Quando a negociação com Fry E D Bacon havia acabado, Câncer se sentia exausto. Não era fácil ser ele. Isso por que, mesmo sendo uma monarquia imperial baconesca, Gouróuni possuía, em linhas gerais, pensamentos absolutistas demais até para uma monarquia em um planeta comparável à Idade Média terráquea.

Só para ter uma ideia, o príncipe exigiu que trouxessem de volta Vossa Majestade Imperial Cris P Bacon de volta. O Imperador que, semanas atrás, desaparecera misteriosamente no meio de uma caçada na Floresta dos Sem Toicinho, conhecida por seus habitantes de pouca gordura abdominal.

Estando perdido em algum lugar no condado de Berkshire¹, à cerca de 200km de onde estavam, Capitão Câncer precisaria de todo seu material humano – seus subordinados – para achar o filho de uma leitoa do Imperador.

— A gente não devia ter tanto trabalho por causa de um pedaço de vidro – disse Escorpião, trançando novamente os cabelos. Aparentemente o príncipe Fry tinha fobia de tranças, então o escorpiano se viu obrigado a soltar o cabelo ao ver o não tão pequeno leitão ter um surto nervoso.

— Não é um pedaço de vidro. É uma das partes da Joia de Quatro Almas² - disse o capitão ruivo, ligeiramente irritado pela nova missão recebida – E é a primeira ainda... E nem sabemos qual é.

Neste exato momento, os quatro andavam pelo mercado gourouniano, uma cena um tanto parecida com o mercado daquele filme de princesas que se passa nas arábias, onde o príncipe é ladrão e encontra um djinn.³ Tipo isso, mas rodeado de campos de gramíneas azuis e flores negras. Um luxo.

Por “os quatro” entenda que, enquanto Escorpião estava ao lado de Câncer, Gêmeos estava no lado oposto, em tese ao lado de Libra, que volta e meia fugia da formação oficial e amplamente utilizada de modo que Gêmeos não morresse por algum ataque súbito do escorpiano para comprar, utilizando o cartão de crédito intergaláctico ilimitado que havia ganhado de Sven¹¹ e comprando panos, joias, jogos de chá e bacon. Evitava os chás, no entanto. Os pigmeus – habitantes de Wilburnia, porcos indígenas possessivos de baixa estatura comedores de carne humana – eram conhecidos por fazer infusões de ervas com diversas partes do corpo humano, ressecadas.

(no geral, era como o passeio de uma vaca em uma convenção de açougueiros)

— Eu não me sinto seguro. – disse Gêmeos, se encolhendo (mais) e segurando firme a pistola de plasma cor de rosa que tinha no coldre – Viu como eles olham para a gente?

— No shit, Sherlock— respondeu Escorpião – Como você conseguiu o cargo mesmo, ainda mais com essa altura? Uma pessoa tão diminutamente inteligente deveria estar na Terra ganhando o Nobel de Física.

Gêmeos estava pronto para rebater, dizendo que tinha sido com muito esforço e que ele é quatro centímetros mais alto que o mínimo exigido¹², mas foi interrompido por Libra e Câncer, que já separavam a desavença, que era irritantemente comum em Zooroscópia.

— Precisamos de um guia. – disse Libra, ao mesmo tempo em que tinha um pano de algodão embebido em clorofórmio¹³ colocado em seu rosto. Rapidamente apagou.

Enquanto Libra era sequestrado e Câncer, Escorpião e Gêmeos passavam um certo aperto que será descrito no próximo capítulo. Aquário tomava sorvete de bacon. Longe da preocupação de que, talvez, esse bacon seja de carne humana e o sorvete tenha sido feito de leite humano, tentou não pensar nisso e nem nas fazendas de humanos que sabia que tinha no planeta. Não dava para salvar todos, não dava para pensar em tudo e preferia morrer na ignorância.

Então, no geral, Aquário decidiu por ficar seguro e ir jogar videogame na nave, imaginando que Virgem já teria terminado a faxina. Qual não foi sua surpresa ao ver, quando chegou lá, um ET, provavelmente de algum planeta em volta de algumas das estrelas da constelação de Pégaso, em volta da nave. Amistoso como normalmente era, Aquário se aproximou.

— Oi. – disse, comendo o resto da casquinha do sorvete – Tá querendo alguma coisa?

Sagitário olhou a nave, sorridente. Não estavam mais presos no planeta, olha que legal. Tinha que avisar o Capitão Leão, mas agora precisava de foco. Primeiro tinha que lidar com o carinha ali, depois roubaria a nave dele. É. – Oi, cara. Tu não é daqui, é?

— Não, sou da Terra, sol 3 do Sol, na Via Láctea, Constelação de Ursíneo Fofo, foi lá? – Aquário respondeu amistoso. A tradução de William o dizia que o cara também usava um babel fish decentemente instalado, e não um externo como Aquário, que tinha uma pequena obstrução na rebimboca da parafuseta do martelo auditivo, impedindo a utilização de um Babel Fish interno.

(Capitão Câncer, alérgico a Babéis Fish, também foi obrigado a utilizar um externo, um Babel Crab, o Nestor, como substituto. Babéis Crab eram amplamente utilizados, sendo a alergia ou obstrução a babéis Fish considerada intengalacticamente uma deficiência auditiva)

Bem, Sagi sabia disso e, ao ver o aparelho auditivo de Aquário sorriu. – Pre ci sas que eu fa le mais de va gar?

Aquário fechou o cenho. Era uma reação irritantemente comum que as pessoas tinham ao ver o William. – Por que? Seu cérebro não sabe funcionar em uma velocidade maior? Fala direito, caralho, não sou idiota.

— Ah, desculpe – respondeu como se não tivesse dito nada de errado – Eu nunca fui na Terra, é um pouco longe de onde eu venho.

— E de onde você vem?

Indeciso se podia revelar seu planeta natal e de seus companheiros, Sagi decidiu ser sincero. Não ia te custar nada, ia? – Sou tripulante de uma nave cargueira de Shaina, sol 2 de Alfa Serpens Caput, constelação de Serpentário, na Galáxia de Objeto de Hoag.²¹

Isso era longe para caralho, Aquário ponderou. Aqui já era longe para caralho, imagina a Via Láctea. – Nossa, é bem longe – sorriu, já não irritado mais – E o que faz aqui? Ainda é longe do seu planeta.

— Então, carregando.

Aquário parou para pensar. O frete seria ridiculamente caro. Era tipo, 599 800 000 anos luz de distância entre Pequena Nuvem de Magalhães, onde estavam, e Objeto de Hoag? – O frete vai sair caro pra caralho, hein. – outra coisa que Aquário também pensou foi de onde surgiu o sotaque italiano do cavalo. Não fazia sentido, William devia estar com defeito. Mas o cara parecia ser gente fina. – Vem cá, quer entrar e comer macarrão?