Coração de Dragão escrita por Khatleen Zampieri


Capítulo 3
O grande baile




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Todos os dias que acordo eu olho para minhas mãos na esperança de sentir novamente o calor das escamas dele, ou das lágrimas que foram seus últimos vestígios de vida que ficaram entre meus dedos, eu demorei dias para lavar minhas mãos, para que eu pudesse sentir seu cheiro um pouco mais, mas meu pai obrigou-me a lavar, dizendo que eu era uma princesa e deveria ter bons modos higiênicos, e assim vai embora a última lembrança física dele, agora só em minhas memórias jazia seu calor, sua cor, seu pequeno mas feroz rugido e o brilho de seu olhar esmeralda.

Aproximando minhas mãos de meu rosto, fechei meus olhos e respirei fundo, mas tudo o que senti foi o cheiro de sabonete que usava, era bom, mas não me trazia alegria. Levantei-me e me lavei conforme fazia todos os dias, meu corpo apenas já havia se acostumado com a rotina, enquanto fazia tudo sem pensar, meus pensamentos vagavam para aquele dia, a tantos anos atrás, mas que ainda me fazia chorar todas as noites e que me assombrava nos sonhos.

Eu havia prometido que nunca mais me aproximaria de alguém para evitar que se machucassem ou que eu me ferisse. E assim se passou os anos e agora já estou passando por essa incrível fase que todos dizem ser a melhor, a adolescência. Na qual você se rebela, que dizem estar sempre certos, que somos sentimentais demais e que abandonamos a família para ficar com os amigos desobedecendo os pais. Bem eu deixei de me rebelar, pois da última vez um amigo morreu, eu nunca disse que estava certa para ninguém, pois não falo com ninguém, desisti dos sentimentos para não ferir ninguém, e nunca mais desobedeci meu pai ou saí com meus amigos pois não tenho nenhum, aliás, nunca mais falei com ele, com exceção das palavras, bom dia, boa noite e obrigada pela refeição. Então me pergunto, o que é passar pela adolescência?

Quando sai do banheiro, levei um susto como todos os dias no último ano.

—Bom dia princesa! Dormiu bem? Teve pesadelos de novo? Como foi seu sono? Se teve algum sonho interessante, por favor me conte, amo as histórias de seus sonhos. – Juvia, uma garota simpática e alegre de cabelo azuis longos e sedosos estava me metralhando com perguntas logo cedo. E para confirmar a sua teoria de conspiração, sim, eu tenho uma amiga.

—Como todos os dias Juvia, não, não tive um sonho espetacular como daquela vez e sim dormi bem. – Respondi a ela sorrindo. – E você?

Ela ficou toda tímida e sentou-se na minha cama apertando tanto minha roupa que a essa altura já estava amassada.

—Bem, Juvia sonhou com seu príncipe encantado de novo, ele vinha numa grande tempestade de neve e salvava Juvia de ser soterrada. – Seus olhos brilhavam de excitação.

Juvia era assim, sonhadora, mas era a única que meu pai permitia que eu conversasse, não que a considere um objeto, muito pelo contrário, mas ela foi digamos meu presente de aniversário quando completei quinze anos. Ela ficou toda envergonhada nos primeiros dias, mas depois começou a se abrir comigo, e agora ela me faz companhia quando acordo, quando vou dormir, e quando temos um baile ou janta ela está sempre ao meu lado, Juvia é minha melhor amiga e dama de honra.

Sei o que está pensando, você não prometeu não se aproximar de ninguém? Sim eu prometi, mas ela virou minha companheira, não tinha como não gostar dela e não me tornar sua amiga com toda essa simpatia e sinceridade.

—Obrigada Juvia! – agradeci depois que ela ajudou-me a vestir.

—É um prazer princesa. – Ela fez um reverência.

—Sabe que não gosto que me chame assim e muito menos que faça uma reverência. – Reprovei seu comportamento. – sou sua amiga, me chame de Lucy.

—Mas Juvia não entende Lucy. – Ela levantou os braços em sinal de derrota. – se Juvia a chama de princesa, ela reclama dizendo que somos próximas, mas se Juvia a chama de Lucy, ela vem com esses assuntos de medo de se aproximar. O que realmente Lucy quer que Juvia faça?

—Hum, bem você me pegou de surpresa. – Pensei por um instante, afinal ela estava certa. – Me chame de Lucy daqui para a frente, prometo não tocar mais nesse assunto de medo de me aproximar de alguém.

—Tudo bem, Juvia concorda. – Ela sorriu e estendeu o seu mindinho para validarmos nossa promessa.

Fazendo isto, me despedi dela e saí do quarto, desci as escadas como sempre em direção ao salão de jantar, no qual estava sendo servido o café da manhã. Meu pai estava sentado já na outra extremidade da mesa.

—Bom dia. – desejo ao meu pai. Ele ergue a cabeça e acena com a mesma.

