém. Se eu pudesse estar presente no inferno para ver você sofrendo, eu estaria com todo o prazer. – ela o encarou com o rosto pálido, em choque. – Ah, querida, não me olhe assim. Eu estou repleto de coisas para fazer, diversos afazeres. E estou muito cansado. Não tenho conseguido dormir. Você passa a noite inteira fazendo barulhos altos, e isso tem me incomodado. Seria melhor se um de nós fosse embora mais cedo, entende?

Alecto arregalou os olhos, reconhecendo o que ele havia dito. Foram as exatas palavras dela quando o colocou em um quarto separado. O medo foi substituído por ódio cego no rosto da mulher, que, por um momento, parou de se importar com a sua morte.

— Seu filho da puta. – ela rosnou em um de seus últimos esforços. – Desgraçado, inútil, imprestável, fodido. Não irá conseguir governar essa merda sem mim.

— Ah, meu anjo, eu vou sim. – O sorriso em seu rosto era debochado. – Mas não se preocupe. Farei questão de que você tenha um belo enterro.

A mulher ia retrucar, ela sabia, ele sabia. Porém, a morte levou sua alma para longe de seu corpo, na direção das chamas do inferno, muito antes dela conseguir falar o que desejava. Regulus colocou dois dedos no pescoço dela, checando a batida cardíaca, e a única coisa possível de se sentir era o completo vazio. Alecto Carrow Black havia oficialmente morrido.

E Regulus nunca havia se sentido tão livre em sua vida.

***

O enterro de Alecto ocorreu apenas alguns dias depois de sua morte, que, hipoteticamente, havia sido de envenenamento causado por uma pessoa desconhecida (que todos buscavam no reino inteiro). Diversas pessoas de diversos reinos estiveram presentes. Regulus descobriu a si mesmo um ótimo ator: cumprimentava as pessoas com acenos e olhares falsamente tristes, fingia chorar em seus ombros. Enquanto o caixão descia pelo buraco, ele sorria internamente, o preto de suas roupas simbolizando um falso luto que durou aproximadamente uma semana no reino inteiro. Mesmo após o fim da “tristeza”, Regulus continuou a vestir preto. Era uma lembrança do que foram os dias mais felizes de toda a sua vida.

Com a morte de sua esposa, Regulus assumiu o controle do reino e iniciou o seu governo. Eram extremamente claras as diferenças de sua forma de governar em comparação com a de sua falecida companheira: Alecto era, no mínimo, tirana. Ela verdadeiramente não se importava com o que ocorria, com quem morria, com as doenças e com a fome. Alecto estava interessada apenas em ter comida fina em sua mesa e joias em seu pescoço. Regulus, ao contrário de sua antecessora, começou a trabalhar em medidas de ajuda para aqueles que sofriam de fome e doenças. Quase toda semana, os cidadãos de Grimmauld tinham notícias de uma nova reforma ou um novo parque em construção. Ele se tornou um governante querido pela população.

Em certa noite, Regulus estava em seu escritório de madrugada, os olhos fixos no papel a sua frente, uma pena em sua mão sendo molhada de tinta a cada cinco minutos. Ele estava cansado, isso era verdade. Precisava de uma noite de sono. Todavia, o jovem precisava terminar o que escrevia e precisava fazer isso rapidamente. Era um anúncio de que iriam distribuir pão para todos os moradores de Grimmauld. Ele parou por um momento, encarando a folha e suspirando, passando a mão pelo cabelo escuro. Alguém bateu na porta e Regulus resmungou um alto:

— Pode entrar, a porta está aberta.

— Vossa alteza. – Um dos servos do castelo murmurou e, quando Regulus se virou, a sua face parecia pálida. – Eu... Tenho uma notícia.

— O que ocorreu? – ele franziu a testa, confuso.

— É sobre o seu irmão. Sirius Black. – Regulus arregalou os olhos quando o homem pronunciou o nome do Black mais velho com pesar. – Ele fugiu há um bom tempo... Porém, encontraram escombros de uma mansão completamente queimada no interior do reino. Não acharam corpo algum, mas havia um quadro que conseguira sobreviver. Era a pintura de Sirius com diversas mulheres. Vasculharam o resto do local, tentando encontrar mais pistas, e acharam mais objetos que pertenciam a ele.

— N-Não. – Regulus sussurrou, as mãos tremendo. – N-Não pode ser possível...

— Eu sinto muito, vossa alteza. – O homem murmurou com verdadeira dor e tristeza na voz, erguendo um pedaço de papel. – Acharam essa carta, também... Parece que ele ia te enviar, mas morreu antes.

Trêmulo, Regulus pegou o papel das mãos do servo e começou a ler:

“Querido irmão.

Tenho tentado te mandar cartas há muito tempo. Mandava-as, porém, nunca recebi uma resposta. Ficava preocupado, acreditava que algo de ruim havia ocorrido. Com o tempo, desisti. Todavia, quero escrever essa carta para tentar te mandar. Uma última tentativa. Torço para que me responda.

Como vão as coisas? Soube que está casado com Alecto Carrow... Tome cuidado, por favor. As notícias que soube a respeito dela não foram exatamente as melhores. E sua saúde? Os médicos do reino conseguiram algum avanço em uma possível cura para a sua doença? E o seu remédio, tem tomado corretamente? Espero que, sem eu aí para te lembrar, não esqueça!

