Era aquele negócio. As pessoas não valorizavam aquilo que tinham.

Ao menos era como Capricórnio se sentia agora. Com sua pasta com o conteúdo destruído, sentiu o peito apertado e se afastou da nave. O Capitão Leão estava conversando com um aparentemente humano sobre sabe-se lá o quê e não queria saber disso. Queria afogar suas mágoas, sua pasta perdida, todos seus anos de trabalho investidos na Z6 jogados no lixo em um planeta bizarro.

Enquanto o caprino afogava suas mágoas comendo a grama azul de Wilburnia, na parte sul de onde a destruída Z6 se encontrava, oposto a Leão e Virgem, viu um grupo de pigmeus andar com quatro humanos desmaiados em direção à floresta.

Ficou dividido entre interferir nas forças da natureza ou não. Eram muitos dilemas morais para um cara só.

Movido mais pela curiosidade do que pela vontade de salvar aqueles humanos de virar a sopa do jantar, Capricórnio pegou Áries pela gola da camisa e seguiu os porcos.

Nesse meio tempo, Capitão Leão e Virgem tinham uma conversa bastante frutífera.

— Então, você é da Terra. Aqui é perigoso para humanos, ainda mais você sair sozinho assim – comentou Leão, tentando parecer casual. Ao rapaz terráqueo (descobrira que Virgem era um rapaz) faltava alguns atributos mais furry, era muito “cruzinho”, mas era o normal para humanos, não era? Se fosse o comparar com um hoague (raça dos tripulantes da Z6), seria um do tipo donzela, mas ainda faltava o excesso de flores esvoaçantes, as orelhas pontudinhas e as asinhas de anjo. – Digo, os porcos desse planeta comem humanos.

— É, por isso a missão é considerada de alto risco. – Virgem não estava com muita paciência. Estava era desconfiado do tal Leão. Ele estava mentindo e isso era certeza. – Se me dá licença, vou voltar para minha nave.

Virgem não confiava muito em aliens, salvo raras exceções, como Sven (que, tecnicamente, era terráqueo) e dessa vez ele tinha toda razão. Torcendo o nariz por causa do odor que Leão exalava, deu as costas para voltar para Zooroscópia, mas, antes que desse um passo, sentiu um cano frio em sua cabeça.

— Então. Não dou licença.

Na cabeça de Virgem, uma voz soou. Eu sabia. Bufou de raiva e bateu os pés no chão repetidamente, impaciente. Claaaaaro, era com os pigmeus que tinha que tomar cuidado, evidentemente.

Leão olhou em volta. Sagi estava perdido no mundo, Capri saíra há pouco com Áries, então ali só tinham restado Touro e Peixes.  – Touro, quando Capri, Áries e Sagi aparecerem, estou em uma nave terráquea aqui perto. Peça pra esperarem.

— Ok – respondeu o ruminante, voltando a fechar os olhos e roncar.

O capitão não disse muita coisa para Peixes, apenas foi andando na direção que Virgem viera, ainda com a arma de plasma apontada para a cabeça do humano e sussurrou no ouvido do baixinho – Preciso dos seus serviços, sacomé.

Peixes sorriu doce. – Tudo bem. – E tirou a xuxinha, magicamente ganhando uns 40cm a mais, músculos desenvolvidos e uma personalidade terrível. – O que quer, capitão?

Antes que Virgem pudesse reagir (ou não) com o fato de que o rapaz pequenininho que antes parecia tão inocente e agora era uma cópia de Lúcifer alta e bombada, o mesmo sentiu outra coisa fria, mas dessa vez molhada e pegajosa. Era Peixes que, safado, lambeu a bochecha do humano.

Virgem arrepiou, estupefato. Que absurdo, não o pagava suficiente para isso. Era assédio! E dos bravos!

Peixes ignorou os avisos óbvios que o moreno dava de não ter gostado da aproximação, então foi além. Pegou na bunda de Virgem a apertou, fazendo Capitão Leão rir ante a careta que o moreno fez. Seria divertido.

Enquanto os três caminhavam até Zooroscópia, Libra, Câncer, Escorpião e Gêmeos eram jogados em uma jaula ridícula, feita de bambu.

— Eles realmente pensam que essa jaula de bambu vai nos prender? – perguntou Escorpião.

Câncer, vacinado contra esse tipo de jaula por já ter sido reprodutor em uma fazenda de humanos anos atrás, impediu escorpião de dar um roundhouse kick¹ nas grades mal feitas. – Esse bambu tem uma enzima que causa descargas elétricas de 750 miliampères, que é meio que 10x mais do que o suficiente para matar um humano. E essa descarga só ocorre quando um humano o toca, então sabe como é, mantenha distância da grade.²

Escorpião o olhou desacreditado. Isso era ridículo. Por via das dúvidas, se afastou da grade e ficou no centro da jaula, perto de onde Gêmeos estava com Libra.

— Eu sei que eu gosto de ser comido, mas isso é ridículo – disse Gêmeos enquanto conferia os bolsos. É, aparentemente não tinha nada ali – Vocês também estão desarmados?

— Meu amor, com vocês três encostados em mim assim, a última coisa que estou é desarmado – volveu Libra.

Para que ficasse mais claro, estavam os quatro amontoados no centro da não-tão-grande jaula, meio amontoados em cima de Libra, que estava sentado para não bater a cabeça no teto baixo de bambu

Gêmeos o olhou absorto. Como Libra conseguia pensar em sexo em uma situação assim? – Como você consegue pensar em sexo agora, Libra?

— Anos de treinamento, eu diria – sorriu. – Mas foi você quem começou.

Escorpião bufou. Estava cercado de idiotas.