Ao me sentar e comer meu delicioso e repetido café da manhã, ouço meu pai pigarrear, estranhando a atitude olho para ele. Ele me encarava com um olhar diferente, não sabia ao certo se era pena, arrependimento ou indecisão.

—Hoje à noite, vamos receber uma visita especial, vamos dar um pequeno baile, então quero que use seu melhor vestido. – ele ordenou. – e não faça me arrepender.

Dizendo isto, ele se levantou e se retirou do salão. O olhei até que sumisse de vista, quem seria tão especial assim para que eu tivesse que me vestir com aquele vestido ridículo rosa, não sei quem o projetou, mas devia estar inspirada num belo bolo de três andares enfeitado com muito glacê e bolinhas douradas comestíveis.

Mas se era o desejo de meu pai, assim seja, não me importo com as aparências mesmo.

Acabando de comer me dirigi ao grande salão de livros, conhecido popularmente como biblioteca, bem o que eu poderia ler de novo pela trigésima vez nos últimos seis anos que não saí do castelo.

Passando as mãos pelos livros já tão bem familiarizados comigo, já li demais, sei todas as falas, é muito bom mas enjoou, não aguento mais ler seu nome, não gostei desta história mesmo tendo lido tantas vezes, bem eu acho que vamos ler você novamente.

Peguei o livro “Fogo ou Gelo?” por Levy Mcgarden, eu tinha amado esta história, mesmo lendo tantas vezes, eu sempre me emociono.

E assim foi minha tarde de sábado tão produtiva, lendo um livro, durante semana eu tenho aulas com professores extremamente repetitivos e sem vontade de ensinar, que preciso pegar os livros didáticos e lê-los sempre pois senão não aprendo nada, e se eu contar isso para meu pai Deus sabe o que aconteceria a estas pessoas.

Juvia não podia ficar comigo a tarde, pois ela ia pra casa neste período, durante semana ela estudava numa escola normal, onde eu deveria ir também, mas vocês já sabem a história, e nos finais de semana ela ia pra casa cuidar da mãe doente.

Chegando o horário da janta, dirijo-me ao meu quarto para me arrumar e vestir-me de bolo.

Juvia chega logo atrás desculpando-se pelo atraso.

—Tudo bem Juvia, não precisa todo esse drama. – acalmei ela. Ela sorriu e pôs-se a ajudar-me a vestir aquele gigante pedaço de tecido cor de rosa.

Vestida, ela ajudou-me a maquiar, uma leve sombra rosa, e um batom do mesmo tom, joias muito caras que meu pai gostava de comprar para mim, e no cabelo uma trança que caia pelo meu ombro direito, preso por uma presilha de diamantes, nos pés, sapatos de salto e ceda prateada.

Era um exagero, eu sei, mas foram ordens, se eu escolhesse minha roupas seriam o mais folgadas e soltas possíveis, mas tenho que me vestir de acordo como uma princesa, assim diz papai, sem respirar e se comer alguma coisa.

—Lucy está estranha neste vestido. – Juvia sendo Juvia. – Lucy é linda, não sei porque esconder tamanho beleza atrás de tanto tecido.

—Obrigada Juvia. – sorri pra ela. - Mas o que importa é que eu esteja o mais luxuosa possível para meu pai, para que ele exiba a grande riqueza dele.

Juvia fez sinal negativo com a cabeça, então entrou no banheiro para se arrumar, afinal ela precisava me acompanhar em bailes.

Fui até a janela e fiquei observando o pôr do sol de lá, na montanha onde existia aquela floresta de muitos segredos, onde eu realizei meu sonho por poucos instantes, onde fiz amizade com um dragão.

O céu adotou um tom vermelho e laranja e logo as estrelas começaram a aparecer uma após a outra, e finalmente a noite chegou, era o horário do grande baile.

—Pronta princesa? – Juvia saiu do banheiro num vestido branco delicado com alguns detalhes em prata, meu pai havia dado a ela para este tipo de ocasião.

—Que linda Juvia. – sorri, e então brinquei com ela. – assim você pode se passar por mim no baile.

—Juvia está muito chique? – ela desesperou-se. – posso arrumar outra roupa, mas foi o rei quem me deu...

—Haha, Juvia estou brincando com você. – fui até ela e pus minha mão em seu ombro, demonstrando que estava tudo bem. – vamos.

Depois de se acalmar, eu e ela começamos a trajetória até o grande salão. No caminho ela foi me contando o estado de sua mãe, que estava sendo cuidada por médicos, que só podiam ser pagos graças ao salário que meu pai dava a Juvia por seu minha dama de honra.

—Não que Juvia seja amiga de Lucy apenas por dinheiro, é que isso realmente ajuda minha mãe. – ela ficou preocupada por eu ter me ofendido.

—Juvia, tudo bem, eu sei como se sente. - disse a ela. – você não é apenas minha dama de honra está bem? É minha melhor amiga.

Neste momento surgiram lágrimas em seus olhos e ela me abraçou, logo nos soltamos quando os guardas apareceram no corredor. Disfarçamos e seguimos o caminho comportadas até as portas se abrirem, e passamos por elas, paramos incrédulas.

