Uma vida feliz para Arlequina? escrita por Dani Tsubasa


Capítulo 26
Capítulo 26 – Uma chance




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/707185/chapter/26

Capítulo 26 – Uma chance

— QUE?! – As duas exclamaram em choque.

Por longos segundos o silêncio só foi quebrado por murmúrios de Lucy e Joe ou Bud e Lou. Então Harley emitiu um grito de alegria e começou a bater palmas e surtar enquanto Pam permanecia de olhos arregalados e boquiaberta. Ela respirou fundo e pareceu pensar sobre aquilo. Então sorriu.

— Me lembro da última vez que isso aconteceu há mais de um ano e meio – falou olhando para Harley – Parabéns, Seli! – Ela finalmente falou sorrindo.

— Mas... E se ele não quiser?!

— Não acho. Pode ficar chocado e apreensivo, afinal, apesar de ser o Batman, ainda é um homem. Mas eu duvido que ele vá rejeitar você sendo responsável e correto como é.

— E você tinha que ver hoje na delegacia! Ele ficava olhando pra nós quando estávamos saindo como se quisesse perguntar por algo ou alguém, mas você sabe como ele é formal, não disse nada, mas ele te ama!! Naquele dia que o Esquadrão veio aqui e o enxerido do Boomerang não tirava os olhos de você, o morceguinho estava se segurando pra não matá-lo! – Harley exclamou batendo palmas novamente, fazendo Lucy e Joe rirem e imitarem o gesto – Veja! – Ela disse abraçando as crianças novamente e sorrindo – Você já tem treinamento. Daqui alguns meses vai ter uma criatura fofinha e doce como eles dois, e vai ser sua!!

Harley estava tão feliz que se não estivesse amamentando e morando com Pam, a Hera diria sem dúvida que ela estava bêbada.

— Não sei...

A gata abraçou os joelhos com uma expressão angustiada.

— Não está pensando em fazer nada? – Pam perguntou apreensiva.

— Claro que não! É meu bebê! Ainda que o Bats não o queira, eu vou tê-lo e cuidar dele – ela suspirou – Nunca me imaginei numa situação dessas – falou fechando os olhos e apoiando a testa em uma mão – Nunca me imaginei grávida. Logo não vou poder usar esse uniforme por bons meses – falou pensando nas saudades que sentiria daquilo.

— Não demora tanto – Harley disse – Você vai ficar tão feliz que nem vai sentir o tempo passar. E quando sentir o bebê se mexer dentro de você pela primeira vez vai até esquecer que é a Mulher Gato. Vai, olha pra essas duas fofuras e melhora essa cara! – Harley falou ainda sorridente indicando Lucy e Joe, que se entretiam com os brinquedos coloridos espalhados no chão.

Selina fez o que ela disse e finalmente conseguiu sorri ao se imaginar com seu bebê dali alguns meses.

— Falando no Batsy... – Harley começou com aquele tom de voz de quando tentava manipular alguém, que Pam conhecia muito bem – Você bem que podia nos dizer quem é ele.

— Não me enche com isso.

— Não vai dizer que vocês vão pra cama de máscara – Pam riu.

— Não mesmo.

— Droga... – Harley disse ao perceber que ela realmente não falaria – Mas quando o seu bebê nascer vamos poder olhar o rostinho dele e deduzir de quem se trata – Harley riu novamente.

— Nem sonhe com isso.

******

— Preocupado, senhor Bruce?

— Pensando...

— Pensando numa certa gata de olhos verdes? Se for procurá-la, seja prudente.

— É normal ela sumir de repente. Me pergunto se apenas não fez isso de novo, Alfred – ele falou enquanto olhava as estrelas do céu noturno pela janela – Estava tudo bem dois dias atrás. Pensei que apareceria hoje depois que eu voltasse da delegacia ou que já estaria aqui. Ou que estaria em sua casa, mas ouvi apenas os gatos lá dentro.

— Ela é ladra há um bom tempo. É de se esperar que sua proposta de mudar de vida, ainda que muito boa, seja assustadora para ela. Deve estar pensando a respeito sozinha em algum lugar. Acredita em Selina, senhor Bruce? – O mordomo perguntou, fazendo o homem quem olhava pela janela virar-se para encará-lo.