Não consigo encontrar outra forma de dizer que sinto sua falta, irmão. Te amo. Tentarei voltar algum dia para te reencontrar. Sinto muito por ter te deixado... Me desculpe por todos os meus erros.

Me responda, por favor.

Do seu irmão,

Sirius Black.”

A realidade atingiu Regulus como um balde de água fria. Alecto provavelmente havia escondido todas as cartas que Sirius o mandava. Desgraçada. Ele passou dias, semanas, meses sofrendo com o pensamento de que o seu irmão poderia ter morrido. A única pessoa que realmente se importava com ele podia ter morrido. Ela sabia disso, ele havia contado. Desgraçada. As palavras ficaram engasgadas na garganta de Regulus, lutando para sair, fazendo cortes em sua garganta. Foi assim que Carrow se sentiu, então?

— Vossa alteza...?

— Vá embora.

— Vossa alteza...

— Vá embora! – Regulus gritou, assustando o servo. – Por favor.

O homem o encarou por alguns segundos antes de sair e fechar a porta. Regulus ficou ali, parado, encarando o vazio. Seu irmão morreu. Sirius morreu. Sirius morreu, Sirius morreu, Sirius morreu... Um grito alto e quebrado escapou de seus lábios. Um grito quebrado, dolorido. Um grito de raiva. Um grito que estava preso há muito tempo. Ele gritou mais. Gritou até a voz parecer sumir de sua garganta. As lágrimas quentes começaram a escorrer por seu rosto. Os gritos repentinamente se tornaram soluços. Seu corpo sacudia. Regulus mal percebeu que, naquele ponto, já estava ajoelhado no chão, segurando firmemente a carta de seu irmão.

Era uma visão de dar dó.

Ele não aguentava, não aguentava. Que vida de merda. Quando finalmente parecia que iria conseguir ser feliz... Quando finalmente havia encontrado uma fórmula para dormir... Quando finalmente conseguiu se livrar da maldita da sua esposa... Caralho. Seus olhos vermelhos miraram o frasco que continha parte do que havia reservado da fórmula para conseguir dormir naquela noite. Regulus teve uma ideia. Uma ideia doentia, uma ideia perigosa. O homem olhou para a carta e respirou fundo, alguns soluços ainda teimando em escapar. Regulus estava determinado quando se levantou do chão e amassou o papel que antes se encontrava na escrivaninha, o arremessando para um local aleatório do quarto, pegando outro e começando a escrever outro anúncio.

Ele pretendia reencontrar Sirius, de uma forma ou de outra.

***

O castelo estava cheio naquela noite.

Todos da cidade foram convidados para o jantar que ocorreria: iriam servir sopa quente naquela noite de inverno. As pessoas animadamente conversavam enquanto esperavam a sopa ser servida, apesar de estranharem o fato de que Regulus Black não estava presente naquela noite. Ele sempre estava presente nos jantares que promovia para o povo. Sempre. Porém, havia dito que não estava se sentindo bem e preferiu ficar em seu quarto. Apesar de tristes, os cidadãos compreenderam e desejaram melhoras para o governante tão querido. Outro fato estranho desse específico jantar: todos apenas poderiam se alimentar quando literalmente todas as pessoas presentes pegassem a sopa.

Finalmente foi anunciado que a sopa poderia ser servida. Uma fila foi formada. Cada um pegou um jarro e procurou assento. Crianças, idosos, homens, mulheres, foram todos muito bem servidos. Servos também ganharam a sua parte e, quando os cozinheiros finalmente se serviram, foi permitido tomar a sopa. Conversaram, elogiaram os cozinheiros. Não demorou muito para que as pessoas começassem a ficar sonolentas. Ele havia modificado o medicamento dessa vez: a morte não foi sofrida, ao contrário do falecimento de Alecto. Quem o tomasse iria sentir um sono profundo e, quando fechasse os olhos, partiria em paz, sem sofrimento algum.

O castelo estava cheio naquela noite.

Cheio de cadáveres.

Regulus Black encarou o frasco em suas mãos. Ele havia separado um pouco do medicamente (veneno) para tomar. Ele ia reencontrar Sirius. Iria vê-lo, abraça-lo, chorar em seu ombro. Ele iria reencontrar Sirius.

“Faça isso por Sirius.”

Ele abriu a tampa do frasco. O cheiro forte do veneno subiu até suas narinas. Inalou aquela fragrância como se fosse o doce cheiro das rosas.

“É totalmente culpa sua.”

Levou o líquido até sua boca e sentiu o mesmo escorrer por sua garganta. Tinha um doce adocicado, mais adocicado que o seu remédio para dormir.

“Você não tem nenhuma importância.”

Colocou o frasco no chão, de forma que um leve e discreto barulho do vidro contra a madeira pudesse ser escutado.

“A culpa é sua dele ter fugido.”

Regulus se aconchegou nas cobertas de sua cama e sentiu seus músculos amolecerem. O veneno estava começando a surtir efeito em seu corpo. Deitou a cabeça no travesseiro e fechou os olhos.

Ele nunca dormiu tão pacificamente.

Grimmauld se tornou uma cidade fantasma. Regulus Black levou consigo toda a verdade e segredos para o túmulo. Apesar de tudo, ele se arrependeu. Havia outras saídas. Ele poderia ter insistido. Porém, preferiu o caminho mais fácil. Pensar nisso não foi o que fez com que ele se arrependesse:

Regulus nunca encontrou Sirius do outro lado.


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