Marinette POV

Eu sou Marinette, uma mulher como qualquer outra, cabelos pretos, olhos azuis, 24 anos e formada em moda, com o apoio dos meus pais consegui lançar minha própria linha de roupas, mesmo que fosse uma confecção em pequena escala eu estava sendo reconhecida a cada dia.

Graças a isso eu estava acompanhando um ensaio fotográfico, e tinha que supervisionar para ter certeza que tudo sairia perfeito, afinal, era a minha reputação em jogo, era um pouco estressante, mas sempre que as modelos apareciam com minhas criações eu me deleitava de felicidade.

Fui chamada para decidir sobre as próximas peças e ouvi cliques na minha direção, apesar de continuar o que estava fazendo não pude deixar de sorrir, Alya, minha melhor amiga e assistente faz tudo, estava tirando fotos dos bastidores para colocar no blog, ela tinha muito talento com essas coisas então eu deixava tudo em suas mãos.

— Essas fotos vão ficar incríveis! – Alya disse se aproximando de mim.

— Estou confiante também, esse ensaio vai ser decisivo para a decisão do Sr. Agreste se me junto ou não a sua empresa.

Meu nervosismo devia ser aparente, pois Alya colocou o braço em volta do meu pescoço e me fez olhar para as modelos que posavam.

— Olha só como suas roupas as realçam... ele seria um idiota se não te chamasse!

Sorri para Alya, por todos esses anos ela era a pessoa que me mostrava um mundo mais colorido e eu era muito grata por isso.

O ensaio seguiu sem problemas por toda manhã, agradecemos a colaboração de todos e deixamos o estúdio.

— Então, por hora, teremos um tempo livre! – Alya comemorou ao meu lado.

— Ainda bem! Nathaniel vai ficar feliz em saber disso...

Nathaniel era meu namorado, ele era um ótimo desenhista e fazia personagens para jogos e até para desenhos, nos conhecemos há alguns meses numa galeria de artes.

Nos despedimos e eu segui para o seu ateliê, entrei sorrateiramente e o vi de costas concentrado na sua mesa de luz, nas pontas do pé me aproximei, quando parei atrás dele observei por um tempo o lápis rabiscando o papel e não pude deixar de sorrir ao perceber que a personagem era muito semelhante a mim.

— Que bonita, até parece sua namorada.

Após dizer isso precisei segurar o riso, Nath deu um pulo na cadeira e soltou o lápis com o susto.

— Você sempre vai fazer isso? – Ele me perguntou rindo.

— Apenas enquanto você reagir dessa forma.

Trocamos um beijo calmo e eu me sentei ao seu lado.

— Estou com a tarde livre agora, por isso decidi vir, estou atrapalhando?

Nath consultou seu relógio e eu mordi os lábios apreensiva, eu sabia como era quando o prazo se aproximava e odiava quando me atrapalhavam nesses momentos finais.

— Eu posso fazer uma pausa de meia hora... você já almoçou?

— Não, eu contava com seu convite.

— Então vamos comer...

Ele segurou minha mão por todo o caminho até o restaurante, sua companhia era muito agradável e acabamos demorando mais tempo do que deveríamos, mas ele garantiu que foi por uma boa causa e que recuperaria esse tempo a noite.

Nos despedimos na entrada de seu ateliê e eu fui direto para minha casa, ficar sem fazer nada era muito entediante e logo eu me vi rolando na cama impaciente, eu gostaria de ter passado mais tempo com Nath, mas sabia que isso atrapalharia seu cronograma.

Tinha certeza que se eu quisesse ele conseguiria um tempo para mim, mesmo com o prazo de entrega dos personagens se aproximando, ele fazia o possível e o impossível para que eu ficasse feliz.

Esse sentimento de carinho fez surgir um sorriso nos meus lábios e eu me perguntei se ele fazia ideia que mesmo longe ele podia fazer isso comigo, tive vontade de expressar isso para ele, mesmo que não soubesse como...

Com esse pensamento veio uma ideia, minhas roupas eram todas voltadas para o público feminino, mas com um pouco de esforço poderia mudar meu público-alvo e fazer uma coleção inteira masculina.

Antes que percebesse lápis de todas as cores corriam pelo papel formando sketches até então nunca imaginados, a moda masculina parecia simples, mas estava se mostrando bem complicado para mim, ficava imaginando quais estampas e textura agradariam os homens.

Dormi apoiada na bancada enquanto trabalhava, um pouco desnorteada olhei ao redor procurando o que tinha me acordado, peguei o celular que tocava incessantemente em cima da cama.

— Alô?

— Srta. Dupain-Cheng?

— Sim, sou eu.

— Bom dia, me chamo Natalie, sou secretário do Sr. Gabriel Agreste e estou entrando em contato para lembrar que o prazo de entrega para seu portfólio é hoje até meio dia.

— Não precisa se preocupar, eu vou entregá-lo antes disso!