— Sim. Eu sei que ela pode fazer isso, ou nunca teria proposto.

— Então apenas lhe dê seu tempo para pensar. Ela vai voltar quando for o momento certo.

******

— Como estão os seus novos capangas agora que você é a rainha de Gotham? – Selina perguntou enquanto arrumavam a casa.

— Alguns deles foram embora. O Batman falou com todos eles pouco depois daquele dia triste.

Selina e Pam souberam imediatamente que ela se referia ao enterro do Coringa.

— Alguns não aceitaram deixar a vida de crimes pra trás, ficaram com medo e foram embora. Os que ficaram relutaram bastante no começo, eles parecem ter tanto medo do Batsy quanto tinham do meu Pudinzinho, mas acabaram cedendo. O morcego ofereceu ajuda pra que comecem do zero e se capacitem pra serem simplesmente seguranças nossos. Jonny também aceitou ficar.

— Não vai se sentir vigiada demais? Eu ficaria louca sabendo que há um monte de seguranças ao redor da mansão. E não garanto que alguma das plantas não tentaria comê-los.

— Não... E não vão ficar o tempo todo, vão revezar e nem sempre vão ficar lá, mas por perto.

Conversavam baixo, pois era noite e as crianças já dormiam.

— Você não vai contar pra ele? – Harley perguntou – Não se veem há quantos dias? Cinco?

— É melhor você falar com ele logo. É o Batman, em algum momento vai descobrir que você se esconde aqui parte do dia. Tire logo esse peso dos ombros, sua preocupação não faz bem nem pra você, nem pra ele, nem pra o bebê.

— Vocês podem ter razão... – ela suspirou – Vou vê-lo ainda essa noite.

Duas horas depois Selina se foi e Harley pegou uma caixa preta dentro do guarda-roupa, colocando-a na cama e a abrindo. Pam entrou no quarto carregando uma de suas mudas num vaso pequeno, sorrindo e conversando com a plantinha como se ela fosse um bebê. Observou Harley quando ela fitou o interior da caixa com tristeza. Seu uniforme estava ali, além do coldre, o revólver e o revólver roxo do Coringa. Harley pegou os dois.

— Tem certeza que não tem munição nisso? – Perguntou, deixando a plantinha em cima da mesa com cuidado e sentando-se ao lado de Harley.

— Tenho. E como o Batsy disse... Se Floyd se comportar muito bem, vão deixá-lo praticar tiro por esporte num local apropriado e com alvos comuns de madeira ou borracha. E o mesmo vale pra nós... Ele me deu essa arma no mesmo dia que pegou a dele – falou agora se referindo ao Coringa e deixando Pam ver que os palhaços dourados que enfeitavam o cabo das duas armas eram idênticos – Ele mandou fazer parecida com a dele – Harley sorriu – Eu ficava tão feliz quando ele era assim, carinhoso, quando demonstrava que eu era dele e que se importava, ainda que no fundo não se importasse de verdade.

— O que vai fazer com essas coisas, Harley?

— Eu não sei... Eu vou guardar.

— Ficar olhando pra isso e se lembrando não vai ser pior?

— Eu não vou ficar olhando, só vou guardar. Ainda é um pedaço da minha vida aqui, mesmo que não tenha sido perfeito, mesmo com tantas coisas ruins, eu ainda fui feliz nele.

— Você vai mesmo dirigir aquele carro do Coringa por aí? As pessoas têm medo dele.

— Talvez possam se acostumar depois de um tempo. Ou eu posso pintá-lo, tem mesmo alguns arranhões. Eu quero fazer reformas na casa também. Acho que vai me ajudar a não ficar pensando em tudo isso.

— Isso é uma boa ideia.

— Pam...

— O que, docinho?

— Você dorme lá com a gente na primeira noite? Eu não vou me sentir feliz ou à vontade sozinha lá com as crianças e as hienas. Se você estiver ao menos no primeiro dia posso me sentir mais em casa – ela pediu fechando a caixa e a guardando antes de se sentar na cama novamente.

