Acordei com os braços de Mike me apertando. Ele estava tão preso a mim que eu mal conseguia me soltar. Ele continuava dormindo depois que me libertei e fui ao banheiro tomar um banho. Minha cabeça doía por causa da ressaca e a água quente me ajudava a relaxar. Sai do banho e entrei no quarto a procura de uma roupa para vestir. Por sorte meu manequim não havia mudado tanto do colegial até hoje e um vestido me serviu. Mike continuava a dormir e eu tinha que confessar que vê-lo dormir na minha cama da adolescência apenas despertava algo selvagem em mim. Tirei aqueles pensamentos de mim e saí do quarto.

Minha mãe estava na cozinha preparando panquecas para o café da manhã. Ela virou-se para mim quando entrei e sentei a mesa.

— Como foi à noite? — ela perguntou fingindo inocência.

— A senhora não podia ter me dado um golpe mais baixo — falei fazendo cara de brava.

— Eu vi que vocês dois só faltavam soltar faíscas — mamãe falou alegre.

— Não fizemos o que está pensando, mamãe. E vamos parar com esse papo, me assusta a senhora ficar me jogando para um cara que nem conhece — eu falei rindo.

— Claro que conheço. Ele é baterista de uma banda muito famosa.

Eu fiquei boquiaberta com a esperteza de minha mãe.

— Quem é baterista de uma banda famosa? — Maggie entrou na sala e por um momento vi o sorrisinho de minha mãe sumi e depois reaparecer.

— O namorado de sua irmã — mamãe falou orgulhosa — Minhas duas filhas namorando com famosos.

— Eu não estou namorando, mãe, sou noiva — Maggie a corrigiu grosseiramente, depois olhou para mim — Então foi por isso que você apareceu bêbada. Está namorando um roqueiro, não duvido que esteja usando drogas.

— Eu não uso drogas — gritei para ela. Mamãe se assustou e deixou a frigideira cair no chão.

— Olha o que você fez, Molly — Maggie falou para mim com raiva — Você só trás desordem para essa casa.

—Eu só quero que você me deixe em paz, Maggie! Apenas isso — falei contendo as lágrimas.

— Você sabe onde papai foi? — ela perguntou e eu neguei.

— Não conte a ela Maggie — mamãe a repreendeu.

— O que aconteceu? — olhei para as duas, confusa.

— Nossos pais não têm dinheiro para pagar a dívida do penhor — Maggie falou e eu senti minhas pernas tremerem — A casa vai a leilão em um mês se a conta não for paga. E você sabe por que a casa da nossa infância vai ser vendida? Por causa desse seu sonho idiota! Nossos pais entregaram tudo para aquele canalha porque confiaram em você, Molly! E agora correm o risco de perder tudo!

—Eu... —tentei falar, mas minha garganta estava seca.

— Robert se ofereceu para quitar a dívida, não se preocupe — Maggie falou como se ela fosse a solução para todos os meus problemas — Você devia crescer. Arrumar um emprego de verdade e reparar nossos pais de todo o mal que você causou.

Não sabia o que falar. Maggie estava certa. Eu era um fracasso. Meus pais haviam perdido tudo por minha causa. Sai da cozinha aos prantos e encontrei Robert e Mike atordoados sem entender o que estava acontecendo.

— Desculpe — falei baixo e subi as escadas correndo para o quarto.

Cheguei ao quarto e procurei minhas coisas para ir embora. Era definitivo, eu não voltaria para a casa dos meus pais. Tomei um susto quando vi mamãe parada na porta me observando. Seu olhar era triste, não havia vestígio do sorriso que ela me deu minutos antes.

— Me perdoa, mãe — supliquei segurando ainda mais as lágrimas.

—Eu não posso te perdoar, Molly — ela falou e eu quase caí no chão — Porque não há nada para te perdoar. Você não tem culpa de ter sido enganada. Sua irmã só está com raiva, um dia ela entenderá o que você passou.

Corri para abraçar minha mãe. Ela sempre soube o quanto sofri depois que Philip foi embora.

— Eu te amo mais que tudo nessa vida — falei para minha mãe e ela me apertou mais em seus braços, assim como fazia quando eu era criança.

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Sai de casa e encontrei Mike me esperando perto de seu carro. Não havíamos nos falado desde a noite anterior e isso me deixava muito ansiosa. Eu queria ter conversado com ele pela manhã para explicar que não estávamos saindo nem nada, mas agora eu não tinha clima para isso. Ele abriu a porta do passageiro para mim e eu entrei agradecendo com sorriso murcho. Depois ele entrou no carro e deu a partida.

— Eu escutei o que estava acontecendo lá — Mike falou receoso — Me desculpe.

— Não tem problema. Meu passado é um livro aberto...

— Eu gostaria de ler esse livro — ele falou me olhando curioso — Você e sua irmã não se dão muito bem.

— A culpa é minha. Eu que causei todo esse mal estar — comecei a falar olhando para a estrada — Eu vou te contar o que aconteceu comigo. Mas preciso fazer isso tomando um café bem forte. Será que podemos parar em algum lugar?

Mike assentiu e continuou a dirigir até uma lanchonete que ficava no meio da nada.