— Ok, muito obrigada pela atenção e desculpe ligar tão cedo, até mais.

— Até!

Desliguei o celular e me arrumei, tinha que pegar as fotos prontas com o fotógrafo e encadernar as melhores, coloquei todas as folhas na pasta e liguei para Alya assim que sai de casa.

— Alya?

— Bom dia Marinette!

— Alya, já decidiu qual layout vamos usar no portfólio? Temos pouco mais de três horas para entregar...

— Claro que sim, daqui a pouco chego no ateliê e te espero lá para a conclusão.

— Obrigada, sempre posso contar com você!

Peguei as fotos com o fotógrafo, estava tão ansiosa para ver o resultado final, porém, o cheiro de café que vinha da cafeteria era muito tentador, entrei com a desculpa sincera que Alya merecia um bom café com leite pelo trabalho duro.

Assim que entrei colidi em uma garota loira, sua bebida caiu em mim e eu agradeci por ser apensa um chá gelado, um café quente com certeza me daria queimaduras, rapidamente verifiquei as fotos, elas estavam inteiras, mas a pasta com os sketches não, suspirei.

— Olhe por onde anda! – A garota disse irritada.

— Desculpe.

— Caiu suco no meu sapato.

Eu senti vontade de dizer que o sapato dela era o de menos, eu estava encharcada e havia grande probabilidade de ter perdido muitas horas de desenhos.

— Isso não teria acontecido se não tivesse ficado parada na porta...

— Você que foi uma estabanada entrando de qualquer jeito!

Respirei fundo, não tinha tempo a perder com aquela patricinha, peguei meu cartão de visitas na carteira e o entreguei para a garota.

— Aqui está o meu contato, então me mande a conta da lavanderia.

— Pode ter certeza que vou mandar!

A garota quase arrancou minha mão quando pegou o cartão bruscamente e eu fiquei alguns segundos olhando suas costas se afastar rapidamente, voltei minha atenção ao que importava, peguei os cafés e fui o quanto antes para meu ateliê.

— O que aconteceu? – Alya perguntou assim que me viu molhada.

— Quando fui comprar café esbarrei numa garota, mas não tem problema, eu tenho outras coisas para me preocupar

Corri para perto de Alya e começamos a separar as fotos que havíamos gostado, a parte estética demorou um pouco, mas nada que não tivéssemos nos programado, corri para a gráfica para encadernar e deixa-lo apresentável para uma grande empresa.

Aquela manhã parecia ter se encurtado, quando finalmente pude buscar o portfólio tinha apenas vinte minutos para entregar, peguei um taxi e desci na frente da Companhia Agreste.

Respirei fundo e entrei, me dirigi para o balcão da recepção sem hesitar.

— Bom dia, gostaria de entregar o portfólio para a Srta. Natalie.

— Claro, eu vou entregar para ela agora mesmo, obrigada pelo seu trabalho.

— Eu quem agradeço.

Aliviada com o dever cumprido me sentei numa das poltronas da recepção e finalmente parei para ver o estrago que aquele maldito chá tinha feito as minhas criações, por sorte os desenhos estavam ligeiramente manchados e apenas os detalhes das roupas ficaram impossíveis de identificar, mas não seria complicado repassar para um papel limpo, isso poderia ser até obra do destino para que eu pensasse em outro design enquanto refazia tudo.

Estava me arrumando para ir embora quando ouvi uma voz conhecida.

— Então a desengonçada me sujou toda, ao menos ela disse que pagaria pela limpeza – a mulher da cafeteria reclamou para o homem que a acompanhava.

Levantei nervosa, não conseguia acreditar que ela tinha coragem de reclamar daquela mancha quando eu passei metade do dia suja e com os desenhos danificados, sem pensar duas vezes eu fui até ela e a impedi de sair.

— O que foi? – Ela perguntou esnobe.

— Eu quero que você saiba que esse acidente me resultou em mais problemas que uma manchinha no sapato.

— Você diz isso porque seu sapato não é um Louis Vuitton!

— Eu não me refiro as minhas roupas, eu me refiro ao meu trabalho! – Peguei uma das folhas molhadas e mostrei para o casal.

— Você acha que eu ligo para esse lixo que você chama de trabalho? – A tal Chloe disse com desprezo pegando a folha.

Ela estava prestes a amassar quando o homem que a acompanhava tirou de suas mãos, ele parecia impressionado com o que via.

— Você mesma confeccionou essa roupa?

— Na verdade ainda são apenas Sketches...

Sua admiração fez com que eu esquecesse completamente o comportamento inadequado da mulher.

— Você deveria trazer um portfólio, com certeza eu usaria essa roupa.

— Vim exatamente para isso – não pude evitar sorrir.

O homem era alto, loiro, olhos verdes e muito bonito, meu coração parou por um instante quando o reconheci, ele era o modelo oficial da Companhia Agreste, filho do estilista famoso que começou a empresa.