Sabe quando um salão de mais de 500 metros quadrados enche de gente? Pois é, nunca tinha visto tantas pessoas assim, e olha que as festas de mamãe e papai eram grandes, mas isso é um absurdo, quem seria tão especial que meu pai decidiu chamar tantas pessoas, e todos eram nobres pois suas roupas eram de malha muito cara e suas joias extremamente valiosas.

—Tem pessoas de todos os lugares aqui. – Juvia manifestou-se. – digo da região, dos reinos mais próximos.

—Se eu não estiver enganada, meu pai vai querer fazer alguma declaração importante. – disse, porém algo me dizia que não era uma coisa boa.

Juvia e eu começamos a caminhar entre os convidados, uns não me reconheciam, outros pediam se eu era a princesa e eu com uma reverência respondia a eles para ficar a vontade, tudo o que a etiqueta mandava.

Foi indo tudo bem até eu me esbarrar sem querer em alguém.

—Me desculpe, eu.. – quando vi quem era fiquei sem palavras, assim como Juvia. – Você?!

—Perdão, mas me reconhece? – ele pediu numa voz muito educada, diferente da que me lembrava.

—Sim, é você. – confirme. – o menino que me dedurou atrás da estátua aquela vez.

—Céus, seria você a Lucy? – pediu o rapaz. – como você está linda princesa.

O rapaz de cabelos rebeldes pretos e olhar intenso da mesma cor fez uma reverência e pegou minha mão para beijar. Eu queria retirar minha mão, mas não podia, se fizesse isso ia acabar com toda a etiqueta.

—E essa adorável dama, como se chama? – ele pegou na mão de Juvia e olhou para ela esperando por uma resposta.

—Ju... Ju... Juvia meu senhor. – ela estava vermelha da ponta das orelhas até as unhas feitas hoje. – sou a dama de honra da princesa Lucy.

—Foi um prazer Juvia. – ele beijou delicadamente a mão dela, neste momento pude ver coraçãozinhos em seus olhos.

—Está aqui por que? – pedi educadamente.

—Bem. – ela começou a falar soltando Juvia e olhando para mim. – você verá.

E com uma reverência adentrou a multidão e sumiu de nossas vistas.

—Acho que Juvia está apaixonada. – minha amiga suspira do meu lado.

—Hum.. não sei se o melhor rapaz pra você se apaixonar Juvia, foi por causa dele que fui seguida no dia que meu amigo foi morto. – contei e franzi o cenho na direção que o rapaz sumiu.

—Oh. – Juvia desfez sua expressão de apaixonada e adotou um rosto de decepcionada. Vendo isso falei.

—Talvez ele tenha mudado, talvez seja uma pessoa boa. – sorri forçadamente.

Ela sorriu para mim e fez sinal que continuássemos.

Retomamos nosso caminho cumprimentando mais algumas pessoas e então encontrei meu pai conversando com aquele homem. Imediatamente meu sorriso sumiu e a raiva daquele dia voltou em meu coração.

—Lucy, já era sem tempo. – meu pai sorriu e fez sinal para que me aproximasse. – lembra-se de Zeref?

—Como eu poderia esquecer? – olhei para ele sorrindo falsamente. – o homem que exterminou os dragões.

—Obrigada minha querida. – Zeref sorriu para mim e levantou o copo de vinho em um brinde. – ao fim destes seres sanguinários e saúde a você princesa.

Cerrei meus dentes, acho que meu pai percebeu então me puxou para o lado.

—Venha querida. – ele fez sinal para que eu subisse as escadas, subi alguns degraus até ficar na visão de todos do salão. Eu sabia, ele sempre faz isso quando quer fazer alguma declaração. O que será desta vez, impostos mais altos, uma nova guerra, ele descobriu uma nova mina de ouro? – Meu queridos amigos e amigas de todos os reinos aqui presentes, obrigada pela sua gloriosa presença num dia tão importante para um pai, um pai orgulhoso de ter um filha tão linda e educada que sofre em dizer tais palavras, essa filha magnífica chamada Lucy Heartphilia.

Ele e mais o povo inteiro ali reunido começou a bater palmas, até então eu só sorria, e acenava, pois o0 real motivo desta homenagem eu desconhecia, pois meu aniversário já se passara há alguns dias.

—É com imensa alegria que eu lhes apresento o senhor Fullbuster. – Meu pai levantou a mão e do meio da multidão o rapaz de cabelos negros surgiu e subiu nas escadas ficando ao meu lado, ele sorria muito. – Gray Fullbuster será desta noite em diante o noivo de minha filha.

O QUE? Como assim? Eu não fui comunicada disso? Meu coração palpitava, minhas mãos soavam e tudo o que eu via era o sorriso falso em meus lábios e o olhar de tristeza de Juvia.

—Por favor, aproveitem o baile de comemoração deste maravilhoso noivado. – assim meu pai destruiu o resto da minha vida.


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