— Claro que sim, Harley.

A Hera abraçou a amiga ao ver seus olhos azuis ficarem perdidos e assustados mais uma vez.

— Sempre que precisar, sabe que pode e deve me chamar.

******

— Achei que não ia vir mais.

Selina se assustou ao ouvir a voz de Bruce atrás dela. Como não o havia escutado entrar? Continuou fitando a lua pela janela do quarto escuro, sem saber como encará-lo, ainda que ele não soubesse do que a estava afligindo.

— Selina, onde esteve? – Ele perguntou baixinho aquela voz que a seduzia.

Ele pôs as mãos com cautela em sua cintura e beijou suavemente seu pescoço, e pronto! Ele a havia derrubado. A gata suspirou e se encostou mais nele, permitindo que ele a abraçasse pelas costas.

— Me desculpe, bonitão. Coisa de mulher.

— Devia ter ficado aqui. Eu podia ter cuidado de você.

— Não foi isso. Foi algo diferente dessa vez. E sei me cuidar, Bruce.

— Alfred não viu você entrar.

— Sou uma gata, sabemos como entrar e sair dos lugares sem que os olhos dos outros percebam ou entendam como.

— Não vai me dizer porque desapareceu? Achei que tivesse simplesmente recusado minha proposta e ido embora outra vez.

— Eu não tenho mais vontade de ir embora quando estou com você. Mas não vai me dizer porque já chegou aqui tentando me seduzir?

                - Eu tenho que te propor outra coisa.

                Bruce a fez se virar para ele, ficando em alerta ao ver que ela estava alterada e que lágrimas brilhavam em seus olhos.

— Você está bem? – Ele perguntou com calma.

Ela inspirou fundo, não sabendo o que falar uma vez que ele percebera sua agitação.

— Me diga o que há de errado.

Abraçou a mulher e beijou sua cabeça, apesar de só sentir o couro preto do uniforme contra seus lábios.

— Selina...

Selina fechou os olhos, tentando absorver o máximo possível de sentimento naquele abraço, por temer que pudesse ser o último. Nunca se imaginara naquela situação, ela, a mulher gato, presa a outra pessoa, admitindo para si mesma que não estava pronta para perdê-lo, e que não queria criar o filho sozinha.

— Bruce... – ela falou baixinho em tom choroso – Logo eu não vou poder usar mais esse uniforme.

— Minha proposta não foi tão longe assim.

— Não é isso, seu Bat-bobo – ela disse fazendo ele rir baixinho – É que o nosso filho não vai deixar.

Pronto, havia dito. Agora o perderia para sempre ou sua vida mudaria completamente.

— Selina... – foi tudo que ele conseguiu dizer ao arregalar os olhos e se afastar para olhá-la – Aquela noite...

                Ela balançou a cabeça em afirmação, deixando as lágrimas começarem a escapar de seus olhos verdes. Bruce as secou delicadamente e sorriu, surpreendendo a mulher ao beijá-la longamente.

                - Isso não vai ser um problema – ele falou baixinho ao abraçá-la outra vez – Se você aceitar se casar comigo senhora Wayne.

                Dessa vez foi ela a arregalar os olhos com aquelas palavras e com a caixinha de veludo negro que ele colocou em suas mãos em seguida, abrindo-a e revelando dois anéis dourados, com a frase “I am yours” gravada no interior.

                - Bruce... – ela sussurrou, pois sua voz fugiu naquele momento.

            - Se um dia nós brigarmos e resolvermos tirar nossas alianças por algum motivo, vamos ver essa frase e nos lembrar de tudo que passamos e vai ficar tudo bem de alguma forma.

            - Até nisso você pensou... E nem aconteceu nada ainda.

                - Nem vai acontecer se você não me der uma resposta. Ou eu posso dizer que já aconteceu até demais - ele sorriu.

Selina sentiu a mão forte dele passar por sua barriga, a acariciando de leve. Ele tinha um sorriso sincero, que a deixou tão feliz que por um momento esqueceu de todos os seus medos.

— Não está zangado?