— Só para confirmar... Você é Adrien Agreste?

— Claro que é ele, por isso saia já da frente, nós estamos atrasados para uma sessão de fotos! – Chloe o puxou pela mão.

— Vou ficar com isso! Até mais! – Ele disse já distante.

Acenei atônita, não podia acreditar que um dos modelos mais famosos de Paris estava interessado nas minhas roupas.

Voltei a realidade com meu celular tocando, uma mensagem de Nath me pedindo um favor, sorri para a tela do celular, depois de tanto estresse seria ótimo poder encontra-lo.

Fui até seu ateliê onde o encontrei estressado, olhava para o papel sobre a mesa enquanto apoiava a cabeça na mão, ele parecia um pouco abatido por isso decidi que não o assustaria dessa vez.

— Nath, tudo bem?

— Não... não importa o quanto eu pense, não consigo criar um estilo para esses personagens! Preciso da sua ajuda!

Trouxe a folha um pouco mais perto de mim, um dos personagens era a que se parecia comigo e o outro era muito semelhante ao modelo que encontrei hoje, eles precisavam de roupas que combinassem com os bichinhos que os acompanhavam, uma joaninha para a garota e um gato preto para o garoto.

— Você quer que eu crie as roupas de super-heróis para eles?

— Exatamente...

— Esse menino, você se inspirou em alguém?

— Sim, num garoto que estudou comigo, ele era modelo e todas as garotas o admiravam.

— E você não faz nenhum personagem inspirado em você?

— Eu não gosto de fazer isso, parece muito egocentrismo..., mas na verdade eu fiz, é um garoto que gosta de desenhar, me identifiquei com ele, por isso abri uma exceção, vou pegar para você.

Ele foi até outra mesa, enquanto isso fiquei encarando os personagens na sua versão normal, ri um pouco porque eu usaria tranquilamente a roupa que ele desenhou para “mim”, ele teria talento como estilista se focasse nisso.

— Aqui está.

Peguei a folha que ele trazia, nela tinha um garoto com cabelo um pouco comprido vermelho e olhos verdes, seus traços demonstravam calma e timidez, após analisar o desenho olhei para o homem a minha frente, não tinha dúvidas que ele foi exatamente assim durante sua adolescência.

— Eu adorei esse desenho, tenho até vontade de levar para casa.

— Quando essa correria terminar farei um desenho nosso então.

Ele se sentou ao meu lado e começou a me explicar o que ele sabia sobre os personagens e eu ouvi com atenção enquanto os analisava, quando Nath terminou comecei a trabalhar, estava animado pelo fato de ser algo completamente diferente do que estava habituada.

Após muitas tentativas finalmente surgiu algo que gostamos, cada um com suas características, mas ainda semelhantes, eu estava muito orgulhosa por ter trabalhado com um artista tão bom.

Meu celular tocou repentinamente, o que fez Nath se assustar e soltar um palavão, ri baixinho antes de atender.

— Srta. Dupain-Cheng, aqui é a Natalie da Companhia Agreste.

— Boa tarde.

Meu coração batia tão rápido que por um instante eu pensei que ele explodiria.

— Estou entrando em contato para solicitar que venha amanhã pela manhã conhecer seu novo local de trabalho.

— Novo local... – repeti extasiada.

— Sim, seus trabalhos foram muito elogiados, então a esperamos sem falta.

— Com certeza estarei aí, obrigada pela oportunidade.

Quase não conseguia acreditar, virei para Nath que estava com os braços estendidos para um abraço.

— Parabéns! Eu sabia que conseguiria esse emprego – ele disse enquanto afagava minhas costas.

— Eu estava tão nervosa – admiti finalmente.

— Nervosa? Sempre que olho seus desenhos tenho certeza que você se tornará a tão famosa quanto Chanel.

— Você exagera, mas obrigada pelo apoio – roubei um rápido beijo dele.

— Ligue para Alya, fala para ela nos encontrar no restaurante da torre Eiffel, hoje será por minha conta como retribuição a sua ajuda e para comemorar essa notícia maravilhosa!

— Mas, e o seu trabalho?

— Eu adiantei muitos personagens com sua ajuda, acho que vou entrega-los antes do prazo até.

Não tive nem o que refutar, apenas liguei para minha melhor amiga e marcamos o encontro, ela disse que chamaria um amigo e eu não fiz objeções, para festejar quanto mais melhor.

Fui para casa tomar um banho e trocar minhas roupas, não podia ir toda manchada de chá, coloquei um vestido solto e salto, fiz uma maquiagem leve e prendi o cabelo num rabo de cavalo alto.

Quando cheguei todos já estavam lá, sentei ao lado de Nath, abrimos um champanhe para comemorar o novo emprego e conversamos animadamente, quando terminamos ainda passeamos nos arredores da torre, era tarde quando meu namorado me acompanhou até a porta de casa onde nos despedimos.