— Por que estaria se a culpa não é só sua? É o nosso filho. E vamos cuidar dele juntos. Gotham ainda não é o paraíso, mas sobre o que você disse... Talvez seja a hora de Batman e Mulger Gato serem felizes, como pessoas normais, como Bruce e Selina.

Bruce observou a expressão séria dela e entendeu sua preocupação.

— Teme que como Bruce eu possa colocar nossos filho em risco tanto quanto Batman? Talvez isso seja verdade, mas tomaremos as precauções. O Coringa também foi responsável pelo que aconteceu daquela vez, com o Protolo 10. Ele não está mais aqui, Selina, nós podemos tentar. Eu vou cuidar dele, e de você – falou olhando em seus olhos e pousando as mãos em seus ombros.

Selina sorriu como ele não a via fazer há muito tempo.

— Isso é um sim?

— Claro que sim, Bruce! - Ela disse ao agarrá-lo pelo pescoço e se beijarem.

Por dias ela se preparara para o pior, esperando frieza ou rejeição, e agora ele a havia surpreendido mais uma vez, lhe dando tudo que ela sempre quis, uma família, sua família, uma chance de ser feliz como humana, a chance de uma vida normal.

— Depois de tudo... Tantos roubos, aprontações, até te machuquei algumas vezes – ela disse o enlaçando pelo pescoço, enquanto ele a segurava pela cintura, e ela se lembrava das vezes que o atacara com suas garras metálicas – Eu deveria pagar por tudo isso – ela desviou o olhar triste.

— Você não já pagou? Estando sozinha por todo esse tempo?

— Não fiquei sozinha, tenho meus gatos. E no último ano tive Lucy e Joe.

— Mas não é a mesmo coisa, não é? – Perguntou, a deixando pensativa – Você não é uma pessoa má, Selina. É uma gata travessa, tão machucada pelo mundo quanto eu ou qualquer um lá fora. Se mesmo Arlequina e Hera Venenosa estão tento outra chance, além de todo o Esquadrão Suicida... Por que você não? Não irá a Arkham, nem a lugar algum – sussurrou para ela beijando sua testa – Fique tranquila, mamãe.

Ela finalmente sorriu, sentindo seus olhos se encherem de lágrimas, dessa vez de felicidade. O encarou novamente e uniu seus lábios. Andaram pelo quarto sem desfazer o beijo, deixando-se caírem sobre a cama e horas depois acordaram nos braços um do outro, protegidos pelos lençóis uma vez que suas roupas e o uniforme de Selina estavam no chão. Bruce beijou sua testa e a puxou para mais perto, enquanto ambos observavam os anéis dourados em seus dedos com um sorriso de pura felicidade. Selina se aconchegou mais a ele, ronronando quando deitou em seu peito e ele a abraçou.

— Eu te amo, meu morcego - ela sussurrou de olhos fechados.

— Eu também, Selina - ele sorriu - Vamos conversar depois...

— Vamos sim. Agora durma, papai.

Bruce sorriu, fechando os olhos e se permitindo dormir abraçado a ela.  Selina o observou ressonar e acariciou seu rosto com um sorriso. De repente pensou em Harley e sentiu uma pontada de tristeza. Com duas crianças... E com um coração tão cheio de amor. Apesar de ser uma vilã, Harley tinha um coração sincero e um amor verdadeiro por aqueles que amava. Ela merecia ser feliz, com uma família completa, não crias seus filhos sozinha, mas a dolorosa realidade é que era impossível. Ela amara a pessoa errada, e agora estava pagando o preço. Se tudo que Bruce havia lhe contato sobre Harleen Quinzel era verdade, ele tinha razão, a palhaça era uma vítima do Coringa, como o Batman e o próprio Bruce também eram. Tudo que podia fazer era esperar que a amiga fosse feliz assim mesmo e ajudá-la no que fosse possível. Sentiu Bruce abraçá-la mais forte, mesmo dormindo. Sorriu e o beijou suavemente. Olhou uma última vez a lua cheia pela janela, antes de se deixar confortar pelo calor de seu morcego e relaxar.

— Boa noite, bonitão – sussurrou com um sorriso antes de adormecer.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!